sábado, 11 de junho de 2022

Mulher Maravilha & Conan - O encontro de dois mundos

 

Se existe algo que comumente acaba descambando para um verdadeiro “barata voa” na história dos quadrinhos são os famigerados crossovers.

Não que tais eventos não sejam legais e por vezes proporcionem aos fãs o encontro de personagens que todos, ou a maioria, sonhou.

O problema é que para promoverem tais encontros, em geral as editoras, e algumas vezes os artistas também, jogam para o alto qualquer resquício mínimo de encaixe das peças do quebra-cabeças.

Mas em 2017, uma ideia aparentemente maluca ganhou a luz do dia.

Unir numa saga, Diana a Princesa de Themyscira, e Conan da Ciméria!

Escrita por Gail Simone e ilustrada por Aaron Lopresti, aproveitando a estada do bárbaro na editora Dark Horse, nossa estória tem início focando uma época pouco, ou nada, explorada da vida do cimério, sua infância.

Mais precisamente, seus doze anos, quando um Conan prestes a entrar na adolescência vai com seu pai para o encontro das tribos, e lá conhece uma garota chamada Yanna (sonoridade familiar, não é?), que coincidentemente vinha de uma tribo comandada por mulheres.

E é lógico que o plot da amizade que se transforma no primeiro amor é explorado. Algo que pode até desagradar uma parte mais rasa do público, mas é muito legal ver esta fase da vida de Conan ser um pouco explorada, algo que nem seu criador Robert Howard, ou seu grande desenvolvedor, Roy Thomas chegaram a explorar.

Lembrando que pela mitologia do personagem, ele só iniciou sua vida de aventuras a partir dos dezessete para dezoito anos.

E que as versões cinematográficas do cimério em nada tem a ver com seu começo de vida como descrita originalmente seja nos pulp fictions ou HQ's, e muitas vezes pouco a ver com sua personalidade como descrito originalmente, seja nos pulps de Howard, ou nos roteiros de quadrinhos de Thomas. Portanto, esqueçam aquela frase infeliz do clássico filme dirigido por John Milius, pois tal bravata historicamente é atribuída a Genghis Kan.

E lembre-se que Conan sobre tudo era um “produto” de sua época (ainda que fictícia), e que mesmo nos contos originais, era um ser que apesar de lutar com imensa brutalidade e ter seu senso autopreservação como regra primária, não era totalmente desprovido de compaixão e que por vezes demonstrou um ódio profundo pela injustiça, em especial se cometida em prol de alguma divindade ou entidade sobrenatural de qualquer espécie.

Explicado isto, temos um salto no tempo, e vemos o cimério encontrando em seu caminho um aquilônio chamado Kian, que estava prestes a ter a língua queimada por três grandalhões, e que pede auxílio ao cimério, que a princípio ia deixar o sujeito lá com seus algozes pela raiva que nutria pelos aquilônios, mas que diante de uma oferta de recompensa, “compra a briga”, salvando o homenzinho de seu trágico fim.

Só que o tal Kian, não tinha nada naquele momento para entregar ao seu salvador como recompensa, mas o leva a cidade mais próxima, Shamar, na qual disse ter feito uma aposta na arena de gladiadores, e que venceria, dando a Conan os proventos de desta aposta.

E é lá, que Conan se surpreende, ao se deparar com a grande atração das disputas de gladiadores. Uma mulher, que de imediato faz o bárbaro pensar estar de frente com sua primeira paixão.

Uma mulher que lutava com vários homens ao mesmo tempo, e os vencia. Lógico que era nossa querida Mulher-Maravilha. Mas na mente de Conan não havia dúvida, estava frente de Yanna.

E neste ponto não há como negar que o roteiro é muito habilidoso, fazendo até mesmo o leitor, ainda que por um fugaz momento achar que Diana e a tal Yanna pudessem ser de alguma forma a mesma pessoa.

E obvio que o cimério não iria ficar de braços cruzados, e com a ajuda de um garoto local com quem faz amizade após salvá-lo de uma surra, consegue entrar nas masmorras onde eram mantidos os gladiadores, e encontra com a mulher que o fascinou na arena.

Só que ela se encontrava absolutamente desmemoriada, sem saber ao certo quem era, e como alegria de cimério dura pouco, são descobertos por Dellos, o mercador de escravos, e colocados para lutar um contra o outro.

Aí você que ainda não leu esta HQ pode estar pensando que o cimério vai “para as cucuias” na mão da Mulher Maravilha, certo?

O problema é que além de desmemoriada, a amazona não estava possuidora de todos seus poderes, e a luta ocorre em patamares equivalentes, com a vitória do bárbaro que ao se negar a executar a mulher enfurece Dellos, que os vende para um navio de piratas, enquanto que somos de fato apresentados as verdadeiras ameaças de nossa estória, as Corvídeas.

Entidades malignas irmãs, que se divertiam colocando homens para lutar até a morte, para depois se alimentarem de seus corpos. As responsáveis por Diana ter ido parar na época de Conan.

