domingo, 25 de dezembro de 2022

Filmation – A Terceira Força da Animação Norte-Americana

 

Aqui no blog, em oportunidades anteriores já visitamos a história de grandes nomes e produtoras de cinema de animação, como a Hanna-Barbera e Ruby&Spears.

Contudo, no meio da disputa das audiências das famosas “manhãs de sábado” nas tevês estadunidenses houve uma, digamos, terceira força. Que assim como suas coirmãs marcou época e faz parte da memória de muitos, a Filmation.

O começo, o embrião do que viria a ser a Filmation, tem início em 1957, quando Lou Scheimer e Hal Sutherland se conhecem enquanto trabalhavam na “Larry Harmon Pictures”, produtora bem conhecida de nós brazucas nos anos 80 pelos desenhos do Bozo e do marinheiro Popeye.

Em 1961 os dois amigos acabaram ficando sem emprego quando o senhor Harmon fechou a companhia, e aí foram descolar uns trocados numa outra produtora chamada True Line, da qual se tornaram sócios, onde foram abordados por uma empresa japonesa chamada SIB, a fim de produzir um desenho de cunho educativo chamado Rod Rocket, contando as aventuras de um garoto astronauta.

E logo depois acabaram por assumir o comando da produção de curtas-metragens sobre a vida de Jesus Cristo, patrocinados pela Igreja Luterana.

E então, já com alguma grana na conta, em 1962, Lou e Hal montaram, junto com um advogado chamado Ira Epstein - que acabou mesmo só sendo o famoso sócio administrativo -, a Filmation Associates, que acabou sendo creditada como design de produção nas produções que realizaram na True Line.

Mas calma! Esta ainda não era Filmation que conhecemos.

Esta só ganharia a luz do dia quando da chegada de um cara chamado Norm Prescott.

Da esq. p/ dir. - Norm Prescott, Hal Sutherland e Lou Scheimer

Que já chegou cheio das ideias, propondo uma sequência em animação para o clássico dos anos 30, “O Mágico de Oz”. Contudo, pela mais absoluta falta de verba para colocar o projeto para frente, foram “tocando a vida” como dava, fazendo vários comerciais.

Até que em 1965 ocorre o “pulo do gato”, se é que dá para chamar assim, na vida dos três, cujos caminhos se cruzam com o da DC Comics, mais especificamente com do célebre autor e editor Mort Weisinger, o criador do Aquaman.

Mort Weissinger - editor da DC

Ganhando assim um contrato para produzir uma série animada do Superman, a segunda animação do azulão após as clássicas animações feitas para o cinema pela Fleischer Studios.

E aí a coisa deslanchou de vez!

Com os heróis da DC a coisa começa a mudar para a Filmation

Lanterna Verde, Gavião, Flash, Átomo, Aquaman e até a Turma Titã, um embrião dos Novos Titãs, estavam lá nas telinhas pela primeira vez. Em animações que sim, estavam inseridas dentro do mesmo universo.

Sendo que só dois anos depois o Batman entraria para este time, com três séries distintas em momentos diferentes, e que chegaram a ter Adam West e Burt Ward, a clássica dupla do seriado de 1966, fazendo as vozes da dupla dinâmica.

E com a moral dada por estas produções de baixo custo e alta eficiência, em 1968 a Filmation fecha um baita contrato para produzir uma animação para a turma do adolescente Archie, personagem pouco conhecido aqui por estas plagas ao sul da linha do equador, mas que cujas tirinhas em quadrinhos eram um baita sucesso em terras de Tio Sam.

Aqui você que está lendo, já deve ter percebido que o forte da Filmation, ao contrário da Hanna-Barbera, era trabalhar sob encomenda. Mas com o sucesso alcançado, na virada para a década de 1970, decidem dar um passinho mais para frente, e fazerem algo que nos anos 80 a Ruby&Spears se tonaria especialista, que era produzir desenhos de celebridades, como dos comediantes Bill Cosby, e até do Rei da Comédia Jerry Lewis.

Conseguindo finalmente nesta época lançar nos cinemas o tão almejado projeto de Norm Prescott, a continuação em animação de “O Mágico de Oz”

Passando então a realizar aquilo que se tornou talvez sua maior marca até meados da década seguinte, que foram as adaptações de personagens bem conhecidos.

    E nesta lista temos as animações da cadelinha Lassie, e de Jornada nas Estrelas.

E dois daqueles que considero pessoalmente os três pontos altos da produtora, as adaptações de Tarzan (numa versão até bastante fiel aos originais de Edgar Rice Burroughs) e pegando carona no filme produzido por Dino de Laurentis, a adaptação de Flash Gordon.

E ainda que tenha sido nestas produções que a Filmation começou a usar a exaustão o processo conhecido como rotoscopia, não há como negar que se tinha um certo nível de esmero que não visto até ali, e nem repetido posteriormente.

