domingo, 27 de outubro de 2024

10 Vilões do Batman que Nunca Apareceram num Filme “Live Action”

 

    Todos sabemos que quando se trata de vilões, o Batman tem a mais vasta e importante galeria do gênero nos quadrinhos.

    E é obvio que é impossível por mais filmes que se faça com o persogem usar toda esta galeria. Mesmo que sejam usados em “filmes sidekick”, como no caso dos recentes filmes do Esquadrão Suicida.

    Contudo, há alguns destes personagens que este escriba ( e imagino muito pessoas mais) simplesmente não entendem como não foram utilizados até hoje.

    Sendo assim, lá vem eles...

    10 Vilões do Batman que Nunca Apareceram num Filme “Live Action”!

  

10 – Vagalume


Este quase conseguiu. Seria o vilão do filme da Batgirl que acabou não sendo lançado.

09 – Kiodai Ken

O ninja criado em Batman TAS, bem que poderia estar em algum filme, mesmo que fosse como matador contratado.



08 – Lady Shiva

As vezes vilã, as vezes nem tanto, a mãe de Cassandra Cain, a segunda Batigirl, é uma personagem com uma dualidade que bem poderia ser explorada num roteiro menos básico.


07 – Morcego Humano

Muitos reclamam de um “excesso” de realismo nos filmes do Batman. E talvez o Morcego Humano pudesse ser uma boa forma de um plot mais fantasioso, mas sem cair na armadilha do “pó de pirlimpimpim” que em nada tem a ver com o Cavaleiro das Trevas.


06 – Cara de Barro

E por falar em plot inverossímil, creio que muitos não entendem como o Cara de Barro, em alguma de suas versões, não foi usado até hoje.


05 – Silêncio

Silêncio (ou Hush no original) é um típico personagem que caberia facilmente numa trama detetivesca de um filme do Batman.



04 – Rupert Thorne

Este aqui até é fácil de explicar porque nunca ganhou vida em live action. O mafioso foi criado por Steve Englehart, que é um dos nomes que mais brigaram até hoje para que os criadores de personagens recebessem a remuneração justa por suas obras, fazendo a DC/Warner sempre preferir usar os mesmos mafiosos de sempre, como Carmine Falcone.


03 – Garra Vermelha

Mais uma personagem nascida em Batman TAS, a terrorista tem uma facilidade tão grande de aplicações em diversas premissas que de fato é incompreensível que não tenha sido usada até hoje.


02 – Hugo Strange

O Dr.Hugo Strange até já teve sua representação em live action no seriado “Gotham”. Mas fato é que num longa metragem com um roteiro menos “fiapento”, seria uma contraparte sensacional à inteligência do Morcego.

01 – Sociedade das Corujas


E esta lista se completa com esta menção coletiva. A Sociedade (ou Corte) das Corujas, em todos seus desdobramentos sócio-políticos-culturais, seria um antagonista formidável para o Cavaleiro das Trevas. Mas que lógico sói funcionaria num roteiro extremamente bem escrito.

 



 

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Águia de Aço – Aviões, hard rock e a incrível história real por trás do clássico!

 

Creio que se você cresceu durante os anos 1980/1990 com certeza, ao menos uma vez, tenha assistido “Águia de Aço”!

O clássico filme de aventura e ação, protagonizado pela lenda, o recém “oscarizado” na época, Louis Gosset Jr.

O diretor Sidney J.Furie

Lançado oficialmente em 17 de janeiro de 1986, dirigido e roteirizado pelo já veterano na época Sidney J. Furie, “Águia de Aço” como sabemos, nos leva para uma aventura, na qual o jovem Doug Masters (Jason Gedrick), após seu pai (Tim Thomerson), um piloto de caça, ter sido abatido, preso e sentenciado a morte numa pequena e fictícia nação árabe, e diante da inercia das autoridades estadunidenses, decide com o apoio de seus amigos, todos filhos de militares, criar um louco plano de resgate.

E assim, com a ajuda de Charles “Chappy” Sinclair (Louis Gosset. Jr), um piloto veterano, a bordo de dois caças F-16 “pegos emprestados”, digamos assim (risos), parte para o resgate.

