quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

O Gigante de Ferro


Pode uma história que é puro clichê, sobre um menino filho de mãe solteira, deslocado e sem amigos, e que trava uma improvável amizade com um ser que chega do espaço, se tornar uma obra única e icônica, capaz de encantar gerações?
Se você respondeu que SIM? OK. Você está certo.
Mas se você pensou naquele filme de 1982 dirigido por Steven Spielberg, então lamento dizer que você errou.

Hoje vamos falar sobre, O Gigante de Ferro.



Baseado no romance “Iron Man”, escrito pelo britânico Ted Hughes, o longa-metragem de animação começou seu desenvolvimento em 1994, porém, quase não tinha saído do estágio das “ideias” até que em 1996 o projeto foi dado ao então estreante Brad Bird, hoje famoso por outras animações como “Os Incríveis” e “Ratatouille” e até por filmes live action como “Missão impossível - Protocolo Fantasma”.

Brad Bird e o personagem que lhe faria famoso.

Recebendo na mesma época o providencial reforço de Pete Townshend, guitarrista da banda The Who, que já havia feito um musical que adaptava o livro, e que passou a ser produtor executivo do filme, Bird convocou o roteirista Tom McCanlies,  finalizando a estória em pouco tempo , tendo a aprovação imediata de Ted Hughes, que infelizmente faleceu antes de sua estreia, e por isto o filme é dedicado a ele.

Pete Townshend - O músico já havia adaptado o livro de Hughes e se tornou produtor da animação.

Na estória, passada em 1957, numa cidadezinha do Maine, nordeste dos Estados Unidos, Hogarth Hughes um garoto cuja mãe, Annie - que ganhou a voz da atriz Jenifer Aniston - trabalhava de sol a sol como garçonete numa lanchonete, encontra (ou seria, é encontrado?) por um gigantesco robô que veio do espaço.

Annie, a mãe de Hogarth ganhou a voz de Jenifer Aniston

Um robô projetado para ser uma arma mortífera - que ganhou a voz de um praticamente desconhecido até então Vin Diesel. Mas que possivelmente devido a uma pancada que recebeu, pois tinha uma marca de amassado na cabeça, havia perdido parte de sua memória (ou seria programação?).

O até então, quase desconhecido Vin Diesel emprestou sua voz para o gigantesco protagonista.

E entre os dois vai se estabelecendo uma amizade, na qual ao mesmo tempo em que Hogarth encontra no robô o amigo que não conseguia ter naquela cidadezinha, também passa a ensiná-lo sobre várias questões sobre a vida, como quando na floresta eles encontram um cervo que logo depois é morto por caçadores (uma alusão clara a Bambi da Disney), oque faz o Gigante pela primeira vez, ao ver as armas dos caçadores, manifestar sua programação primária de autodefesa.



E é numa destas cenas que para ilustrar para o robô como ele deveria agir, é que há uma das melhores citações já vistas tanto em animações como em qualquer outra mídia, pois Hogarth usa como exemplo de correto, a figura de ninguém menos que o Superman, através de uma revista em quadrinhos, afirmando ao seu gigantesco amigo, que mesmo muito poderoso, o Superman sempre usava seu poder para fazer o bem, nunca o mal, relato este que cria um fascínio imediato na criatura, e que culmina na icônica frase: Você é aquilo que escolhe ser.

Hogarth mostra ao seu amigo a revista do Superman

Contudo, um segredo deste tamanho não é exatamente a coisa mais simples de se esconder, pois certamente não dava para colocar no armário, e Hogarth acaba mostrando o Gigante para Dean McCoppin - que teve a voz feita pelo ator e cantor Harry Conick Jr - um artista plástico que morava num ferro velho afastado de onde tirava a matéria-prima para suas esculturas.


Harry Conick Jr. - O ator/cantor deu voz ao artista plástico Dean McCoppin

O problema é que Kent Mansley um atrapalhado, mas também obstinado agente do FBI, que obcecado pela história que até então não sabia se era um OVNI ou arma soviética, aparece para infernizar a vida de Hogarth.

