Programas
que satirizam o cotidiano da sociedade norte-americana em realidades, digamos
alternativas, desde os anos 1960 não são nenhuma novidade nas telas das tevês
do mundo.
E
com facilidade podemos nos lembrar, dos famosos seriados de animação de
Hanna-Barbera como: Os Flintstones, Os Jetsons e Os Muzzarelas.
Mas
no inicio da década de 1990, o escritor e produtor Michael Jacobs – criador do
seriado junto com Bob Young – se associou a Disney Television, e a Jim Henson,
famoso por criações como Vila Sésamo e Os Muppets, para um novo show com
bonecos, que além de satirizar (algo que os Muppets já faziam), traçou uma
refinada linha crítica a sociedade e seus costumes.
E
mesmo após a morte de Jim Henson em maio de 1990, tendo sido substituído por
seu filho, Brian, em 26 de abril de 1991 ia ao ar o episódio “O Poderoso
Megalossauro”.
Apresentando
ao mundo Dino, Fran, Bob, Charlene e lógico Baby...
A
Família Dinossauros!
Uma
aparentemente despretensiosa sitcom
usando bonecos, mostrando o dia-a-dia dos Silva Sauro (Sinclair no original), e
suas aventuras e desventuras num mundo dominado pelos grandes répteis, mas com
todas as peculiaridades da vida humana moderna.
Mas
afinal de contas. O que fez Família Dinossauros o sucesso absurdo que se
tornou, num caso raríssimo de “clássico instantâneo”?
Baby |
Bem,
além do obvio humor irônico, que ao contrário de outras séries satíricas,
Família Dinossauro soube mesclar de forma primorosa sua ironia com um estilo de
humor clássico típico de célebres mestres do humor como O Gordo e o Magro,
Jerry Lewis e Os Três Patetas.
Dino |
Sabendo
construir muito bem as personalidades de seus personagens, e como interagiam
entre si, algo que pessoalmente, sempre foi um lado míope e capenga das sitcons, em geral só preocupadas com a
piada do minuto seguinte.
Fran |
E a
partir daí discorrer sobre toda a sorte de tema. Não apenas criando paralelos
com assuntos que iam desde problemas familiares e drogas, até críticas rasgadas
as mega-corporações e a recente na época Guerra do Golfo.
Colocando
a figura dos dinossauros como espelho para nossa sociedade, que na época já
iniciava o processo de automação que assistimos hoje, num tempo em que os
Simpsons ainda engatinhavam sem eu humor satírico-social.
GP Richfield, o patrão de Dino e Roy era a encarnação da exploração e assédio moral. |
Expondo
ainda assuntos como assédio moral, bullying e racismo, tendo no outro extremo
deste pendulo em geral a figura de Dino da Silva Sauro, que vivia
constantemente num misto de apatia conveniente e perplexidade assustada, diante
daquele mundo que mudava muito rapidamente, e na maioria das vezes à sua
revelia.
Aqui
valendo ressaltar, que para a época, diversos assuntos abordados em Família
Dinossauros, praticamente não eram vistos no âmbito das sitcons, ainda mais uma que a principio era destinada ao público
infanto-juvenil.
Monica era a brontossaura separada que sofria preconceito |
E
para compor toda a “Era Pré-Diluviana” como assim era chamada no seriado, os
produtores lançaram mão de uma série de paródias, em geral ligadas a canais de
televisão, ainda a grande centralizadora de atenção na era pré-internet.
Entre
estes canais os que mais se destacavam eram:
ABC
(Antediluviam Broadcasting Company), uma brincadeira com a própria emissora que
transmitia o seriado a ABC (American Broadcasting Company).
DNN (Dinossaurs News Network) que
parodiava a CNN (Cable News Network).
DSPN (Dinossaurs Sports Programing
Network) uma brincadeira com a ESPN (Entertainment Sports Programing Network).
E
lógico a DTV (Dinomusic Television) uma paródia da MTV (Music Television).