Tudo isto embalado por uma trilha sonora com nomes como Queen, Dio, Tina Turner, Eric Martin, King Kobra (com direito a participação de Louis Gossett Jr no clipe), entre outros.

Uma aventura simples sim, mas que enfrentou alguns grandes problemas.

Para começar, ao contrário de “Top Gun” que teve um grande apoio das forças armadas de Tio Sam para ser realizado, “Águia de Aço” teve que se virar sozinha.

Mas ao contrário da maioria dos resenhistas da web que afirma que isto teria ocorrido por causa do roteiro mostrar supostas “falhas” de segurança militares ou presumíveis atos de indisciplina, “´Águia de Aço” não contou com apoio oficial em razão de sua premissa, ou seja, um piloto norte-americano sendo derrubado e preso numa nação inimiga.

Louis Gossett Jr era o coronel "Chappy" Sinclair

Era na época expressamente proibido, na cabeça da alta cúpula militar estadunidense, mostrar em filmes a possibilidade dos militares do país sendo vítimas.

Indisciplinas? Bem se fosse assim, como os demais resenhistas da web, em especial do Youtube dizem, “Top Gun” com seus rasantes de Maverick sobre as torres dos aeródromos também não teria ajuda oficial.

E para arrematar esta contextualização, é só lembrarmos que o clássico “Comando Delta”, aquele com Chuck Norris e Lee Marvin, também não teve apoio, justamente por mostrar no seu começo, uma reconstituição da desastrosa Operação Garra de Águia, o resgate de prisioneiros no Irã, que foi abortado depois que um helicóptero Sea Stallion caiu sobre um avião Hércules C-130.

Os caças israelenses KFir...

Para contornar esta falta de apoio oficial, a produção foi para Israel, onde conseguiu apoio local tanto para as locações como para o maquinário, tanto que temos aqui os caças israelenses Kfir fazendo o papel de MIGs, o que aliás na opinião deste escriba ficou bem mais interessante que em Top Gun com seus pequenos F-5 Tiger usados neste contexto.

...fizeram o papel de MIGs em Águia de Aço

Ainda que durante suas filmagens os trabalhos precisaram ser interrompidos pois os caças cedidos para a produção, foram designados para missões reais.

Outro ponto bastante distinto e nunca lembrado, é que “Águia de Aço” foi o primeiro filme a colocar os atores voando de verdade na cabine dos caças, ainda que lógico no banco detrás (risos).

Mas então, se Águia de Aço teve tantos cuidados, por que ficou a sombra de Top Gun diante da história?

Bem, é obvio que se formos colocar os predicados de cada filme, digamos, numa tabela, a “disputa” possa até pender para o lado de Doug Masters e Chappy.

Como por exemplo o roteiro, já que Top Gun é apenas uma série de esquetes que culmina numa escaramuça aérea mais forçada que a cena de “Vingadores Ultimato” na qual um exército de personagens vai surgindo, sem que o vilão não faça nada (eita Power Rangers!).

Só que a cabeça da maioria do público não funciona assim (e nem de alguns resenhistas).

E ainda que Águia de Aço tivesse em Sidney J. Furie um diretor competente, do outro lado Top Gun possuía um jovem chamado Tony Scott, que foi um dos maiores estilistas visuais da história do cinema, fazendo de cada frame de seu filme um quadro, uma pequena obra de arte que se fixava na mente do espectador.

Sem dúvida que haverá sempre os resenhistas que tentarão levar suas críticas e considerações acadêmicas rasas para o lado da politização, mas a verdade é que ninguém que assiste à um filme como Águia de Aço (ou mesmo Top Gun) liga para esta bobagem.

E é aí que os F-16 levam vantagem sobre os F-14, já que aqui, temos sim, um fio condutor para trama, que ainda que tênue, é universal.

O desejo de um filho em ajudar o pai, fora uma questão pessoal de Chappy Sinclair, com relação ao pai de Doug, devidamente explicada na trama, que envolvia sua gratidão diante de um caso em que foi certa vez vítima de preconceito.

Uma premissa simples que nos leva por uma aventura inverossímil sim, mas absolutamente cativante em sua essência, sem esforçar para isto.

E aqui eu entro na questão que explica muita coisa por detrás desta produção, de seu roteiro, e principalmente seu protagonista interpretado pelo inesquecível Louis Gossett Jr.

