Creio que se você
cresceu durante os anos 1980/1990 com certeza, ao menos uma vez, tenha assistido
“Águia de Aço”!
O clássico filme de
aventura e ação, protagonizado pela lenda, o recém “oscarizado” na época, Louis
Gosset Jr.
O diretor Sidney J.Furie |
Lançado oficialmente em
17 de janeiro de 1986, dirigido e roteirizado pelo já veterano na época Sidney J. Furie,
“Águia de Aço” como sabemos, nos leva para uma aventura, na qual o jovem Doug
Masters (Jason Gedrick), após seu pai (Tim Thomerson), um piloto de caça, ter
sido abatido, preso e sentenciado a morte numa pequena e fictícia nação árabe, e
diante da inercia das autoridades estadunidenses, decide com o apoio de seus
amigos, todos filhos de militares, criar um louco plano de resgate.
E assim, com a ajuda de
Charles “Chappy” Sinclair (Louis Gosset. Jr), um piloto veterano, a bordo de
dois caças F-16 “pegos emprestados”, digamos assim (risos), parte para o
resgate.
Tudo isto embalado por
uma trilha sonora com nomes como Queen, Dio, Tina Turner, Eric Martin, King
Kobra (com direito a participação de Louis Gossett Jr no clipe), entre outros.
Uma aventura simples
sim, mas que enfrentou alguns grandes problemas.
Para começar, ao
contrário de “Top Gun” que teve um grande apoio das forças armadas de Tio Sam
para ser realizado, “Águia de Aço” teve que se virar sozinha.
Mas ao contrário da
maioria dos resenhistas da web que afirma que isto teria ocorrido por
causa do roteiro mostrar supostas “falhas” de segurança militares ou
presumíveis atos de indisciplina, “´Águia de Aço” não contou com apoio oficial
em razão de sua premissa, ou seja, um piloto norte-americano sendo derrubado e
preso numa nação inimiga.
Louis Gossett Jr era o coronel "Chappy" Sinclair |
Era na época
expressamente proibido, na cabeça da alta cúpula militar estadunidense, mostrar
em filmes a possibilidade dos militares do país sendo vítimas.
Indisciplinas? Bem se
fosse assim, como os demais resenhistas da web, em especial do Youtube
dizem, “Top Gun” com seus rasantes de Maverick sobre as torres dos aeródromos
também não teria ajuda oficial.
E para arrematar esta
contextualização, é só lembrarmos que o clássico “Comando Delta”, aquele com
Chuck Norris e Lee Marvin, também não teve apoio, justamente por mostrar no seu
começo, uma reconstituição da desastrosa Operação Garra de Águia, o resgate de
prisioneiros no Irã, que foi abortado depois que um helicóptero Sea Stallion
caiu sobre um avião Hércules C-130.
Os caças israelenses KFir... |
Para contornar esta
falta de apoio oficial, a produção foi para Israel, onde conseguiu apoio local
tanto para as locações como para o maquinário, tanto que temos aqui os caças
israelenses Kfir fazendo o papel de MIGs, o que aliás na opinião deste escriba
ficou bem mais interessante que em Top Gun com seus pequenos F-5 Tiger usados
neste contexto.
...fizeram o papel de MIGs em Águia de Aço |
Ainda que durante suas
filmagens os trabalhos precisaram ser interrompidos pois os caças cedidos para
a produção, foram designados para missões reais.
Outro ponto bastante
distinto e nunca lembrado, é que “Águia de Aço” foi o primeiro filme a colocar
os atores voando de verdade na cabine dos caças, ainda que lógico no banco
detrás (risos).
Mas então, se Águia de
Aço teve tantos cuidados, por que ficou a sombra de Top Gun diante da história?
Bem, é obvio que se
formos colocar os predicados de cada filme, digamos, numa tabela, a “disputa”
possa até pender para o lado de Doug Masters e Chappy.
Como por exemplo o
roteiro, já que Top Gun é apenas uma série de esquetes que culmina numa
escaramuça aérea mais forçada que a cena de “Vingadores Ultimato” na qual um exército
de personagens vai surgindo, sem que o vilão não faça nada (eita Power
Rangers!).
Só que a cabeça da
maioria do público não funciona assim (e nem de alguns resenhistas).
E ainda que Águia de
Aço tivesse em Sidney J. Furie um diretor competente, do outro lado Top Gun
possuía um jovem chamado Tony Scott, que foi um dos maiores estilistas visuais
da história do cinema, fazendo de cada frame de seu filme um quadro, uma
pequena obra de arte que se fixava na mente do espectador.
Sem dúvida que haverá
sempre os resenhistas que tentarão levar suas críticas e considerações
acadêmicas rasas para o lado da politização, mas a verdade é que ninguém que
assiste à um filme como Águia de Aço (ou mesmo Top Gun) liga para esta bobagem.
E é aí que os F-16
levam vantagem sobre os F-14, já que aqui, temos sim, um fio condutor para
trama, que ainda que tênue, é universal.
O desejo de um filho em
ajudar o pai, fora uma questão pessoal de Chappy Sinclair, com relação ao pai
de Doug, devidamente explicada na trama, que envolvia sua gratidão diante de um
caso em que foi certa vez vítima de preconceito.
