Spectreman não é pra amadores.
Bem, eu sei que a frase pode parecer bastante
pedante, mas o fato é que se de forma proposital ou não, este tokusatsu (os seriados japoneses do
gênero) acabou se tornando algo único até hoje.
Mas primeiros vamos aos fatos.
Exibido originalmente pela Fuji Television entre 2 de janeiro de 1971 e 25 de março de 1972.
Criado por Souji Ushio (pseudônimo de Tomio Sagisu),
presidente da extinta produtora japonesa P-Productions, Spectreman teve
63 episódios, e foi feita numa sagaz tentativa de preencher a lacuna deixada com
o fim da primeira série de Ultraman.
Estrelada pelo ator, mestre em caratê e judô, Tetsuo Narikawa
no papel de Spectreman, sua premissa começa quando o Dr.Gori, um cientista
simeoide do planeta Epsilon tenta dar um golpe de estado, e acaba preso. Porém,
depois de receber a ajuda do general Karas, ambos fogem, vindo parar na Terra
(acho que nem é necessário citar a influência direta do clássico filme “Planeta
dos Macacos” de 1968 neste aspecto).
O atrapalhado General Karas e o Dr.Gori |
Para detê-los, uma raça de guardiões espaciais
conhecidos como “Os Dominantes” enviam para Terra um protetor, um androide
capaz de mimetizar a forma humana e assim se passar por um de nós....
Spectreman!
E aqui começamos a entrar naquilo que difere
Spectreman de todo o resto.
Logo de cara, cada episódio se iniciava com uma
narração que apresentava aquele que seria o maior gancho da série, a poluição,
talvez a verdadeira vilã do seriado.
“Planeta: Terra. Cidade: Tóquio. Como em todas
as metrópoles deste planeta, Tóquio se acha hoje em desvantagem em sua luta
contra o maior inimigo do homem: a poluição. E apesar dos esforços das
autoridades de todo o mundo, pode chegar um dia em que a terra, o ar e as águas
venham a se tornar letais para toda e qualquer forma de vida. Quem poderá
intervir? Spectreman!” (a narração clássica).
Isto feito muito, muito antes, da
consciência ecológica ganhar a grande mídia. Sendo que aí reside mais um ponto
diferente e também controverso, que era a dualidade do vilão, que apesar de
seus planos de dominação era um cientista e sua primeira reação ao chegar ao
nosso mundo é se horrorizar com oque os humanos estavam fazendo com seu próprio
planeta, o degradando aos poucos, algo que é ainda mais forte se pensarmos que
em seus primeiros episódios a série se chamava “Uchuu Enchi Gori” algo como “Macaco Espacial Gori” numa tradução
livre. Sim! No começo, o “vilão” era o protagonista!
Algo que só mudou após o vigésimo episódio,
quando passou a se chamar “Macaco
Espacial Gori versus Spectreman”, e só se tornando oficialmente “Spectreman”
a partir do quadragésimo episódio.
Ainda que com momentos cômicos, um tokusatsu mais sério |
Spectreman não é para principiantes.
Não é pra quem está acostumado com a estética
colorida de coisas como Power Rangers.
Isto porque era um seriado que possuía uma
carga de drama e tensão que praticamente nenhum outro tokusatsu foi capaz ou quis tentar repetir.
Que por vezes colocava nosso herói em
encruzilhadas morais, como no episódio “O Exílio de Spectreman” quando ele
desobedece os Dominantes e se recusa a matar toda uma família contaminada por
um vírus que poderia gerar uma pandemia. Episódio este escrito pelo hoje cult,
Kazuo Koike, autor do mangá Lobo Solitário.
E ainda era capaz de colocar o dedo na
ferida, como no episódio “A Revolta dos Inocentes” que mexe na questão dos
abusos que professores comentem contra seus alunos nas escolas nipônicas, um
assunto delicado até os dias de hoje.
Fora aqueles que flertam com filmes de terror
B (O Vampiro do Espaço), ou outros que flertavam com os filmes de faroeste (O
Solitário Cavaleiro do Espaço).
Durante muitos anos foi alimentado um boato
que ninguém sabe como começou, que Jiro Dan, o ator que fazia Ultraman Jack (O
Regresso de Ultraman), teria sido Spectreman no piloto da série que nunca foi
exibido oficialmente. Mas o próprio Jiro Dan negou isto alguns anos atrás.
