terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Batman - A Trilogia (parte 3)

Um Bruce Wayne recluso. Um Jim Gordon que não consegue conviver com as consequências daquilo que ajudou a criar. Um plano de vingança. E todos se tornando heróis....
Oi pessoal! Enfim chegamos ao final da saga que escreveu um novo capítulo na história do cinema e da cultura pop.

Enfim vamos falar de “Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge”.



Não é segredo pra ninguém que após a aclamação do filme anterior, somado a comoção da perda Heath Ledger, o diretor Christopher Nolan esteve por um bom tempo relutante em assumir o comando do encerramento da trilogia. Mas sejam lá quais foram as razões que o fizeram decidir por finalizar a empreitada, não há como negar que aqui foi onde o diretor mais se permitiu criar.
Escrito pelos irmãos Nolan, baseado numa ideia de Christopher com o roteirista David S. Goyer o filme se baseou nas HQ’s “A Queda do Morcego” e “Terra de Ninguém”, contudo, sua maior inspiração veio de algo bem longe do Universo da DC Comics. O livro “Um conto de Duas Cidades” de Charles Dickens, que retrata a vida de dois personagens, um em Londres e o outro em Paris, e os conflitos de classes que passam a ocorrer após a Revolução Francesa.

Batman é forçado a voltar, ainda sem saber sobre os planos para destruí-lo

Tendo um roteiro bem mais complexo que os dois primeiros filmes, e focando na desconstrução da persona de Bruce Wayne, que amargurado e afastado a cerca de oito anos do Batman (uma inspiração direta no começo de Cavaleiro das Trevas de Frank Miller) se vê forçado a retornar a ação mesmo após ser abandonado por Alfred, numa cena que mesmo para a trilogia, é um ponto fora da curva, um duelo de interpretação entre Cristian Bale e Michael Caine.

Bruce com Alfred - O caminho escolhido pelo agora ex-milionário faria o mordomo abandoná-lo

Um plano de vingança que destrói com todas as faces da vida de Bruce Wayne, da psicológica à financeira. Culminando com reconstrução da famosa cena de “A Queda do Morcego”, com Batman caído com a coluna fraturada pelo vilão Bane, que Tom Hardy encarnou muito bem apesar de sempre tendo parte do rosto coberta pela máscara que usava, precisando compensar esta pequena “deficiência” com um gestual mais largo em algumas cenas. Sendo que segundo o próprio ator o mais difícil de se fazer eram justamente as cenas de luta, já que Batman era seu herói desde criança, e aquilo era muito complicado,“bater no seu herói”.

Bane luta com Batman - Segundo Tom Hardy, as cenas mais difíceis dele fazer
Aqui vale ressaltar que mantendo sua coesão de evitar ao máximo elementos fantásticos nestes filmes, Nolan, assim como fez com Ra’s Al Ghul, mudou a origem do personagem. O que pode até ter desagradado muita gente, mas permitiu uma visão mais crua e visceral da transformação do personagem e suas motivações em destruir Bruce/Batman. Só que aqui não apenas se limitando ao Morcego, mas procurando destruir com todo aquele status quo que pela sua visão, assim como Ra’s Al Ghul, deveria acabar, mas que se torna também um ponto de virada para alguns personagens.




Como quando Bane lê na tevê a carta de Jim Gordon, que em mais uma cena muito acima dos padrões para filmes do gênero, tem mais uma vez Gary Oldman preenchendo a tela como se um exército de atores coubesse numa só pessoa, em seu diálogo com o policial John Blake (Joseph Gordon Levitt), tendo ali com sua verdade exposta a todos, conseguido tirar enfim um imenso peso dos ombros.

O policial John Blake e o agora comissário Jim Gordon

Ou por exemplo, Selina Kyle (a Mulher Gato, ainda que não se refiram a ela assim no filme) que revisa suas posições e vence seus medos. Aqui valendo ressaltar que Anne Hathaway está simplesmente maravilhosa, com a melhor representação da ladra gatuna que o cinema já teve, num traje que além de manter a tradição de dar um cunho funcional para algo antes só estético (no caso os óculos/máscara), é uma homenagem descarada a roupa usada por Julie Newmar no seriado dos anos 1960.

