Olá,
Clark! Tudo bem?
Não
importa se eu te chamar de Clark né? É que Kal-El me parece um pouco formal
demais. Além disto já lhe conheço faz tanto tempo, que você já se tornou alguém
bem familiar, digamos assim.
Você
deve estar estranhando que esteja escrevendo esta carta, não é?
Então....
Eu também estou.
É
que comecei a pensar que deveria fazer um texto para falar o que penso sobre
você. Pois vamos combinar? O glossário de bobagens que volte e meia leio sobre
você, ideias completamente equivocadas ou até mal-intencionadas poderiam lhe
render até um novo superpoder, a superpaciência.
Eu
sei que este em especial foi um ano complicado para você, afinal você perdeu um
dos seus “pais”. Não, não me refiro à Jor-El ou ao Jonathan, e sim um dos teus
pais aqui neste chamado “mundo real”, o grande Richard Donner. E agora já no
final do ano, todo este “blá blá blá” envolvendo o John, seu filho.
Pois
é! Nós sabemos que depois do advento desta máquina de fazer doido chamada
internet e do advento das assim chamadas “redes sociais”, que são tudo, menos
sociáveis, ficou quase impossível se viver uma vida de herói em paz.
Bom,
antes de tudo, quero dizer que a maior parte da admiração que nutro por vossa
pessoa vem do fato de que a despeito de todos seus poderes, no fundo o que você
mais quer são as coisas mais simples, e este é um conceito que nós sabemos, não
é compreendido pela maioria dos ditos “entendedores da matéria”, ou muitas
vezes negado com a maldade que só uma criança mimada pode expressar.
Pois
a maioria dos seres que o criticam, não suportam a ideia que o homem mais
poderoso do universo simplesmente possa querer para si uma vidinha tranquila
numa fazenda acompanhado da esposa e do filho. E tentam de forma medíocre criar
teorias de que sua figura não teria tantos fãs justamente por causa de um
suposto distanciamento com a dita “realidade”. Quando na realidade é justamente
o oposto!
Eles
não querem a realidade relida numa HQ, eles simplesmente não a suportariam. E ainda enchem a boca para falar de um suposto "conteúdo adulto e sombrio".
Se
a clássica saga de nossos amigos Oliver Queen e Hal Jordan fosse lançada nos
dias de hoje, não quero nem pensar o quanto grupos mesquinhos não iriam
furiosamente bradar em redes sociais sobre esta pelas mais diferentes razões,
com o manto das mais primordiais razões de ambos os lados.
Trocando
a razão por “ter razão”.
Talvez
apenas não tenham capacidade de análise? Penso eu.
Ou
talvez até tenham, mas por comodismo não o fazem. Ou pela pura incompetência de
lidar com suas próprias existências procuram diminuir as dos outros.
Tentando
fazer com personagens de ficção aquilo que não conseguem fazer na vida real.
Acredita
Clark, que criam até teorias da conspiração de que há um complô para diminuir
sua masculinidade?
Dizem
que numa HQ, você teria admitido que a Diana, nossa querida Mulher Maravilha,
seria mais apta a comandar a Liga da Justiça, isto seria uma manobra para
combater a figura do “macho branco opressor”.
Fingem,
mentem para si mesmos, sobre a natureza e a história da Diana, que foi
preparada para ser uma guerreira e líder militar, como se isto fosse uma imensa
novidade oriunda destes nossos incestuosos tempos. E fingem mais uma vez não
entender a sua. Sim aquela natureza que me referi alguns parágrafos acima.
Todos
sabemos que você é o líder moral de qualquer versão da Liga, e o é justamente
pelos valores que seus pais passaram para você.
E
tem mais! Se lembra daquela estória em que você renega a cidadania
estadunidense? Pois é, tem gente que não sabe a diferença de patriotismo para
patriotada. E daqui do Brasil (tudo bem eu sei que não é só aqui) dizem que
isto era uma afronta aos valores norte-americanos nos quais você foi calcado.
Mas
cinicamente, passam por cima do conceito da estória (mais uma vez eu sei), e
fingem não entender que naquele momento mais que nunca você estava defendendo
os ideais que ergueram a nação que o adotou e que você adotou para si.
Pois é... Mas se o Steve Rogers, que leva a alcunha de Capitão América já passou por algo semelhante, e muitos fingem não entender, é meio obvio que isto aconteceria contigo também. Infelizmente..
E
agora toda esta questão envolvendo seu filho...
A
bem da verdade, nem queria estar tocando neste assunto aqui, pois não há nada
de relevante nele, já que deveria ser tratado de forma mais natural, sem
estardalhaço, e muito menos quero ficar dando assunto para pessoas de índole
ruim.
