quarta-feira, 24 de abril de 2019

Capitão América 2 - O Soldado Invernal


Em 2008 se iniciava um capítulo a parte na história do cinema.
Com “Homem de Ferro” se começava um jornada de mais de vinte filmes que agora em 2019 chega ao seu ápice com “Vingadores Ultimato”.
Contudo, sobre este mundo de filmes, além do seu próprio esquema de “linha de montagem”, sempre pairou a mão de ferro controladora da Disney, que a bem da verdade, à despeito do caminhão de dinheiro que fazia, mais atrapalhou do que ajudou na maioria das vezes, obliterando qualquer tentativa de diretores e roteiristas de fazer algo que saísse de sua caixinha padrão. Vide o caso de Patty Jenkins, que mandou tudo as favas ao tentar dirigir “Thor 2 - O Mundo Sombrio”.
Mas em 2014, os irmãos Joe e Anthony Russo, sem fazer muito alarde dirigiriam aquele que até hoje pode ser considerado o melhor filme do assim chamado MCU...
Capitão América 2 - O Soldado Invernal!


Depois dos eventos do primeiro filme dos Vingadores, Steve Rogers (Chris Evans), o Capitão América, passou a ser mais um agente da SHIELD, enquanto tentava se acostumar com a ideia de ter ficado  congelado por setenta anos, e acordado num mundo totalmente diferente daquele que se lembrava.
E aqui começa a lista de acertos deste filme, pois ao contrário dos demais filmes da Mavel Studios, talvez a exceção do filme do Hulk protagonizado por Edward Norton, Capitão América 2 tem seu roteiro sobretudo baseado nas relações de seus personagens, numa trama de suspense e espionagem que deixa no chinelo toda a franquia “Bourne”.


Pois ao contrário do arrogante e pouco verossímil Tony Stark (Robert Downey Jr), e do apatetado Thor (Chris Hensworth), o Capitão América de Chris Evans é a encarnação do perdedor, que mesmo sabendo que tudo está contra si não abandona seus retilíneos princípios e comprometimento com o que considera correto, numa encarnação a bem da verdade, ligeiramente diferente de como o personagem costuma ser mostrado nos quadrinhos, onde é um arquétipo do herói militar, mas que justamente por isto ganha veracidade em suas ações e uma empatia quase automática do público.


E toda esta retidão de caráter, lógico, gera conflitos com muita gente, até mesmo com Nick Fury (Samuel L Jackson), com o qual vive a discordar do modo de agir, mas aqui de uma forma bem mais sólida que a forçada picuinha com Tony Stark.
Mas tal personalidadetambém causa admiração, e suas relações com seus amigos/aliados surgem na trama de maneira absolutamente natural.

Natasha, a Viúva Negra

De forma que quando Natasha Romanoff (Scarlet Johasson), a Viúva Negra, e Sam Wilson (Anthony Mackie), o Falcão, entram na trama tudo se encaixa sem muito esforço.

Sam Wilson, o Falcão

Aqui tendo que destacar a ótima sinergia entre Evans e Johasson que por um momento fazem o espectador pensar que um relacionamento entre seus personagens seria bem melhor do que foi pensado posteriormente na sequencia dos filmes da franquia.


E este é mais um mérito do filme, que mesmo centrado obviamente em seu “personagem título”, trabalha com sabedoria a participação de todos os personagens, mesmo os terciários como Maria Hill (Coubie Smulders), com uma habilidade que não se via desde a trilogia do Batman de Critopher Nolan.

Maria Hill (Coubie Smulders) - coadjuvante com papel de destaque na trama

E sem nenhuma cena gratuita, como a aparição do Homem Aranha em “Capitão América 3 – Guerra Civil”, que criasse uma “barriga” no roteiro e atrapalhasse o desenvolvimento ou tom do filme.
Aliás, sendo ausente daquelas famosas piadinhas bestas, uma incômoda característica do MCU. Que aqui são substituídas por diálogos rápidos e naturais, mesmo quando a piada é o próprio Steve Rogers e sua condição de eterno habitante da friendzone.
E que ainda dá um belo spoiler do que ainda estava por vir nos futuros filmes ao citar Stephen Strange, o Doutor Estranho, sem precisar de cena pós-crédito para isto.


Mas o que seria de um filme destes sem os antagonistas?
Bem, é obvio que num primeiro momento, se pensa logo no protagonista do subtítulo, Bucky Barnes (Sebastian Stan), que de amigo de Steve Rogers, se tornou o Soldado Invernal após um processo de reprogramação cerebral.
Só que aqui em Capitão América 2 somos brindados com um personagem único dentro deste “Universo Cinematográfico Marvel”.