Uma premissa simples
que nos leva por uma aventura inverossímil sim, mas absolutamente cativante em
sua essência, sem esforçar para isto.
E aqui eu entro na
questão que explica muita coisa por detrás desta produção, de seu roteiro, e
principalmente seu protagonista interpretado pelo inesquecível Louis Gossett
Jr.
Pois não há dúvida que o coronel Charles Sinclair “rouba” totalmente as atenções para si desde sua primeira aparição, personificando aquele que talvez seja o melhor mentor dos anos 80 (desculpa senhor Miyagi). Hora ríspido, hora paternal, hora engraçado e até mesmo anárquico, e com um dos melhores discursos motivacionais da história.
E mesmo que você que
está lendo possa considerar que a maior parte do elenco (até pela pouca ou
nenhuma experiência) possa parecer inexpressivo, Gossett Jr voa em céu de
brigadeiro, ao mostrar todas as facetas de um personagem que tranquilamente
poderia ser jogado em qualquer filme mais, digamos, complexo, que funcionaria
do mesmo jeito.
Mas tudo isto que vemos
em tela, teve uma base muito real, e mais incrível em alguns momentos que a
ficção.
O General Daniel "Chappie" James Jr. |
Daniel “Chappie” James
Jr, o primeiro afro-americano a se tornar general quatro estrelas nas forças
armadas estadunidenses. E sim, a grafia de seu apelido era “Chappie” e não
“Chappy” como no filme.
Nascido em 20 de
fevereiro de 1920, Daniel se formou na Universidade Tuskegee em 1942, mesmo ano
em que “ganhou suas asas” de piloto, sendo comissionado como 2º tenente em
1943. E se você que leu Tuskegee, e é um aficionado por assuntos militares
achou o nome familiar, você não está errado. Estamos aqui falando sim do
esquadrão que ficou conhecido como os “Red Tails”, todo composto por pilotos
negros, para os quais já foram feitos dois filmes contando sua história.
Chappie junto a um P-51 Mustang |
Porém, durante a 2ª
Grande Guerra. Chappie permaneceu em solo norte-americano. Fazendo o que?
Treinando novos pilotos!
Portanto, qualquer
semelhança aqui, de forma alguma é mera coincidência.
A primeira vez que
esteve numa missão direta foi durante a Guerra da Coreia, na qual cumpriu um
total de 101 missões. Em 1966 já formado pelo “Air Command and Staff College”,
Chappie foi para a Tailândia dar suporte as missões de combate do Vietnã. Nesta
época se tornou vice comandante da 8ª Ala de Caça, que era comandada pelo “ás”
Coronel Robin Olds. E o comando dos dois se tornou algo tão relevante, em
especial de Chappie, que a dupla acabou ganhando o apelido de “Blackman e Robin”.
Chappie posando com um F-4 Phantom ao fundo |
Mas calma, pois o mais
incrível, e cinematográfico feito de Daniel “Chappie” James Jr, ainda estava
por vir.
Um ponto que foi
omitido ao menos da dublagem brasileira de Águia de Aço é o nome do país no
qual o pai de Doug acaba preso.
Seu nome no roteiro era
Bylia. Sim, você não leu errado.
E esta brincadeira ou
provocação com a Líbia poderia ser apenas isto, se o país não tivesse sido
palco para um encontro inusitado do pior grau na vida real entre “Chappie”
James Jr, e ninguém menos que Muamar Gadhafi!
Após seu serviço no
Vietnam, Chappie se tornou o comandante da Base de Treinamento de Caças de
Wheelus, na República da Líbia, que na época mantinha relações estreitas com os
Estados Unidos.
Mas isto foi até
oficiais militares darem um golpe de estado no país árabe, entre eles
justamente aquele que viria ser por décadas seu mandatário supremo, o senhor
Gadhafi, que invadiu a base a frente de uma coluna de blindados, passando a
toda velocidade pelos alojamentos, até chegar onde estava Daniel “Chappie”
James Jr.
Só que Chappie para
surpresa de todos, ordenou o fechamento dos portões da base, se trancando com
suas tropas e as tropas de Gadhafi.
Criando uma situação
absolutamente impensável até para um roteirista de Hollywood, e que culminou
simplesmente, com uma cena digna de cinema, mas de faroeste, na qual os dois
militares, ambos com pistolas Colt Governamental nos coldres junto a cintura se
encararam diante dos olhares incrédulos dos demais.
No final, o futuro
ditador, diante de um pedido firme de Chappie, para que não ousasse sacar da
arma, cedeu, e todos os militares da base voltaram para casa sem maiores
problemas.
Sendo assim, ainda que
sempre comparado, seja pela temática ou pela trilha sonora, ao seu
contemporâneo, “Top Gun - Ases Indomáveis”, ou se tornando objeto de críticas maldosas
feitas pelos famosos “entendidos” em cultura pop, e sobrevivendo as suas
sequências caça-níqueis terríveis, “Águia de Aço” com todo merecimento hoje
goza de status de cult.
Conseguido acima de
tudo graças aqueles que sabem entender o que de fato cada filme se propõe, e
que antes de tudo a função do cinema é nos encantar.
E por que não nos
motivar?
Jonny Lawrence do Cobra
Kai que o diga (risos).
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