Mas não é preciso ser vidente para saber que Conan e Diana conseguem fugir do julgo dos piratas, enquanto vão se conhecendo a longo do caminho, em meio a uma e outra briga, enquanto o clima de romance só aumenta, até que são confrontados pelas Corvídeas que querem obriga-los a lutar até a morte.

Mas como era de se esperar, nossos heróis se negam.

E como ameaça pouca é bobagem, as irmãs corvo, dizem que matariam todos na cidade se não o fizessem. E apelando mais ainda apresentam a Diana, cinco amazonas que haviam sido enviadas para resgatá-la, e por fim a apelação final, Yanna!

Sim! A primeira paixão de Conan estava vivinha, e vê-la sob ameaça é demais para a cabeça do bárbaro que parte para cima da Mulher Maravilha, mas que aqui não apenas tinha recuperado parte de suas lembranças como parte de sua força.

Só que as vilãs cometem o velho e clássico erro do excesso de autoconfiança, e esquecem que dar as costas para qualquer amazona não era um ato muito inteligente. Permitindo assim que as “irmãs” de Diana se libertem, e ajudem a princesa.

Contudo, as Corvídeas se evadem, prometendo destruir Shamar e levando consigo Yanna, para desespero de Conan. E a coisa só piora para o cimério, pois as amazonas precisavam retornar ao seu tempo, levando consigo Diana logicamente, mas que não vai embora sem antes deixar um “presentinho” para o amigo, o laço de Héstia.

Bem, não preciso aqui, creio eu, ser muito detalhista no que vem depois disto, não é? Conan, sendo Conan!

Ceifando membros como se cortasse grama, noite após noite, caçando as legiões das trevas das Corvídeas que sabiam que o cimério ia até Shamar resgatar Yanna.

Até que as portas da cidade, Conan lança um desafio para as irmãs malignas. Ele contra seu mais poderoso guerreiro, numa luta sem espadas, numa aposta pela vida dos habitantes de Shamar, e de Yanna. Tentação que as Corvídeas não resistem.

Gail Simone e seu casal de protagonistas

Aqui eu preciso abrir um parêntese para dizer que por mais que pudesse ser previsível tudo que passa a acontecer na estória a partir daqui, não há como negar que o roteiro de Gail Simone é empolgante em seu “ponto de virada”, que a partir daqui vai num crescente absurdo. E acredite, nada do que já descrevi e irei descrever neste texto, tirará seu prazer em ler esta HQ.

Conan usando do laço de Héstia, vence o duelo, para histeria das Corvídeas que ficam bradando que o cimério tinha trapaceado, enquanto que na cidade um arrependido Kian (sim, ele mesmo, o baixinho que Conan salvou) ajuda a libertar os gladiadores, ao mesmo tempo em que as tropas das trevas entram na cidade, mas tem uma pequena supressa.

Pois logo que os portões de Shamar são derrubados, quem os esperava era nada menos que Diana com as outras amazonas que haviam ido antes lhe salvar, e como uma verdadeira general, a Mulher Maravilha comanda suas irmãs, logo tendo ajuda dos gladiadores e demais cidadãos da cidade, e lógico nosso querido cimério.

E aqui preciso ressaltar que apesar de volte e meia Gail Simone ser rotulada por uma parcela de ditos fãs como ícone feminista de forma pejorativa, seu texto é perfeito ao descrever o que ocorre naquela noite, quando amazonas, bárbaros, gladiadores, homens e mulheres comuns lutaram juntos contra a tirania de seres que se consideravam superiores, na síntese do que pode ser considerada uma estória de heróis.

Bem na contramão de algumas tendências bizarras e de mal gosto que vem permeando os quadrinhos para satisfazer parcelas cínicas de público.

Ah sim! Lógico que nossos heróis vão triunfar, ainda que para Conan alguns de seus sonhos fiquem pelo caminho. Como eu disse, alegria de cimério dura pouco.

Só que como nem tudo é perfeito, apesar da estória ter me deixado bastante satisfeito, principalmente pelo respeito com que Conan foi tratado, não há como negar que sua última cena é onde a coisa derrapa e capota. Não exatamente por mostrar Diana numa cafeteria nos dias atuais encontrando com a possível reencarnação do cimério.

Mas porque resolveram colocá-lo vestindo um terno e gravata de liquidação, num bisonho simulacro de Clark Kent, quando numa visão absolutamente pessoal, creio que seu visual ficaria bem mais apropriado se usando uma jaqueta de couro e uma camisa de alguma banda de heavy-metal.

Considerações fashionistas a parte, este é apenas uma falha mínima, num dos poucos casos de crossovers do gênero que funcionaram perfeitamente, e que agregaram a mitologia de seus personagens sem os descaracterizar para isto, e que bem que poderia ter sido editada aqui em nossas terras de maneira oficial.



 

 

 

 

 

 

 

 

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