Em
geral quando pensamos em animações feitas para tevê, nos vem a mente os nomes
de produtoras famosas e seus criadores como Hanna-Barbera, Ruby&Spears ou a
Filmation, todas estas aliás já representadas aqui no blog com seus devidos
artigos.
Mas
isto é antes de tudo resultado do trabalho de muitos talentosos artistas. E foi
com extremo pesar que apenas um mês após a passagem do grande Leiji Matsumoto,
recebo a notícia de que Michael Reaves, talvez o mais célebre escritor para
animações norte-americano também nos deixou.
Portanto,
convido você que está lendo a embarcar no reino de Michael Reaves, o verdadeiro
rei das manhãs.
James
Michael Reaves, nasceu em San Bernardino, Califórnia, em 14 de setembro de
1950.
Mesmo
não indo bem na escola, onde era considerado um aluno bem fraco, tinha, porém,
uma carta escondida, pois sempre gostou de escrever. E começou cedo suas
tentativas de viver daquilo que escrevia, mas até 1972 não logrando nenhum
êxito. Até que neste ano foi aceito num workshop para escritores de ficção em
Michigan.
Daí
então se mudou em 1974 para Los Angeles, onde trabalhou imaginem onde? Numa
livraria!
Mas
também teve que labutar bastante numa das lojas da Sears, uma rede de lojas de
departamento, que inclusive teve lojas aqui em Terra Brasilis durante alguns
anos.
"A Poderosa Ísis" abriu as portas para Michael Reaves |
Até
que em 1975 conseguiu vender seu primeiro roteiro para a produtora Filmation,
que se transformou num episódio da série live
action da Poderosa Ísis. Fazendo sua transição para a mídia que o iria
consagrar em 1976, escrevendo ainda para Filmation roteiros para a animação da
“The Archie/Sabrina Hour”.
"I, Alien" - o primeiro romance de Reaves |
E
já em 1978 lançou seu primeiro livro, um romance para jovens chamado “I,
Alien” (ainda assinando como Reeves ao invés de Reaves), e um outro mais voltado para o considerado público adulto, “DragonWolrd”,
co-escrito com Byron Press.
Mas
como em outros textos já publicados aqui, vou dizer que tudo que havia
acontecido até então se tornaria apenas um ensaio para o que estava por vir.
Chegamos
a década de 1980!
E a
partir daqui Reaves passaria a cunhar de vez seu nome como um dos mais
prolíficos escritores para séries, tanto em animação quanto live action que já existiram.
Nem vou tentar aqui neste texto citar todas as produções em que Michael Reaves esteve presente ao longo daquela década pois seria loucura. Mas como alguns exemplos temos:
Blackstar,
Homem-Aranha
e seus Incríveis Amigos,
Flash
Gordon,
Pole
Position,
Centurions,
Os
Caça-Fantamas (aqueles do filme, não aqueles da Filmation),
He-Man
e os Mestres do Universo (aliás, Reaves se envolveu em quase todas as produções
do herói de Eternia, a exceção da última versão produzida pela Netflix),
As
Tartarugas Ninjas,
Superman,
E lógico nossa querida Caverna do Dragão.
Para o qual coube a Reaves escrever o lendário último episódio que acabou não sendo produzido e se tornou lenda urbana por décadas.
Sendo
que a série para o qual mais escreveu neste período (63 episódios) foi Os
Smurfs, passando longe do espectro da aventura que mais o consagrou.
Ainda
nesta área uma interessante porta se abriu para Michael Reaves quando escreveu
para as séries animadas “Ewoks” e “Droids”, pois permitiu ao escritor adentrar
no universo de Star Wars, escrevendo por exemplo o romance Darth Maul: Shadow
Hunter.
Mas
não apenas as animações usufruíram do talento de Reaves nesta época, estando
presente em alguns seriados live action
como: Capitão Power e os Soldados do Futuro, Além da Imaginação e até Jornada
nas Estrelas: A Nova Geração.
E
ainda sobrou até um tempinho em 1987 para sua estreia nos quadrinhos em “Teen
Titans Spotlight #14”, numa estória que envolvia o Asa Notuna e o Batman.
Parece
muito? Sim parece. Mas acredite, o melhor ainda estava por vir com a chegada
dos anos 1990.
Não
que tal “vírgula temporal” signifique algo para um artista que sempre produziu
tanto, e em geral com uma qualidade acima de seus contemporâneos.
E o
que Michael Reaves faria se tornaria absolutamente icônico.
Pois ao mesmo tempo em que escrevia para seriados como The Flash (sim, aquele mesmo com John Wesley Shipp) e O Jovem Hercules.
Se envolvia nas mais variadas
produções de animação como Fantasma 2040 e a série animada do Monstro do
Pântano.
E como não poderia deixar de ser, James Michael Reaves, esteve presente naquelas que
seguramente são as séries de animação para tevê mais importantes daquela
década: Batman The Animated Series e Gárgulas!
Em
Batman TAS, foi autor e coautor de 28 episódios.
Reaves ganhou um Emmy pelo roteiro de "Coração de Gelo"... |
Dentre
estes “Um Sonho Por Acaso”, que era o preferido de Kevin Conroy, o ator que
dava vida ao Morcegão, e o icônico “Coração de Gelo” que redefiniu a origem de
Mr.Freeze, tornando-o um vilão de primeiro escalão, e pelo qual Reaves, junto
com Paul Dini, Martin Pasko e Sean Catherine Derek, ganhou um Emmy.
...além de co-escrever o clássico "A Máscara do Fantasma" |
Sem
falar que junto novamente a Paul Dini, Martin Pasko e Alan Burnett, foi um dos
responsáveis por aquele que é considerado por muitos, o melhor longa-metragem
do Batman até hoje, “A Máscara do Fantasma”.
A
moral de Reaves era tão alta, que a despeito da briga interna que fez boa parte
da equipe de Batman TAS ir para Disney realizar Gárgulas, ele foi o único
roteirista que conseguiu transitar livremente entre as duas produções ao mesmo
tempo.
Reaves foi o único roteirista a ter transito livre entre as séries Batman TAS e Gárgulas |
E
sua participação em Gárgulas foi tão importante quanto na série do cavaleiro
das trevas, estando presente em cerca de 22 episódios das aventuras de Golias e
seu clã.
Dentre
estes a saga inicial de cinco partes, “Despertar”. E o famoso, e graças a pais
histéricos, “polêmico” (sim coloquei aspas aí) episódio, “Força Mortal” pelo
qual chegou a receber uma indicação ao prêmio Annie, o Oscar da animação em
terras estadunidenses.
Elisa Maza baleada - Cena do episódio Força Mortal |
Porém
com a chegada dos anos 2000, Reaves teve que lidar com um adversário
inesperado, a Doença de Parkinson. O que o levou a escrever um blog relatando
sua luta contra a doença.
Obrigando nosso herói a progressivamente se retirar da correria que eram as
produções televisivas. Ainda assim, nesta época co-escreveu com Alan Burnett o
longa-metragem de animação do Batman, “O Mistério da Mulher-Morcego”, e um
episódio para Jornada nas Estelas – New Voyages.
A trilogia "Interworld"- O último grande trabalho |
Seu último grande trabalho foi uma trilogia de livros chamada “InterWorld” escrita em conjunto com Neil Gaiman e com sua única filha, Mallory.
Deixando para todos nós não apenas um baú repleto de memórias maravilhosas, como um legado de talento e uma lição de vida de como buscar seus sonhos os tornando reais, criando um círculo virtuoso, fazendo outros tantos tornar seus próprios sonhos realidades.