Tem uns anos na
história que o cinema resolve dizer: Jamais serei esquecido!
E com certeza 1977 foi
um destes!
Contatos Imediatos do
Terceiro Grau, Guerra nas Estrelas e o até já resenhado aqui Agarre-Me Se
Puderes ajudaram a cunhar a fama de 1977 como um ano especial.
Contudo, em meio a este
bombardeio hollywoodiano, houve um filme que seja pelos envolvidos nele, seja
por suas repetidas exibições matutinas nas tevês fez aquele caminho que outras
obras já resenhadas neste blog fizeram... Simbad e o Olho do Tigre!
Lançado em 1º de
janeiro de 1977, esta nova (na época) aventura do clássico personagem dos
contos das “Mil e uma Noites”, nos transporta para uma trama de traição e busca
pelo poder, na qual o Príncipe Kassin (Damien Thomas) pouco antes de ser
coroado califa, sofre um ataque da feiticeira Zenobia (Margaret Whiting, que chegou a ganhar o prêmio Saturno por sua performance) que
era também sua madrasta, que o transforma num babuíno, ainda com muitos traços
de humanidade, mas que progressivamente estavam se perdendo.
Isto com a intenção de
que seu filho se tornasse o novo califa.
Eita Shrek! (risos).
Contudo, o que Zenobia
não esperava era a chegada do capitão Simbad (Patrick Wayne, filho da lenda
John Wayne), amigo de longa data de Kassin, e enamorado de Farah (Jayne
Seymour) irmã do monarca.
E a única chance de
trazer Kassin à sua forma humana, era uma jornada aos confins do mundo
conhecido, onde se dizia haver uma fonte mística que reverteria o feitiço.
O interessante aqui, é
que antes de ter seu título definitivo, o filme começou a ser filmado como
“Simbad no Fim do Mundo”. Sim, isto mesmo. Portanto, não é nada errado de se
pensar que além de Shrek, a franquia “Piratas do Caribe”, está muito mais
descaradamente, tenha dado uma “chupinhada” na produção dirigida pelo diretor e
ator Sam Wanamaker.
![]() |
O diretor Sam Wanamaker |
Wanamaker que costuma
ser lembrado por ser o vilão de “Jogo Bruto”, um dos mais fracos filmes de
Arnold Schwarzenegger.
Nesta jornada em busca
da lendária fonte, Simbad e sua tripulação procuram antes por um antigo sábio,
conhecedor das antigas artes místicas, chamado Melanthius (Patrick Throughton),
que na dublagem em português/br se chamou “Melancius”, que embarca naquela corrida
contra o tempo, levando consigo sua filha Dione (Taryn Power, filha de outra
lenda do cinema, Tyrone Power), a única capaz de aplacar o instinto animal
que começava a tomar conta de Kassin, numa analogia clara da bela que encanta e
acalma a fera.
Porém, além da
astúcia da Zenobia, nosso aventureiros acabam se deparando com as mais variadas
criaturas fantásticas.
![]() |
O mestre Ray Harryhausen |
Um oferecimento do
grande mestre dos efeitos visuais e do stop motion, Ray Harryhausen, que
também assina o roteiro junto com Beverley Cross.
E nesta lista de
incríveis criações de Harryhausen temos:
A Morsa Gigante que
ataca a tripulação de Simbad. Dizem que a ideia original era fazer Simbad lutar
contra um Yeti, o famoso Abominável Homem das Neves. Mas ideia acabou sendo descartada
em prol da morsa gigante, que convenhamos tornou a cena mais plural, não
centralizando tudo na figura do protagonista.
O Tigre de Dente de
Sabre, o “guardião” da fonte na qual Kassin teria de entrar, e óbvio, a
justificativa para o título do filme.
O Troglodita, um tipo
de homem das cavernas que se encanta com as fêmeas humanas, e passa a ajudar a
trupe de Simbad. Inclusive combatendo o tigre de dente de sabre. Além de fazer
amizade com o Kassin devido sua forma de babuíno, que permite, ainda que de
forma inexplicável se comunicarem.
Aliás, vou abrir um parêntese,
pois não posso deixar de citar a cena que antecede ao aparecimento do hominídeo
gigantesco, quando Farah e Dione vão se banhar num riacho.
E por que?
Simplesmente, pois é absolutamente inacreditável como uma das cenas de maior
sensualidade da história do cinema esteja justamente num filme de censura
livre.
Sensualidade natural,
sem nenhum tipo de apelação. Ainda que parte de sua realização por imposição de
Jane Seymour tenha sido feita apenas com ela desnuda de costas e a câmera
rodando, com o restante da equipe bem afastada.
E por falar em se
afastar...
Voltando aqui para as
criaturas de Harryhausen, a base de corpo do troglodita, anos depois, serviu
para outra criação do artista, Calibus de “Furia de Titãs”.
Além disto temos
Minoton, um Minotauro mecânico, movido à um toque de magia (ou seria
alquimia?). O interessante aqui, é que em apenas nas cenas de plano mais
aberto, Harryhausen usou do stop motion para “dar vida” à criatura.
Pois nas demais cenas
havia um ator de verdade vestindo a pesadíssima “armadura” do Minaton, e este
ator era simplesmente Peter Mayhew, o eterno Chewbacca de “Guerra nas Estrelas”.
Que foi uma descoberta
do produtor Charles H. Schneer, que viu uma foto sua enquanto trabalhava num
hospital britânico. Ou seja, se não fosse “Simbad e o Olho do Tigre”, os
Wookies provavelmente não seriam tão altos (risos).
E lógico que não posso
deixar de citar o babuíno, que durante a pré-produção chegaram a cogitar usar
um macaco de verdade, mas cuja ideia foi descartada, até pela segurança da
própria equipe de filmagens.
Filmagens que até
ocorreram de maneira ágil, mas que depois levaram um ano em sua pós-produção
para serem concluídas devido ao meticuloso trabalho de Ray Harryhausen para dar
vida a suas criações.
![]() |
Com um orçamento de
cerca de 3,5 milhões de dólares, o filme arrecadou algo em torno de 20 milhões.
Porém, creio que mais
relevante que a frieza de números, é que Simbad e o Olho do Tigre, passou muito
bem na prova do tempo. Sem efeitos digitais computadorizados, sem mega esquemas
de mídia, mas com produzindo aquele encanto que atravessa gerações, e do qual o
verdadeiro cinema jamais deveria se desviar.