Kent Mansley e Hogarth - O agente federal não era páreo para a esperteza do garoto

Tudo extremamente semelhante ao clássico ET - O Extraterrestre de Steven Spielberg, e com um pequeno (talvez nem tão pequeno assim) referencial de Frankstein Jr., a clássica animação de Hanna-Barbera, mas que o roteiro, junto a habilidosa direção de Brad Bird, e uma equipe dedicada trataram de tornar algo singular.

Frankstein Jr. - Mais uma das influências da animação


Mas como assim singular?
Bem, é preciso antes de tudo contextualizar a premissa do roteiro, afinal estamos aqui falando de uma mãe solteira, que batalha para criar sozinha o filho, na conservadora década de 1950.



Fora isto é preciso ressaltar o quanto o personagem Hogarth não é retratado como um menino bobo e tristonho apesar de solitário. E que inclusive usa de sua inteligência para enganar o bisbilhoteiro agente Mansley.
E lógico, a excelente reconstituição de época, desde os interiores das casas; passando pelos programas de televisão (a grande novidade tecnológica da época); até o maquinário militar, indo dos caças F-86 Sabre até o submarino Nautillus, o primeiro movido a energia nuclear.

Os caças F86 Sabre - Reconstituição de época minuciosa e perfeita

Outro ponto que, aliás, ajuda a amalgamar a história, e é extremamente bem explorado, já que se vivia a época do auge da Guerra Fria, e a paranoia nuclear era uma constante, algo que vem a desembocar na dramática sequência final, quando o já citado Nautillus dispara um míssil nuclear (uma pequena liberdade do roteiro, já que o Nautillus não carregava este tipo de armamento). E que faz o Gigante de Ferro partir para interceptar o míssil numa espécie de sacrifício final enquanto é observado pela boquiaberta população e os militares que até pouco antes o caçavam, e ao encarar seu destino fecha os olhos, lembra-se do que Hogarth lhe falou e apenas diz... Superman!



Tendo em seus últimos minutos, uma carga de drama na medida mais que certa, que jamais descamba para a pieguice, mas que faz muito marmanjo ficar com os olhos marejados, e que de uma forma que, lógico, não posso aqui provar, se assemelha incrivelmente ao que o diretor Christopher Nolan fez anos depois no final de Batman O Cavaleiro das Trevas Ressurge.

Os dois improváveis e inseparáveis amigos.

Aí seria lógico de se pensar que tal obra, feita com tanto carinho e com tamanha carga de excelentes referências fosse se tornar um imenso sucesso comercial, não é?
Mas seja lá por qual motivo tenha sido, se por incompetência dos executivos da Warner que restringiram seu lançamento a um numero minúsculo de salas de exibição na época, ou pelo próprio público estadunidense que parece não ter (mais uma vez) assimilado as particularidades da obra, o Gigante de Ferro acabou relegado ao submundo da cultura pop. Mas nós sabemos o quanto este mesmo submundo gosta de criar lendas, e com o passar dos anos e o “boca a boca” a popularidade do filme crescia de forma exponencial.

A capa da edição em bluray lançada em 2015.

Tanto que em 2015 foi lançada uma versão de luxo em bluray, e agora em 2018, no momento em termino de escrever estas últimas linhas, o mundo aguarda pelo lançamento mundial de “Jogador Número 1” o mais novo filme de Steven Spielberg, que terá justamente como um dos principais elementos de sua estória o Gigante de Ferro. Aquele mesmo Spielberg no qual Brad Bird se inspirou e que agora vai homenageá-lo.

Cena do trailer de "Jogador Número 1" - Homenageado, Steven Spielberg agora homenageia a obra de Bird.

E como em outros casos que já citei aqui, a obra de Brad Bird acabou se tornando uma lenda, um referencial, que como ensinou Hogarth Hughes, escolheu seu próprio caminho que foi entrar para a história.


