terça-feira, 13 de março de 2018

O Fantástico Mundo de Irwin Allen - O Mestre do Desastre (parte 2)

Final dos anos 60. Época em que a linguagem da televisão já havia praticamente sido dominada. Época também em que muita da inocência da geração pós 2ª Guerra tinha sido esmigalhada, como já havia me referido tempos atrás no artigo sobre a série de HQ’s do Lanterna Verde e Arqueiro Verde.
E é neste cenário que Irwin Allen percebe que suas séries de fantasia e ficção científica por melhores que fossem não mais se inseriam tão facilmente no cotidiano de uma nação que na época recolhia os cacos de furacões políticos e da desastrada intervenção no Vietnam. Mas oque para outros seria o presságio de algo ruim, para o visionário produtor/diretor/roteirista se tornou uma oportunidade.



Oi gente! No primeiro artigo sobre Irwin Allen contei como sua criatividade somada as boas influências, e lógico aquele “Oscar” de melhor documentário, abriram as portas da tevê para ele. Mas pelos motivos já citados, somados ao alto custo de suas produções, ficava cada vez mais claro que sua “aventura romântica” teria um fim em breve.
E é aqui que vem mais um ponto de virada em sua carreira, o momento em que Allen começou a cunhar o apelido de “Mestre do Desastre”.
Falar de cataclismas, catástrofes tanto naturais quanto feitas pela mão do homem, parece algo bem comum para os dias de hoje, mas até o começo da década de 1970, isto era quase um tabu, só sendo aceitos se viessem embrulhados num “pacote de aventura”, como foi o longa-metragem de Viagem ao Fundo do Mar.

Parte do elenco de "O Destino do Poseidon"

Mas como na época as coisas para Hollywood e sua indústria estavam bem áridas, com salas de cinema se esvaziando, assim como a criatividade da maioria dos roteiristas, ninguém fez lá muita oposição quando em 1971, Irwin Allen apresentou o projeto de um filme sobre um desastre com um navio de passageiros que virava de cabeça para baixo no meio do oceano após ser atingido por uma onda gigantesca.
E no ano seguinte nascia, "O Destino do Poseidon". Aquele que pode ser considerado o marco fundamental do assim chamado “cinema catástrofe”.
Mas então como atrair o público para este tipo de filme?
Bem, aí precisamos creditar a Irwin Allen esta receita de bolo, seguida até hoje por 90% das grandes produções do gênero:
1- Um grande elenco, recheado de estrelas do primeiro time do cinema, de preferência com alguém “Oscarizado” no meio. No caso de “O Destino do Poseidon” com nomes como Gene Hackman, Ernest Borgnine, Shelley Winters e Leslie Nielsen.
2-  Uma trilha que expressasse e passasse ao espectador toda a tensão que era necessária. Aqui mais uma vez a cargo do maestro John Williams, solidificando sua parceria com Allen que começou em Perdidos no Espaço e Terra de Gigantes. Assim podemos afirmar que Irwin Allen foi o primeiro diretor/produtor importante a expandir o nome do maestro para as grandes plateias, antes mesmo de Steven Spielberg.
3-    E lógico, efeitos especiais espetaculares, pegando toda a bagagem que Irwin e sua equipe tinham acumulado ao longo de todas as suas séries fantásticas.

O Poseidon de cabeça para baixo

O resultado foi um filme que mesmo de premissa absurda - ainda que baseado num fato real ocorrido com o navio Queen Mary durante a 2ª Guerra Mundial, quando este quase virou no meio do oceano Atlântico ao ser atingido por uma onda gigantesca - era incrivelmente tenso e envolvente, fazendo o espectador torcer pelos sobreviventes do naufrágio o tempo todo. Aqui valendo uma abertura de parênteses para a cena em a personagem de Shelley Winters precisava passar por uma parte totalmente inundada do navio. Cena esta que a atriz, que havia sido como sua personagem uma nadadora olímpica, só que do nado sincronizado, fez sem dublê, mesmo na época não sendo mais exatamente uma jovem, ainda que não tenha dispensado um técnico em natação para melhor orientá-la.

Shelley Winters em sua icônica cena feita sem dublê


O que não quer dizer que a vida da produção tenha sido fácil, pois durante suas filmagens, por duas vezes, seus trabalhos foram paralisados por falta de financiamento. Mas com o sucesso tudo mudou, e a estrada para mais tragédias estava aberta (risos), não só para o visionário produtor, mas para outros, como os realizadores da série “Aeroporto”. Contudo, ninguém na época estava preparado para oque estava por vir.




E em 10 de dezembro de 1974 chegava aos cinemas “Inferno na Torre”. Até hoje sem dúvida o maior marco do cinema catástrofe de todos os tempos. Mas o que torna este filme tão diferente?


Cartaz de "O Inferno na Torre" - O filme se tornaria um marco

Para começar, foi em Inferno na Torre a primeira vez na história que dois grandes estúdios - a Fox e a Warner - se uniram para produzir um filme. Oque livrou Allen dos problemas com orçamento que sofreu em O Destino do Poseidon.
Clima de parceria que também esteve na direção, pois além de John Guilhermin - que quatro anos depois fez o remake de King Kong - o próprio Irwin Allen voltou ao papel de diretor aqui para realizar as cenas de ação e que exigiam uma dose maior de efeitos especiais.

