segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Richard Donner e a trilha da aventura.


Muitos parecem ser aqueles diretores de cinema que ficam a procura de algo que jamais irão conseguir. Muitos são os diretores de cinema que tentam se esconder atrás da zona de conforto do chamado “estilo próprio”. Muitos são os diretores de cinema que se escondem atrás de um “blá blá blá” acadêmico tentando justificar suas deficiências em cima da semântica do bizarro conceito de “cinema de arte”.
Mas calma, pois não é de nenhum destes tipos que irei falar hoje.
Pois neste ano de 2018, quando sua mais importante obra completa 40 anos, venho aqui contar um pouco sobre este quase “personagem” da cultura pop mundial. Um cara que só não citei mais em meus artigos aqui no blog do que o Batman, e isto por muito pouco (risos).
Hoje venho falar sobre Richard Donner!



Mas falar de Richard Donner não é apenas falar de cinema. Não, isto seria muito fácil. Falar de Donner é, sobretudo, falar de algumas das melhores lembranças que várias gerações tiveram (e ainda tem).
Como assim? Bem, vamos do começo então...

Cartaz promocional de "Avião Foguete X-15"

Nascido, Richard Donald Schwartzberg, em 24 de abril de 1930, Richie Donner (como é chamado pelos amigos) teve sua estreia nos cinemas em 1961, dirigindo Charles Bronson na aventura “Avião Foguete X-15” sobre o real avião experimental estadunidense que atingiu a borda do espaço exterior.
Com o razoável sucesso de sua estreia era de se esperar, lógico, que Donner partisse logo para um novo longa-metragem certo? Mas ao contrário da esmagadora maioria dos profissionais de cinema da época que rejeitavam veementemente trabalhar na tevê, Richard Donner rumou para a telinha.

Banana Split Adventure Hour - Um dos vários trabalhos de Donner na tevê

E no período de 1963 até 1974 foi figura carimbada na direção de vários episódios de seriados como “Além da Imaginação”, “Agente 86” e “Kojak”. Sendo que dentro desta época, mais precisamente em 1968 atuou como diretor e principal cabeça pensante por trás de toda a primeira temporada do absolutamente tresloucado “Banana Split Adventure Hour”. Sim! Aquele programa com bonecos produzido por ninguém menos que os estúdios Hanna-Barbera.
E ainda que o cinema não tivesse sido absolutamente abandonado neste período, tendo dirigido dois filmes, “Uma Dupla em Ponto de Bala” e “Twinky”, seu foco nas produções televisivas ainda era prioridade, e oque talvez tenha sido sua grande escola. Oque preparou Donner, ao menos na opinião deste escriba, para se tornar um diretor tão versátil.

Cartaz promocional de "A Profecia"

Duvida? Bem, chegamos ao ano de 1976, e com ele a primeira produção importante que Donner toma a frente desde “Avião Foguete X-15”. Falo de “A Profecia”, um filme de terror de uma época na qual os filmes de terror de fato eram de terror. A história de um casal que não podendo ter filhos adota um garoto, sem saber que se tratava do anticristo. E se formos pensar aqui numa época em que filmes como “O Bebê de Rosemary” e “O Exorcista” ainda estavam bem vivos na mente do público, o sucesso de “A Profecia” não era algo para se passar despercebido, e algo que acredito ter sido muito fruto do “estágio”, por assim dizer, de seu diretor nos episódios de “Além da Imaginação”.

Superman - O filme que transformaria Donner em lenda

Sucesso que colocou Richard Donner no caminho do maior super-herói de todos os tempos, e com ele o filme que transformaria o diretor em lenda e iniciaria a era dos filmes modernos de heróis de HQ. Lógico que me refiro ao primeiro e único, “Superman - O Filme”.



Falar de “Superman” seria chover no molhado, já que tempos atrás dediquei todo um artigo aqui no “Ponte de Comando” ao filme que não apenas inovou em diversos aspectos técnicos, fazendo multidões ao redor do globo acreditarem encantadas que um homem podia voar, como se tornou cartilha básica para todos os filmes do gênero, e bem antes dos universos compartilhados modernos já fazia a ligação prévia de dois filmes que se completavam como apenas um.



Contudo, nem todas as ideias de Donner (e do escritor Mario Puzo, autor do argumento original) foram assim bem vistas pelo estúdio e os produtores. Oque resultou na saída de Richard de Superman II quando este já estava quase 100% pronto.
Mas o encanto provocado por “Superman”, e as gossips que corriam sobre sua versão para “Superman II”, só lançada oficialmente em 2006, não manteriam o diretor como persona non grata em Hollywood por muito tempo.

Ladyhawke - O filme marca o começo um período de incríveis acertos para Donner.

E no começo de 1985 chegava às telas de cinema “Ladyhawke - O Feitiço de  Áquila”, uma aventura mágica sobre um casal amaldiçoado que só conseguiam se ver por um fugaz momento ao amanhecer e ao anoitecer, pois durante o dia ela era um falcão e a noite ele se tornava um lobo.
Aqui valendo a abertura de um pequeno parêntese musical. Pois poucos sabem o quanto Richard Donner sempre teve sensibilidade para a música. Oque por ao menos duas vezes nos brindou com momentos especiais. 

