Olá!
Na primeira parte deste artigo, descrevi como Bruce Timm passou de um garoto
sonhador que almejava ser cartunista na Marvel, até sua consagração nos anos
1990 no comando de algumas das séries de animação para tevê mais bem-sucedidas
da história.
Mas
tudo aquilo logo ia se mostrar apenas o começo...
E
em 17 de novembro de 2001 ia ao ar pela primeira vez na tevê norte-americana o
primeiro episódio de “Liga da Justiça”, aquela que seria a maior reunião de
personagens de quadrinhos fora de sua mídia original até hoje.
Uma
animação que já se iniciava de modo bem diferente numa espécie de minissérie em
cinco capítulos (ainda que a ideia já tivesse sido usada em Gárgulas), e também de forma absolutamente épica com uma abertura que
ainda que possa ter causado certa estranheza no primeiro momento por ser feita
em computação gráfica nos trazia o fantástico tema de abertura criado por
Lolita Ritmanis.
E
se eu pudesse rotular esta obra numa só denominação seria “Ode de Amor aos
Quadrinhos”.
Poderia
inclusive até fazer um artigo inteiro sobre “Liga da Justiça”, e sua
continuação “Liga da Justiça Sem Limites” (e quem sabe um dia até faça), mas
tem algumas coisas que não podem deixar de serem mencionadas e exaltadas.
Mantendo
a tradição de ótimos roteiros, com exceção de um ou outro episódio mais
descompromissado, a animação manteve um nível altíssimo em suas estórias.
Sabendo a hora certa do drama, da ação e da comédia.
E aqui não posso deixar de citar ao menos três episódios icônicos:
“Inimigo Submarino”: Aqui o roteiro de Kevin Hopps nos presenteia com uma cena marcante, onde Aquaman para salvar o filho corta fora sua própria mão, numa situação muito melhor pensada que a bobagem de “piranhas egoístas” que Grant Morrison escreveu para apenas criar mais uma ceninha hypante para mentes rasas nos quadrinhos.
“Para o Homem Que Tem Tudo”: A versão animada para a clássica HQ de Alan Moore é até hoje a única obra do autor transposta para outra mídia que recebeu elogios seus.
“Epílogo”:
Como citei aqui no artigo sobre “Batman do Futuro”, este episódio é uma aula de
roteirização que deveria ser matéria obrigatória em qualquer faculdade de
cinema e que amarra de forma perfeita toda a trajetória do Batman dentro do
Timmverse, com direito a citações ao longa “A Máscara do Fantasma” e ao
episódio “Cuidado Com o Fantasma Cinzento” de Batman TAS.
Floyd Lawton, o Pistoleiro |
Fora
isto não há como não mencionar alguns personagens que poucos acreditavam ver um
dia numa animação como no caso de Floyd Lawton, o Pistoleiro, apesar de que
sendo Timm um fã de “Estranhas Aparições” a fase de Steven Englehart nas HQ’s
do Batman (como citei no artigo que fiz aqui sobre esta fase) isto não chega a
surpreender tanto (risos).
Travis Morgan em Liga da Justiça Sem Limites |
Mas
nesta categoria o primeiro lugar inquestionável vai para Travis Morgan, o
Guerreiro (Warlord no original), o icônico personagem criado por Mike Grell que
é desconhecido ou desdenhado por muitos ditos “conhecedores” de quadrinhos mais
novos.
Mas
a atuação de Bruce Timm nas animações não se limitou as funções já citadas,
pois volte e meia, ele emprestou sua voz para algum personagem.
Coisa
que começou em Batman TAS, se repetindo em vários outros trabalhos como: Mongul
(Batman e Superman - Inimigos Públicos), o Charada (Batman Contra Capuz
Vermelho) e até Duas-Caras (Liga da Justiça vs Os Cinco Fatais).
Paul Dini e Bruce Timm em Batman - Os Bravos e Destemidos |
Isto
sem contar as vezes que fez cameo de
si mesmo (ou se sua figura), como em “Batman TAS” e “Batman Os Bravos e
Destemidos”, sendo este segundo com direito a cameo até de Paul Dini
Aliás,
é preciso mencionar que com o fim do chamado Timmverse em 2006 foi aí que a
Bruce se mostrou - ainda que sem sair do
nicho dos super-heróis - um artista bem mais versátil do que se imaginava, e
não é nenhum exagero creditarmos a ele a maior parte do sucesso e
principalmente credibilidade que todas as animações da DC Comics possuem.
