terça-feira, 11 de maio de 2021

Bruce Timm - O Último Defensor da Animação (parte 2)

Olá! Na primeira parte deste artigo, descrevi como Bruce Timm passou de um garoto sonhador que almejava ser cartunista na Marvel, até sua consagração nos anos 1990 no comando de algumas das séries de animação para tevê mais bem-sucedidas da história.

Mas tudo aquilo logo ia se mostrar apenas o começo...


E em 17 de novembro de 2001 ia ao ar pela primeira vez na tevê norte-americana o primeiro episódio de “Liga da Justiça”, aquela que seria a maior reunião de personagens de quadrinhos fora de sua mídia original até hoje.


Uma animação que já se iniciava de modo bem diferente numa espécie de minissérie em cinco capítulos (ainda que a ideia já tivesse sido usada em Gárgulas), e também de forma absolutamente épica com uma abertura que ainda que possa ter causado certa estranheza no primeiro momento por ser feita em computação gráfica nos trazia o fantástico tema de abertura criado por Lolita Ritmanis.



E se eu pudesse rotular esta obra numa só denominação seria “Ode de Amor aos Quadrinhos”.

Poderia inclusive até fazer um artigo inteiro sobre “Liga da Justiça”, e sua continuação “Liga da Justiça Sem Limites” (e quem sabe um dia até faça), mas tem algumas coisas que não podem deixar de serem mencionadas e exaltadas.

Mantendo a tradição de ótimos roteiros, com exceção de um ou outro episódio mais descompromissado, a animação manteve um nível altíssimo em suas estórias. Sabendo a hora certa do drama, da ação e da comédia.

E aqui não posso deixar de citar ao menos três episódios icônicos:


“Inimigo Submarino”: Aqui o roteiro de Kevin Hopps nos presenteia com uma cena marcante, onde Aquaman para salvar o filho corta fora sua própria mão, numa situação muito melhor pensada que a bobagem de “piranhas egoístas” que Grant Morrison escreveu para apenas criar mais uma ceninha hypante para mentes rasas nos quadrinhos. 


“Para o Homem Que Tem Tudo”: A versão animada para a clássica HQ de Alan Moore é até hoje a única obra do autor transposta para outra mídia que recebeu elogios seus. 


“Epílogo”: Como citei aqui no artigo sobre “Batman do Futuro”, este episódio é uma aula de roteirização que deveria ser matéria obrigatória em qualquer faculdade de cinema e que amarra de forma perfeita toda a trajetória do Batman dentro do Timmverse, com direito a citações ao longa “A Máscara do Fantasma” e ao episódio “Cuidado Com o Fantasma Cinzento” de Batman TAS.

Floyd Lawton, o Pistoleiro

Fora isto não há como não mencionar alguns personagens que poucos acreditavam ver um dia numa animação como no caso de Floyd Lawton, o Pistoleiro, apesar de que sendo Timm um fã de “Estranhas Aparições” a fase de Steven Englehart nas HQ’s do Batman (como citei no artigo que fiz aqui sobre esta fase) isto não chega a surpreender tanto (risos).

Travis Morgan em Liga da Justiça Sem Limites

Mas nesta categoria o primeiro lugar inquestionável vai para Travis Morgan, o Guerreiro (Warlord no original), o icônico personagem criado por Mike Grell que é desconhecido ou desdenhado por muitos ditos “conhecedores” de quadrinhos mais novos.

Mas a atuação de Bruce Timm nas animações não se limitou as funções já citadas, pois volte e meia, ele emprestou sua voz para algum personagem.

Coisa que começou em Batman TAS, se repetindo em vários outros trabalhos como: Mongul (Batman e Superman - Inimigos Públicos), o Charada (Batman Contra Capuz Vermelho) e até Duas-Caras (Liga da Justiça vs Os Cinco Fatais).

Paul Dini e Bruce Timm em Batman  - Os Bravos e Destemidos

Isto sem contar as vezes que fez cameo de si mesmo (ou se sua figura), como em “Batman TAS” e “Batman Os Bravos e Destemidos”, sendo este segundo com direito a cameo até de Paul Dini

Aliás, é preciso mencionar que com o fim do chamado Timmverse em 2006 foi aí que a Bruce se mostrou -  ainda que sem sair do nicho dos super-heróis - um artista bem mais versátil do que se imaginava, e não é nenhum exagero creditarmos a ele a maior parte do sucesso e principalmente credibilidade que todas as animações da DC Comics possuem.