Vozes brasileiras:
Andreas Avancini como Hogarth Hughes
Mabel Cezar como Annie Hughes
Marco Antônio Costa como Dean McCoppin
Vin Diesel como O Gigante de Ferro (mantido do original na maior parte da animação)
Guilherme Briggs como Kent Mansley
José Santa Cruz como General Rogard





























                                                  

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

10 Músicas Que Homenageiam Personagens e Obras de Ficção




Esta lista foi pensada para mostrar que as vezes ser fã não é o bastante, é preciso homenagear aquela obra ou personagem que você gosta.

10 – Wolverine ganhou uma homenagem da banda de death metal Entombed.


  



09 – A saga Guerra nas Estrelas foi homenageada pelos brasileiros do Dr.Sin.




08 – E por falar em Brasil, o NOW, projeto de AOR, capitaneado pelo brasileiro Alec Mendonça fez uma homenagem ao filme O Profissional de Luc Besson. Estreia de Natalie Portman no cinema.
                                                 




07 – Joel Schumacher apesar de ter feito oque fez com Batman, pode se orgulhar de ter no currículo Um Dia de Fúria, e que o filme tenha sido homenageado por ninguém menos que os decanos do heavy metal do Iron Maiden.





06 – Renegado, o seriado protagonizado pelo astro dos filmes B de ação Lorenzo Lamas, ganhou uma homenagem dos suecos do Hammerfall






05 – E falando em seriados dos anos 90, a Princesa Guerreira, Xena foi homenageda pela banda finlandesa (mas multinacional na formação) Sinergy.





04 – Alien O Oitavo Passageiro, e sua protagonista a tenente Ripley (citada na letra), foi homenageado pela banda sueca Tad Morose.





03 – Perry Mason, o advogado (meio detetive) nascido na literatura pulp, e que depois ganhou seriado foi homenageado por Ozzy Osbourne.





02 – E mais uma vez temos o Iron Maiden na lista, desta vez numa homenagem ao livro (e filme) Duna.





01 – Talvez a mais icônica de todas as homenagens do gênero. Godzilla, a “célula mater” de todo um conceito de filmes, ganhou sua homenagem através dos estadunidenses do Blue Oyster Cult.




















                                             
                                                                       
                                                                               
                                                                     
                                     
                            
                                                               



                                                 


terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Batman - A Trilogia (parte 3)

Um Bruce Wayne recluso. Um Jim Gordon que não consegue conviver com as consequências daquilo que ajudou a criar. Um plano de vingança. E todos se tornando heróis....
Oi pessoal! Enfim chegamos ao final da saga que escreveu um novo capítulo na história do cinema e da cultura pop.

Enfim vamos falar de “Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge”.



Não é segredo pra ninguém que após a aclamação do filme anterior, somado a comoção da perda Heath Ledger, o diretor Christopher Nolan esteve por um bom tempo relutante em assumir o comando do encerramento da trilogia. Mas sejam lá quais foram as razões que o fizeram decidir por finalizar a empreitada, não há como negar que aqui foi onde o diretor mais se permitiu criar.
Escrito pelos irmãos Nolan, baseado numa ideia de Christopher com o roteirista David S. Goyer o filme se baseou nas HQ’s “A Queda do Morcego” e “Terra de Ninguém”, contudo, sua maior inspiração veio de algo bem longe do Universo da DC Comics. O livro “Um conto de Duas Cidades” de Charles Dickens, que retrata a vida de dois personagens, um em Londres e o outro em Paris, e os conflitos de classes que passam a ocorrer após a Revolução Francesa.

Batman é forçado a voltar, ainda sem saber sobre os planos para destruí-lo

Tendo um roteiro bem mais complexo que os dois primeiros filmes, e focando na desconstrução da persona de Bruce Wayne, que amargurado e afastado a cerca de oito anos do Batman (uma inspiração direta no começo de Cavaleiro das Trevas de Frank Miller) se vê forçado a retornar a ação mesmo após ser abandonado por Alfred, numa cena que mesmo para a trilogia, é um ponto fora da curva, um duelo de interpretação entre Cristian Bale e Michael Caine.