Richard Donner junto com John Williams à época de "Superman"

O primeiro ainda em “Superman”, pois quando Donner escutou pela primeira vez o tema composto pelo maestro John Williams para o filme, nas palavras do próprio diretor, deu vontade de sair gritando “gênio! gênio!”. E oque isto resultou? Bem, “Superman” já possuía uma abertura pronta e devidamente editada que comportaria alguns créditos apenas e parte da composição de John Williams. Mas ao ouvir a música, Richard Donner descartou tudo que tinha feito, e criou uma nova abertura na qual o tema principal pudesse ser tocado na íntegra.
O segundo momento foi justamente em “Ladyhawke”, pois enquanto procurava locações para o filme no norte da Itália, Donner ficava ouvindo música com seu moderníssimo walkman e foi num destes momentos, enquanto escutava Alan Parsons Project que teve a ideia de colocar na trilha incidental do filme sintetizadores no melhor estilo rock progressivo, fugindo completamente do que se poderia esperar para um filme que se passava na virada da Era Medieval para a Era Moderna.

Cenas de Ladyhawke O Feitiço de Áquila

“Ladyhawke” que se tornou o primeiro vértice do que costumo chamar de a “tríplice coroa” de Richard Donner. Mas como assim?

Os Gonnies - A aventura infanto-juvenil que marcou época

Richard Donner em meio a molecada
Bem, na sequência a “Ladyhawke” e seu encantamento, Donner une forças simplesmente com Steven Spielberg (como produtor), e realiza um dos maiores clássicos infanto-juvenis de todos os tempos, “Os Gonnies”.



 Um filme que hoje, em nossos policiados dias, não seria feito de forma alguma, pois prima por jamais tratar seu público alvo principal como retardados que precisam ser tutelados todo o tempo, e nos brinda com momentos maravilhosamente politicamente incorretos como quando o personagem Bocão (Corey Feldman) dá uma tradutor. E com um humor que por vezes meio frenético nos remete direto de volta a “Banana Split”.

Máquina Mortífera - O começo da tetralogia de Richard Donner

E para completar esta “tríplice coroa” temos nada menos que “Máquina Mortífera”. Um filme que poderia ser mais um daqueles filmes de ação/policiais padrão com dois protagonistas que no começo em nada se dão bem, e que com o passar do filme unem forças e se tornam amigos.



Mas que foi capaz de conquistar tão bem o público que ganhou mais três sequências, fazendo Richard Donner hoje estar ao lado de Wes Craven (Pânico) e Steven Spielberg (Indiana Jones) como únicos diretores a estarem no comando de todos os capítulos de uma tetralogia cinematográfica.




E que de quebra geraria em “Maverick”, mais um filme seu, uma excelente piada durante a cena de um assalto a banco.
Oque, aliás, faz lembrar que Richard Donner por algumas vezes fez pontas em alguns de seus filmes, os chamados “cameos”. Entre estes, em “Superman II” quando faz um transeunte que parece sair do restaurante onde Clark sem poderes pouco depois toma uma surra. E em “Os Gonnies” quando faz um dos policiais que encontra os Gonnies na praia quase no fim do filme.

Dois "cameos" de Donner - Acima em "Superman II" e abaixo em "Os Gonnies"

Ainda que lógico, tendo em seu currículo alguns filmes irregulares como “Os Fantasmas Contra-Atacam” (título brasileiro pra lá de apelativo) e “Assassinos”, Richard Donner dificilmente fez dois filmes fracos em sequência e mesmo já nos anos 1990 ainda foi capaz de encantar e surpreender com o singelo “Radio Flyer”, e já em 2006, ano que como citei, foi enfim lançado seu corte para “Superman II”, deixar meio mundo tenso grudado na poltrona do cinema com o excelente “16 Quadras” mostrando para muitos que naquela época duvidavam dele, que talento não se perde.

Richard Donner e o elenco de "16 Quadras"

Mas obviamente que sempre lembrado pelo trabalho excepcional que fez com o Superman lá em 1978, Richie Donner nunca se afastou totalmente do mundo dos super-heróis, tendo sido produtor do primeiro filme dos X-Men em 2000, por exemplo. 

X-Men (2000)  - A volta de Donner aos super-heróis

E como não poderia deixar ser mantendo um contato estreito com o personagem que o tornou famoso foi co-autor de algumas HQ’s sobre o “Homem de Aço” como: Superman vs Zod, O Último Filho de Krypton e a edição 1000 da Actions Comics. Oque acredito colocar Donner também numa posição privilegiada também neste seguimento das artes, como talvez um dos três autores que melhor soube representar e entender a essência do “azulão”. Sendo que quando do último reboot da DC Comics em seu universo, Geoff Jonhs não sabia bem como lançar um elemento novo para o personagem, foi ideia de Donner que ele já surgisse com uma família constituída.

Também nos quadrinhos Donner manteve uma estreita relação com o Superman

E falando em Geoff Johns, só mesmo Richard Donner seria capaz de juntar no mesmo palco o já citado chefe da DC, e Kevin Feige o chefão da Marvel Studios, numa homenagem que em 2017 contou também com vários atores que participaram de seus filmes, e que lá estavam para prestar um justo tributo àquele que como poucos soube atrair, surpreender e encantar plateias das mais diversas idades.


E que hoje com 88 anos de idade, mais do que nunca tem muito a ensinar para aventureiros, que se consideram reinventores da roda, como se fazer arte pop com inteligência, alma e coração verdadeiros.

Cristopher Nolan - Mais um discípulo declarado da obra de Donner
Patty Jenkins ao lado de Donner - Inspiração

Donner e Spielberg com os Gonnies 25 anos depois

Donner com Danny "Murtaugh" Glover, Mel "Riggs"Gibson e Rene "Cole" Russo
Donner ao lado da esposa Lauren, e de vários atores que trabalharam em seus filmes, além de Geoff Johns e Kevin Feige














































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