Em
1982 a DC Comics recebeu uma encomenda da empresa que fabricava o videogame
Atari. Nesta encomenda a editora de Batman e Superman recebeu a incumbência de
criar uma revista que seria dada como um brinde em alguns cartuchos de jogos da
empresa.
Mas o que começou como uma mera jogada
comercial se transformou em uma das séries de quadrinhos mais importantes de
todos os tempos... Nascia ali, o Esquadrão Atari!
Como
foi dito, a Atari a fim de incrementar suas vendas no começo de 1982 encomendou
a DC Comics uma HQ para vir junto a
alguns de seus jogos (Defender, Berserk, Star Riaders, Phoenix e Galaxian),
numa inteligente jogada de marketing, na qual para saber a conclusão da HQ
seria necessário adquirir os diferentes cartuchos nos quais vinham as partes da
minissérie.
A primeira equipe do Esquadrão Atari - Ação comercial que funcionou mais do que o esperado |
Mas
como naquela época ninguém estava pra brincadeira, a tal encomenda caiu no colo
de dois maiores nomes dos quadrinhos de todos os tempos, Gerry Conway e Roy
Thomas.
Roy Thomas em sua breve passagem pela DC... |
... e Gerry Conway ficaram responsáveis pelo roteiro, posteriormente passando apenas para Conway |
Aqui
nesta sua primeira versão, que se passava no então distante ano de 2003,
tínhamos a Terra à beira de uma catástrofe ecológica, e a busca de um novo lar
para a humanidade pela tripulação da nave Scanner One através do “multiverso”.
Sim do “multiverso”. Você não leu errado. Pois Esquadrão Atari foi um dos pioneiros
neste conceito mesmo nunca estando conectado com o “universo principal” da DC.
A 1ª tripulação da Scanner One |
Na
tripulação da Scanner One, escolhida pelo A.T.A.R.I (Advanced Technology
Research Institute) tínhamos Martin Champion, comandante da equipe; Lydia
Perez, piloto e primeira-oficial; Li-San O”Rourke segunda oficial, o médico
Lucas Orion; Mohandas Singh o engenheiro de voo; e Hukka a mascote do grupo.
Infelizmente
esta primeira fase nunca chegou a ser publicada no Brasil. E ainda que a
premissa da história não tenha sido das mais originais, remetendo diretamente a
obras como “Perdidos no Espaço” e até mesmo “Patrulha Estelar”, seus
personagens foram tão bem construídos e boca a boca disseminou uma fama muito
além do esperado que em pouco mais de um ano, Esquadrão Atari renascia para sua
segunda, e sem nenhum eufemismo, espetacular fase.
A 1ª edição norte-americana do "novo" Esquadrão Atari |
Vinte
anos depois de o antigo Esquadrão Atari ter achado para a humanidade um novo
lar, a chamada “Nova Terra”, Martin Champion vivia isolado em um satélite de
onde ficava a enviar sondas para diversas partes do multiverso.
Até
que num belo dia começa a receber sinais do que acredita ser uma grande ameaça.
Um antigo inimigo do Esquadrão Atari que estaria de volta, o Destruidor Negro.
E saindo de seu autoexílio, Martin tenta convencer a todos da ameaça, mas como
já era de se esperar ninguém lhe dá ouvidos.
Convicto
da ameaça que se aproximava, Martin Champion rouba a Scanner One e forma uma
nova equipe, a fim de encontrar e deter o perigo antes que chegasse a Nova
Terra.
Aqui
preciso abrir um parêntese, pois é obvio que se você que está lendo este
artigo, e nunca teve o prazer de travar contato com o Esquadrão Atari, mas é
ligado em animação deve estar percebendo as semelhanças entre a premissa aqui
citada, e a de Patrulha Estelar 2.
Mas
é lógico que isto é apenas uma consideração deste escriba, e não há como saber
se Gerry Conway - que ficou sozinho à frente da roteirização desta nova fase -
teve ou não influência da saga do Yamato, contudo, isto em nada desmerece oque
foi criado, pois oque vem depois disto é de explodir a mente.