Bruce com Alfred - O caminho escolhido pelo agora ex-milionário faria o mordomo abandoná-lo

Um plano de vingança que destrói com todas as faces da vida de Bruce Wayne, da psicológica à financeira. Culminando com reconstrução da famosa cena de “A Queda do Morcego”, com Batman caído com a coluna fraturada pelo vilão Bane, que Tom Hardy encarnou muito bem apesar de sempre tendo parte do rosto coberta pela máscara que usava, precisando compensar esta pequena “deficiência” com um gestual mais largo em algumas cenas. Sendo que segundo o próprio ator o mais difícil de se fazer eram justamente as cenas de luta, já que Batman era seu herói desde criança, e aquilo era muito complicado,“bater no seu herói”.

Bane luta com Batman - Segundo Tom Hardy, as cenas mais difíceis dele fazer
Aqui vale ressaltar que mantendo sua coesão de evitar ao máximo elementos fantásticos nestes filmes, Nolan, assim como fez com Ra’s Al Ghul, mudou a origem do personagem. O que pode até ter desagradado muita gente, mas permitiu uma visão mais crua e visceral da transformação do personagem e suas motivações em destruir Bruce/Batman. Só que aqui não apenas se limitando ao Morcego, mas procurando destruir com todo aquele status quo que pela sua visão, assim como Ra’s Al Ghul, deveria acabar, mas que se torna também um ponto de virada para alguns personagens.




Como quando Bane lê na tevê a carta de Jim Gordon, que em mais uma cena muito acima dos padrões para filmes do gênero, tem mais uma vez Gary Oldman preenchendo a tela como se um exército de atores coubesse numa só pessoa, em seu diálogo com o policial John Blake (Joseph Gordon Levitt), tendo ali com sua verdade exposta a todos, conseguido tirar enfim um imenso peso dos ombros.

O policial John Blake e o agora comissário Jim Gordon

Ou por exemplo, Selina Kyle (a Mulher Gato, ainda que não se refiram a ela assim no filme) que revisa suas posições e vence seus medos. Aqui valendo ressaltar que Anne Hathaway está simplesmente maravilhosa, com a melhor representação da ladra gatuna que o cinema já teve, num traje que além de manter a tradição de dar um cunho funcional para algo antes só estético (no caso os óculos/máscara), é uma homenagem descarada a roupa usada por Julie Newmar no seriado dos anos 1960.

Selina Kyle(Anne Hathaway) - Traje homenageando Julie Newmar

 Lógico, que até hoje está viva na memória a atuação de Michele Pfeifer em Batman Returns de Tim Burton, mas por melhor que tenha sido a atuação de Michele, aquela Selina que parecia estar sob efeito de alguma substância alteradora da consciência está muito longe da verdadeira representação da personagem. Algo que Anne realizou a perfeição.


E acho que é importante aqui se abrir um parêntese para aquele que talvez seja o grande “Calcanhar de Aquiles” da trilogia, pois seu elenco feminino desde a apagada Katie Holmes, passando por excelentes atrizes como Maggie Gyllenhaal e Marion Cotillard simplesmente é algo que pouco ou nada convence. Quase como se elas estivessem ali num ato burocrático. Mais um ponto para Hathaway que nitidamente estava adorando estar ali.

Marion Cotillard e a nada convincente morte de Thalia Al Ghul
Fora isto é impossível não ressaltar algo que Nolan procurou costurar desde o primeiro filme, que foi a relação do Batman com as crianças, uma construção feita muito antes de Bruce colocar a capa sobre os ombros, lá naquela cena de “Begins” quando ao roubar frutas, às divide com um menino faminto, ou quando já como Batman, dá a outro garoto, na sacada do prédio um periscópio de presente, passando pelo filho de Gordon em “Cavaleiro das Trevas”, até chegar a “Ressurge” como um símbolo de esperança que é marcado pelos garotos do orfanato nas paredes para lembrar aos exercito de Bane que território era aquele.

