quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

O Gigante de Ferro


Pode uma história que é puro clichê, sobre um menino filho de mãe solteira, deslocado e sem amigos, e que trava uma improvável amizade com um ser que chega do espaço, se tornar uma obra única e icônica, capaz de encantar gerações?
Se você respondeu que SIM? OK. Você está certo.
Mas se você pensou naquele filme de 1982 dirigido por Steven Spielberg, então lamento dizer que você errou.

Hoje vamos falar sobre, O Gigante de Ferro.



Baseado no romance “Iron Man”, escrito pelo britânico Ted Hughes, o longa-metragem de animação começou seu desenvolvimento em 1994, porém, quase não tinha saído do estágio das “ideias” até que em 1996 o projeto foi dado ao então estreante Brad Bird, hoje famoso por outras animações como “Os Incríveis” e “Ratatouille” e até por filmes live action como “Missão impossível - Protocolo Fantasma”.

Brad Bird e o personagem que lhe faria famoso.

Recebendo na mesma época o providencial reforço de Pete Townshend, guitarrista da banda The Who, que já havia feito um musical que adaptava o livro, e que passou a ser produtor executivo do filme, Bird convocou o roteirista Tom McCanlies,  finalizando a estória em pouco tempo , tendo a aprovação imediata de Ted Hughes, que infelizmente faleceu antes de sua estreia, e por isto o filme é dedicado a ele.

Pete Townshend - O músico já havia adaptado o livro de Hughes e se tornou produtor da animação.

Na estória, passada em 1957, numa cidadezinha do Maine, nordeste dos Estados Unidos, Hogarth Hughes um garoto cuja mãe, Annie - que ganhou a voz da atriz Jenifer Aniston - trabalhava de sol a sol como garçonete numa lanchonete, encontra (ou seria, é encontrado?) por um gigantesco robô que veio do espaço.

Annie, a mãe de Hogarth ganhou a voz de Jenifer Aniston

Um robô projetado para ser uma arma mortífera - que ganhou a voz de um praticamente desconhecido até então Vin Diesel. Mas que possivelmente devido a uma pancada que recebeu, pois tinha uma marca de amassado na cabeça, havia perdido parte de sua memória (ou seria programação?).

O até então, quase desconhecido Vin Diesel emprestou sua voz para o gigantesco protagonista.

E entre os dois vai se estabelecendo uma amizade, na qual ao mesmo tempo em que Hogarth encontra no robô o amigo que não conseguia ter naquela cidadezinha, também passa a ensiná-lo sobre várias questões sobre a vida, como quando na floresta eles encontram um cervo que logo depois é morto por caçadores (uma alusão clara a Bambi da Disney), oque faz o Gigante pela primeira vez, ao ver as armas dos caçadores, manifestar sua programação primária de autodefesa.



E é numa destas cenas que para ilustrar para o robô como ele deveria agir, é que há uma das melhores citações já vistas tanto em animações como em qualquer outra mídia, pois Hogarth usa como exemplo de correto, a figura de ninguém menos que o Superman, através de uma revista em quadrinhos, afirmando ao seu gigantesco amigo, que mesmo muito poderoso, o Superman sempre usava seu poder para fazer o bem, nunca o mal, relato este que cria um fascínio imediato na criatura, e que culmina na icônica frase: Você é aquilo que escolhe ser.

Hogarth mostra ao seu amigo a revista do Superman

Contudo, um segredo deste tamanho não é exatamente a coisa mais simples de se esconder, pois certamente não dava para colocar no armário, e Hogarth acaba mostrando o Gigante para Dean McCoppin - que teve a voz feita pelo ator e cantor Harry Conick Jr - um artista plástico que morava num ferro velho afastado de onde tirava a matéria-prima para suas esculturas.


Harry Conick Jr. - O ator/cantor deu voz ao artista plástico Dean McCoppin

O problema é que Kent Mansley um atrapalhado, mas também obstinado agente do FBI, que obcecado pela história que até então não sabia se era um OVNI ou arma soviética, aparece para infernizar a vida de Hogarth.

