terça-feira, 16 de abril de 2019

Família Dinossauros


Programas que satirizam o cotidiano da sociedade norte-americana em realidades, digamos alternativas, desde os anos 1960 não são nenhuma novidade nas telas das tevês do mundo.
E com facilidade podemos nos lembrar, dos famosos seriados de animação de Hanna-Barbera como: Os Flintstones, Os Jetsons e Os Muzzarelas.
Mas no inicio da década de 1990, o escritor e produtor Michael Jacobs – criador do seriado junto com Bob Young – se associou a Disney Television, e a Jim Henson, famoso por criações como Vila Sésamo e Os Muppets, para um novo show com bonecos, que além de satirizar (algo que os Muppets já faziam), traçou uma refinada linha crítica a sociedade e seus costumes.
E mesmo após a morte de Jim Henson em maio de 1990, tendo sido substituído por seu filho, Brian, em 26 de abril de 1991 ia ao ar o episódio “O Poderoso Megalossauro”.
Apresentando ao mundo Dino, Fran, Bob, Charlene e lógico Baby...
A Família Dinossauros!


Uma aparentemente despretensiosa sitcom usando bonecos, mostrando o dia-a-dia dos Silva Sauro (Sinclair no original), e suas aventuras e desventuras num mundo dominado pelos grandes répteis, mas com todas as peculiaridades da vida humana moderna.
Mas afinal de contas. O que fez Família Dinossauros o sucesso absurdo que se tornou, num caso raríssimo de “clássico instantâneo”?

Baby

Bem, além do obvio humor irônico, que ao contrário de outras séries satíricas, Família Dinossauro soube mesclar de forma primorosa sua ironia com um estilo de humor clássico típico de célebres mestres do humor como O Gordo e o Magro, Jerry Lewis e Os Três Patetas.

Dino

Sabendo construir muito bem as personalidades de seus personagens, e como interagiam entre si, algo que pessoalmente, sempre foi um lado míope e capenga das sitcons, em geral só preocupadas com a piada do minuto seguinte.

Fran

E a partir daí discorrer sobre toda a sorte de tema. Não apenas criando paralelos com assuntos que iam desde problemas familiares e drogas, até críticas rasgadas as mega-corporações e a recente na época Guerra do Golfo.
Colocando a figura dos dinossauros como espelho para nossa sociedade, que na época já iniciava o processo de automação que assistimos hoje, num tempo em que os Simpsons ainda engatinhavam sem eu humor satírico-social.

GP Richfield, o patrão de Dino e Roy era a encarnação da exploração e assédio moral.

Expondo ainda assuntos como assédio moral, bullying e racismo, tendo no outro extremo deste pendulo em geral a figura de Dino da Silva Sauro, que vivia constantemente num misto de apatia conveniente e perplexidade assustada, diante daquele mundo que mudava muito rapidamente, e na maioria das vezes à sua revelia.
Aqui valendo ressaltar, que para a época, diversos assuntos abordados em Família Dinossauros, praticamente não eram vistos no âmbito das sitcons, ainda mais uma que a principio era destinada ao público infanto-juvenil.



Monica era a brontossaura separada que sofria preconceito

E para compor toda a “Era Pré-Diluviana” como assim era chamada no seriado, os produtores lançaram mão de uma série de paródias, em geral ligadas a canais de televisão, ainda a grande centralizadora de atenção na era pré-internet.
Entre estes canais os que mais se destacavam eram:
ABC (Antediluviam Broadcasting Company), uma brincadeira com a própria emissora que transmitia o seriado a ABC (American Broadcasting Company).
DNN (Dinossaurs News Network) que parodiava a CNN (Cable News Network).
DSPN (Dinossaurs Sports Programing Network) uma brincadeira com a ESPN (Entertainment Sports Programing Network).
E lógico a DTV (Dinomusic Television) uma paródia da MTV (Music Television).
E ainda que a própria “Família Dinossauros” não tenha escapado de ser satirizada, mesmo sem muita sutileza num episódio de “Os Simpsons” em 1992, onde num programa, um bebê dinossauro bate na cabeça do pai, e Bart protesta ao ver aquilo afirmando ser uma cópia da família Simpsons.