E
ainda que a própria “Família Dinossauros” não tenha escapado de ser satirizada,
mesmo sem muita sutileza num episódio de “Os Simpsons” em 1992, onde num
programa, um bebê dinossauro bate na cabeça do pai, e Bart protesta ao ver
aquilo afirmando ser uma cópia da família Simpsons.
A Família Dinossauros não escapou de ser satirizada pelos Simpsons |
Alguns
programas de tevê que parodiavam atrações diversas também foram satirizados,
como em “Ask Mr.Lizard”, no qual o assistente do apresentador, Timmy acabava
sempre se dando mal em razão de algum experimento com ditos fins educativos, e
que possuía o bordão “Vamos precisar de outro Timmy”.
E
“Mr.Ugh”, uma paródia do programa “Mr.Ed”, em que um cavalo falava, sendo que
na série esta função era representada por um homem das cavernas.
Charlene |
Bob |
Aqui
valendo a abertura de parênteses sobre a relação dos dinossauros com os homens
das cavernas. Que no seriado trocavam de papéis por assim dizer. Sendo os seres
humanos por diversas vezes retratados como animais incapazes de pensamento
racional e até mesmo de expressar sentimentos, isto através da visão dos
dinossauros mais velhos em geral.
Vovó Zilda Phillips |
Sendo
que os dinossauros chegavam a não saber distinguir quem eram os machos e fêmeas,
como no episódio “A Dança do Acasalamento”.
Ao
contrário do que muitos pensam, principalmente fora dos Estados Unidos, Família
Dinossauros teve quatro temporadas e não apenas três.
Roy Hess |
Tudo
por causa de seu custo de produção. Uma produção que trouxe toda uma nova
tecnologia que passou a ser conhecida como “animatronics”, na qual dois
profissionais, um fazendo o corpo e o outro por controle remoto fazendo as
expressões faciais, davam vida aos personagens.
E cada personagem possuía articulações diferentes e cada figurino era feito
artesanalmente. E toda esta tecnologia convivia em harmonia com marionetes no
melhor estilo “Os Muppets”, em geral na figura de animais menores.
Isto aliado a roteiros inteligentes, gerou um
sucesso imediato, e uma nova temporada foi encomendada as pressas, enquanto que
fora das fronteiras estadunidenses tal sucesso não só se repetia, como por
vezes era maior ainda.
Contudo,
talvez por suas críticas ao status quo
da sociedade norte-americana, que em momento nenhum descambou para o escracho jocoso como em
outros seriados transformando-se numa caricatura não assimilável, contam
que Família Dinossauros começou a
apresentar uma queda considerável em sua audiência, ao menos em território de
Tio Sam.
Mas
se alguém achou que os dinossauros mais famosos do mundo (desculpa Godzilla)
iam deixar as cortinas se fecharem assim, sem deixar sua marca, estavam enganados.
Afinal,
por se tratar de uma série que sem pudores, tratou dos mais
diversos temas, e sempre mantendo um grau elevado de inteligência, seu final
não poderia ser diferente.
Carlão |
E
em 19 de outubro de 1994 era exibido “Mudando a Natureza”, um episodio que aqui
confesso, quando terminei de assistir, na época ainda transmitido no começo da
noite de domingo pela Rede Globo, simplesmente me deixou estático por uns cinco
minutos ao menos, diante do que tinha sido realizado.
Um
episódio crítico ao máximo a nossa sociedade que consome os recursos naturais
como um vírus, ao mesmo tempo em que tem o final mais tristemente ácido que se
poderia imaginar, com o começo do que seria a “Era do Gelo”, neste caso
iniciada pela culpa e burrice dos próprios protagonistas.
O âncora da DNN, Howard Handpune em seu comunicado final |
Episódio
este que devido seu final, acabou sendo considerado impróprio em diversos
países, e que aqui em Terra Brasilis, acabou sendo exibido só mesmo naquela
histórica, porém, fatídica noite de domingo.
Na
qual Dino, Fran, Baby, Bob, Charlene, Roy Hess, Mônica Desvertebrada, GP
Richfield, Vovó Zilda, Carlão, entre outros saíram das telas para entrarem para a história.
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