quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Ultraman, Ultraseven e O Regresso de Ultraman

Em 1954 Eiji Tsuburaya como responsável pelos efeitos visuais,  virou a página da história dos filmes de ficção fantástica com Godzilla, criando com a dupla maquetes + roupas de borracha, um jeito diferente e mais simples de fazer filmes que até então se baseavam no complicado processo de stop motion.
Mas foi em 1966 que inventividade de Tsuburaya, já como produtor traria ao mundo aquele que é o maior expoente dos tokusatsus... Ultraman!


Contudo, a história dos Ultras começou um pouco antes em 1964.
Em Ultra Q, Eiji Tsuburaya pretendia criar um seriado, que guardando as devidas proporções, poderia ser descrito como um avô de Arquivo X, com uma equipe de personagens que investigavam fenômenos estranhos.

Eiji Tsuburaya (esq.) nos bastidores de Ultra Q

Mas a Tokyo Broadcasting System, de olho no sucesso que monstros como Gamera e o próprio Godzilla faziam, deu uma “intimada" em Tsuburaya para que adicionasse mais monstros ao seriado. O que fez Ultra Q (o Q significando Questão ou Pergunta) estrear apenas em 2 de janeiro de 1966 com o episódio, “Derrote Gomess", já de cara mostrando um grande monstro, o tal Gomess (feito a partir de uma tunagem numa fantasia de Godzilla), mas sem ainda contar com o arquétipo do ser super poderoso como protagonista.


Protagonista este que chegou voando ainda em julho daquele ano.
Perseguindo o monstro Bemular, um alienígena vindo da galáxia M78 colide com a nave do oficial Shin Hayata da SAI (Patrulha Científica aqui para nós brazucas), que não suporta os ferimentos e morre.
Tentando reparar o acontecido, o alienígena funde sua energia vital ao corpo de Hayata que volta, tornando-se uma forma de vida simbionte, bem antes do termo se popularizar, e que sempre que necessário surgia em sua forma original quando a cápsula beta era acionada.


E assim passamos a ter os clássicos embates contra os monstros do espaço, mais em especial os seijins, uma raça de alienígenas, que lógico, queria dominar a Terra.
Ainda assim, a produção de Ultraman em seu começo, até pela forma rápida como as coisas estavam sendo feitas, penou um pouco, e teve que fazer a reutilização de alguns monstros que já haviam aparecido em Ultra Q. Fora o probleminha que gerou uma das mais lembradas características do seriado, a luz de alarme no peito do herói.

A evolução da máscara de Ultraman

Tal característica que segundo o enredo indicava que o tempo de Ultraman em sua forma original estava por se esgotar, precisou ser criada em razão de que máscara da fantasia no começo do seriado era feita de uma resina que começava à derreter após alguns minutos sob o calor dos refletores.


Porém, uma vantagem que Ultraman tinha sobre os outros tokusatsus da época, como Robô Gigante e Goldar, residia justamente em sua roupa, que permitia movimentos muito mais livres. No entanto, o tom geral do seriado ainda era bastante leve, mesmo quando da morte do protagonista, momento no qual o público descobre que existiam outros como ele, pois surge Zoffy, o Ultra que o leva de volta para M78, mas que dá uma nova vida a Hayata.


Mas como as ameaças do espaço não são de dar trégua, menos de três meses depois da despedida de Hayata chegava Ultraseven.
Situando sua ação num futuro não muito distante, a Força de Defesa da Terra forma o “Esquadrão Ultra”. Uma equipe de elite, com equipamentos de alta tecnologia, composta por seis membros aos que depois se une o misterioso Dan Moroboshi (Kohjji Moritisugu).


Mas ao contrário do primeiro Ultraman e sua condição de simbionte, aqui em sua visita a Terra, o Agente 340 (como era descrito no começo), salva a vida de um alpinista chamado Jiro, mas ao invés da fusão o “agente” se torna uma cópia do então inconsciente Jiro, e assume uma outra identidade, Dan Moroboshi.