A Família Dinossauros não escapou de ser satirizada pelos Simpsons

Alguns programas de tevê que parodiavam atrações diversas também foram satirizados, como em “Ask Mr.Lizard”, no qual o assistente do apresentador, Timmy acabava sempre se dando mal em razão de algum experimento com ditos fins educativos, e que possuía o bordão “Vamos precisar de outro Timmy”.
E “Mr.Ugh”, uma paródia do programa “Mr.Ed”, em que um cavalo falava, sendo que na série esta função era representada por um homem das cavernas.

Charlene


Bob

Aqui valendo a abertura de parênteses sobre a relação dos dinossauros com os homens das cavernas. Que no seriado trocavam de papéis por assim dizer. Sendo os seres humanos por diversas vezes retratados como animais incapazes de pensamento racional e até mesmo de expressar sentimentos, isto através da visão dos dinossauros mais velhos em geral.

Vovó Zilda Phillips

Sendo que os dinossauros chegavam a não saber distinguir quem eram os machos e fêmeas, como no episódio “A Dança do Acasalamento”.
Ao contrário do que muitos pensam, principalmente fora dos Estados Unidos, Família Dinossauros teve quatro temporadas e não apenas três.

Roy Hess

Tudo por causa de seu custo de produção. Uma produção que trouxe toda uma nova tecnologia que passou a ser conhecida como “animatronics”, na qual dois profissionais, um fazendo o corpo e o outro por controle remoto fazendo as expressões faciais, davam vida aos personagens.




E cada personagem possuía articulações diferentes e cada figurino era feito artesanalmente. E toda esta tecnologia convivia em harmonia com marionetes no melhor estilo “Os Muppets”, em geral na figura de animais menores.


Isto  aliado a roteiros inteligentes, gerou um sucesso imediato, e uma nova temporada foi encomendada as pressas, enquanto que fora das fronteiras estadunidenses tal sucesso não só se repetia, como por vezes era maior ainda.
Contudo, talvez por suas críticas ao status quo da sociedade norte-americana, que em momento nenhum  descambou para o escracho jocoso como em outros seriados transformando-se numa caricatura não assimilável, contam que  Família Dinossauros começou a apresentar uma queda considerável em sua audiência, ao menos em território de Tio Sam.
Mas se alguém achou que os dinossauros mais famosos do mundo (desculpa Godzilla) iam deixar as cortinas se fecharem assim, sem deixar sua marca, estavam enganados.
Afinal, por se tratar de uma série que sem pudores, tratou dos mais diversos temas, e sempre mantendo um grau elevado de inteligência, seu final não poderia ser diferente.

Carlão

E em 19 de outubro de 1994 era exibido “Mudando a Natureza”, um episodio que aqui confesso, quando terminei de assistir, na época ainda transmitido no começo da noite de domingo pela Rede Globo, simplesmente me deixou estático por uns cinco minutos ao menos, diante do que tinha sido realizado.
Um episódio crítico ao máximo a nossa sociedade que consome os recursos naturais como um vírus, ao mesmo tempo em que tem o final mais tristemente ácido que se poderia imaginar, com o começo do que seria a “Era do Gelo”, neste caso iniciada pela culpa e burrice dos próprios protagonistas.

O âncora da DNN, Howard Handpune em seu comunicado final

Episódio este que devido seu final, acabou sendo considerado impróprio em diversos países, e que aqui em Terra Brasilis, acabou sendo exibido só mesmo naquela histórica, porém, fatídica noite de domingo.
Na qual Dino, Fran, Baby, Bob, Charlene, Roy Hess, Mônica Desvertebrada, GP Richfield, Vovó Zilda, Carlão, entre outros saíram das telas para entrarem para a história.







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