Pois não há dúvida que o coronel Charles Sinclair “rouba” totalmente as atenções para si desde sua primeira aparição, personificando aquele que talvez seja o melhor mentor dos anos 80 (desculpa senhor Miyagi). Hora ríspido, hora paternal, hora engraçado e até mesmo anárquico, e com um dos melhores discursos motivacionais da história.

E mesmo que você que está lendo possa considerar que a maior parte do elenco (até pela pouca ou nenhuma experiência) possa parecer inexpressivo, Gossett Jr voa em céu de brigadeiro, ao mostrar todas as facetas de um personagem que tranquilamente poderia ser jogado em qualquer filme mais, digamos, complexo, que funcionaria do mesmo jeito.

Mas tudo isto que vemos em tela, teve uma base muito real, e mais incrível em alguns momentos que a ficção.

O General Daniel "Chappie" James Jr.

Daniel “Chappie” James Jr, o primeiro afro-americano a se tornar general quatro estrelas nas forças armadas estadunidenses. E sim, a grafia de seu apelido era “Chappie” e não “Chappy” como no filme.

Nascido em 20 de fevereiro de 1920, Daniel se formou na Universidade Tuskegee em 1942, mesmo ano em que “ganhou suas asas” de piloto, sendo comissionado como 2º tenente em 1943. E se você que leu Tuskegee, e é um aficionado por assuntos militares achou o nome familiar, você não está errado. Estamos aqui falando sim do esquadrão que ficou conhecido como os “Red Tails”, todo composto por pilotos negros, para os quais já foram feitos dois filmes contando sua história.

Chappie junto a um P-51 Mustang

Porém, durante a 2ª Grande Guerra. Chappie permaneceu em solo norte-americano. Fazendo o que? Treinando novos pilotos!

Portanto, qualquer semelhança aqui, de forma alguma é mera coincidência.

A primeira vez que esteve numa missão direta foi durante a Guerra da Coreia, na qual cumpriu um total de 101 missões. Em 1966 já formado pelo “Air Command and Staff College”, Chappie foi para a Tailândia dar suporte as missões de combate do Vietnã. Nesta época se tornou vice comandante da 8ª Ala de Caça, que era comandada pelo “ás” Coronel Robin Olds. E o comando dos dois se tornou algo tão relevante, em especial de Chappie, que a dupla acabou ganhando o apelido de “Blackman e Robin”.

Chappie posando com um F-4 Phantom ao fundo

Mas calma, pois o mais incrível, e cinematográfico feito de Daniel “Chappie” James Jr, ainda estava por vir.

Um ponto que foi omitido ao menos da dublagem brasileira de Águia de Aço é o nome do país no qual o pai de Doug acaba preso.

Seu nome no roteiro era Bylia. Sim, você não leu errado.

E esta brincadeira ou provocação com a Líbia poderia ser apenas isto, se o país não tivesse sido palco para um encontro inusitado do pior grau na vida real entre “Chappie” James Jr, e ninguém menos que Muamar Gadhafi!

Após seu serviço no Vietnam, Chappie se tornou o comandante da Base de Treinamento de Caças de Wheelus, na República da Líbia, que na época mantinha relações estreitas com os Estados Unidos.

Mas isto foi até oficiais militares darem um golpe de estado no país árabe, entre eles justamente aquele que viria ser por décadas seu mandatário supremo, o senhor Gadhafi, que invadiu a base a frente de uma coluna de blindados, passando a toda velocidade pelos alojamentos, até chegar onde estava Daniel “Chappie” James Jr.

Só que Chappie para surpresa de todos, ordenou o fechamento dos portões da base, se trancando com suas tropas e as tropas de Gadhafi.

Criando uma situação absolutamente impensável até para um roteirista de Hollywood, e que culminou simplesmente, com uma cena digna de cinema, mas de faroeste, na qual os dois militares, ambos com pistolas Colt Governamental nos coldres junto a cintura se encararam diante dos olhares incrédulos dos demais.

No final, o futuro ditador, diante de um pedido firme de Chappie, para que não ousasse sacar da arma, cedeu, e todos os militares da base voltaram para casa sem maiores problemas.