Kent Mansley e Hogarth - O agente federal não era páreo para a esperteza do garoto

Tudo extremamente semelhante ao clássico ET - O Extraterrestre de Steven Spielberg, e com um pequeno (talvez nem tão pequeno assim) referencial de Frankstein Jr., a clássica animação de Hanna-Barbera, mas que o roteiro, junto a habilidosa direção de Brad Bird, e uma equipe dedicada trataram de tornar algo singular.

Frankstein Jr. - Mais uma das influências da animação


Mas como assim singular?
Bem, é preciso antes de tudo contextualizar a premissa do roteiro, afinal estamos aqui falando de uma mãe solteira, que batalha para criar sozinha o filho, na conservadora década de 1950.



Fora isto é preciso ressaltar o quanto o personagem Hogarth não é retratado como um menino bobo e tristonho apesar de solitário. E que inclusive usa de sua inteligência para enganar o bisbilhoteiro agente Mansley.
E lógico, a excelente reconstituição de época, desde os interiores das casas; passando pelos programas de televisão (a grande novidade tecnológica da época); até o maquinário militar, indo dos caças F-86 Sabre até o submarino Nautillus, o primeiro movido a energia nuclear.

Os caças F86 Sabre - Reconstituição de época minuciosa e perfeita

Outro ponto que, aliás, ajuda a amalgamar a história, e é extremamente bem explorado, já que se vivia a época do auge da Guerra Fria, e a paranoia nuclear era uma constante, algo que vem a desembocar na dramática sequência final, quando o já citado Nautillus dispara um míssil nuclear (uma pequena liberdade do roteiro, já que o Nautillus não carregava este tipo de armamento). E que faz o Gigante de Ferro partir para interceptar o míssil numa espécie de sacrifício final enquanto é observado pela boquiaberta população e os militares que até pouco antes o caçavam, e ao encarar seu destino fecha os olhos, lembra-se do que Hogarth lhe falou e apenas diz... Superman!



Tendo em seus últimos minutos, uma carga de drama na medida mais que certa, que jamais descamba para a pieguice, mas que faz muito marmanjo ficar com os olhos marejados, e que de uma forma que, lógico, não posso aqui provar, se assemelha incrivelmente ao que o diretor Christopher Nolan fez anos depois no final de Batman O Cavaleiro das Trevas Ressurge.

Os dois improváveis e inseparáveis amigos.

Aí seria lógico de se pensar que tal obra, feita com tanto carinho e com tamanha carga de excelentes referências fosse se tornar um imenso sucesso comercial, não é?
Mas seja lá por qual motivo tenha sido, se por incompetência dos executivos da Warner que restringiram seu lançamento a um numero minúsculo de salas de exibição na época, ou pelo próprio público estadunidense que parece não ter (mais uma vez) assimilado as particularidades da obra, o Gigante de Ferro acabou relegado ao submundo da cultura pop. Mas nós sabemos o quanto este mesmo submundo gosta de criar lendas, e com o passar dos anos e o “boca a boca” a popularidade do filme crescia de forma exponencial.

A capa da edição em bluray lançada em 2015.

Tanto que em 2015 foi lançada uma versão de luxo em bluray, e agora em 2018, no momento em termino de escrever estas últimas linhas, o mundo aguarda pelo lançamento mundial de “Jogador Número 1” o mais novo filme de Steven Spielberg, que terá justamente como um dos principais elementos de sua estória o Gigante de Ferro. Aquele mesmo Spielberg no qual Brad Bird se inspirou e que agora vai homenageá-lo.

Cena do trailer de "Jogador Número 1" - Homenageado, Steven Spielberg agora homenageia a obra de Bird.

E como em outros casos que já citei aqui, a obra de Brad Bird acabou se tornando uma lenda, um referencial, que como ensinou Hogarth Hughes, escolheu seu próprio caminho que foi entrar para a história.


Vozes brasileiras:
Andreas Avancini como Hogarth Hughes
Mabel Cezar como Annie Hughes
Marco Antônio Costa como Dean McCoppin
Vin Diesel como O Gigante de Ferro (mantido do original na maior parte da animação)
Guilherme Briggs como Kent Mansley
José Santa Cruz como General Rogard





























                                                  

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