Alexander Pierce (Robert Redford) - Melhor vilão do MCU

Alexander Pierce (Robert Redford, excelente), é o retrato perfeito do autocrata corrupto (quase uma Amanda Waller de calças), que usa de toda a máquina corporativa para viabilizar seus atos de vilania. Um personagem tão bom que aqui afirmo, é o único vilão de verdade de todo o MCU. O único em que se pode encontrar alguma ligação com a realidade e não vem carregado de cacoetes vilanescos padrão.
Algo extremamente raro em se tratando da Marvel que neste quesito em específico sempre ficou para trás da concorrente DC Comics, não importando a mídia.
Fora isto, temos as melhores cenas de ação já feitas em todo o MCU. Mas por que são as melhores, se há tantas cenas espetaculares em todos estes filmes?


São as melhores, na opinião deste escriba, pois Capitão América 2 é o filme com o maior número de cenas de ação absolutamente “orgânicas”, ou seja, sem o uso de CGI, ainda que volte e meia ele esteja presente, e nem sempre bem utilizado como na emboscada ao carro de Nick Fury.
Cenas calçadas muito bem na agilidade e inteligência de um roteiro permeado de reviravoltas, ainda que a sequência final com os porta-aviões voadores numa olhada mais atenta possa parecer um exagero, num filme pautado como disse, por ser o mais orgânico de todos feito até então.


Mas que em nada muda os fatos, de que Capitão América 2 - Soldado Invernal, sem precisar se escorar em nenhum tipo de panfletismo, é a obra mais sólida de todo o MCU.
Um “ponto fora da curva”, que se houvesse coragem por parte da Marvel Studios e da Disney, poderia se repetir com bem mais frequência.




                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                             



terça-feira, 16 de abril de 2019

Família Dinossauros


Programas que satirizam o cotidiano da sociedade norte-americana em realidades, digamos alternativas, desde os anos 1960 não são nenhuma novidade nas telas das tevês do mundo.
E com facilidade podemos nos lembrar, dos famosos seriados de animação de Hanna-Barbera como: Os Flintstones, Os Jetsons e Os Muzzarelas.
Mas no inicio da década de 1990, o escritor e produtor Michael Jacobs – criador do seriado junto com Bob Young – se associou a Disney Television, e a Jim Henson, famoso por criações como Vila Sésamo e Os Muppets, para um novo show com bonecos, que além de satirizar (algo que os Muppets já faziam), traçou uma refinada linha crítica a sociedade e seus costumes.
E mesmo após a morte de Jim Henson em maio de 1990, tendo sido substituído por seu filho, Brian, em 26 de abril de 1991 ia ao ar o episódio “O Poderoso Megalossauro”.
Apresentando ao mundo Dino, Fran, Bob, Charlene e lógico Baby...
A Família Dinossauros!


Uma aparentemente despretensiosa sitcom usando bonecos, mostrando o dia-a-dia dos Silva Sauro (Sinclair no original), e suas aventuras e desventuras num mundo dominado pelos grandes répteis, mas com todas as peculiaridades da vida humana moderna.
Mas afinal de contas. O que fez Família Dinossauros o sucesso absurdo que se tornou, num caso raríssimo de “clássico instantâneo”?

Baby

Bem, além do obvio humor irônico, que ao contrário de outras séries satíricas, Família Dinossauro soube mesclar de forma primorosa sua ironia com um estilo de humor clássico típico de célebres mestres do humor como O Gordo e o Magro, Jerry Lewis e Os Três Patetas.

Dino

Sabendo construir muito bem as personalidades de seus personagens, e como interagiam entre si, algo que pessoalmente, sempre foi um lado míope e capenga das sitcons, em geral só preocupadas com a piada do minuto seguinte.

Fran

E a partir daí discorrer sobre toda a sorte de tema. Não apenas criando paralelos com assuntos que iam desde problemas familiares e drogas, até críticas rasgadas as mega-corporações e a recente na época Guerra do Golfo.
Colocando a figura dos dinossauros como espelho para nossa sociedade, que na época já iniciava o processo de automação que assistimos hoje, num tempo em que os Simpsons ainda engatinhavam sem eu humor satírico-social.

GP Richfield, o patrão de Dino e Roy era a encarnação da exploração e assédio moral.

Expondo ainda assuntos como assédio moral, bullying e racismo, tendo no outro extremo deste pendulo em geral a figura de Dino da Silva Sauro, que vivia constantemente num misto de apatia conveniente e perplexidade assustada, diante daquele mundo que mudava muito rapidamente, e na maioria das vezes à sua revelia.
Aqui valendo ressaltar, que para a época, diversos assuntos abordados em Família Dinossauros, praticamente não eram vistos no âmbito das sitcons, ainda mais uma que a principio era destinada ao público infanto-juvenil.



