sábado, 4 de novembro de 2023

Tia Carrere – De Honolulu à Caçadora de Relíquias

 

Tempos atrás aqui no blog fiz um artigo sobre Mark Dacascos, e como foi um dos rostos mais vistos nas telas durante os anos 1990 até começo dos anos 2000. Abordando sua ascendência multiétnica e sua carreira.

Mas nosso querido “Cryin Freeman” não foi o único astro que o Havaí exportou para o resto do mundo naquela época. E não, não estou me referindo a Dean Cain, o Superman havaiano, e sim a primeira e única... Tia Carrere!

Nascida Althea Rae Duhinio Janairo, nossa heroína adotou o nome artístico de Tia Carrere da junção do apelido “Tia” dado por sua irmã mais nova, e Carrere que foi uma homenagem a modelo e atriz Barbara Carrera.

De ascendência filipina, chinesa e espanhola (sim, eu sei, lembra bastante Mark Dacascos), cresceu numa família de renda baixa em Honolulu, não nutrindo muitas expectativas sobre seu futuro.

Aos treze anos foi “deixada para atrás” segundo relato dela mesma, quando seu pai conseguiu um emprego num banco em Samoa, e acharam melhor que ela permanecesse no Havaí sob os cuidados da avó, para não interferir em seus estudos. Contudo, o maior choque mesmo foi quando a mãe e as irmãs voltaram, e sem o pai, que tinha começado um relacionamento com a secretária, implodindo o casamento, e consequentemente a cabeça da jovem Tia.

"Zombie Nightmare", um trabalho sobre o qual Tia nem comenta

Sua primeira e fugaz aparição na tela, se deu num filme de terror, horrivelmente B (ou C, ou Q ou Z, dê a letra que preferir), chamado “Zombie Nightmare”, cujo o enredo lembra muito, para não dizer que seja idêntico, ao de “Eu Sei O que Vocês Fizeram No Verão Passado”. Só que colocando um tempero de voodoo no meio. E que por alguma razão desconhecida por este escriba, conta ainda com Adam West, o icônico Batman de 1966 no elenco.

Contudo, este é um trabalho, que seja lá por qual razão, Tia Carrere nem chega a citar quando dá entrevistas.

E tudo parecia estar dando errado para ela, quando num daqueles acasos que a gente acha que só acontecem em filmes, os pais de um produtor cinematográfico a viram num mercado em Waikiki, e a abordaram com uma das daquelas conversas que as mães de qualquer garota falaria: Cai fora que é fria!

Em foto promocional de "Aloha Summer"

Só que por incrível que pareça, era tudo real! E Tia foi convidada para fazer um teste para um filme que o filho do casal estava produzindo, que se chamava “Aloha Summer”. E a jovem foi ao teste, ganhando para surpresa dela mesma o papel de protagonista.

Aquilo mudou a trajetória e visão que tinha sobre sua vida, pois segundo seu próprio relato, sua família não tinha dinheiro para pagar uma universidade, e nem ela tinha notas boas suficientes para se candidatar a uma bolsa.

Então, com apenas dezessete anos, e o registro como atriz debaixo do braço, pegou um avião, e no melhor (ou pior) estilo “garota com um sonho” partiu para Califórnia, com um “namorado lixo” (descrição dada pela própria) a tiracolo, que agia como seu empresário, determinada a seguir carreira como atriz.

E as coisas durante um certo período pareciam estar dando certo, pois em poucos meses já havia conseguido vários trabalhos como modelo, e sua primeira oportunidade real com um papel fixo na novela “General Hospital”.

Fora participações em seriados bem conhecidos de nós brazucas, como “Águia de Fogo”, “McGuyver” e até “Esquadrão Classe A” para o qual estava certa nos planos dos produtores para assumir papel fixo a partir da quinta temporada.

