A partir do fim da
Segunda Guerra Mundial, após muitos tipos de revés, enfim o helicóptero tinha
deixado de ser uma mera utopia na mente de projetistas para se tornar uma
máquina versátil e indispensável tanto nos teatros de operações bélicas como em
ações civis.
E lógico que o cinema não poderia
deixar de explorar tal invenção, porém, sua ação apesar de várias vezes
constante, nunca havia colocado o aparelho de asas rotatórias como protagonista
de uma produção audiovisual, talvez com a honrosa exceção da já citada aqui
certa vez, cena do ataque de “Apocalipse Now”.
Mas isto foi até 1983 e a chegada
de... Trovão Azul!
As
perseguições com carros já não eram mais nenhuma novidade no cinema havia
décadas, e nos anos 1970 pareciam ter atingido seu ápice com filmes como
“Bullit” ou o engraçado “Agarra-me Se Puderes”, e foi então com a proposta
inicial de levar para os céus as perseguições que comumente aconteciam nas ruas
e estradas das cidades que ainda em 1982 começou a produção do filme que quase
sem querer mudaria a história de uma pequena parte do cinema de ação e aventura.
Escrito por Dan
O’Bannon (roteirista de Alien o 8º Passageiro), Don Jakoby (roteirista de
Desejo de Matar 3) e Chuck Reisner Jr. (roteirista do primeiro filme de Dirty
Harry, Perseguidor Implacável), Trovão Azul começa a se distinguir das demais
produções da época, não apenas por sua “aeronave protagonista”, mas também por
mostrar pela primeira vez o trabalho da divisão aérea da polícia e por mostrar
uma trama bem mais “recheada” de
elementos que a maioria dos filmes policiais da época.
O diretor John Badham instrui Roy Scheider durante as filmagens |
Dirigido por John
Badham (Os Embalos de Sábado a Noite / Drácula), e tendo como protagonista Roy
Scheider (Tubarão / Operação França), o filme pegava gancho na vindoura à época
Olimpíada de Los Angeles, evento que obviamente pedia um “reforço” em termos de
segurança para cidade.
Murphy (Roy Scheider) começa a aprender sobre os sistemas do Trovão Azul. |
E como o projeto do
Trovão Azul (apelido que ganhou entre os policiais do filme) era essencialmente
algo policial, um dos agentes desta divisão é então escolhido para ser o piloto
oficial do helicóptero.
Longe do esteriótipo de herói, Murphy algumas vezes parecia viver no limite de seus nervos. |
O
interessante é ver que o escolhido, Frank Murphy (Scheider) possuía uma
personalidade e vida que passavam muito longe do estereótipo do herói galã
perfeito, quase (guardando as devidas proporções) uma espécie de prequel do John McClane que Bruce Willis
imortalizaria cinco anos depois em Duro de Matar.
O coronel Cochrane (Malcom McDowell) - Parte das piores lembranças de Murphy sobre a guerra. |
Um
sujeito que vivia uma relação pra lá de complicada com a companheira (Candy
Clark), que testava sua noção de espaço-tempo com um relógio de pulso a toda
hora, e nutria traumas da época da Guerra do Vietnã que viriam à tona de forma
inesperada, quando é apresentado ao piloto que lhe instruiria na condução do
novo helicóptero, o coronel Cochrane (Malcom McDowell, fazendo jus a sua fama
de ser um dos melhores atores para vilões do cinema).
Inclusive
reza a lenda urbana que a primeira versão apresentada do roteiro mostraria
Murphy literalmente surtando, mas como tal visão foi considerada muito
pessimista, lógico, acabou sofrendo aquelas conhecidas adaptações, mas que neste
caso em nada comprometeram o cerne do personagem.
Murphy (Scheider) e Lymangood (Daniel Stern) |
Mas
se estes fossem todos os problemas de Murphy tudo estaria bem. Contudo, durante
um voo noturno com o Trovão Azul com seu novo parceiro e observador Lymangood
(Daniel Stern), ao experimentar os sistemas de microfones do helicóptero acabam
esbarrando e gravando uma conversa de agentes e membros de alto escalão do
governo que queriam dar a aeronave uma utilização um pouco diferente da
originalmente pensada.
Só
que a coisa só piora, pois descobertos, os dois policiais passam a ser
perseguidos, oque acaba culminando com a morte de Lymangood, só restando a
Murphy trazer seus perseguidores para frente dos holofotes da mídia.
Perseguido, Murphy "pega emprestado" o Trovão Azul. |
E
qual a melhor maneira de fazer isto se não “pegando emprestado” o Trovão Azul?
Oque dá início a longa e sensacional sequência final do filme, e que deu um trabalho danado para produção e para o diretor John Badham.
Bem,
para que o Trovão Azul parecesse algo de fato único e não um helicóptero
conhecido, a Columbia Pictures comprou dois helicópteros Aerospatiale Gazelle
AS-341G, e estas duas aeronaves foram enviadas para então Hughes Aircraft (hoje
em dia propriedade da Boeing), onde foram severamente modificados, ficando com
a aparência que conhecemos.
O Gazelle - O helicóptero que foi a base para o Trovão Azul |
O
problema é que tais modificações deixaram os helicópteros tão pesados, que
várias das cenas escritas no roteiro tiveram de ser repensadas para sua
execução, numa época que nem se sonhava com efeitos de CGI atuais, com o uso de
miniaturas rádio controladas e truques de câmera, em especial a cena em que o
Trovão Azul dá um looping completo,
coisa que na época apenas o Westland Lynx e o AH-64 Apache faziam na vida real,
oque gerou uma indicação ao Oscar de melhor montagem no ano seguinte.
Modelos radio controlados foram usados durante as filmagens. |
Na
época, ainda que não tenha sido um fracasso, afinal só em território
estadunidense arrecadou quase o dobro do valor de sua produção, acabou ficando
um pouco aquém do que o estúdio planejava. Ainda assim foi capaz de gerar um
seriado de tevê, que durou apenas uma temporada com onze episódios. E acabou se
tornando um dos percussores do fenômeno do videocassete na época, se tornando
um sucesso maior no mercado de “home vídeo” do que no cinema.
Em
2015 a Sony chegou a anunciar que faria um remake do filme, com roteiro de
Craig Kyle (Thor:Ragnarok), que também seria produtor executivo, e que se
manteria fiel a ideia original do roteiro de O’Bannon, contudo, nada mais foi
comentado após isto até hoje.
Porém,
a ideia primária de Trovão Azul acabou se incorporando em definitivo ao cinema
de ação e aventura, tornando as perseguições com helicópteros, algo que passou
a ser usado em vários outros filmes como “Rambo 2” e no mais recente “Mercenários 3”,
fazendo a aventura dirigida por John Badham ganhar o status de cult que
merecidamente possui hoje.
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