Selina Kyle(Anne Hathaway) - Traje homenageando Julie Newmar

 Lógico, que até hoje está viva na memória a atuação de Michele Pfeifer em Batman Returns de Tim Burton, mas por melhor que tenha sido a atuação de Michele, aquela Selina que parecia estar sob efeito de alguma substância alteradora da consciência está muito longe da verdadeira representação da personagem. Algo que Anne realizou a perfeição.


E acho que é importante aqui se abrir um parêntese para aquele que talvez seja o grande “Calcanhar de Aquiles” da trilogia, pois seu elenco feminino desde a apagada Katie Holmes, passando por excelentes atrizes como Maggie Gyllenhaal e Marion Cotillard simplesmente é algo que pouco ou nada convence. Quase como se elas estivessem ali num ato burocrático. Mais um ponto para Hathaway que nitidamente estava adorando estar ali.

Marion Cotillard e a nada convincente morte de Thalia Al Ghul
Fora isto é impossível não ressaltar algo que Nolan procurou costurar desde o primeiro filme, que foi a relação do Batman com as crianças, uma construção feita muito antes de Bruce colocar a capa sobre os ombros, lá naquela cena de “Begins” quando ao roubar frutas, às divide com um menino faminto, ou quando já como Batman, dá a outro garoto, na sacada do prédio um periscópio de presente, passando pelo filho de Gordon em “Cavaleiro das Trevas”, até chegar a “Ressurge” como um símbolo de esperança que é marcado pelos garotos do orfanato nas paredes para lembrar aos exercito de Bane que território era aquele.

A marca do "Morcego" nas paredes de Gotham

O mesmo orfanato de onde veio o policial John Blake, o Robin da vez. Lógico que não há como negar que este ponto foi uma grande brincadeira do diretor Christopher Nolan, principalmente pelo fato de no final ser revelado que o sobrenome de batismo do personagem era Robin. No entanto, mesmo aqui, ele ainda se manteve bem fiel à origem do personagem, já que em uma de suas releituras, Richard John Grayson, o primeiro Robin, após ter seus pais assassinatos vai parar num orfanato onde passa boa parte da juventude.

Jason Gordon Levitt, o "Robin" de Ressurge - Origem quase idêntica ao do primeiro Robin.

Além disto temos aquele festival de citações que vão desde a presença de Roland Daggett (Ben Meldensohn), personagem criado no episódio de apresentação da Mulher Gato em Batman The Animated Series;  um dedinho de leve de “Cavaleiro das Trevas” de Miller quando um policial mais velho diz para o novato que ele estava prestes a ver “um show e tanto”; até chegar a fazer uma citação/brincadeira com o Arqueiro Verde ao colocar Bale caracterizado com um bigode e cavanhaque num tom mais claro, quase loiro, e numa cena no qual usa arco e flecha.

Bruce Wayne  ou seria o Arqueiro Verde?  - Mais uma liberdade de Nolan.

Mas se há uma coisa que não pode ser negada nesta trilogia é que os filmes se completam, formando um círculo perfeito. Pois se lá em “Begins”, Bruce afirma que como homem ele poderia ser destruído, mas como símbolo ele poderia ser eterno, é exatamente isto que os minutos finais de “Cavaleiro das Trevas Ressurge” nos brindam.

O embate final entre Batman e Bane.

A começar pela sequência da luta final, que é a primeira ocasião desde o seriado cômico dos anos 1960 em que o Batman aparece durante o dia.



Passando por uma cidade se redescobrindo em cada um, num filme no qual não houve um protagonista, já que todos os envolvidos tinham pesos praticamente idênticos, algo que fica claro na cena em que Batman revela sua identidade a Gordon e diz que qualquer podia ser um herói, pouco antes de carregar a bomba atômica rumo ao horizonte, salvando a cidade e se tornando aquilo que havia almejado.


E mais que merecidamente tendo seu final feliz, ao ser avistado por Alfred num café na Itália com Selina ao seu lado.

Após se fazer de morto, Bruce consegue seu final feliz ao lado de Selina

Deixando o legado do Morcego para Blake que descobre a Batcaverna abaixo da Mansão Wayne que tinha sido deixada para os órfãos e fechando de forma perfeita um trabalho feito com esmero, preocupado, sobretudo em se contar uma boa estória, que venceu a inclusive a pressão dos executivos do estúdio e que muito dificilmente veremos ser repetido nos dias de hoje.

                                




















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