Foi nesta mesma época também que começaram a abrir uma nova frente, investindo em seriados live action. Voltando a parceria com a DC Comics, e realizando o seriado do Shazam (que na época ainda atendia por Capitão Marvel).

Além de serem responsáveis pela criação simplesmente da Poderosa Ísis, que tempos mais tarde foi inserida no cânone oficial de personagens da DC. E lógico que não precisamos ser gênios para imaginarmos que houve crossovers entre os seriados dos heróis.

Fora que produziram um seriado, quase sitcom, dos Caças Fantasmas. Mas não aqueles Caça Fantasmas de Nova York e do Ecto-1, e sim aqueles que nos anos 1980 a mesma Filmation faria uma animação, mostrando as desventuras de dois amigos metidos a detetives que junto a um gorila falante viviam investigando casos envolvendo assombrações, sendo que na animação os personagens eram justamente os filhos dos personagens do seriado.

Fora a série da Ark II, que já tratava naquela época de um mundo pós- apocalíptico com extrema escassez de recursos naturais, na qual um grupo de jovens cientistas vagava por uma terra desolada em busca do que havia restado da humanidade, num plot quase Mad Max, só que com mais sentido.

Além de trazerem de volta ao menos dois clássicos das animações feitas para as matinês dos cinemas, Super Mouse, e Faísca e Fumaça.

Eis que então chegamos a década de 1980, e a Filmation resolve investir num personagem próprio, era vez de Blackstar!

Aqui preciso abrir um pequeno parêntese, para salientar o quanto este desenho foi importante. Primeiro por ter um protagonista, que ao menos para os padrões estadunidenses era negro; segundo por ter um dos vilões mais sinistros das animações para tevê, que sempre fica de fora daqueles posts de rede social sobre o tema, o carrancudo e pétreo Overlord; e terceiro que são seus diversos pontos de similitude, tanto na estória quanto visualmente com aquele que pouco tempo depois, viria a ser o maior sucesso da produtora.

E é óbvio que falo de He-Man e os Mestres do Universo.

Uma animação que se formos de fato parar para analisar sem o coeficiente da memória afetiva, se constitui num dos mais gritantes e bizarros casos de possibilidades perdidas que tive o desprazer de conhecer.

Com uma quantidade infindável de ganchos que poderiam ser desenvolvidos deixados de lado, em favor de uma cultura rasa de baba-eletrônica, sempre com aquela mensagem educacional tacanha no fim de cada episódio.

Mas como o que interessava ali era no fundo vender brinquedo e toda sorte de bugiganga, He-Man e os Mestres do Universo cumpriu seu papel com galhardia, alcançando altíssimos índices de audiência não importando o país que fosse exibido, vendendo de bonecos a lancheiras escolares como água no deserto.

Um sucesso tamanho que gerou a série de sua irmã, She-Ra!

Para o qual a origem é contada no longa-metragem de animação, “O Segredo da Espada Mágica”.

Os "Caça-Fantasmas" da Filmation

Contudo, porém, entretanto e, todavia, como se fosse uma lâmpada que brilha mais intensamente pouco antes de queimar, foi aí que coisa começou a descer a ladeira. E quando a Filmation resolveu ressuscitar em forma de animação seu antigo seriado dos Caça Fantasmas para pegar carona no sucesso da tripulação do Ecto-1, a coisa não deu certo.

Fazendo a produtora em 1987 “pagar pra ver”, e apostar numa outra produção que não era sob encomenda e com um personagem 100% próprio, o delegado espacial Brave Starr, que era descendente de índios, e que protegia o planeta Novo Texas.

Uma animação que a Filmation botava tanta fé que em 1988 chegou a lançar um longa-metragem nos cinemas norte-americanos, com gráficos muito mais caprichados, mas que nem de longe foram suficientes para evitar o fracasso nas bilheterias.

O longa-metragem de BraveStarr

Um baque tão forte que culminou com a venda da empresa em 1989 para um consórcio de investidores que tinha como cabeça a L’Oreal. Sim, ela mesma, a gigante mundial dos cosméticos, que vinha procurando outros campos de atuação para investir se dinheiro, mas que obviamente não tinha a menor noção do que fazer com uma produtora de desenhos animados.

E o que aconteceu? Nada! O mais absoluto nada!

Sem saber como gerir aquele acervo, salvo as produções que foram feitas sob encomenda, o catálogo da Filmation foi passando de mão em mão até 2004 quando foi comprada por uma empresa britânica chamada Entertainment Rights.

Para apenas em 2012 pousar em solos mais seguros quando foi comprado pela DreamWorks de Steven Spielberg.

Colocando um ponto final na trajetória de uma das maiores empresas produtoras de animação de todos os tempos.



 

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