Meados da década de
1980...
Enquanto a tenente
Ripley duelava com xenomorfos no cinema e o Queen lançava o clássico “A Kind of
Magic”, os professores de português tentavam sem sucesso frear o avanço
evolutivo das HQ’s que já não podiam mais tão facilmente serem rotuladas apenas
de “escapismo infanto-juvenil”.
Neste cenário, nas
bancas de jornal - que de fato vendiam jornais naquela época – se via na parte
de quadrinhos o domínio quase total da Editora Abril, com suas revistas no
famoso “formatinho”, em geral com revistas miscelânia como a já resenhada aqui
“Revista Superamigos”.
Mas eis que num
daqueles pequenos atos de ousadia, diante da gradual mudança etária de parte do
público talvez, as informações vindas do exterior, que agora não demoravam uma
década para chegar, e aos ótimos números de venda de “A Espada Selvagem de
Conan”, eis que em 1986, chega uma revista como nenhuma outra até ali, e que
até os dias de hoje pouco teve de “concorrência” ao seu posto, a...
Revista Aventura &
Ficção!
A meteórica história de
Aventura & Ficção, começa em setembro de 1986. E aqui vou logo abrindo um
dos meus “parênteses” para poder compartilhar com você que está lendo, o
espanto ao me deparar com o Nº 1 de Aventura&Ficção na banca onde costumava
comprar meus quadrinhos, e ver que a revista do bárbaro cimério não era mais a
única no formato “magazine”, sem falar na admiração diante da belíssima capa
desenhada pelo mestre Joe Jusko.
Mas se neste momento,
você que está lendo este artigo, chegou a pensar numa revista cheia de
super-heróis em seus vistosos uniformes...esqueça!
Baseada em suas treze
primeiras edições, em três “títulos para adultos” (argh!) da Marvel, “Bizarre
Adventures”, “Savage Tales” e “Marverl Preview”, trazia em suas páginas as mais
variadas e sem amarras visões de diversos artistas do calibre de:
John Byrne,
Roy Thomas,
John Buscema,
Sal Buscema,
Mike W Barr,
Earl Norem
e até um ainda não tão
conhecido Frank Miller.
Sua edição de estreia
abria com um prefácio do editor Helcio de Carvalho, que já deixava clara sua
natureza livre e imprevisível, que ia desde da mais tradicional ficção
científica, passando por contos de terror, até aventuras que te surpreendiam
com seu desfecho quase cômico.
Tão imprevisível, que
só para citar um exemplo, temos uma estória escrita e desenhada por John Byrne
que dura apenas duas páginas, sem nenhuma fala, mas que passa seu recado de
maneira direta e contundente.
Ainda que pudesse ter
seus personagens cativos que apareceram algumas vezes ao longo de suas vinte
e uma edições, como era o caso de “Vulcão e companhia”.
Um cara enorme, no
melhor estilo brucutu dos anos 80, que vivia no que parecia um futuro distópico
pós-apocalíptico, mas onde, vejam só, ainda podia se comer uma pizza, ainda que
para se fazer isto a noite, era preciso encarar uma série de perigos como
animais mutantes e zumbis.
O que não quer dizer
que alguns personagens que faziam parte do “casting” tradicional como o Senhor
das Estrelas (décadas antes de ficar conhecido por causa dos filmes).
E o Deus do Trovão,
Thor, com direito a capa do brasileiro Napoleão Torquato.
E por falar em Conan,
outra criação de Robert Howard, o Rei Kull da Valúsia, também apareceu nas
páginas de Aventura e Ficção.
Não esquecendo que
também, a despeito de seu caráter original de miscelânia foi capaz de dedicar
edições inteiras apenas para uma história, como na edição Nº5 sobre a lenda do
Rei Arthur e a Nº8 com a adaptação em quadrinhos do clássico “Robocop O
Policial do Futuro”.
E tendo a coragem de
publicar até mesmo um texto de Rob Marshall que era emoldurado por algumas
ilustrações de Alfredo Alcala, mas que estava muito mais próximo da literatura pulp
que das HQs.
E foi assim até sua 13ª
edição, quando seguindo sua natureza imprevisível talvez, teve inicio uma nova
fase, apresentando também artistas nacionais.
Não, você não leu
errado.
A nata dos quadrinistas
brasileiros da época ali, dividindo as páginas de igual para igual com alguns
dos maiores nomes estadunidense, como Watson Portela e Mozart Couto. Além de
nomes europeus como Enrique Breccia e Milo Manara, entre outros.
Watson Portela |
Milo Manara |
Com toda esta
pluralidade, a partir da 17ª edição, Aventura & Ficção passa a ostentar na
capa a frase: “O melhor do quadrinho mundial.”
Mas como qualidade, e
ainda mais coragem, não são necessariamente sinônimos de sucesso nestas plagas,
“Aventura e Ficção” teve sua última edição publicada em janeiro de 1990.
Terminando com sua
breve história...
Deixando saudades sim!
Mas de cabeça erguida mostrando que é possível, sem forçar a barra com esquemas
midiáticos, fazer diferente e marcar época.