Mas aqui as coisas começaram a andar para atrás de novo na vida de nossa heroína. Primeiro, pois devido ao seu contrato com “General Hospital” não pôde entrar para o elenco fixo de “Esquadrão Classe A”. Inclusive muitos atribuem a isto o começo do fim do seriado, pois uma grande expectativa foi criada com o último episódio da quarta temporada, no qual Tia Carrere participa como a filha vietnamita de um general estadunidense, porém, não se concretizando na temporada seguinte.

Tia quase entrou para o elenco fixo de "Esquadrão Classe A"

Só que o pior ainda estava por vir, pois “General Hospital” chegou ao fim, e logo depois, o tal namorado que bancava o empresário, deu um golpe nela, roubando todo seu dinheiro que ficava numa conta conjunta, deixando-a literalmente sem teto.

Tia Carrere então passou a “morar”, se é que dá para chamar assim, no corredor de um hotel entre dois quartos, sendo ajudada apenas por um agente de modelos que já a conhecia.

Porém, desistir nunca lhe passou pela cabeça, e voltar para a casa estava fora de cogitação. E ela foi em frente com pequenas participações aqui e acolá, como uma luta fake com Christina Applegate num episódio de “Um Amor de Família/Marrie...with Children”.

Até ganhar certa visibilidade novamente em 1991, quando esteve no clássico do exagero “Massacre no Bairro Japonês” ao lado de Doplh Lundgren e Brandon Lee.

Visibilidade que a levou aos estágios finais de teste para ingressar no elenco de “SOS Malibu”, como uma bióloga namorada do protagonista David Hasselhoff, até que um roteiro lhe chamou a atenção.

Mike Myers, Tia  e Dana Carvey

Baseado no esquete de humor “Wayne’s World” de Mike Myers e Dana Carvey para o programa “Saturday Night Live”, que aqui no Brasil passaríamos a conhecer como “Quanto Mais Idiota Melhor”, o papel de Cassandra Wong, uma roqueira fodona, de personalidade e estilo parecia perfeito para ela.

Durante uma entrevista, Tia Carrere lembrando do ocorrido, disse o que pensou na época:

'’Meu deus, esse papel pode mudar minha vida. E não sei de mais ninguém que possa atuar, cantar e arrasar. Mas eu posso! ”

E realmente foi isto o que aconteceu, ou como diriam Garth e Wayne, foi “Excelente!”.

Como Cassandra Wong em "Wayne's World"

O filme dirigido por Penelope Spheeris estreou em primeiro lugar nos cinemas estadunidenses, faturando só em território de Tio Sam mais de US$ 122 milhões em bilheteria.

Protagonizando a icônica sequência na qual, embrulhada num vestido de renda vermelho, canta o clássico “Ballroom Blitz” da banda Sweet. Sim! Nada de dublagem! Pois apesar da carreira como modelo e atriz, Tia Carrere sempre que tem oportunidade enfatiza que seu sonho sempre foi ser cantora.

Com o sucesso de “Quanto Mais Idiota Melhor”, do dia para noite todos só falavam nela, e não demorou para começar a chover as mais diversas propostas, conseguindo inclusive assinar contrato com uma gravadora para lançar um álbum.

Nesta mesma época interpretou a canção “I Never Even Told You” da trilha sonora do longa de animação “Batman A Máscara do Fantasma”.

E apesar de papéis de destaque para mulheres orientais serem uma raridade na época, Tia se manteve num fluxo constante de produções durante praticamente todos os anos 90.

Em "Sol Nascente" com Wesley Snipes

Com destaque para filmes como “Sol Nascente” ao lado de Sean Connery e Wesley Snipes, no qual faz Jingo Azakuma, uma genial mestre em computação de origem afro-nipônica. E sua icônica atuação em “True Lies” junto a Arnold Schwarzenegger, no qual faz a contrabandista Juno Skinner.

Em "True Lies"

Mas também atuando em produções menores como “Kull O Conquistador”, “Cidade do Medo” e "Ponto de Impacto".

Fazendo de Tia Carrere (mais uma vez se assemelhando a trajetória de seu conterrâneo Mark Dacascos), um dos rostos mais facilmente vistos durante aquela década, com uma média de três filmes por ano de 1992 até 1999.

