terça-feira, 2 de julho de 2019

Xena - A Princesa Guerreira


“Nascida entre o fogo e paixão”
Assim é descrita Xena, a Princesa Guerreira na canção da banda finlandesa Sinergy. E mesmo que tal descrição possa a primeira vista parecer um eufemismo, tem sim lá seu “toque” de verdade.
Surgindo pela primeira vez ainda como vilã no seriado “Hércules”, sua participação a princípio estava prevista para apenas três episódios. Os dois primeiros nos quais foi antagonista do herói, e encerrando seu ciclo ao morrer já como aliada de Hércules no terceiro episódio.
Contudo, a reação à personagem foi tão positiva, pegando de  surpresa até os realizadores da série, que mais que rapidamente o produtor Robert Tapert percebendo o potencial da personagem, não só lançou o alerta para que Xena não fosse morta, como se apressou em criar um novo seriado, que superou em muito a série da qual se originou.


E assim em 4 de setembro de 1995 ia ao ar “Pecados do Passado”, o primeiro capítulo da jornada da ex-vilã em busca de sua redenção. Um fio condutor perfeito, que deu a saga um “porque" bem mais lógico que a série de um Hércules viúvo e suas brigas com os deuses.
Logo neste primeiro episódio Xena (Lucy Lawless) trava contato com aquela que se tornaria sua grande companheira de saga e de vida, Gabrielle (Renee O'Connor). Interessante aqui é que Renee já tinha participado de um dos longa metragens de “Hércules” que foram realizados antes do seriado, sim, aqueles mesmos que tinham Anthony Quinn como Zeus.

Gabrielle, Xena e o cavalo Argus.

Com sua própria série,  se pode descobrir toda a história que levou Xena ao seu passado criminoso e amoral. Desde quando sua vila foi atacada quando ainda adolescente, passando por crescimento como guerreira, e os “fantasmas" que volte e meia vinham atormentá-la, seja na forma de antigas figuras de seu passado ou de novos inimigos mas que a faziam se confrontar com aquilo que tinha sido.

Kevin Todd Smith era Ares, o deus da guerra.

Mas quase sempre tendo por perto a figura de Ares, o Deus da Guerra (Kevin Tod Smith). Numa relação que num olhar mais atento poderia ser classificada como incestuosa .
Mas como incestuosa?
Bem, Xena era a preferida de Ares, e isto fica claro desde o começo da série. Contudo, em determinado episódio  fica sublimado que Ares teria seduzido a mãe de Xena, no passado, deixando nas entrelinhas que a guerreira poderia ser sua filha. Isto explicaria com certa lógica toda a força e habilidade de Xena, tão superiores em relação a maioria de seus oponentes, mas também abria a especulação de um interesse incestuoso do “Deus da Guerra”. Nada fora do normal em se tratando das antigas divindades gregas, mas este viés logo foi “esquecido” pelos realizadores da série, por questões óbvias.


Óbvio também, é o mais usado gancho de várias resenhas que batem na mesma tecla da questão do relacionamento entre Xena e Gabriele, mas fica claro ao longo da série, em especial em suas últimas duas temporadas, que o escopo ali tratado ia bem além de abordar um relacionamento homossexual, pegando uma “carona" no bem conhecido conceito de reencarnação, abordado por exemplo na clássica HQ, Camelot 3000.
Sendo assim este, apenas mais um elemento de um seriado bem mais multifacetado do que se mostrava em seu começo.
Multifacetado? Mas como assim?
Bem, muitos foram os elementos que passaram a diferenciar “Xena” de “Hércules”.


Lógico que neste início, o seriado ainda trazia muito da atmosfera mais “descompromissada” de Hércules, incluindo aí algumas participações do filho de Zeus no seriado da guerreira logo em seu começo. E óbvio que o tom cômico de muitos episódios nunca foi abandonado,  principalmente quando tínhamos a presença de personagens como Joxer (Ted Raimi) e Autolicus (Bruce Campbell). Aliás um hábito bem saudável que várias series atuais precisavam aprender, mesmo não descambando para o pastelão estilo “Os Três Patetas" como vez ou outra ocorria aqui.

Joxer (Ted Raimi)...


... e Autolicus (Bruce Campbell) em geral eram o escape cômico da série

Porém, conforme o seriado foi evoluindo e as temporadas se sucedendo, Xena foi se tornando cada vez mais dramática,  e explorando novas e interessantes possibilidades, em geral ligadas aos finais de temporada.
Logo de cara, é nítido, que bem melhor que Hércules, Xena soube aproveitar a imensa diversidade de paisagens que a Nova Zelândia,  país onde as séries eram filmadas,  dispunha. Para levar nossa heroína desde a Britânia  até o Japão ao longo de sua jornada.
Jornada que como não poderia deixar de ser é cheia de percalços.

Calisto (Hudson Leick) se torna a maior antagonista de Xena

Desde de alguns antagonistas que se tornam recorrentes como Calisto (Hudson Leick) uma guerreira que faz Xena se lembrar de quem costumava ser, até Alti (Claire Stansfield) uma feiticeira que fez parte da época mais obscura de seu passado quando conheceu Borias (Marton Csokas), o pai seu filho, Solan.