Atuando
como produtor esteve em vários longas de animação como “Liga da Justiça -
Deuses e Monstros” e a adaptação de “A Piada Mortal” (ou você achou que aquele
Batmóvel de Batman TAS estava ali de graça?).
O DC Showcase do Sgt.Rock, marcou a volta de Timm à direção... |
Sem
falar, lógico, em sua atuação tanto como produtor, mas também como diretor - função da qual se afastou durante alguns anos - na
série de curtas-metragens do projeto DC Showcase ..
...que continuou em outros trabalhos como Superman - Entre A Foice e o Martelo |
Fora
um capítulo bem especial de sua carreira, quando foi o elemento de ligação que
uniu o melhor de Estados Unidos, Coreia de Sul e Japão num único projeto.
Batman - O Cavaleiro de Gotham |
O
ano era 2008. O projeto? Batman – O Cavaleiro de Gotham!
Com
roteiros de gente como Allan Burnnet, Brian Azzarello e do próprio David S
Goyer, roteirista da trilogia de Christopher Nolan, e tendo alguns lendários
diretores japoneses de animação como Yoshiaki Kawajiri, que você que acompanha
o blog deve conhecer de duas obras suas que já resenhei aqui, Cyber City Oedo 808 e Wicked City.
Yoshiaki Kawajiri |
Veio
com uma proposta que era tão simples quanto arriscada. Contar em animação
algumas estórias do “Morcego de Gotham” no intervalo entre os filmes “Batman
Begins” e “Batman O Cavaleiro das Trevas”.
Sendo
que em 2014 lançou “Batman - Strange Days”, um curta-metragem para celebrar o
75º aniversário de criação do “morcegão”, aproveitando, inclusive, para fazer
uma homenagem a uma das primeiras aparições do Dr.Hugo Strange nos quadrinhos,
mais uma vez escancarando sua admiração por “Estranhas Aparições”.
E
se tem uma coisa louvável em Timm, é que jamais se fez refém da famigerada fanbase, acreditando no seu talento e
daqueles que o cercam para transitar sem maiores preocupações entre produções com
toques mais sérios e dramáticos até outras que são pura diversão.
Ou
seja, o garoto que sonhava ser cartunista da Marvel acabou fazendo junto com
sua equipe a maior homenagem que a fase mais criativa que a DC poderia ter.
Lógico
que apesar de ser mais conhecido pelas animações, Timm não deixou de atuar na
mídia que originalmente sempre foi sua paixão, tendo ganho ainda em 1994 um
prêmio Eisner junto com Paul Dini pela HQ “Batman Adventures - Mad Love”, tendo
ainda outros trabalhos pela editora Vertigo e pela Marvel onde atuou como
desenhista em “Vingadores ½” de 1999. Tendo até contribuído em 2005 para a arte
de um conto de “Conan”.
Mas
creio que nas artes gráficas sua maior “ousadia”, se é que dá para chamar assim
foi em 2020, com o lançamento de um livro de arte erótica chamado “ The Big Tease: A Naughty and Nice Collection”.
Porém sem jamais se esquecer do universo que criou, e que com outros artistas talentosos trouxe para as telas de tevê de todo mundo.
Tão marcante que em 2019
mesmo mais de uma década após seu suposto fim, teve um spin off no longa-metragem “Liga da Justiça vs Os Cinco Fatais”,
num roteiro que tirando um certo ar caricato de um ou outro vilão, é uma aula de
como se trabalha o tema “viagem no tempo” de forma fluída e inteligente, deixando
na poeira um certo longa-metragem live
action de heróis que estreou quase na mesma época.
Sem
falar no devido destaque e reconhecimento que dá a Jessica Cruz, uma das melhores
personagens de quadrinhos criadas nos últimos trinta anos.
E não é que agora, em pleno 2021, a Warner veio a sinalizar com o retorno do Timmverse! Tá certo que a princípio algo nos quadrinhos, mas que já faz muita gente sonhar.
E
mesmo que pessoalmente considere um erro uma sequência do universo clássico,
fora lógico, spin offs como o citado “Liga
da Justiça vs Os Cinco Fatais”, não há como negar que qualidade dos trabalhos
de Bruce W Timm e todos de sua equipe, sempre criarão expectativa por mais uma
obra bem produzida, de roteiro ágil e inteligente, e que principalmente mantém
viva uma arte que vem se esvaindo na avalanche de mediocridade que tem imperado
na esmagadora maioria das animações atuais.