segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

O Profissional - A Versão Sem Cortes



Pode um filme de ação ser ousado nos já policiados anos 1990? E caminhar numa perigosa linha que fala de uma relação marginal entre uma menina de treze anos e um homem adulto sem descambar para o vulgar? Sendo ao mesmo tempo recheado de ótimos diálogos e momentos de pura ternura e encantamento, enquanto nos traga numa espiral de cenas de ação cruas e espetaculares?

Bem, em 14 de setembro de 1994 um filme começou a provar que sim. Seu nome? O Profissional.


Já tinha algum tempo que o francês Luc Besson era uma figura conhecida do grande circuito de cinema internacional por filmes como Imensidão Azul (quase uma autobiografia já que os pais de Besson eram instrutores de mergulho) e o ótimo (e copiado por Hollywood) filme de ação Nikita.
E já que tinha tido seu filme “copiado” pelos norte-americanos, nada mais natural seria se ele mesmo não “invadisse” o território estadunidense. Originalmente o plano do francês era fazer um filme de ficção científica (O Quinto Elemento) que só conseguiu concretizar alguns anos depois, pois já tinha a ideia de ter como astro de seu projeto Bruce Willis, que na época se encontrava impedido pela sua agenda lotada. Sendo assim, Besson resolveu mudar o foco, e quase como um passatempo fazer mais um filme de ação.

Leon e Mathilda em ação

Mais um? Não. Não desta vez.
Escrito na velocidade relâmpago de apenas trinta dias, Besson entregou o roteiro nas mãos de Jean Reno quase como um presente, já que o personagem principal foi muito pensado em cima do agente que Reno interpretou em Nikita. 
Uma história que envolvia um matador profissional, Leon, a serviço da máfia italiana em Nova York, cujo destino um dia cruza com o de Mathilda, sua vizinha de treze anos, que tinha o pai envolvido com uma quadrilha de policiais corruptos da Divisão de Narcóticos, nos quais tenta aplicar um pequeno golpe, mas acaba sendo morto com o restante de sua família, incluso aí o caçula de apenas quatro anos.



Todos mortos? Todos menos Mathilda, que vai procurar ajuda na porta do até então quase desconhecido Leon, numa cena que começa a mostrar o porquê do filme ser tão diferente, pois vamos concordar que não há como não ficar tenso, ao ver o desespero estampado no rosto da estreante Natalie Portman, até que a porta do apartamento se abre, e o espectador pode novamente respirar.

Natalie Portman durante seu teste para viver Mathilda.

E pensar que Natalie foi rejeitada no primeiro teste feito para o papel pelo diretor de elenco Todd Thaler, que não acreditava que aquela menina pudesse dar conta das várias nuances que Mathilda precisava ter segundo as especificações de Besson, incluindo aí uma alta carga de sensualidade natural.
Mas oque se vê a partir daí então, só pode ser definido com uma única palavra: encanto.

A famosa "cena do porquinho" - Momentos lúdicos em meio a tragédia.

Sim, encanto. Pois a despeito de ser um filme de ação, característica da qual Luc Besson jamais perde o foco, o roteiro vai costurando com habilidade e sutileza a relação de cumplicidade que se instaura entre os dois solitários personagens em meio à metrópole. Cada um com suas dificuldades e fantasmas pessoais.

Cena dos bastidores - Apesar de todas as nuances, o foco na ação jamais é perdido

Mathilda traumatizada pela morte de seu irmãozinho ao mesmo tempo em que está sedenta por vingança vai se encantando por Leon, talvez a primeira pessoa que mostra a ela oque seja afeto, o matador com um código de honra e que se mostra de bom coração, contumaz consumidor de leite e que tem uma planta de estimação, mas que foge de um passado distante e uma tragédia que envolveu sua esposa na época, fazendo-o fugir para os Estados Unidos, e que por tabela também era analfabeto no que dizia respeito ao idioma bretão.