Sobre esta época Carrere costuma a rir, ao pensar que interpretou, devido suas características físicas, personagens das mais diversas procedências, mas ironicamente nunca de sua principal linha de acedência, ou seja, uma filipina.

Mas a “cereja do bolo” ainda estava por chegar. A chance de ser 100% protagonista!

Era uma época diferenciada, onde os dois maiores destaques da televisão eram mulheres, com Gillian Anderson, a Dana Scully de Arquivo X de um lado, e Lucy Lawless com sua Xena, a Princesa Guerreira de outro, quase que monopolizando as atenções da mídia.

E uma produtora canadense vai procurá-la com a ideia de um seriado que misturava Indiana Jones com Lara Croft, e é obvio que estou me referindo ao pequeno grande clássico, “Caçadora de Relíquias”.

Um seriado que apesar de não ter o mesmo orçamento das produções estadunidenses, que cada vez mais se aproximavam dos orçamentos cinematográficos, soube capturar um espírito lúdico de antigos seriados que havia se perdido, durando cerca de quatro temporadas, nas quais Tia era a pesquisadora Sidney Fox. Um trabalho para o qual a atriz deixa a modéstia de lado e costuma se referir como “a melhor versão de Tom Raider”.

Apesar de todo destaque, ainda assim Tia teve que lidar com o assédio (e aqui leia-se assédio mesmo!), como quando foi para uma audição num quarto de hotel mal iluminado ocupado por Steven Seagal, que a olhou de alto a abaixo, a fez dar uma voltinha, e sem pudores perguntou se ela tinha algum problema com nudez.

Contudo, como ela mesma citou certa vez em uma entrevista:

“Graças a deus ninguém nunca veio pra cima de mim, ou eu teria que socar alguém no nariz ou dar uma joelhada no saco dele”

Em 2003 fez um ensaio para a "Playboy"

O que não quer dizer que nossa heroína tenha algum problema com o tema, muito pelo contrário, pois em 2003, surpreendendo a todos, lá estava Tia Carrere na capa da revista Playboy! E não, não era para uma entrevista (risos).

Diminuindo o ritmo de trabalho após o fim de “Caçadora de Relíquias”, Carrere seguiu com sua carreira como cantora, que desde 1993 nunca tinha sido interrompida, e que ao contrário do que você que está lendo possa imaginar passou longe da “esfera rock” para o qual ficou associada.

Com Danny Ho após ganhar um de seus dois Grammys

Ganhando inclusive dois prêmios Grammy de “Melhor Álbum de Música Havaiana” (sim, existe um prêmio só para música havaiana), numa parceria de quatro álbuns que fez com um amigo de infância, Daniel Ho.

Deu voz a Nani em "Lilo & Stich"...

Fora que passou a se dedicar cada vez mais a dar voz para personagens de animações, como por exemplo, Nani Pelekai, a irmã mais velha de Lilo em “Lilo & Stich”. 

...assim como a alienígena Darklos em "Mega XLR".

Além de fazer sua voz presente em outras animações como Jonny Bravo, Duck Dogers e Mega XLR.

Com o casal Julie Condra e Mark Dacascos

E não poderia deixar de mencionar que em 2016, as duas lendas havaianas enfim trabalharam juntas, pois Tia Carrere está no elenco de “Showdown in Manila” que fez justamente para dar uma força ao seu amigo e conterrâneo Mark Dacascos em sua primeira incursão como diretor.

E se você pensa que em 2023 nossa caçadora de relíquias já está aposentada só em casa cuidando da filha, aproveito estas últimas linhas deste artigo para dizer que ela não apenas lançou a canção “I’m Still Here” composta por ela, no começo deste ano.


         Como de quebra resolveu sensualizar para desespero “das inimiga”, publicando uma série de fotos de biquíni em seu Instagram, mostrando aos 56 anos que a estrada ainda não terminou, e avisando que o vestido vermelho de Cassandra ainda está no closet.


 

 

 

 

 

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