A marca do "Morcego" nas paredes de Gotham

O mesmo orfanato de onde veio o policial John Blake, o Robin da vez. Lógico que não há como negar que este ponto foi uma grande brincadeira do diretor Christopher Nolan, principalmente pelo fato de no final ser revelado que o sobrenome de batismo do personagem era Robin. No entanto, mesmo aqui, ele ainda se manteve bem fiel à origem do personagem, já que em uma de suas releituras, Richard John Grayson, o primeiro Robin, após ter seus pais assassinatos vai parar num orfanato onde passa boa parte da juventude.

Jason Gordon Levitt, o "Robin" de Ressurge - Origem quase idêntica ao do primeiro Robin.

Além disto temos aquele festival de citações que vão desde a presença de Roland Daggett (Ben Meldensohn), personagem criado no episódio de apresentação da Mulher Gato em Batman The Animated Series;  um dedinho de leve de “Cavaleiro das Trevas” de Miller quando um policial mais velho diz para o novato que ele estava prestes a ver “um show e tanto”; até chegar a fazer uma citação/brincadeira com o Arqueiro Verde ao colocar Bale caracterizado com um bigode e cavanhaque num tom mais claro, quase loiro, e numa cena no qual usa arco e flecha.

Bruce Wayne  ou seria o Arqueiro Verde?  - Mais uma liberdade de Nolan.

Mas se há uma coisa que não pode ser negada nesta trilogia é que os filmes se completam, formando um círculo perfeito. Pois se lá em “Begins”, Bruce afirma que como homem ele poderia ser destruído, mas como símbolo ele poderia ser eterno, é exatamente isto que os minutos finais de “Cavaleiro das Trevas Ressurge” nos brindam.

O embate final entre Batman e Bane.

A começar pela sequência da luta final, que é a primeira ocasião desde o seriado cômico dos anos 1960 em que o Batman aparece durante o dia.



Passando por uma cidade se redescobrindo em cada um, num filme no qual não houve um protagonista, já que todos os envolvidos tinham pesos praticamente idênticos, algo que fica claro na cena em que Batman revela sua identidade a Gordon e diz que qualquer podia ser um herói, pouco antes de carregar a bomba atômica rumo ao horizonte, salvando a cidade e se tornando aquilo que havia almejado.


E mais que merecidamente tendo seu final feliz, ao ser avistado por Alfred num café na Itália com Selina ao seu lado.

Após se fazer de morto, Bruce consegue seu final feliz ao lado de Selina

Deixando o legado do Morcego para Blake que descobre a Batcaverna abaixo da Mansão Wayne que tinha sido deixada para os órfãos e fechando de forma perfeita um trabalho feito com esmero, preocupado, sobretudo em se contar uma boa estória, que venceu a inclusive a pressão dos executivos do estúdio e que muito dificilmente veremos ser repetido nos dias de hoje.

                                




















terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Batman - A Trilogia (parte 2)

Oi gente!

No primeiro artigo sobre da trilogia “Cavaleiro das Trevas” de Chistopher Nolan, havia me referido à sabedoria de não terem gastado logo de cara as cartas mais conhecidas do baralho dos antagonistas do Batman logo no primeiro filme, e como cada uma dos vilões tinha sido fundamental para o surgimento e evolução do “cruzado encapuzado”.



E por falar em cartas, lógico, que todos se lembram da última cena, do encontro entre Gordon e Batman no alto do prédio da chefatura de polícia e a deixa do que estava por vir que é deixada.... A chegada do Coringa!
E aqui começo a falar do filme considerado por muitos (talvez a maioria) como o melhor filme de heróis de HQ de todos os tempos.
18 de julho de 2008. Estreava nos cinemas estadunidenses Batman – O Cavaleiro das Trevas.
A continuação de “Batman Begins” que não apenas colocou o Homem Morcego em rota de colisão com seu mais conhecido inimigo, como colocou o público em rota de colisão com um filme de roteiro inesperado, e que estabeleceu um patamar nunca antes galgado em produções do gênero.



