sexta-feira, 16 de abril de 2021

Bruce Timm - O Último Defensor da Animação (parte 1)

 

Ao longo dos últimos anos a produção das tradicionais animações em 2D vem caindo progressivamente. Muito disto pelas “facilidades” de produção do processo 3D, mas também muito devido um público preguiçoso, que por consequência acaba “desobrigando” os estúdios a realizarem qualquer parcela mínima de qualidade, seja em roteiro ou qualquer um dos outros aspectos que compõe uma boa produção de animação.

E mesmo nas animações japonesas, é possível notar a espetacular avalanche de preguiça com traços de personagens – em geral sem nariz – e cacoetes narrativos vexatórios para vorazes consumidores de traquitanas bizarras.

Mas em meio a este bombardeio do mais do mesmo, e completo desleixo, um último defensor das animações de qualidade, discípulo de mestres cartunistas como Jack Kirby e Alex Toth, resiste... Bruce W Timm!


Nascido em 08 de fevereiro de 1961, Bruce Walter (pois é não é Wayne) Timm, cresceu sonhando se tornar um ilustrador da Marvel, enquanto “bebia” da fonte de mestres como os já citados Jack Birby e Alex Toth, além de John Buscema, Frank Frazetta e outros.

Na Filmation, Bruce Timm trabalhou em Blackstar...

Mas sua carreira acabou começando mesmo por volta de 1981, e ao contrário do que o jovem Timm sonhava, ou seja, as HQ’s, o destino já o enviou direto para mídia que o consagraria. Pois naquele ano consegue um emprego artista de layout na produtora Filmation, indo trabalhar nas séries “Blackstar” e “The Lone Ranger”.

...além de He-Man...


...e sua irmã, She-Ra

Sendo que em 1982, Bruce, como animador, dá uma escapadinha da Filmation, para integrar a produção do longa “A Ratinha Valente” (The Secreto of NIMH no original), retornando logo depois para fazer parte da equipe que criou “He-Man e os Mestres do Universo” e “She-Ra”. Até que em 1987 ele vai enfim trabalhar na Marvel.

Mas calma, não pense que nosso herói foi desenhar o Homem-Aranha ou o Quarteto Fantástico.

Já um profissional conhecido no meio da animação, Timm vai para a Marvel Productions, onde trabalha em novas versões para animações infantis clássicas como “Super Mouse” e “Beany&Cecil”. E aqui preciso lançar um adendo pessoal, pois considero esta breve fase na carreira de Bruce Timm um dos mais grotescos casos de subaproveitamento de talento que já soube neste meio, se formos levar em consideração o que tinha ajudado a realizar na Filmation.

De qualquer forma, hoje dá para se considerar que tudo que aconteceu até ali, nada mais foi que um rascunho para a arte final que estava prestes a chegar.

Tiny Toons marcou o começo de Bruce Timm na Warner

E eis que em 1989, Bruce vai para a subsidiária de animação da Warner Bros, trabalhar como roteirista e desenhista em “Tiny Toons”. Até que três anos depois, enfim promovido a produtor ganha carta branca para o projeto que cunharia seu nome como um dos maiores realizadores de animações de todos os tempos, e é obvio que refiro a “Batman A Série Animada”.

Batman A Série Animada...


...o começo do Timmverse.

Aliando-se aos produtores Eric Radomski e Alan Burnett (este último bem familiarizado com os personagens da DC Comics desde “Superamigos”).

Alan Burnett, Eric Radomski, Jean MacCurdy (presidente da Warner) e Bruce Timm


E chamando para o time Paul Dini, que já conhecia desde a época de “He-Man”, e com o qual acabou criando a Arlequina pouco depois, Bruce Timm “deu um sacode” por assim dizer, no marasmo que imperava nas animações de aventura feitas em solo estadunidense naquele momento.

Arlequina e seus criadores, Bruce Timm e Paul Dini

Bem, ficar aqui falando sobre “Batman A Série Animada”, seria chover no molhado, já que já dediquei um artigo em duas partes a ela.

