segunda-feira, 15 de outubro de 2018

TITAN AE


Final dos anos 90, o cenário do cinema de animação nos Estados Unidos tinha se recuperado completamente do marasmo no qual estava hibernando alguns anos antes.
A Time/Warner com suas séries e longas oriundos do “DCTimmverse” dominava sobretudo o mercado de tevê e home vídeo e ainda conseguia emplacar alguns outros acertos mais que interessantes como o maravilhoso e já resenhado aqui “Gigante de Ferro”. A Disney sendo a Disney, fazendo seus rios de dinheiro pisando no “terreno seguro” de se fazer versões mais facilmente assimiláveis pelo público médio de histórias já existentes, além da parceria com o estúdio Pixar. Sem falar na Dreamworks de Steven Spielberg.
E de fora de tudo isto tínhamos a Fox. Uma das gigantes do cinema “live action”  , que de repente, quase num estalo, se deu conta do mercado que estava perdendo,  e que no ano 2000 resolveu, digamos, contra-atacar.
E assim surge... Titan AE!



Com roteiro de Ben Edlund, John August e Joss Whedon (sim, ele mesmo, o diretor de “Vingadores”), a animação já começa, justiça seja feita, metendo o pé na porta.
Mostrando os últimos momentos de nosso planeta durante a invasão (ou seria ação de extermínio?) orquestrada pelos Drejs, uma raça de alienígenas feitos de energia, que no ano de 3028 ataca a humanidade sem nenhuma razão aparente.

O Professor Tucker se despede de Cale durante o ataque Drej

E é durante estes momentos finais da Terra, que um cientista chamado Sam Tucker (que na versão original tem a voz de Ron Pearlman) envia seu filho Cale para escapar em uma das centenas de naves que tentam fugir antes do ataque final Drej. E enquanto se afastava, o pequeno Cale vê o pai rumando para um celeiro no meio do campo, de onde logo após de debaixo surge uma imensa nave, diferente de todas as outras.
E oque acontece depois disto?
Simples, nosso planeta explode. Sim, vai pelos ares. E levando a lua junto inclusive. Tudo isto com menos de dez minutos de animação, algo que vamos combinar, não é nem um pouco comum em se tratando de animações estadunidenses.

Cale quinze anos depois da fim da Terra.

Quinze anos então se passam, e vemos oque sobrou da raça humana fragmentada em colônias espaciais aqui e ali, enquanto era na maioria das vezes olhada de cima para baixo por outros povos. Ou seja, os humanos aqui tinham se tornado os alienígenas, os estrangeiros, os forasteiros.

Matt Damon faz a voz de Cale Tucker adulto.

E nos deparamos com Cale (aqui com a voz de Matt Damon na versão original), trabalhando numa espécie de estação espacial, bem amargurado por pensar ter sido abandonado pelo pai e só preocupado consigo mesmo, até que é procurado por um antigo amigo de seu pai, o capitão Joseph Korso (na versão original tendo a voz de Bill Pulman).

O Capitão Korso

E Korso conta então a Cale sobre a mítica nave que ele tinha visto sair de debaixo da terra quando garoto, e que segundo o capitão seria a possível chave para a salvação do que havia sobrado da humanidade.


E que Cale teria os meios para encontrar a nave, pois possuía no anel que havia ganho do pai uma espécie mapa que os levariam até a nave.


Os Drejs
Algo que Cale reluta num primeiro momento, mas nada que a aparição de uma patrulha de Drejs não possa ajudar para uma rápida mudança de opinião.

Akima ganhou a voz de Drew Barrymore

Indo para a nave de Korso, onde conhece o restante de sua tripulação: a piloto Akima Kunimoto (que na versão original ganhou a voz de Drew Barrymore), única humana além de Korso na nave; Gune, um pequeno cientista verde que lembra uma tartaruga; Stith, uma fêmea perita em armas que lembra uma canguru; e Preed, que mais lembra um rato humanoide.

A Valkyria, a nave de Korso

E este é um ponto da animação que se não chega a ser uma novidade, mas configura uma característica empregada em todos os outros seres da animação, como se feito de forma proposital para acentuar ainda mais a separação dos humanos das demais nações que habitavam o universo.

Gune...


...Stith...


...e Preed, o restante da tripulação de Korso.

Algumas situações dentro da trama até são bem previsíveis como o romance entre Cale e Akima, mas outras são ótimas reviravoltas que estabelecem uma dinâmica muito interessante entre os principais personagens. 

O romance entre Akima e Cale - Pedra cantada desde o começo do longa

Já li algumas críticas a esta animação sobre a fundamentação dos personagens e suas motivações dentro da trama, mas aqui vou me permitir fazer um comentário mais pessoal. Isto é uma grande bobagem e tais motivações são bem claras pra quem se dá ao trabalho mínimo de entender que todos ali procuravam sobreviver num universo quase todo comandado pelos Drejs e sua rainha (aliás, me arrisco a dizer que há aí uma leve influência de Galaxy Rangers).

A Rainha Drej

Além disto, o longa-metragem ousa bastante na mistura de animação tradicional com animação em 3D, numa época em que esta última ainda engatinhava e sempre no âmbito do cinema acabava (e ainda acaba) ligada a animações mais infantis. Chegando a pincelar alguns pequenos toques de sensualidade em uma outra cena de Akima.



E nos brindando com sequências espetaculares, não apenas na sua abertura, como em passagens como a perseguição dos Drejs aos protagonistas no planeta de seres alados em meio a incríveis árvores de hidrogênio.


Sequências de ação que combinavam a animação tradicional ao 3D.

E se há algo que talvez possa criticar nesta animação, seja a incerteza de seus produtores, que apesar de serem muito felizes em diversas escolhas feitas, ao que parecem em alguns momentos ficaram meio que na indecisão de qual público de fato atingir. Fora uma certa, forçada de barra, em sua trilha sonora a fim de parecer moderno, colocando nomes como Creed e Jamiroquai nela.



Mas tais pontos, ao menos para este escriba, talvez sejam de fato os únicos fracos, de um filme que na maioria do tempo de sua hora e meia de  duração sabe mesclar muito bem diversas sequências de ação espetaculares com momentos absolutamente lúdicos, e momentos de humor que jamais tentam se sobrepor a narrativa principal. 



Mostrando-nos um caminho que infelizmente as animações estadunidenses para cinema não seguiram, fazendo de Titan AE um raro e infelizmente subestimado exemplo do que os norte-americanos poderiam oferecer para a arte da animação se deixassem para trás algumas amarras.




























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