terça-feira, 27 de maio de 2025

Simbad e o Olho do Tigre

 

Tem uns anos na história que o cinema resolve dizer: Jamais serei esquecido!

E com certeza 1977 foi um destes!

Contatos Imediatos do Terceiro Grau, Guerra nas Estrelas e o até já resenhado aqui Agarre-Me Se Puderes ajudaram a cunhar a fama de 1977 como um ano especial.

Contudo, em meio a este bombardeio hollywoodiano, houve um filme que seja pelos envolvidos nele, seja por suas repetidas exibições matutinas nas tevês fez aquele caminho que outras obras já resenhadas neste blog fizeram... Simbad e o Olho do Tigre!

Lançado em 1º de janeiro de 1977, esta nova (na época) aventura do clássico personagem dos contos das “Mil e uma Noites”, nos transporta para uma trama de traição e busca pelo poder, na qual o Príncipe Kassin (Damien Thomas) pouco antes de ser coroado califa, sofre um ataque da feiticeira Zenobia (Margaret Whiting, que chegou a ganhar o prêmio Saturno por sua performance) que era também sua madrasta, que o transforma num babuíno, ainda com muitos traços de humanidade, mas que progressivamente estavam se perdendo.

Isto com a intenção de que seu filho se tornasse o novo califa.

Eita Shrek! (risos).

Contudo, o que Zenobia não esperava era a chegada do capitão Simbad (Patrick Wayne, filho da lenda John Wayne), amigo de longa data de Kassin, e enamorado de Farah (Jayne Seymour) irmã do monarca.

E a única chance de trazer Kassin à sua forma humana, era uma jornada aos confins do mundo conhecido, onde se dizia haver uma fonte mística que reverteria o feitiço.

O interessante aqui, é que antes de ter seu título definitivo, o filme começou a ser filmado como “Simbad no Fim do Mundo”. Sim, isto mesmo. Portanto, não é nada errado de se pensar que além de Shrek, a franquia “Piratas do Caribe”, está muito mais descaradamente, tenha dado uma “chupinhada” na produção dirigida pelo diretor e ator Sam Wanamaker.

O diretor Sam Wanamaker

Wanamaker que costuma ser lembrado por ser o vilão de “Jogo Bruto”, um dos mais fracos filmes de Arnold Schwarzenegger.

Nesta jornada em busca da lendária fonte, Simbad e sua tripulação procuram antes por um antigo sábio, conhecedor das antigas artes místicas, chamado Melanthius (Patrick Throughton), que na dublagem em português/br se chamou “Melancius”, que embarca naquela corrida contra o tempo, levando consigo sua filha Dione (Taryn Power, filha de outra lenda do cinema, Tyrone Power), a única capaz de  aplacar o instinto animal que começava a tomar conta de Kassin, numa analogia clara da bela que encanta e acalma a fera.

Porém, além da astúcia da Zenobia, nosso aventureiros acabam se deparando com as mais variadas criaturas fantásticas.

O mestre Ray Harryhausen

Um oferecimento do grande mestre dos efeitos visuais e do stop motion, Ray Harryhausen, que também assina o roteiro junto com Beverley Cross.

E nesta lista de incríveis criações de Harryhausen temos:

A Morsa Gigante que ataca a tripulação de Simbad. Dizem que a ideia original era fazer Simbad lutar contra um Yeti, o famoso Abominável Homem das Neves. Mas ideia acabou sendo descartada em prol da morsa gigante, que convenhamos tornou a cena mais plural, não centralizando tudo na figura do protagonista.

O Tigre de Dente de Sabre, o “guardião” da fonte na qual Kassin teria de entrar, e óbvio, a justificativa para o título do filme.

O Troglodita, um tipo de homem das cavernas que se encanta com as fêmeas humanas, e passa a ajudar a trupe de Simbad. Inclusive combatendo o tigre de dente de sabre. Além de fazer amizade com o Kassin devido sua forma de babuíno, que permite, ainda que de forma inexplicável se comunicarem.

Aliás, vou abrir um parêntese, pois não posso deixar de citar a cena que antecede ao aparecimento do hominídeo gigantesco, quando Farah e Dione vão se banhar num riacho.

E por que? Simplesmente, pois é absolutamente inacreditável como uma das cenas de maior sensualidade da história do cinema esteja justamente num filme de censura livre.

Sensualidade natural, sem nenhum tipo de apelação. Ainda que parte de sua realização por imposição de Jane Seymour tenha sido feita apenas com ela desnuda de costas e a câmera rodando, com o restante da equipe bem afastada.

E por falar em se afastar...

Voltando aqui para as criaturas de Harryhausen, a base de corpo do troglodita, anos depois, serviu para outra criação do artista, Calibus de “Furia de Titãs”.

Além disto temos Minoton, um Minotauro mecânico, movido à um toque de magia (ou seria alquimia?). O interessante aqui, é que em apenas nas cenas de plano mais aberto, Harryhausen usou do stop motion para “dar vida” à criatura.

Pois nas demais cenas havia um ator de verdade vestindo a pesadíssima “armadura” do Minaton, e este ator era simplesmente Peter Mayhew, o eterno Chewbacca de “Guerra nas Estrelas”.

Que foi uma descoberta do produtor Charles H. Schneer, que viu uma foto sua enquanto trabalhava num hospital britânico. Ou seja, se não fosse “Simbad e o Olho do Tigre”, os Wookies provavelmente não seriam tão altos (risos).

E lógico que não posso deixar de citar o babuíno, que durante a pré-produção chegaram a cogitar usar um macaco de verdade, mas cuja ideia foi descartada, até pela segurança da própria equipe de filmagens.

Filmagens que até ocorreram de maneira ágil, mas que depois levaram um ano em sua pós-produção para serem concluídas devido ao meticuloso trabalho de Ray Harryhausen para dar vida a suas criações.

Com um orçamento de cerca de 3,5 milhões de dólares, o filme arrecadou algo em torno de 20 milhões.

Porém, creio que mais relevante que a frieza de números, é que Simbad e o Olho do Tigre, passou muito bem na prova do tempo. Sem efeitos digitais computadorizados, sem mega esquemas de mídia, mas com produzindo aquele encanto que atravessa gerações, e do qual o verdadeiro cinema jamais deveria se desviar.



 

 

 

Simbad e o Olho do Tigre

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