Mas ainda que o traço de Timm na época pudesse ter recebido críticas daqueles que preferiam um caracter design mais realista digamos assim (e eu aqui me incluo). Seu estilo acabou sendo fundamental tanto para dar velocidade à produção das células de animação como para deixar os movimentos dos personagens mais “redondos” e agradáveis de assistir. Fora o estilo que colocou na arquitetura de Gotham City, que ainda que sofresse influência do live action do Batman de Timm Burton, logo ganhou entre o pessoal da produção o apelido de “dark decor”, uma brincadeira com “art decor”.

A Máscara do Fantasma...

E o que foi iniciado ali, foi se tornando com o passar dos anos um único universo compartilhado de várias séries de animação, que hoje é carinhosamente chamado pelos fãs de “DC Timmverse”.

...aquele que é considerado por muitos até hoje...


...o melhor longa-metragem do Batman.

Uma construção que já dentro de Batman TAS teve um capítulo todo especial no longa-metragem “A Máscara do Fantasma”, por muitos considerado, e talvez realmente seja, o melhor trabalho audiovisual realizado com o personagem até hoje.


Mas os planos de Bruce Timm e sua turma estavam bem longe de terminar e em 1996 chegava “Superman A Série Animada”. Nela, Bruce começou a colocar em prática seus planos de expansão que levaram inclusive a ruptura de parte da equipe que fazia “Batman TAS” como já descrevi aqui no blog.

Em Superman TAS, outros personagens surgem, como o Lanterna Verde

Nesta série, vemos o “Azulão” interagindo com outros personagens como o Flash/ Wally West, sua prima Supergirl e até o Lanterna Verde Kyle Rayner. E obvio, lógico, como não poderia deixar de ser com o Batman.

E lógico, temos o encontro entre "os melhores do mundo".

Sem falar em um arco com Darkseid que colocou em xeque qualquer tentativa posterior de trabalhar os personagens em outras mídias (risos).

Sem falar na coragem de fazer um tema de abertura que fugia da clássica obra de John Williams para o filme de 1978, e que mesmo não sendo assim tão épico, captou muito bem o espírito do personagem.

A Liga da Justiça

E não há como negar que a série de Kal-El, foi o que viabilizou a partir de 2001 a série da “Liga da Justiça”, mas antes houve o que já descrevi aqui como sendo o maior ato de ousadia de Bruce Timm, a série de um novo Batman.

Batman do Futuro

E assim como na série de Bruce Wayne lá em 1992, o “Batman do Futuro”, Terry McGinnis, tem seu ponto fora da curva num longa, “O Retorno do Coringa”. Tudo bem, sei que já falei bastante sobre o longa no artigo que já foi publicado aqui, mas não deixa de ser surpreendente, mesmo anos depois, nos darmos conta de como o talento de Timm, Paul Dini e toda a equipe foram capazes de dar mais uma vez um passo para fora da caixinha se formos pensar numa animação feita para tevê.

O visual original de Z.E.T.A em Batman do Futuro

Sem falar que foi responsável por gerar o spin off “Projeto Z.E.TA.”. E aqui é necessária a abertura de um pequeno parêntese, pois mesmo em séries que não tinham sua atuação direta, não houve nenhum tipo de pudor seu em fazer crossovers, já que o próprio Terry McGinnis retorna em um episodio de “Projeto Z.E.T.A.”.

E o que dizer sobre “Super-Choque”?

Super Choque encontra o Batman - Crossover entre as séries

A série do personagem criado nos quadrinhos da Milestone (depois adquirida pela DC) por Dwayne McDuffie, que mesmo não tendo nenhuma participação direta de Bruce Timm, acabou se inserindo em seu universo após crossovers entre o jovem herói e os membros da Liga da Justiça em ambas as séries, fazendo McDuffie se tornar depois um dos principais nomes da série da equipe de heróis.

É... A Liga da Justiça...Mais uma vez ela...


Mais sobre o grupo de heróis, como Bruce Timm amarrou todo seu universo, e principalmente, como mesmo depois do fim do chamado “Timmverse”, a sua obra se fortaleceu ainda mais, é algo que deixarei para a segunda parte desta incrível jornada de aventuras, e sobretudo de resistência... Até lá!

 

 

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