Sendo assim, ainda que sempre comparado, seja pela temática ou pela trilha sonora, ao seu contemporâneo, “Top Gun - Ases Indomáveis”, ou se tornando objeto de críticas maldosas feitas pelos famosos “entendidos” em cultura pop, e sobrevivendo as suas sequências caça-níqueis terríveis, “Águia de Aço” com todo merecimento hoje goza de status de cult.

Conseguido acima de tudo graças aqueles que sabem entender o que de fato cada filme se propõe, e que antes de tudo a função do cinema é nos encantar.

E por que não nos motivar?

Jonny Lawrence do Cobra Kai que o diga (risos).



 



domingo, 15 de setembro de 2024

Drácula (1979) - Os Embalos de Sábado à Noite Nunca Foram Tão Assustadores

 

Alguns personagens nunca se afastam das telas de cinema durante muito tempo.

Tarzan, Sherlock Holmes e até Godzilla volte e meia (ou quase sempre) estão aí aparecendo na sala de cinema mais próxima, retratados nem sempre da maneira mais fiel para o qual foram pensados, e em geral falhando por causa disto.

Mas há exceções! E é sobre uma destas exceções que este artigo trata... Drácula do diretor John Badham!

Nos anos 1970 a chamada “sétima arte” havia passado pelo maior “sacode” que teve em sua história até os dias atuais. E em 1979 parecia que o cinema tinha sido virado de cabeça para baixo e depois pelo avesso.

Num exercício rápido de memória não é difícil lembrarmos de Tubarão (1975), Guerra nas Estrelas (1977), Superman (1978) só para citarmos os chamados blockbusters, além de outras produções que marcaram época e remodelaram os conceitos de seus subgêneros como O Exorcista (1973) e Agarre-Me Se Puderes (1977).

Mas em 1979 a Universal Studios decidiu apostar no clássico personagem de Bram Stoker, baseado no real Vlad O Empalador, nosso vampiro-mor, o Conde Drácula.

O diretor John Badham

Para tal empreitada convocaram John Badham, diretor que naquele momento estava mega-hypado devido ao sucesso de “Os Embalos de Sábado à Noite”. Uma escolha que aos olhos de qualquer fã do gênero deve ter parecido louca na época, mas que rendeu um filme com características singulares até então.

Para deixar bem claro (apesar que creio que você que está lendo já deve ter percebido), esta adaptação passa longe da estória original do romance de Bram Stoker.

Mas o que ela não tem de fidelidade ao original, compensa e com sobras para aqueles que gostam de um bom filme.

No quesito elenco, temos no papel-título nada menos que Frank Langella, que se você acompanha o blog sabe o quanto este humilde escriba é admirador, por sua capacidade de transmutar os personagens que interpreta, dando-lhes formas até então únicas, como nos casos do Zorro (já resenhado aqui) e do Esqueleto (sim, o do filme Mestres do Universo).

Frank Langella é Drácula

E para o papel de seu arqui-inimigo, Abraham Van-Helsing, nada menos do que aquele que por muitos é considerado o maior ator da história, Laurence Olivier, que é sempre lembrado por seu Zeus em “Fúria de Titãs”.

Laurence Olivier é Van Helsing

Papel que acabou sendo herdado, já que carismático Donald Pleasence recusou-o, pois não queria que sua atuação pudesse ser associada à do Dr.Loomis de “Haloween” realizado no ano anterior, ficando então com o papel do Dr.John Seward, diretor de um manicômio (pessoalmente acho que acabou trocando seis por meia-dúzia, mas deixa para lá).

Donald Pleasence é o Dr.Seward

E como se isto fosse pouco, John Williams, o mago da música, ficou responsável pela criação da trilha sonora, e de seu tema principal, que pode se considerar que está para Drácula como o tema que criou um ano antes está para Superman.

O mago John Williams criou a trilha sonora

Na estória, que foi roteirizada por  W.D.Richter (Invasores de Corpos), a escuna Demeter naufraga na costa da Inglaterra após seus tripulantes tentarem se livrar carga que levavam, pois julgavam estarem amaldiçoados.

Em terra, de seu quarto, Mina Van Helsing (Jan Francis), que aqui é filha de Abraham Van Helsing, e que estava em visita a sua amiga Lucy Seward (Kate Nelligan), vê a cena, e sai em busca de algum sobrevivente, encontrando apenas um homem caído entre as pedras.