Leon - A construção da personalidade do personagem veio toda de Jean Reno

Aqui vale ressaltar que segundo o próprio Jean Reno, foi escolha sua interpretar Leon da forma como o vemos no filme, aparentemente lerdo, dispersivo e emocionalmente reprimido, pois em hipótese alguma gostaria que o público pensasse que seu personagem fosse alguém capaz de se aproveitar de uma menina.

Leon treinando Mathilda

Porém, o filme não foge de abordar tal viés, construindo com maestria através de diálogos e situações aquela quase relação amorosa, até o momento em que Leon após resgatar Mathilda de dentro da central de polícia e retornarem ao seu esconderijo, é convidado (quase intimado) pela menina sem um pingo de pudor para fazer sexo com ela.  Isto emoldurado pela fala: “A primeira vez de uma garota é muito importante... Li isto numa revista da minha irmã”.


Contudo, a resposta de Leon é simples, objetiva e foge completamente de qualquer toque de pieguice, lição de moral tola ou menosprezo ao que a garota com certeza sentia, seja lá oque ela pensasse que fosse. Numa das cenas mais singelas da história do cinema.

Mathilda toma um pileque de champanhe

E fora isto, ainda podemos assistir ao treinamento completo de Mathilda, que inclui a invasão a um laboratório de refino de drogas que acaba devidamente destruído pela menina, a cena do restaurante onde ela toma um pileque de champanhe, a cena em que ela quase estoura os miolos na frente de Leon, e lógico as cenas na qual aparece fumando, estas últimas que foram bastante limitadas a pedido dos pais de Natalie.
E falando em limitações, se há algo neste filme sem trava de segurança é Gary Oldman.

Norman Stansfield, o personagem que marcou durante anos a carreira de Oldman

Quando fiz minha resenha de “Batman Begins” e dediquei um parágrafo inteiro a Oldman, citando como o ator tinha ficado estigmatizado por muitos anos após este filme, não é sem motivo. Pois ainda que já tivesse dado vida ao ótimo Drácula do filme de Francis Ford Copolla, é aqui com Norman Stansfield que Gary cunhou seu nome do inconsciente coletivo, construindo um dos mais insanos vilões que o cinema já viu. Hora quase tirando risos nervosos com citações sobre compositores clássicos como Bethoven (papel que viveu no mesmo ano), horas explodindo numa torrente de fúria, e chegando ao ápice nos momentos em que o personagem consome algum tipo de droga em forma de pílula, em cenas nas quais Oldman se contorce como se seu cérebro tivesse atingido por um tiro, com a câmera de Besson bem cima do seu rosto, fazendo o espectador ter percepções das mais variadas.

Norman Stansfield (Gary Oldman) totalmente insano na cena da pílula

Constantemente improvisando, e com o aval de Luc Besson para isto, Gary Oldman chegou a criar momentos míticos, como na famosa cena na qual Stansfield solta seu famoso e gritado: Todo mundo! (EVERYONE!). Uma brincadeira, já que a cena já havia sido feita, mas que ao seu término Oldman resolveu inventar, e pedindo para que o técnico de som tirasse os fones de ouvido foi lá e soltou a garganta. E o resultado como todos nós conhecemos ficou tão bom que Besson para a surpresa do próprio Oldman colocou no corte final do filme.

O icônico "everyone" - Brincadeira de Oldman que acabou entrando no filme

Corte este que acabou sendo ainda mais “cortado”, pois após uma primeira exibição em Los Angeles, esta versão foi rejeitada pelo público estadunidense, oque obrigou Luc Besson a criar a versão que muitas pessoas conhecem até hoje, pois mesmo que a versão internacional tenha sido exibida em muitos países, é a versão estadunidense que foi para o mercado de vídeo e as tevês de todo mundo.

Capa da versão internacional com seus 24 minutos adicionais

Mas isto não impediu O Profissional de se tornar um dos mais icônicos filmes de ação de todos os tempos, e que consegue sim, ser muito mais do que aquilo que se propõe, se tornando até o hoje o ponto mais alto da carreira do diretor francês, que chegou a escrever um roteiro para sua continuação, que traria novamente Natalie ao papel de Mathilda.

