Seriados
policiais fazem parte da cultura pop desde os primórdios das artes audiovisuais
nas antigas matinês dos cinemas, e que a partir dos anos 1970 ganharam imensa
força com a expansão da televisão em seriados como Kojak, SWAT e CHIP’s, cada
um a sua forma abordando a rotina (às vezes nem tão rotineira assim) do
trabalho dos agentes da lei, com formulas que pouco se modificaram nos
seguintes, talvez pela honrosa exceção de Nova York Contra o Crime.
Mas
eis no ano de 2000 o roteirista Anthony E Zuiker se uniu ao produtor Jerry
Bruckheimer (bem conhecido por filmes de ação como “A Rocha” e “ConAir”), para
o projeto que iria não apenas se tornar um dos seriados mais bem sucedidos e
longevos da história, como iria mudar toda visão de como os mesmos precisavam
ser mostrados.
Nascia
ali, CSI - Investigação Criminal!
Num
cenário televisivo que via séries líderes de audiência como Xena e Arquivo X
chegando aos seus finais, poucos seriam os que apostariam sua fichas num
seriado policial, que longe do heroísmo fácil de séries do passado, mas que
também não seria escravo do viés drama/realidade, traria para os holofotes
justamente aqueles que sempre estiveram tão nos bastidores que nem eram
lembrados na hora de se escrever um roteiro do gênero, os verdadeiros
responsáveis muitas e muitas vezes por de fato solucionar os crimes, os
cientistas forenses.
E
assim somos apresentados ao grupo comandado pelo entomologista Gilbert Grisson
(William Petersen).
E
que além do nerd low profile era composto
por Catherine Willows (Marg Helgenberg) uma biomédica que no passado tinha sido
dançarina de boate e que depois se descobre ser filha de um poderoso dono de
casino e mafioso (Scott Wilson).
Pelo
analista Nicholas Stokes (George Eads).
O
químico Warrick Brown (Gary Dourdan) um ex-viciado em jogo.
A
física Sara Sidle (Jorja Fox).
O
também químico e técnico do laboratório Gregory Sanders (Eric Szmanda).
E o
legista Dr.Albert Robbins (Robert David Hall).
Além
deles havia o capitão James Brass (Paul Guifoyle), policial da Divisão de
Homicídios que sempre acompanhava os cientistas.
Interessante
aqui, é que logo no comecinho da primeira temporada era Brass quem liderava a
equipe de peritos, mas o xerife, ao qual o departamento o CSI era subordinado,
decide substituí-lo por Grisson, quase que numa sinalização explícita dos
criadores do seriado que uma nova página começava a ser escrita ali.
Algo
que foi explorado ao máximo do possível usando como base todas as técnicas e
equipamentos que de fato são utilizados pelos peritos forenses.
Lógico
que aí é preciso se entender que vários dos processos utilizados na vida real
tem resultados que nem de longe são obtidos na velocidade que se vê na telinha,
mas considero que tanto eu, quanto você que está lendo, possamos colocar isto
no campo da “licença poética”, se é que dá para se chamar assim, e fazendo
valer o bom e velho conceito da “suspensão da descrença”.
Um
ato de ousadia dos realizadores da série? Talvez sim.
Mas
que de nada adiantaria, se além de toda a parte técnica, CSI não fosse um
seriado preocupado em equilibrar seus elementos.
Cada
um de seus personagens principais vinha trazendo toda uma “bagagem pessoal”,
como nos já citados casos de Warrick Brown e seu problema com o jogo, ou
Catherine que além de ter que criar sua filha sozinha, ao descobrir a
identidade de seu pai biológico se vê em conflito imediato com ele, por estarem
em campos extremamente opostos.
Sam Braun e Catherine - A verdade coloca os dois em lados opostos |
Outra
coisa que é preciso salientar, é que CSI sempre procurou primar por tentar dar
tons diferentes aos seus episódios, bem a exemplo, guardando-se as devidas
proporções, ao que Arquivo X fazia. Não apenas para dar equilíbrio ao longo de
cada temporada, como também não deixá-lo cair na mesmice que obras mais
recentes fazem.
E
dentro deste viés, o das tais “bagagens pessoais”, ao contrário de outras
séries que ao abordarem estes elementos criaram episódios modorrentos e chatos,
aqui em CSI foram responsáveis por alguns dos melhores momentos do seriado.