Faye Dunaway e Paul Newman em Inferno na Torre

Fora isto os ingredientes daquela tal receita de bolo não só foram repetidos, como tiveram a adição de “ferro e vitaminas” por assim dizer. Pois sem problemas monetários, Irwin Allen não apenas repetiu mais uma vez a parceria com o maestro John Williams, como maximizou seu elenco trazendo Paul Newman e Steve McQueen os dois maiores astros da época para serem os protagonistas do filme, fora o verdadeiro exército de coadjuvantes de luxo como Faye Dunaway, Richard Chamberlain, Williem Holden, Robert Wagner, Robert Vaugh, o ainda jogador de futebol americano OJ Simpson e o veterano Fred Astaire que ganhou o Globo de Ouro por esta atuação.

O veterano Fred Astaire ganhou o Globo de Ouro de melhor ator coadjuvante por Inferno na Torre

Globo de Ouro? Então o filme foi premiado? Sim, e não apenas aí. Indicado para oito Oscars - incluso melhor filme - levou as estatuetas de fotografia, montagem e canção. E nem vou citar aqui a bilheteria, pois seria algo totalmente redundante.

Joseph Biroc levou para casa o Oscar de melhor fotografia por Inferno na Torre.

Há ainda uma lenda urbana envolvendo a criação do filme, pois por mais que a versão oficial seja de que o filme foi baseado entre outras coisas, na construção do World Trade Center, a película não escapou de gossips na época que afirmavam que teria sido inspirado no incêndio ocorrido no edifício Andrauss em São Paulo em 1972, fora o fato que durante o começo de sua produção outro grande incêndio, o do Joelma, ganhou as manchetes em todo o mundo, oque de uma maneira ainda que torpe aumentasse oque hoje chamamos de hype quando de seu lançamento.



Tamanho foi o sucesso do filme, e a inevitável invasão de filmes que abordavam todo o tipo de desastre, que como citei no artigo anterior, Allen aceitou em 1975 produzir para Disney a série da Família Robinson. Talvez até para dar um alívio da associação de sua imagem ao que havia criado, pois ali já não podia mais evitar o singelo apelido que ganhou... O Mestre do Desastre.

Cartaz de "O Enxame" - O filme marcava a volta de Allen ao cinema após uma breve pausa

Até que em 1978 ele estava de volta com “O Enxame”. Um legítimo filme de Irwin Allen, que comanda também a direção. Diria até que se trata de um amálgama das duas fases da carreira de seu realizador, afinal a história sobre uma invasão de abelhas ultraviolentas e resistentes a toda a espécie de veneno, é uma legítima mistura do fantástico das antigas séries de televisão com o a catástrofe de suas produções cinematográficas.

Michael Caine em O Enxame - Mesmo seguindo a "receita" de Allen, o filme fracassou nas bilhaterias

Porém, ainda que repetindo a receita anterior, com uma única mudança, a da trilha sonora, onde saiu John Williams que já “Oscarizado” por Guerra nas Estrelas e trabalhando na mesma época na sua obra-prima, o tema para Superman, foi substituído por Jerry Goldsmith (Rambo), o filme foi um fracasso de bilheteria, pelo menos em solo estadunidense, arrecadando apenas um terço do valor de sua produção.

O pequeno momento de "apelação" da carreira de Irwin Allen

Oque fez Allen ter seu momento de digamos “apelação” lançando em 1979, “Dramático Reencontro no Poseidon”. Uma história para lá de doida que misturava alguns sobreviventes do naufrágio com contrabandistas que procuravam, vejam só, uma carga de plutônio.

"O Dia Em Que o Mundo Acabou" - A última grande produção de Irwin Allen


Sendo que em 1980, já vendo “discípulos” como Steven Spielberg virarem o cinema de cabeça para baixo, lança a sua última grande produção. Com o sugestivo nome de “O Dia Em que o Mundo Acabou”, Irwin Allen, aqui apenas como produtor, apresenta a história de um triangulo amoroso entre Paul Newman, Jaqueline Bisset e Williem Holden que numa ilha paradisíaca se veem diante da fúria da natureza na forma da erupção de um vulcão que entra novamente em atividade devido às ações de uma inescrupulosa empresa petrolífera. Sendo este, a ganância humana, um dos recursos narrativos mais típicos e relevantes das produções do mago do fantástico.

"Alice no País das Maravilhas" - A discreta despedida de Irwin Allen


Que teve como último ato de sua grande carreira uma discreta atuação como produtor em 1985 de uma adaptação do clássico “Alice no País das Maravilhas”.



Irwin Allen viria a falecer em 2 de novembro de 1991 em Santa Mônica na Califórnia. Mas seu legado de aventuras e personagens fantásticos ainda ecoará por muito tempo. Então agora toda vez que vocês forem ao cinema ou estiver na frente da televisão assistindo um filme ou série fantástica que coloque pessoas comuns à prova, lembrem-se dele. Lembre-se de Irwin Allen.



















2 comentários:

  1. Como eu já previa! Não me decepciono com o que leio nas tuas publicações:, sempre uma crítica coerente, objetiva e com a marca típica da tua inteligência tão peculiar.

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