Ainda que estranhando que os tripulantes do navio estivessem mortos, alguns deles com a garganta dilacerada, o homem é levado para a Abadia Carfax, que havia sido comprada pelo mesmo.

O filme em momento algum cria uma aura de mistério neste ponto, deixando bem claro que aquele homem era sim o Conde Drácula da Romênia e todos sabiam disto, e que os locais só não sabiam de sua “identidade secreta”, digamos assim.

E aqui começamos a entrar nas peculiaridades que tornaram algo singular na época, pois é nítido que este Drácula de 1979, é sobretudo focado na figura do conde, e não do vampiro, assim como o Zorro de 1974, também interpretado por Langella, já resenhado aqui, que é nitidamente mais focado em Dom Diego que no personagem título.

Tal abordagem talvez tenha acontecido devido a exigência do próprio ator, que disse que só faria o papel se não aparecesse com dentes caninos pontudos e nem com sangue escorrendo da boca.

Se tal exigência foi apenas um capricho, ou uma visão de Langella de que deveriam se afastar do estereótipo criado sobretudo pela versão de Christopher Lee nos filmes da produtora Hammer, talvez nunca saibamos, mas uma coisa eu afirmo, funcionou de maneira brilhante, pois deixou o filme livre para realizar suas cenas mais assustadoras através de seu elenco de apoio.

As cenas do manicômio inclusive são particularmente incomodas em alguns momentos, talvez ou principalmente, por retratar como eram tais instituições na época em que se passa o filme -1913 - sem ter o viés fantástico como “escada”.

E até meio escatológicas. Que o diga Renfield (Tony Haygarth) que ao acordar, depois que foi atacado pelo vampiro na forma de morcego, passa a ser seduzido por uma vontade peculiar de se alimentar de baratas.

Chamando a atenção para outra característica do filme que é a forma como as vítimas de Drácula acabam tendo efeitos colaterais diferentes, após serem atacadas.

Como no caso de Mina, que é dada como morta e acaba num estado de zumbi, na talvez mais impactante cena da película, quando Van Helsing e Seward vão até o túmulo da moça, e o professor Helsing desce até a catacumba onde deveria em tese estar o corpo de Mina, mas tem um “encontro imediato do pior grau” com a filha.

Uma cena que dizem ter sido terrível para Laurence Olivier que tinha acabado de perder a filha na vida real pouco tempo antes, o que aliás fica um tanto exposto nas feições do ator, que não estava muito bem de saúde à época das filmagens.

Mas calma que as particularidades deste Drácula não terminaram, pois como citei alguns parágrafos acima, este filme é sobretudo a respeito do conde e não do vampiro. Nos mostrando pela primeira vez um Drácula sedutor, extremamente autocentrado, com um semblante absolutamente normal, bem afastado por exemplo, da alegoria que Francis Ford Copolla fez Gary Oldman interpretar anos depois.

E que fora seus poderes, como se transformar em lobo, morcego ou em nevoa, pasmem, possui controle da mente. E não, não me refiro simplesmente à uma mera hipnose como descrito em algumas obras, mas sim controle da mente, algo que fica claro ter sido inspirado em “Guerra nas Estrelas”.

E não, este escriba não enlouqueceu, pois em determinado momento o conde da Transilvânia, para liberar Lucy de seu controle, faz exatamente o mesmo gesto com dois dedos que Obi Wan Kennobi (Alec Guiness) fez dois anos antes no filme de George Lucas.

Apesar da vontade inicial do diretor John Badham de fazer de seu “Drácula” uma homenagem explicita aos antigos filmes de terror, filmando em preto e branco, a Universal barrou a ideia.

Mesmo assim, ainda que “competindo” com ao menos mais dois filmes de vampiro lançados no mesmo ano (a saturação é um caminho bem curto para o fracasso nestes casos), a comédia “Amor à Primeira Mordida” e “Nosferatu”, alcançou o destaque merecido.

Portanto, mesmo que você (assim como eu), não seja muito fã do gênero, Drácula de John Badham é um filme obrigatório, de um diretor que com o passar dos anos mostraria toda sua versatilidade, como no já resenhado aqui “Trovão Azul", "Jogos de Guerra", "Tocaia" e tantas outras produções.