Borias e Xena

Aliás,  Solan acaba sendo o pivô de um dos pontos mais dramáticos do seriado, quando a filha que Gabrielle havia tido ao ser abusada por um demônio acaba matando Solan, acarretando na ruptura da amizade entre ela e Xena. Amizade que só seria retomada em um dos maiores pontos fora da curva da série, que ousou em realizar um episódio musical. Episódio este que segundo lenda urbana só teria sido feito a pedido de Robert Tapert, na época já casado com Lucy Lawless para que esta pudesse exercitar seus dotes como cantora.
Mas seja lá como for, a verdade é que o episódio surpreendeu bastante o público na época e todo este arco pode ser considerado o grande ponto de virada no seriado que se desprendia ali de vez da figura do seriado de Hércules.
Além disto, Xena começou a ser situada numa linha histórica real.

Karl Urban, em começo de carreira era Cesar.

A partir do momento em que Julio César (Karl Urban em começo de carreira) passa a integrar a mitologia da série na época em que o poder era dividido entre ele, Pompeu e Crasso, então automaticamente podemos estabelecer que a saga de Xena ocorre em torno de 50.AC.


Num arco que na modesta opinião deste escriba é o melhor de toda série com momentos tensos e dramáticos,  como a morte de Crasso num Coliseu lotado que não o reconhecia, a luta das legiões romanas contra as amazonas, a crucificação de Xena e Gabrielle,  e lógico o histórico assassinato de Júlio César no senado, numa interessante mistura de ficção e história antiga como poucas vezes se viu.

Gabrielle e Xena são crucificadas por ordem de Cesar

E como Roma já tinha sido mostrada em sua época de triunvirato,  Xena ainda introduziu depois a figura de Eli (Timothy Omundson), um profeta, totalmente pensado em cima da figura de Jesus Cristo,  que vinha trazendo a doutrina  ao deus único, e que anunciava o fim da era dos antigos deuses olímpicos.

Eli era o profeta que trazia o anuncio do fim da era dos antigos deuses.

Contudo,  ainda existe um fato que deixa tudo mais interessante.
Uma sacada que é talvez a mais genial da série. Pois ao longo de todo o seriado a jornada de Xena e Gabrielle é documentada através do “diário” que a sidekick da protagonista escrevia em pergaminhos.
Ok. Mas e daí?

Cenas do episodio "The Xena Scrolls" passado na década de 1930.

E daí que em um dos episódios que aparentemente fugiam da cronologia normal da saga, e que se passa na década de 1930, numa homenagem descarada à Indiana Jones , tais pergaminhos acabam no fim deste episódio  indo parar nas mãos de Ted Raimi, sim o ator que faz Joxer, em mais uma mistura de real com ficção, e este acaba por mostrar os tais pergaminhos que tinham sido herdados de seu avô para ninguém menos que Robert Tapert, o produtor do seriado, que de imediato se interessa pelo material.
Ou seja, a partir daí ficava subentendido que tudo aquilo, por mais absurdo que fosse de fato havia ocorrido, e que o seriado era todo baseado nos pergaminhos escritos por Gabrielle.


Nesta época Xena já era a segunda série de maior sucesso da tevê mundial, ainda que com certa queda de audiência a partir de sua quinta temporada. Mas num segundo lugar que praticamente podia ser considerado primeiro, afinal competir com Arquivo X na época era absolutamente impossível, chegando a própria Lucy Lawless fazer uma participação no seriado de Mulder e Scully.

Lucy Lawless em sua participação em Arquivo X

Contudo, um golpe inesperado do destino se abateu sobre o seriado, pois durante pesquisas de locações, Kevin Todd Smith, o Ares, caiu de um andaime tendo morte instantânea. Tal fato acabou gerando uma comoção gigantesca em toda a equipe, que de comum acordo optou pela descontinuação da série.

A morte de Kevin Todd Smith abreviou o fim da série

Que óbvio não poderia terminar sem o tão esperado beijo entre Xena e Gabrielle, atingindo um pico de audiência incrível, mas que não se atentou ao que havia sido contado durante a série de que o túmulo de Xena ficava em algum lugar da antiga Mesopotâmia (atual Iraque), e acabou que não foi isto que foi visto, com a guerreira de fantásticos olhos azuis encontrando seu fim nas distantes terras nipônicas.

O tão aguardado beijo entre Xena e Gabrille enfim acontece

Ainda assim a lenda já havia estava instaurada. Sem orçamentos gigantescos, sem a necessidade de cenas mais apelativas, mantendo sempre que possível o bom humor, e uma pioneira de reuniões de fãs que giravam apenas em torno de si, Xena A Princesa Guerreira, se tornou um marco que levou a personagem à um patamar impensável ao surgir lá em “Hércules”.


Levando- a para outras mídias como os quadrinhos, e tornando Lucy Lawless uma lenda da cultura pop tão grande, que mesmo fazendo outros trabalhos como em “Spartacus”, ou até na participação especial que fez em “Arquivo X", dissociar seu rosto da guerreira que imortalizou algo impossível.
E como numa espécie de profecia feita na narração de sua abertura sua coragem de fato mudou o mundo... Pelo menos o da televisão e da cultura pop.







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