Gary Oldman e Natalie Portman - Tensão só na frente das câmeras

Só que neste intervalo Besson deixou a produtora Gaumont para iniciar seu próprio estúdio, o EuropaCorp. E a Gaumont que era a dona dos direitos cinematográficos dos personagens, sentindo-se traída, bateu o pé e impediu a sequência.

Besson instruindo Natalie durante as filmagens.

Oque talvez tenha até sido melhor, pois manteve intacta a memória de um filme magnífico. Que nos entrega ação sendo inteligente, que transgride, mas não agride.

Mathilda se desespera ao perceber oque estava para ocorrer

  
E que de quebra apresentou ao mundo o talento quase inacreditável de Natalie Portman, estigmatizou Gary Oldman até Jim Gordon vir resgatá-lo (risos), e nos presenteou com alguns dos momentos mais bonitos e emocionantes da história do cinema.

Leon e Mathilda - Dois solitários em meio a metrópole





































10 comentários:

  1. O filme é ótimo na parte da atuação de Gary Oldman! Ele mata toda a família da Mathilda, mas apenas para cumprir seu papel como o vilão do filme! Pelo menos ele não estava às intimidades amorosas escondidas com a "sensual" e "sedutora" Mathilda! Isso é o que eu chamo de um diretor bastante pedófilo tanto na forma de dirigir esse filme, quanto na forma de viver! Onde já se viu, uma menina de 12 anos de idade se ensinuando para um homem adulto e isso ser tratado como um amor fraternal? Me poupe! Isso é o que eu chamo de pedofilia disfarçada de amor fraternal! Onde já se viu, uma adolescente de apenas 12 anos de idade e um adulto serem amantes? Coisa maquiavélica e maléfica! Porém não podemos esquecer que o filme é muito bom e fantástico, principalmente nas cenas com Gary Oldman é claro, mesmo sendo o vilão, ele é bonzinho por um lado (Já expliquei lá no início do comentário o porquê)! #Todoscontraapedofilia

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  2. Como assim "uma alta carga de sensualidade natural"? Ela era uma criança.

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  3. Esse povo que fala de pedofilia, eles não conhecem os bastidores das gravações, não sabe a diferenciar amor paterno com amor paixão, e não conhece o que é pedofilia.
    Pois eu duvido que os pais da Natalie, iriam aceitar gravações de pedofilia. Também no filme, uma menina de 12 anos que estava à beira da morte sozinha sem ninguém pra ajudar, qual era a opção que ela Mathilda tinha, apenas só uma mesmo de ir viver com Leon. E conhecendo o Leo, ele tinha todos atributos para poder ajudar e vigar a morte do irmão de 4 anos de Mathilda.
    No início é sempre difícil convencer, aceitar, conhecer um estranho e mais ainda uma criança de 12 anos. Mathilda usou todas suas ideias apara aprender com o profissional e em tudo, testou seu amor pelo Leon, se ele realmente poderia ajudar a eliminar o Norman Stansfield (Gary Oldman), depois disso, ele se mostrou fiel e disposto a tudo pra ajudar, inclusive deu todo seu montante de dinheiro que realizava seus trabalhos, pra Mathilda.
    Então conclusão: Não há pedofilia em nada, em nenhuma cena, teve cenas que a Mathilda fuma, bebe e encena que sente paixão, mas o Leon sempre dizia não, quanto a beber e fumar, jamais as cenas dela tragando cigarros foi vista, isso é mágia da produção de mostra algo fantasioso, beber, até nas novelas usam sucos e assim parecer que estão bêbedo alcool. Pois os Pais dela estavam nas gravações lá.
    Pesquisem: O que é pedofilia. Ai vão saber se ele o Leon era pedofilo que ném uns diz ai.

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    1. o filme tinha cena de tensao sexual entre os personagens que foi deletada pra vc vir falar de amor fraternal fala serio

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    2. Vai te tratar loucão. Tu quer insinuações de pedofilia maior do que aquelas? Tu tá é se fazendo de doido, isso sim.

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