Fazendo aqui um filme de terror inteligente numa época em que as produções do gênero não tinham ainda ficado banalizadas pelos chamados filmes de slashers,  merecendo muito ser redescoberto pelas novas gerações.

E que não duvido, se surpreenderão, com a visão de Langella descendo por uma parede como um morcego na parede de uma caverna. Ganhando suas mentes ao ponto de torcerem pelo vampiro na sequência final deste clássico.



domingo, 18 de agosto de 2024

2020 - Japão Submerso

 

Se existem duas coisas certas neste mundo, são que o Japão sofre mais com terremotos na vida real do que com o Godzilla na ficção.

E que cedo ou tarde, este humilde escriba ainda que tente não fazer, acabará escrevendo alguma resenha movido pela mais pura indignação ao ler e/ou assistir algumas opiniões tão estafúrdias que me fazem questionar se ainda há de fato vida inteligente no chamado meio geek, nerd ou deem o nome que quiserem.

Pois basicamente é em razão disto que decidi escrever sobre a animação nipônica “Japão Submerso”.

“Japão Submerso” é mais uma adaptação do livro “Japan Sinks” de Sayo Komatsu, lançado originalmente em 1973.


         E que já havia ganho versões anteriores não só em mangá como em live action, além de mais uma versão posterior a esta animação.

Versão live action de 2021

Dirigido por Masaaki Yuasa, esta minissérie em animação parte do fantasma que ninguém cogita que possa ocorrer, que seria uma série de grandes terremotos que atingiriam o arquipélago japonês de maneira impiedosa, e logicamente, apocalíptica.

Masaaki Yuasa

Causando uma destruição impensada até pelos mais pessimistas, e que teria como consequência o afundamento da maior parte do país, devido a movimentação das placas tectônicas.

Bem, creio que se você se interessou em ler este artigo muito provavelmente já assistiu ou já ouviu falar desta animação que está no catálogo de um conhecido serviço de streaming.

Mas caso não, posso já adiantar aqui duas coisas, espere o inesperado mesmo que pareça fora de contexto (pois as vezes até é um pouco), e não se apegue muito a nenhum dos protagonistas.

A família Mutoh e sua vozes originais

Nossa estória começa num dia comum (eu sei, é clichê, mas faz parte), num Japão que se preparava para receber as Olimpíadas. Sim, eu disse se preparava, ou seja, as Olimpíadas ainda não haviam ocorrido, ao contrário do que dizem 99% dos resenhistas por aí.

Olimpíadas que lógico, não iriam mais acontecer.

Aqui é preciso salientar que a produção da animação se iniciou bem antes do advento da pandemia de COVID-19, portanto, qualquer coincidência é mera semelhança.

Somos então de forma absolutamente aleatória apresentados a família Mutoh. Cada um em uma situação distinta, mostrando uma família que ainda que não seja fragmentada, e se goste muito, está distante do estereótipo nipônico, algo que em diversas situações é abordado ao longo do roteiro.

O pai, Koichiro, é um trabalhador da construção civil (atenção para o detalhe das Olimpíadas que ainda iam acontecer).

A mãe, Mari, é de origem filipina, e a personagem mais altruísta da trama, aquela que de fato, seja com gestos simples (ainda que na mente de alguns resenhistas possam parecer sem propósito), ou em grandes atitudes, procura sempre proteger aqueles que estão ao seu redor.

E os dois filhos. Go um garoto que vive soltando frases em inglês e possui aversão a ter que morar no Japão, enquanto usa a internet para se relacionar mais com pessoas de outros países que interagir com um vizinho por exemplo. E Ayumi, uma jovem  aspirante promissora a seguir carreira no atletismo, que pode ser a grosso modo considerada a principal protagonista da animação.

Separados no começo de toda a tragédia, a família logo se junta e parte numa jornada sem destino, na única intenção de sobreviver, juntamente com mais alguns agregados, que também sem ter para onde se juntam nesta “viagem para lugar nenhum”.

E não, esta expressão não é um exagero, pois de fato era isto que o arquipélago japonês estava se tornando.