E
talvez não haja melhor exemplo para isto que o do próprio Gil Grisson, que como
já citado era um nerd de carteirinha, e capaz de em cada situação mostrar de
forma precisa cada uma das facetas de uma pessoa que podia até viver em
sociedade, mas que de forma alguma conseguia se sentir inserido nela, mas muito
longe do estereotipo jocoso pelo qual tais personalidades costumam ser
abordadas.
Oque,
aliás, foi uma tônica da série, ou seja, desmistificar estereótipos. Tendo em
Grisson a “ferramenta” perfeita para isto. Tanto quando precisava corrigir um
de seus subordinados numa situação fora do comum, como até mesmo ao mostrar o
entomologista em suas relações amorosas.
Um
capítulo a parte já que a personalidade de Grisson ao mesmo tempo em que
provocava, também parecia atrair e causar admiração. Tanto que foi capaz de ter
um caso com Lady Heather (Melinda Clarke), a proprietária de um clube de
fetiche. E por fim fazendo Sara Sidle se apaixonar por ele, numa situação que
no começo considerei uma forçada de barra gigantesca dos autores, mas que se
mostrou acertada, ao mostrar que o pivô da subtrama não era Sara, e sim o
próprio Grisson, que não se permitia viver, não só aquele tipo de
relacionamento, como vários outros aspectos de sua vida.
Grisson e Sara enfim juntos ao fim da nona temporada |
Vida
que como era de se esperar num seriado com CSI, sempre estava por um fio. Mas
que nunca teve sua fragilidade tão bem explorada quanto no episodio dirigido
pelo cineasta Quentin Tarantino, no qual Nick Stolkes é sequestrado e enterrado
vivo por Walther Gordon (o veterano John Saxon) num mirabolante plano de
vingança.
Tarantino e William Petersen durante as filmagens do episódio |
Um
episódio em duas partes, que me arrisco dizer, é a melhor coisa que Tarantino
fez até hoje. E que mesmo usando de certos clichês do diretor, foi extremamente
respeitoso ao tom geral do seriado. Só que nem por isto deixando de ter a marca
de seu diretor, que também assina o roteiro, ao trazer de volta astros do
passado.
John Saxon e sua participação no episódio dirigido por Tarantino |
Não
apenas no protagonismo de John Saxon, como nas participações especiais de Toni
Curtis, e de Frank Gorshin, o eterno Charada do seriado do Batman de 1966.
Gorshin que, aliás, faleceu dois dias antes do episódio ser exibido e para o
qual acabou sendo dedicado.
E
por falar em marcas, não há como não se lembrar da excelente abertura ao som de
“Who Are You?” do The Who.
Algo
que ficou tão simbólico, que fez até o vocalista Roger Daltrey participar do
seriado.
Roger Daltrey - O vocalista do The Who em participação no seriado. |
E
que foi expandido quando CSI passou a ser não apenas um seriado, mas sim uma
franquia, com a chegada de CSI-Miami que utilizava a faixa “Won’t Get Fooled
Again”, de CSI-Nova York que usava de “Baba O’Riley” em suas aberturas.
Formando
quase que um “universo compartilhado”, já que volta e meia, como era se esperar
acontecia algum crossover.
CSI se torna uma franquia e os crossovers acontecem |
Lógico
que por se tratar de um seriado que durou cerca de quinze temporadas, o elenco
de CSI, ou CSI-Las Vegas como ficou mais conhecido após a transformação em
franquia, foi sofrendo alterações. Seja por desgastes de relacionamento entre o
elenco, como no caso de Gary Dourdan oque acabou forçando a “morte” de Warrick
Brown, ou simplesmente pelo cansaço de se fazer o mesmo personagem por tanto
tempo como William Petersen, forçando a “aposentadoria” de Gil Grisson.
Só
que aí, mesmo colocando rostos conhecidos como Laurence Fishburne ou Ted Danson
(que também participa CSI-Cyber), a magia por assim dizer não conseguia se
repetir.
Laurence Fishburne foi o primeiro substituto de William Petersen |
Contudo,
oque foi construído por CSI, é simplesmente um marco.
Pois
se antes os cientistas forenses nem lembrados eram, hoje é impensável se fazer
um filme ou seriado policial, sem dar o devido destaque para aqueles que dos
bastidores são muitas vezes os verdadeiros responsáveis por se fazer justiça.