Dois anos após o surgimento do Batman, os mafiosos de Gotham estavam acuados, diante das ações do Morcego que junto ao agora tenente James Gordon fechavam o cerco ao seu redor. E é em meio a este cenário que surge o Coringa. Nos quadrinhos um personagem de muitas caras, mas de poucos objetivos concretos, que pessoalmente nunca entendi muito bem como foi alçado ao posto de arqui-inimigo do “Homem Morcego”, que sempre visualizei estar muito mais próximo do Espantalho por exemplo.
Contudo, uma das melhores (ou seria terríveis?) versões do Palhaço do Crime, aquela escrita por Alan Moore na icônica HQ, “A Piada Mortal”, na qual o personagem quer provar que todos podem “ultrapassar a linha” e se tornarem alguém como ele, bastando para isto apenas ter os “estímulos” necessários, ou como o próprio diz “Um dia ruim”, acabou por indicação de Jonathan Nolan, irmão do diretor Christopher, servindo de base para o argumento, e maximizada, testar os limites de todos os personagens.
Tendo um Heath Ledger quase que possuído, e obcecado pelo ato da construção de seu Coringa como poucas vezes se viu com um ator na história do cinema, criando algo muito além da célebre frase: Por que tão sério? (Why So Serious?).

Uma incrível coletânea de frases marcantes.

E servindo muito bem para contextualizar isto, temos a famosa sequência do interrogatório. Uma das primeiras cenas a serem filmadas, feita quase sem ensaio algum, na qual a pedido e com autorização expressa de Ledger, Christian Bale bateu de verdade a maior parte do tempo em seu colega de cena, que teve seu final editado pelo próprio Nolan, que considerou excessivo que Batman num último ato de fúria chutasse cabeça do Coringa.

A cena do interrogatório - Batman batendo de verdade.

Mas esta não foi à única e talvez nem mesmo a mais inusitada das histórias envolvendo Ledger e seu Coringa durante as filmagens, e entre tantas podemos destacar facilmente três:
A festa – Nela praticamente ninguém ainda tinha visto Ledger com sua caracterização e sua maquiagem, que de forma proposital ou não à medida que “derretia” no rosto do ator, se tornava ainda mais assustadora. Acarretando nesta sequência em duas travadas históricas. A primeira de Michael Caine (Alfred) que possuía uma fala assim que o Palhaço do Crime entrasse na festa, mas que ao dar de cara com Ledger caracterizado simplesmente travou e mesmo assim Nolan não interrompeu a cena, e em seguida a travada de Maggie Gyllenhaal (Rachel Dawes, substindo Katie Holmes). E a fala de Ledger, na qual ele segura o rosto de Maggie e repete “Olha pra mim. Olha pra mim”, que foi um improviso, pois como assumido tempos depois pela atriz, ela simplesmente não conseguia olhar para a figura a sua frente.

Maggie Gyllenhaal e o susto ao dar de cara pela primeira vez com o visual do Coringa

A prisão – E falando em improviso, na cena que o Coringa já está preso, e Gordon chega e é ovacionado pelos demais policiais, o seu bater de palmas sarcástico não estava no roteiro, e Nolan que filmava com duas câmeras quase que perde a cena.


O detonador – Na cena em que o Coringa explode o hospital, mais uma vez fazendo algo que ninguém faz, como no caso da perseguição ao Batmóvel em Begins, Nolan resolveu que a sequência de pirotecnia da cena seria comandada pelo próprio Ledger, deixando um detonador rádio controlado em sua mão. Mas não é que a traquitana resolveu falhar. Contudo, a cena ainda prosseguiu por alguns instantes. Tempo suficiente para as explosões começarem, dando um susto em Heath Ledger (sim, aquele ato de reflexo dele foi legítimo), mas que mesmo assim deu continuidade a cena.



Mantendo o personagem sem um passado definido, como era antes da HQ de Moore, o roteiro trabalha a perfeição a função de aguçar seu mistério para o público, dando as suas ações ainda que extremamente planejadas um grau de visceralidade digno de um verdadeiro psicopata.
Um conceito que muitos erroneamente se apressaram em rotular como “anarquista”, mas que passa longe do viés político do mesmo. Viés este só abordado no filme seguinte. Pois aqui o Coringa é antes de tudo um grande corruptor, explorando cada uma das possíveis fraquezas de todos. Da ganância dos assaltantes de banco, passando pelo medo dos mafiosos com relação ao Batman até óbvio usando o amor e a desilusão como armas letais.