A verdade é que não há muito como falar da estória de “Japão Submerso” sem fazer com que emerjam vários spoilers. Mas alguns pontos sobre a trama que parecem equívocos aos olhos dos “especialistas” (argh!) em resenhas precisam ser salientados.

O primeiro e mais obvio de todos é que apesar de seus ganchos emocionais, a jornada imposta aos protagonistas é sobretudo de sobrevivência, e não de autoconhecimento, ainda que por ventura alguns acontecimentos possam conter tal enfoque.

Portanto, não se indigne se por acaso uma ou outra atitude de algum protagonista, pareça aos seus olhos errada. Pois, “Japão Submerso” não tem a pretensão de nos mostrar altruísmo o tempo todo, e sim mostrar como eventos extremos podem gerar o que há de melhor, mas as vezes também de pior no ser humano. Não porque sejam maus em sua essência, mas pela simples questão do medo, e como reagem quando expostos a pressão de um evento  extremo.

Ainda que o roteiro pudesse ter sido melhor desenvolvido no aspecto emocional em algumas situações.

O que não quer dizer que o mal e o bem não apareçam em lugares e pessoas que menos se espera.

Como no caso da tentativa de estupro sofrida por Nanami, numa situação que tive o desprazer de ver resenhas que diziam ser forçada.

Às vezes acho que de fato estes resenhistas de obras deste gênero, criados na base do Playstation e leite de caixinha, vivem numa bolha. Com uma preguiça extrema de travar contato com a realidade, pois num caso como este, é só lembrarmos dos diversos casos de violência sexual ocorridos em espaços coletivos como ginásios, durante a passagem do furacão Katrina nos Estados Unidos.

Ou no caso do personagem Daniel, um artista de rua, que parece ser a última pessoa que se deveria dar carona numa situação como aquelas, mas que se mostra uma pessoa boa.

Assim como Kite, um dos ídolos de Go, um youtuber de esportes de aventura, que se une ao grupo, e que com seus conhecimentos de sobrevivencialismo se torna uma ferramenta valiosa na jornada.

Aqui vale mais um parêntese nesta resenha, pois não sei se foi intencional, mas o fato é que todos os personagens do núcleo principal possuem alguma habilidade e/ou conhecimento que se mostra útil em algum ponto da trama, até mesmo o menino Go, que pela internet conversando com um amigo virtual na Estônia consegue obter informações do que de fato estava ocorrendo (eita internet boa!), e o cientista tetraplégico que o grupo passar a levar consigo.

Todos menos Ayumi, que em tese deveria ser a protagonista central, e pela qual através de “seus olhos”, toda a tragédia deveria ser contada, e que se mostra um verdadeiro peso morto, portanto, não se surpreenda se por diversas vezes você sinta raiva da adolescente.

E por falar no cientista tetraplégico, não dá para deixar de citar aquele que é o maior equívoco do roteiro, quando nosso grupo de sobreviventes acaba indo parar numa comunidade utópica chamada Shen City.

Tudo bem que este evento cria uma pausa para que coisas como o sentimento de luto e alguns questionamentos possam ocorrer para os personagens. Mas no fim das contas acaba sendo um recurso narrativo que cria uma incômoda barriga no roteiro, jogando no meio do sarapatel, até uma criança com supostos (ou verdadeiros, não sei) poderes mediúnicos.

Contudo, como saldo final, “2020 - Japão Submerso” é um sopro de vida inteligente na saturada atmosfera das animações nipônicas dos últimos anos, repleta de personagens porcamente criados em simulacros de roteiro apenas para mostrar cenas esporrentas com a intenção de criar hype numa audiência rasa.

Tendo inclusive a coragem de abordar temas bem caros aos nipônicos, como a tal da “raça pura” e o preconceito travestido de patriotismo.

E que apesar da quantidade ímpar de desgraças que ocorrem no desenrolar de sua trama, algumas que de fato surgem do nada, aparentemente apenas para causar mal estar, se mostra em seu final algo incrivelmente edificante, que sim, na humilde opinião deste escriba merece uma conferida.



 

10 Vilões do Batman que Nunca Apareceram num Filme “Live Action”

       Todos sabemos que quando se trata de vilões, o Batman tem a mais vasta e importante galeria do gênero nos quadrinhos.      E é obvi...