terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Lanterna Verde e Arqueiro Verde.

    Talvez fosse só uma questão de tempo. O cinema já viveu várias eras, a dos musicais, a dos “westerns” e algumas outras. E hoje não há como se fugir do fato que se vive a era dos filmes de “Heróis de HQs”.

Oliver Queen e Hal Jordan

      Contudo, em meio à enxurrada anual de produções do gênero, a maioria sem a menor relevância artística ou histórica, sempre há de se sentir falta de algum, ou alguns, personagens, que protagonizaram estórias absolutamente icônicas para a sua mídia materna. Tão icônicas que se tornaram referências para outras obras não só na mesma vertente midiática como para todo o mundo da assim chamada “cultura pop”, e é sobre uma destas estórias (quase uma lenda urbana) que vamos falar hoje, e estou me referindo à saga que uniu Lanterna Verde e Arqueiro Verde.
         No fim dos a nos 1960, não só os Estados Unidos como o mundo, viviam uma era de ebulição sócio política cultural intensa, e as ilusões da primeira geração pós Segunda Guerra se dissiparam no ar na velocidade de um caça a jato. E com a censura se “afrouxando” em vários setores, as HQ’s que sofreram durante vários anos com uma perseguição e restrição intensas, começaram a permitir e até estimular que seus artistas ousassem mais.

Nem sempre a mais calma das amizades

      E foi com este espírito que no começo de 1970 o editor da DC Comics, Julius Schwartz, convocou Dennis O’Neil e Neal Adams para uma nova empreitada. Na época O’Neil e Adams já tinham sido responsáveis por lançar mais de 70% do que conhecemos como o “Batman moderno”, não só resgatando a maior parte da visão soturna dos criadores do “Morcego de Gotham” como dando dinamismo ao roteiro e costurando como nunca antes as relações interpessoais entre os personagens.
       Mas então, o que mais a dupla poderia fazer? 
    Simples. Usar o real para questionar a ficção, e a ficção para refletir sobre o real. Usando para isto dois heróis de personalidades antagônicas, mas que nem por isso deixam de se respeitar. Lembra algo? É eu sei. Mas isto aqui veio antes.



         E logo na abertura da primeira estória temos um Hal Jordan fazendo seu papel de quase policial, que ao ver uma discussão entre um jovem e um senhor mais velho, vai em seu ímpeto interferir, só para depois descobrir que o tal senhor era um mafioso que explorava a população local, e é deste ponto de partida que portador do anel verde da vontade começa a levar uma surra de realidade por parte do amigo Oliver Queen, o Arqueiro Verde, já sem sua fortuna na época, perdida por uma fraude, um ano antes na revista da “Liga da Justiça”.

O herói questionado

Surra que prossegue na icônica cena em que Hal é interpelado por um senhor idoso negro que o questiona sobre o porquê já ter ajudado seres de diferentes tons de pele, mas nunca ter feito nada pelos negros, algo muito diferente do que se tinha visto até então, pois ao contrário dos heróis negros que surgiram na onda da chamada “black exploitation” para combater o racismo, ali era um herói sendo questionado por uma pessoa comum, numa estória na qual ainda apareciam as figuras de Martin Luther King e Robert Kennedy.


          E assim se dá início a saga onde nenhuma certeza de seus personagens deixaria de ser questionada.

A capa que marcou uma época


            Tanto que se Hal Jordan teve sua surra de realidade, a de Oliver Queen foi um verdadeiro fuzilamento, na histórica edição na qual lhe é revelado que Roy Harper, o Speedy (ou Ricardito, na versão brasileira) havia se tornado um viciado em heroína, e ao contrário do que se poderia imaginar do “avançado” Oliver, sua atitude gerada pela decepção é de dar as costas para seu pupilo e parceiro, cabendo a Jordan e Dinah Lance, a Canário Negro a missão de ajudar Roy e Oliver a saírem daquele problema.




        Aqui vale abrir um parêntese para lembrar, que é justamente nesta saga que Canário Negro passa a ser abertamente o interesse amoroso do Arqueiro Verde, criando junto com Hal Jordan aquela que é chamada de a “Segunda Trindade da DC”.


Uma verdadeira roadie comic

      Mas se você que está lendo, acredita que apenas os humanos seriam questionados, ou postos a prova, e ainda não teve contato com este clássico, te digo que até Appa Ali, um dos Guardiões de Oa, o planeta natal dos Lanternas Verdes, embarca nesta nave, por assim dizer. 





     E que ao travar contato direto com as sutilezas e truculências da natureza humana, acaba ao ajudar Hal Jordan, sofrendo como retaliação por parte do conselho de Oa a punição perder sua imortalidade.

A chegada de John Stweart

        E como se isto tudo não fosse suficiente, no fim de toda esta saga o mundo ainda é apresentado a um novo Lanterna Verde, John Stweart.
     Dizer que o argumento cru, mas nunca deprimente de O’Neil, aliado ao traço realista e de perspectiva espetaculares de Adams são referências até hoje seria chover no molhado, mas neste momento ao escrever estas últimas linhas não há como não ficar com um certo gosto amargo ao constatar o quanto tais personagens, sua amizade e seus desafios não poderiam ainda render em diversas formas de mídia, nos trazendo algo mais que meras duas horas de entretenimento escapista.

























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