Monica era a brontossaura separada que sofria preconceito

E para compor toda a “Era Pré-Diluviana” como assim era chamada no seriado, os produtores lançaram mão de uma série de paródias, em geral ligadas a canais de televisão, ainda a grande centralizadora de atenção na era pré-internet.
Entre estes canais os que mais se destacavam eram:
ABC (Antediluviam Broadcasting Company), uma brincadeira com a própria emissora que transmitia o seriado a ABC (American Broadcasting Company).
DNN (Dinossaurs News Network) que parodiava a CNN (Cable News Network).
DSPN (Dinossaurs Sports Programing Network) uma brincadeira com a ESPN (Entertainment Sports Programing Network).
E lógico a DTV (Dinomusic Television) uma paródia da MTV (Music Television).
E ainda que a própria “Família Dinossauros” não tenha escapado de ser satirizada, mesmo sem muita sutileza num episódio de “Os Simpsons” em 1992, onde num programa, um bebê dinossauro bate na cabeça do pai, e Bart protesta ao ver aquilo afirmando ser uma cópia da família Simpsons.

A Família Dinossauros não escapou de ser satirizada pelos Simpsons

Alguns programas de tevê que parodiavam atrações diversas também foram satirizados, como em “Ask Mr.Lizard”, no qual o assistente do apresentador, Timmy acabava sempre se dando mal em razão de algum experimento com ditos fins educativos, e que possuía o bordão “Vamos precisar de outro Timmy”.
E “Mr.Ugh”, uma paródia do programa “Mr.Ed”, em que um cavalo falava, sendo que na série esta função era representada por um homem das cavernas.

Charlene


Bob

Aqui valendo a abertura de parênteses sobre a relação dos dinossauros com os homens das cavernas. Que no seriado trocavam de papéis por assim dizer. Sendo os seres humanos por diversas vezes retratados como animais incapazes de pensamento racional e até mesmo de expressar sentimentos, isto através da visão dos dinossauros mais velhos em geral.

Vovó Zilda Phillips

Sendo que os dinossauros chegavam a não saber distinguir quem eram os machos e fêmeas, como no episódio “A Dança do Acasalamento”.
Ao contrário do que muitos pensam, principalmente fora dos Estados Unidos, Família Dinossauros teve quatro temporadas e não apenas três.

Roy Hess

Tudo por causa de seu custo de produção. Uma produção que trouxe toda uma nova tecnologia que passou a ser conhecida como “animatronics”, na qual dois profissionais, um fazendo o corpo e o outro por controle remoto fazendo as expressões faciais, davam vida aos personagens.




E cada personagem possuía articulações diferentes e cada figurino era feito artesanalmente. E toda esta tecnologia convivia em harmonia com marionetes no melhor estilo “Os Muppets”, em geral na figura de animais menores.


Isto  aliado a roteiros inteligentes, gerou um sucesso imediato, e uma nova temporada foi encomendada as pressas, enquanto que fora das fronteiras estadunidenses tal sucesso não só se repetia, como por vezes era maior ainda.
Contudo, talvez por suas críticas ao status quo da sociedade norte-americana, que em momento nenhum  descambou para o escracho jocoso como em outros seriados transformando-se numa caricatura não assimilável, contam que  Família Dinossauros começou a apresentar uma queda considerável em sua audiência, ao menos em território de Tio Sam.
Mas se alguém achou que os dinossauros mais famosos do mundo (desculpa Godzilla) iam deixar as cortinas se fecharem assim, sem deixar sua marca, estavam enganados.
Afinal, por se tratar de uma série que sem pudores, tratou dos mais diversos temas, e sempre mantendo um grau elevado de inteligência, seu final não poderia ser diferente.

Carlão

E em 19 de outubro de 1994 era exibido “Mudando a Natureza”, um episodio que aqui confesso, quando terminei de assistir, na época ainda transmitido no começo da noite de domingo pela Rede Globo, simplesmente me deixou estático por uns cinco minutos ao menos, diante do que tinha sido realizado.
Um episódio crítico ao máximo a nossa sociedade que consome os recursos naturais como um vírus, ao mesmo tempo em que tem o final mais tristemente ácido que se poderia imaginar, com o começo do que seria a “Era do Gelo”, neste caso iniciada pela culpa e burrice dos próprios protagonistas.

O âncora da DNN, Howard Handpune em seu comunicado final

Episódio este que devido seu final, acabou sendo considerado impróprio em diversos países, e que aqui em Terra Brasilis, acabou sendo exibido só mesmo naquela histórica, porém, fatídica noite de domingo.
Na qual Dino, Fran, Baby, Bob, Charlene, Roy Hess, Mônica Desvertebrada, GP Richfield, Vovó Zilda, Carlão, entre outros saíram das telas para entrarem para a história.







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