Atuando como produtor esteve em vários longas de animação como “Liga da Justiça - Deuses e Monstros” e a adaptação de “A Piada Mortal” (ou você achou que aquele Batmóvel de Batman TAS estava ali de graça?).

O DC Showcase do Sgt.Rock, marcou a volta de Timm à direção...

Sem falar, lógico, em sua atuação tanto como produtor, mas também como diretor - função da qual se afastou durante alguns anos - na série de curtas-metragens do projeto DC Showcase ..

...que continuou em outros trabalhos como Superman - Entre A Foice e o Martelo

Fora um capítulo bem especial de sua carreira, quando foi o elemento de ligação que uniu o melhor de Estados Unidos, Coreia de Sul e Japão num único projeto.

Batman - O Cavaleiro de Gotham

O ano era 2008. O projeto? Batman – O Cavaleiro de Gotham!

Com roteiros de gente como Allan Burnnet, Brian Azzarello e do próprio David S Goyer, roteirista da trilogia de Christopher Nolan, e tendo alguns lendários diretores japoneses de animação como Yoshiaki Kawajiri, que você que acompanha o blog deve conhecer de duas obras suas que já resenhei aqui, Cyber City Oedo 808 e Wicked City.

Yoshiaki Kawajiri

Veio com uma proposta que era tão simples quanto arriscada. Contar em animação algumas estórias do “Morcego de Gotham” no intervalo entre os filmes “Batman Begins” e “Batman O Cavaleiro das Trevas”.

Sendo que em 2014 lançou “Batman - Strange Days”, um curta-metragem para celebrar o 75º aniversário de criação do “morcegão”, aproveitando, inclusive, para fazer uma homenagem a uma das primeiras aparições do Dr.Hugo Strange nos quadrinhos, mais uma vez escancarando sua admiração por “Estranhas Aparições”.


E se tem uma coisa louvável em Timm, é que jamais se fez refém da famigerada fanbase, acreditando no seu talento e daqueles que o cercam para transitar sem maiores preocupações entre produções com toques mais sérios e dramáticos até outras que são pura diversão.

Ou seja, o garoto que sonhava ser cartunista da Marvel acabou fazendo junto com sua equipe a maior homenagem que a fase mais criativa que a DC poderia ter.

Lógico que apesar de ser mais conhecido pelas animações, Timm não deixou de atuar na mídia que originalmente sempre foi sua paixão, tendo ganho ainda em 1994 um prêmio Eisner junto com Paul Dini pela HQ “Batman Adventures - Mad Love”, tendo ainda outros trabalhos pela editora Vertigo e pela Marvel onde atuou como desenhista em “Vingadores ½” de 1999. Tendo até contribuído em 2005 para a arte de um conto de “Conan”.

Mas creio que nas artes gráficas sua maior “ousadia”, se é que dá para chamar assim foi em 2020, com o lançamento de um livro de arte erótica chamado “   The Big Tease: A Naughty and Nice Collection”.

Porém sem jamais se esquecer do universo que criou, e que com outros artistas talentosos trouxe para as telas de tevê de todo mundo.


Tão marcante que em 2019 mesmo mais de uma década após seu suposto fim, teve um spin off no longa-metragem “Liga da Justiça vs Os Cinco Fatais”, num roteiro que tirando um certo ar caricato de um ou outro vilão, é uma aula de como se trabalha o tema “viagem no tempo” de forma fluída e inteligente, deixando na poeira um certo longa-metragem live action de heróis que estreou quase na mesma época.


Sem falar no devido destaque e reconhecimento que dá a Jessica Cruz, uma das melhores personagens de quadrinhos criadas nos últimos trinta anos.

E não é que agora, em pleno 2021, a Warner veio a sinalizar com o retorno do Timmverse! Tá certo que a princípio algo nos quadrinhos, mas que já faz muita gente sonhar. 


E mesmo que pessoalmente considere um erro uma sequência do universo clássico, fora lógico, spin offs como o citado “Liga da Justiça vs Os Cinco Fatais”, não há como negar que qualidade dos trabalhos de Bruce W Timm e todos de sua equipe, sempre criarão expectativa por mais uma obra bem produzida, de roteiro ágil e inteligente, e que principalmente mantém viva uma arte que vem se esvaindo na avalanche de mediocridade que tem imperado na esmagadora maioria das animações atuais.

 

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