E por falar em Ultraman, há um episódio de
Ultraman Leo (1974) no qual Tetsuo Narikawa numa rara atuação após o fim de
Spectreman, faz um vilão alienígena chamado Atlanta. Também tendo participado de dois episódios de “Lionman Branco”.
Mas aos poucos foi se
afastando do mundo do entretenimento, e se focando em sua carreira de professor
de caratê, sendo inclusive um dos fundadores da Liga Nacional de Caratê do
Japão.
Mesmo tendo feito um razoável sucesso em seu
país de origem foi quando atravessou os oceanos que o herói se tornou uma
espécie de lenda do submundo da cultura pop.
E um bom exemplo disto é sua música de
abertura, pois o tema que tão bem conhecemos só foi parar no seriado após este
migrar para os Estados Unidos, e se trata de uma versão autorizada da canção
“The First Day of Forever” da banda The Mystic Moods Orchestra.
E se hoje prestarmos atenção em alguns
filmes ou seriados, talvez não seja tão difícil assim achar algumas influências
suas (assista o filme O Grande Anjo Negro, com Doplh Lundgren e perceba algumas
semelhanças com o já citado episódio do Vampiro do Espaço).
Tetsuo Narikawa viria a falecer no dia 1º de
janeiro de 2010 deixando “órfãos” uma legião de fãs.
Fãs que mantém viva a lenda de Spectreman , o
androide amigo dos humanos, que mesmo no último episódio tenta dissuadir
Dr.Gori de suas intenções, tentando convencê-lo a usar sua inteligência para o
bem.
Mantendo viva a memória de um seriado que
mesmo com suas deficiências de produção, seja pela temática a frente de seu
tempo, seja pelo carisma de seus personagens ou até mesmo pela profundidade de
alguns de seus episódios, que só viemos há perceber muitos anos depois quando
mais maduros, se mantém absurdamente atual.
O ELENCO E SUAS VOZES BRASILEIRAS ↓
Personagem | Ator | |||||
---|---|---|---|---|---|---|
| Tetsuo Narikawa | Luís Nunes | ||||
|
| Eleu Salvador | ||||
| Koji Ozaki | Mário Vilela | ||||
|
| João Paulo Ramalho | ||||
Wada |
| Marcelo Gastaldi | ||||
|
| Leda Figueiró | ||||
| Sakurako Shin | Sandra Mara Azevedo | ||||
|
| Rita Cléos | ||||
|
| Leda Figueiró | ||||
Dr.Gori | Takanobu Tohya | Carlos Seidl | ||||
|
| Osmiro Campos | ||||
|
| Luís Nunes | ||||
| Koji Kobayashi | João Ângelo | ||||
| Koji Kobayashi | Carlos Seidl |
Esse sem dúvida foi meu seriado tokusatsu preferido (mesmo que na minha infância nos idos anos 80 nem imaginasse esse nome , e considerasse esse tipo de seriado como de "heróis gigantes". Com 5 anos em 1979 assisti pela primeira vez um episódio em preto e branco , lembro-me que era sobre um monstro lunar que os humanos traziam uma rocha que na verdade era um ovo do monstro. Fiquei morrendo de medo e quase não dormi, mas depois comecei a assistir regularmente mesmo com um pouco de medo , mas adorava os personagens. Spectreman - Ep.34 - A Pedra Lunar - p.01 , link https://www.youtube.com/watch?v=N_qWcTwCiD8
ResponderExcluirUm dos meus seriados japoneses preferidos!
ResponderExcluirMuito bom esse seu texto... parabéns mais uma vez José Carlos Sandor 🤟👏👏
ResponderExcluirÓtimo texto. Este é meu tokusatsu favorito, sem dúvida. Achei muito bom ter falado da série como ela realmente é, um ótimo roteiro e bons personagens. Já li outros textos sobre Spectreman que falam apenas dos fracos efeitos especiais, quando na verdade a série é muito mais que isso. Parabéns!
ResponderExcluirSó discordo de uma coisa, houve um tokusatsu que no quesito drama rivalizava com Spectreman: Flashman.
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