Final
dos anos 90, o cenário do cinema de animação nos Estados Unidos tinha se
recuperado completamente do marasmo no qual estava hibernando alguns anos
antes.
A
Time/Warner com suas séries e longas oriundos do “DCTimmverse” dominava
sobretudo o mercado de tevê e home vídeo e ainda conseguia emplacar alguns outros
acertos mais que interessantes como o maravilhoso e já resenhado aqui “Gigante
de Ferro”. A Disney sendo a Disney, fazendo seus rios de dinheiro pisando no
“terreno seguro” de se fazer versões mais facilmente assimiláveis pelo público
médio de histórias já existentes, além da parceria com o estúdio Pixar. Sem
falar na Dreamworks de Steven Spielberg.
E
de fora de tudo isto tínhamos a Fox. Uma das gigantes do cinema “live action” , que de repente, quase num estalo, se deu
conta do mercado que estava perdendo, e que
no ano 2000 resolveu, digamos, contra-atacar.
E
assim surge... Titan AE!
Com
roteiro de Ben Edlund, John August e Joss Whedon (sim, ele mesmo, o diretor de
“Vingadores”), a animação já começa, justiça seja feita, metendo o pé na porta.
Mostrando
os últimos momentos de nosso planeta durante a invasão (ou seria ação de
extermínio?) orquestrada pelos Drejs, uma raça de alienígenas feitos de
energia, que no ano de 3028 ataca a humanidade sem nenhuma razão aparente.
O Professor Tucker se despede de Cale durante o ataque Drej |
E é
durante estes momentos finais da Terra, que um cientista chamado Sam Tucker
(que na versão original tem a voz de Ron Pearlman) envia seu filho Cale para
escapar em uma das centenas de naves que tentam fugir antes do ataque final
Drej. E enquanto se afastava, o pequeno Cale vê o pai rumando para um celeiro
no meio do campo, de onde logo após de debaixo surge uma imensa nave, diferente
de todas as outras.
E
oque acontece depois disto?
Simples,
nosso planeta explode. Sim, vai pelos ares. E levando a lua junto inclusive.
Tudo isto com menos de dez minutos de animação, algo que vamos combinar, não é
nem um pouco comum em se tratando de animações estadunidenses.
Cale quinze anos depois da fim da Terra. |
Quinze
anos então se passam, e vemos oque sobrou da raça humana fragmentada em
colônias espaciais aqui e ali, enquanto era na maioria das vezes olhada de cima
para baixo por outros povos. Ou seja, os humanos aqui tinham se tornado os
alienígenas, os estrangeiros, os forasteiros.
Matt Damon faz a voz de Cale Tucker adulto. |
E
nos deparamos com Cale (aqui com a voz de Matt Damon na versão original),
trabalhando numa espécie de estação espacial, bem amargurado por pensar ter
sido abandonado pelo pai e só preocupado consigo mesmo, até que é procurado por
um antigo amigo de seu pai, o capitão Joseph Korso (na versão original tendo a
voz de Bill Pulman).
O Capitão Korso |
E
Korso conta então a Cale sobre a mítica nave que ele tinha visto sair de
debaixo da terra quando garoto, e que segundo o capitão seria a possível chave
para a salvação do que havia sobrado da humanidade.
E
que Cale teria os meios para encontrar a nave, pois possuía no anel que havia
ganho do pai uma espécie mapa que os levariam até a nave.
Os Drejs |
Algo
que Cale reluta num primeiro momento, mas nada que a aparição de uma patrulha
de Drejs não possa ajudar para uma rápida mudança de opinião.
Akima ganhou a voz de Drew Barrymore |
Indo
para a nave de Korso, onde conhece o restante de sua tripulação: a piloto Akima
Kunimoto (que na versão original ganhou a voz de Drew Barrymore), única humana
além de Korso na nave; Gune, um pequeno cientista verde que lembra uma
tartaruga; Stith, uma fêmea perita em armas que lembra uma canguru; e Preed,
que mais lembra um rato humanoide.
A Valkyria, a nave de Korso |
E
este é um ponto da animação que se não chega a ser uma novidade, mas configura
uma característica empregada em todos os outros seres da animação, como se
feito de forma proposital para acentuar ainda mais a separação dos humanos das
demais nações que habitavam o universo.
Gune... |
...Stith... |
...e Preed, o restante da tripulação de Korso. |
Algumas
situações dentro da trama até são bem previsíveis como o romance entre Cale e
Akima, mas outras são ótimas reviravoltas que estabelecem uma dinâmica muito
interessante entre os principais personagens.
O romance entre Akima e Cale - Pedra cantada desde o começo do longa |
Já li algumas críticas a esta
animação sobre a fundamentação dos personagens e suas motivações dentro da
trama, mas aqui vou me permitir fazer um comentário mais pessoal. Isto é uma
grande bobagem e tais motivações são bem claras pra quem se dá ao trabalho
mínimo de entender que todos ali procuravam sobreviver num universo quase todo
comandado pelos Drejs e sua rainha (aliás, me arrisco a dizer que há aí uma leve
influência de Galaxy Rangers).
A Rainha Drej |
Além
disto, o longa-metragem ousa bastante na mistura de animação tradicional com
animação em 3D, numa época em que esta última ainda engatinhava e sempre no
âmbito do cinema acabava (e ainda acaba) ligada a animações mais infantis. Chegando a pincelar alguns
pequenos toques de sensualidade em uma outra cena de Akima.
E nos
brindando com sequências espetaculares, não apenas na sua abertura, como em
passagens como a perseguição dos Drejs aos protagonistas no planeta de seres
alados em meio a incríveis árvores de hidrogênio.
Sequências de ação que combinavam a animação tradicional ao 3D. |
E
se há algo que talvez possa criticar nesta animação, seja a incerteza de seus
produtores, que apesar de serem muito felizes em diversas escolhas feitas, ao
que parecem em alguns momentos ficaram meio que na indecisão de qual público de
fato atingir. Fora uma certa, forçada de barra, em sua trilha sonora a fim de
parecer moderno, colocando nomes como Creed e Jamiroquai nela.
Mas
tais pontos, ao menos para este escriba, talvez sejam de fato os únicos fracos,
de um filme que na maioria do tempo de sua hora e meia de duração sabe mesclar muito bem diversas sequências
de ação espetaculares com momentos absolutamente lúdicos, e momentos de humor
que jamais tentam se sobrepor a narrativa principal.
Mostrando-nos
um caminho que infelizmente as animações estadunidenses para cinema não
seguiram, fazendo de Titan AE um raro e infelizmente subestimado exemplo do que
os norte-americanos poderiam oferecer para a arte da animação se deixassem para
trás algumas amarras.
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