Alfred e Bruce, laços ainda mais estreitados no segundo filme.

Conseguindo com isto desde corromper a policial Anna Ramirez (Monique Curnen) num arco baseado na personagem Renee Montoya, que pessoalmente não entendo como não foi usada aqui. Até subverter completamente o promotor Harvey Dent (Aaron Eckhart, muito bom) que se transforma no vilão Duas Caras.

O antes e depois da composição do Duas Caras, na primeira figura os pontos de "captura de movimentos."

E fazendo Batman chegar terrivelmente perto de romper a linha que traçou pra si mesmo, a modificar o aparelho de sonar de Lucius Fox para espionar a cidade inteira.

Lucius Fox descobre oque Bruce tinha feito com sua invenção.

Uma coletânea tão grande de maldades e atos inesperados (valendo aqui mencionar a icônica cena do lápis) que não me furtaria em afirmar que fato se tornou o maior vilão da história do cinema.
Desculpa Darth Vader...



 Além disto o filme ainda trabalha o conceito que a presença do Batman alimentava a surgimento de malucos, como os “justiceiros” da sequência do prédio garagem e até mesmo o de figuras como o próprio Coringa.

Enquanto analisávamos os quadrinhos, houve uma ideia fascinante que a presença de Batman em Gotham atrai, de fato, os criminosos a Gotham. Ela atrai os lunáticos. Quando você está lidando com questões polêmicas, como a 'justiça com as próprias mãos', você precisa realmente se perguntar: 'aonde isso leva?'. É isso que deixa o personagem tão obscuro, porque ele expressa um desejo vingativo."
— Nolan, falando sobre a continuação

Fora isto temos um massacre de referências que vão desde a série clássica de 1966 até a inusitada presença de um cartaz do filme Homem Aranha 3 em uma das cenas.

Referência ao clássico seriado cômico de 1966

E a melhor síntese feita com o Batman até hoje num filme live action. Pois fora a já citada cena na qual ele reinventa o aparelho de sonar de Fox mostrando seu lado cientista.
Temos seu lado detetive, presente desde Begins, mas que chega neste filme ao ápice de vermos ele investigando buracos de balas pra descobrir qual arma foi usada.
Seu lado que se divide em ser o Batman e tentar ainda que sabendo impossível, possuir uma vida ao lado de alguém (mais um dedinho de influência de A Máscara do Fantasma?).
Até as cenas espetaculares de ação, como na icônica cena em que num prédio em construção enfrenta um problema triplo ao ter reféns vestidos como bandidos, bandidos que se disfarçavam de paramédicos, além de ter de anular uma equipe inteira da SWAT, tudo isto ao mesmo tempo.

Bale no alto de um prédio ensaiando a cena da invasão ao prédio de Lau em Hong Komg
Se encerrando de forma dramática, porém, não pesada, parecendo um argumento de Dennis ONeil, o filme termina, como o próprio Batman partindo, sendo perseguido pela polícia, em sacrifício ao seu objetivo.

Harvey, Gordon e Batman - As ações do Coringa fariam seus destinos convergirem de forma dramática

Enquanto Gordon explica ao filho que ele até podia ser o herói que Gotham merecia, mas não era o herói que a cidade naquele momento precisava. E que antes de tudo o Batman era um guardião silencioso, um protetor cuidadoso......um Cavaleiro das Trevas!

Batman - Perseguido pela polícia para defender oque acreditava

Mas como é citado durante o filme: A noite é sempre mais escura antes do amanhecer.
E este amanhecer chegaria, mas não sem grandes sacrifícios, até maiores do que os já enfrentados, mas sobre eles falarei apenas na terceira e última parte desta incrível saga. Até lá!
























Os 10 Melhores Filmes de Arnold Schawarzenegger

               Tempos atrás aqui no blog, foi feita uma lista com aqueles que na humilde opinião deste escriba seriam os “10 Melhores Filmes...