Ainda que não com a mesma carga de drama de outros tokusatsus posteriormente feitos, Ultraseven já possuía um tom bem menos pueril que o primeiro seriado.
Originalmente seu nome seria “Ultra Eye” devido aos óculos que o personagem usava para se transformar, mas a ideia foi mudada, segundo consta devido uma superstição sobre um ideograma do idioma nipônico, e que também, segundo explicação para o público fora do arquipélago, Moroboshi seria o sétimo membro do Esquadrão Ultra.


Além disto, os veículos do Esquadrão Ultra, muito diferentes de todos os outros das demais séries, reza a lenda urbana, teriam tido inspiração direta dos veículos do seriado “Thunderbolts”.


Ultraseven, porém, acabou se envolvendo numa pequena polêmica, pois em seu 12º episódio, Presente Nocivo, o monstro alienígena era retratado como uma criatura desfigurada pela radiação, tendo inclusive em seu corpo cascas de feridas bem semelhantes as das vítimas de radiação.

Cena do episódio "proibido" de Ultrseven

Algo que foi considerado ofensivo aos sobreviventes das bombas atômicas de Hiroshima e Nagazaki, e assim o episodio foi banido do Japão e sua produção até hoje é negada pela Tsuburaya Productions, ainda que tal episódio tenha ido ao ar em outros países.


Mas nada disso mudou o culto que Ultraseven possui no seu país de origem, onde pode ser considerado até o hoje o super herói mais popular, com participação em várias outras séries dos Ultras. E ganhando até um reboot em 2016, numa versão mais hardcore chamada Ultraseven X, mas que não é considerada como dentro da cronologia oficial dos Ultras.
Cronologia que ganharia seu terceiro “capítulo” em 2 de abril de 1971 em, O Regresso de Ultraman.


Projetado originalmente por Eiji Tsuburaya para ser a continuação das aventuras do primeiro Ultraman, acabou tendo seus rumos alterados quando do falecimento de seu realizador, que foi substituído pelo filho Hajime, que criou um novo personagem, que posteriormente viria a se chamar Ultraman Jack, estabelecendo de vez o conceito da “Irmandade Ultra”.


Mas ao contrário da simbiose com Hayata que pode ser considerada parcial, aqui a fusão de Hideki Goh (Jiro Dan) era total, formando um único e novo indivíduo. Mesmo assim, o título O Regresso de Ultraman foi mantido por razões de marketing.


O Regresso de Ultraman pode ser considerado, não apenas por isto como o grande divisor de águas da franquia, como também por ser a primeira série Ultra a explorar de fato um tom mais dramático em seus episódios, algo que alguns alegam ser já um reflexo de Spectreman da concorrente P Productions que estreara em janeiro daquele mesmo ano.


E pessoalmente, tinha o segundo tema mais triste que já escutei num seriado até hoje, só mesmo atrás de “Lonely Man”, o tema do seriado do Incrível Hulk, aquele com Bill Bixby e Lou Ferrigno.




O que não quer dizer que a ação não rolasse solta, tendo seu ponto alto no episódio “Quando Brilha A Estrela de Ultra”, quando o primeiro Ultraman e Ultraseven se unem para salvar o irmão em apuros.


Depois de O Regresso de Ultraman a franquia se estabeleceu ao redor do mundo com a mais longeva, cultuada e lucrativa da história dos tokusatsus.


Leo, Ace, Taro, Ginga, Ultra Father, Ultra Mother...
UItraman em seriado, em filmes longa metragens, em animações...
Ultraman japonês, malaio, australiano, norte-americano...



Tantos são os Ultras que se fosse escrever sobre todos de uma só vez, este artigo ficaria parecendo uma enciclopédia, sendo assim paro por aqui nestes três clássicos absolutos, para quem sabe um dia retornar ao tema, jamais deixando se apagar o brilho da estrela de Ultra.


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Um comentário:

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