O
mundo muda, evolui. E da mesma forma que os heróis negros chegaram e fincaram
posição (desculpe o termo militar). A história não pode mais virar o rosto, e
fingir não enxergar que estas pessoas estão aí. Trabalhando, pagando impostos,
consumindo...
O
problema é que a coisa as vezes chega a um determinado ponto que seria
engraçado se não fosse preocupante.
Tudo
bem.... Eu sei que nem sempre as escolhas feitas pelos autores e as empresas
para as quais trabalham são as melhores para vocês, personagens de ficção.
O
problema é que hoje em dia, tudo é meticulosamente manipulado para atender
parcelas bem específicas de público, e a consequência disto acaba sendo a
distorção ou até destruição de uma boa ideia.
Com
cada parcela de público devidamente fatiada, e se portando como cobaias que
descobrem que se tocarem numa campainha ganharão mais comida, sem se tocar que
estão todos assimilados, empacotados e adiposamente em clausura mental.
E
toda premissa envolvendo a dita sexualidade do John que poderia gerar ótimas
HQ’s muito provavelmente será dragada numa espiral de conceitos tacanhos,
transformando-o num estereótipo como fizeram com o Damien.
Sim,
o Damien, filho do Bruce. Que foi transformado por esta mesma cultura rasa, num
arquétipo de moleque mal-educado para saciar a identificação de parcelas de
público.
E
quando falo isto sobre o John, digo, pois, o mais provável que aconteça é que
toda a relação pai e filho que poderia ser maravilhosamente trabalhada será
provavelmente diminuída, diluída, e talvez nem mencionada, quando o fato de
terem escolhido seu filho para tratar do tema da opção da sexual não poderia
ter sido algo mais acertado, já que não há em nenhuma editora, meu caro Clark,
personagem que melhor represente a compaixão e a fraternidade que você.
Fico
aqui pensando, neste povo que habita o mundo que se diz real, estando numa
situação de perigo, como preso nas ferragens de um carro que bateu, ou refém de
um assaltante, perguntando para o bombeiro, paramédico ou policial, qual a
opção sexual deste (risos)
Afinal,
pelo que vejo, só admitiriam serem ajudados por aqueles que consideram dignos
(argh!).
Mas
tem gente, pode acreditar no que digo, que tem o descaramento de dizer que isto
seria um malévolo plano da chamada “Lacrolândia” para diminuí-lo como símbolo
de virilidade.
Se
Mike W Barr escrevesse Camelot 3000 nos dias de hoje, fico pensando no tamanho
do chilique deste “povo viril” (risos).
Não
que esta tal “Lacrolândia” não exista, pois em todo lugar que houver alguma
causa razoavelmente justa sempre haverá aqueles que apenas querem lucrar com o
“circo pegando fogo”. Ou simplesmente destilar suas frustrações em frases
feitas, tentando em sôfrego desespero rebaixar uns para em geral apenas se
autopromover, muitas vezes replicando discursos prontos passados de pai para
filho.
E
olha só! Eu aqui citando esta coisa de legado de novo! Viu como aquilo que
citei de terem escolhido você para esta missão não foi mero acaso?
Só
que a única verdade factual nisto tudo, é que os dois grupos no frigir dos ovos
se merecem.
Uma
guerra só ocorre se houver ao menos dois lados beligerantes.
Seria
engraçado se não fosse tão tristemente patético.
E
meu amigo Clark, nem vou aqui citar aquelas versões estapafúrdias de você como
déspota, pois estas são na verdade o espelho daqueles seres de caráter fraco e
duvidoso, que não conseguem enxergar (ou não querem) a verdadeira essência
sua... a bondade.
É o
multiverso, dirão eles, do alto de sua empáfia de palha, sem um pingo de
capacidade de autocrítica, massificando uma pobreza medonha de criatividade que
nem fazem mais questão de esconder, nesta filosofia de boteco e briga de
torcidas, que prevalece hoje em dia.
É
como aquela canção do Stratovarius que diz:
“Eles
tentam me dar respostas, para perguntas que nunca fiz....
....
A mídia é a nova ilusão, criando mais confusão...”
Mas
como esta mesma canção diz:
“...mas
eu sei que eles logo partirão. ”
Mas
enquanto eles não partem, Clark, deixa eu te pedir uma coisa.
Permaneça
sempre o norte de todos, heróis ou não. Permaneça sendo o coração da trindade.
Pois neste mundo raso, imediatista e cínico, movido por conveniências, sua
presença dissonante da generalização reinante, mais do que nunca se tornou
fundamental.
Continue
incomodando!
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