José Luis Garcia Lopez na segunda fase se torna o único desenhista da HQ. |
Sob
o traço exclusivo do mestre José Luis Garcia Lopez - já que na primeira fase, cada
edição teve um desenhista diferente - esta nova equipe era composta por Chris
Champion, o filho de Martin, que era conhecido por Tormenta (Tempest no
original) que era capaz de se teletransportar através do Multiverso; Dart, uma
mercenária que vez ou outra era capaz de enxergar imagens de possíveis futuros;
Bebê, um enorme alienígena filhote de uma raça que ao atingir a maturidade se
transformava em montanhas; Morfea, uma empata de uma raça alienígena criada
para não ter emoções; Paco Rato, um alienígena covarde mas que era o maior
ladrão do universo, e que se pressionado liberava seu lado mais selvagem por
assim dizer.
As duas equipes Atari |
Sendo
que no decorrer da saga, eles recebem as adições de um pirata espacial chamado
BlackJack que era amante de Dart; o baixinho Taz, que era o último sobrevivente de
sua raça, isto lógico até dar a luz, pois sua raça se reproduzia por autogênese;
e Kargg, o ex-braço direito do Destruidor Negro.
Destruidor
Negro que posso dizer aqui sem medo de errar estar no meu “TOP 5”, talvez “Top
3” de vilões. Um antagonista brilhante em suas estratégias, mal em sua essência,
e quando revela sua verdadeira identidade, afirmo a você que está lendo e nunca
tenha batido os olhos em Esquadrão Atari, vai fazer seu cérebro parar de reagir
por alguns momentos.
O Destruidor Negro - Um vilão brilhante |
Fora
isto, a saga ainda trás momentos pouco ou nunca vistos em HQ’s até
então, já que na história de Conway, situações controversas ou cenas
de sexo aconteciam sem o menor pudor, bem na linha de outra saga contemporânea,
Camelot 3000.
As "relações intimas" de alguns personagens... |
... e outros momentos, pouco comuns, se tornaram referencial |
Isto
tudo emoldurado pela arte já citada de José Garcia Lopez que aqui me arrisco
dizer atingiu seu ápice. Com o artista simplesmente jogando para longe boa parte das
convenções de se desenhar quadrinhos que haviam até então, e servindo de base
para pelo menos 90% do que foi feito a partir dali.
A perspectiva de Garcia Lopez, quebrou a "demarcação" que havia para os quadrinhos |
Contudo,
esta pode ser considerada apenas a “primeira parte” da segunda fase, pois como
todos bem sabemos os direitos de todos os personagens no fim das contas era da
Atari, que informou a DC que iria romper a parceria, criando-se assim a chamada
“segunda parte” da segunda fase, quando o roteiro passou para as mãos de Mike
Baron, que justiça seja feita não é ruim, mas que talvez por força de saber que
a coisa ia acabar não repetiu o mesmo grau de excelência de Conway, terminando
a saga apenas com míseras vinte edições publicadas.
Aqui
em nosso Brasil, Esquadrão Atari foi publicado no icônico “formatinho” da
Editora Abril, com sua saga espalhada pelas revistas “Heróis em Ação” e a já resenhada
aqui “Superamigos”, repetindo o sucesso de outros países, e se tornando mesmo
hoje uma das mais populares epopeias de quadrinhos já criadas. E que serviu sim
de inspiração direta para vários outros personagens e equipes criados posteriormente.
Esquadrão Atari, a base para várias Hq's que vieram depois |
Mas
infelizmente como já foi dito, os personagens não sendo de propriedade da DC
Comics, ficaram apenas nas lembranças e garimpo pelos sebos da vida por um bom
tempo. Só que isto começou a mudar em 2015, quando a Dynamite Enterteinment,
uma editora que vem sendo responsável pelo resgate de alguns personagens
antológicos, até mesmo da linha pulp
como “O Sombra”, conseguiu os direitos de publicação da primeira versão do
Esquadrão Atari.
Algumas das edições brasileiras das quais Esquadrão Atari foi capa. |
E
agora vem a surpresa, que lógico, não tenho confirmar de forma alguma, e
aguardo tão ansiosamente quanto você que está lendo.
Existe
a promessa que em 2019, chegará enfim as comic
shops estadunidenses um encadernado, trazendo todas as edições de Esquadrão
Atari.
Por
isto, com os pulmões já inflando de esperança, fico aqui na torcida ao escrever
estas últimas palavras, de que este sonho se concretize, e que alguma editora
brasileira, ainda que aos preços que sabemos não serem para qualquer um,
enxergue a multidão de fãs antigos que aguardam pelo dia do retorno dos
Champions, Dart e companhia.
E
de quebra mostre a toda uma nova geração, o quanto que determinados personagens
hoje supervalorizados beberam desta fonte, tornando Esquadrão Atari um dos
maiores marcos dos quadrinhos de todos os tempos.
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