Desenhos
animados tem sido ao longo das décadas a forma mais eficiente das editoras de
quadrinhos promoverem seus personagens fora de sua mídia original.
Desde
o Superman da Fleischer Studios, passando pelas animações do Homem de Ferro e
Capitão América com seus problemas de animação (risos) até o sempre lembrado
Superamigos. Mas é certo que após Batman The Animated Series um “ponto-vírgula”
havia sido colocado neste subgênero de animação.
E no
comecinho do ano 2000, numa improvável união de forças, os mutantes mais
famosos da cultura pop ganhavam uma nova roupagem...
XMen
Evolution!
Em
4 de novembro de 2000, turbinado pelo lançamento três meses antes de “XMen O
Filme”, estreava XMen Evolution. Uma visão diferente, e por vezes repaginada,
do grupo de heróis originalmente criados por Jack Kirby e Stan Lee em 1963.
Diferente
da outra versão em animação feita no começo dos anos 90 para os mutantes da
Marvel, que na medida do possível se manteve bem fiel, em especial ao traço dos
personagens, ao que se via nas HQ’s, XMen Evolution se permitiu - e as vezes
foi forçada pelo “politicamente correto” -, mudar muita coisa.
Algo
que em geral se torna sentença de morte para uma adaptação de quadrinhos, mas que
aqui funcionou.
Ok.
Mas então, o que fez XMen Evolution dar certo?
Bem,
na opinião deste escriba, uma conjunção de fatores que hoje seria impossível de
se repetir.
Para
começar, a própria produção em si, pois antes das grandes disputas
cinematográficas, XMen Evolution teve a sorte de ter como produtores Boyd
Kirkland (um dos principais diretores de Batman TAS) e Michael Wolf (produtor
de Uma Família da Pesada).
Aliás,
por falar em “Batman TAS”, Xmen Evolution foi responsável pelo retorno do
diretor Frank Paur após uma temporada que passou na Disney na qual produziu
“Gárgulas”, após divergências com Bruce Timm.
Pois
é, uma produção Marvel, mas com uma bela dose de mão de obra da Warner, que
aliás foi a distribuidora original da animação quando de sua estréia.
A
isto some um ótimo planejamento, e um objetivo traçado do qual na produção não
se desviou ao longo de suas quatro temporadas, ou seja, mostrar a evolução dos
então ainda jovens XMen.
Mas
lógico que algumas adaptações precisaram ser feitas, ou por força do escopo dos
planos, ou como disse, por força das circunstâncias, afinal estamos falando
aqui de uma animação que prioritariamente tem como alvo o público
infanto-juvenil estadunidense.
O romance entre Scott e Jean não vira triângulo amoroso em XMen Evolutionm |
Entre
as tais adaptações a mais obvia foi que o triangulo amoroso protagonizado por
Scott Summers/Ciclope, Jean Grey e James Logan/Wolverine simplesmente foi
eliminado da saga. Aliás é preciso salientar que a própria personalidade do
nosso querido Wolverine foi bastante suavizada e humanizada em vista do que se
costuma ver nos quadrinhos, o que não chegou a mudar o cerne antissocial e
solitário do “carcaju”, mas que fez muito fã mais radical torcer
o nariz.
Outro
ponto, é que fora o próprio Logan, e óbvio Magneto e o Professor Xavier, poucos
personagens principais se encontravam acima da barreira dos vinte anos, entre
estes Hank McCoy/Fera, e Ororo Munroe/Tempestade, como de acordo com a proposta
da série.
Seriado
que sem pressa foi inserindo novos elementos em sua narrativa, fazendo jus a
chamada “evolução” de seu subtítulo.
E é
fácil pensar nisto se formos nos lembrar de que a condição dos mutantes e de
suas naturezas apenas é revelada ao resto do mundo no fim da segunda temporada
durante a luta contra os robôs sentinelas.
Outro
ponto interessante, é que a Marvel nunca teve tradição em inserir novos
personagens fora dos quadrinhos, mas como na época a editora já havia vendido
os direitos sobre obras audiovisuais dos mutantes para a Fox, aqui podemos ser
agraciados com a inserção de ótimos novos personagens.
A mutação de Spyke... |
...muda toda sua importância na saga |
Como
Spyke, apresentado como sobrinho de Tempestade, e que ao longo da série tem
seus poderes transformados de forma radical, provocando uma mudança severa no
personagem, sua personalidade e até importância na trama, pois abriu a
discussão do preconceito que existia até mesmo entre a “comunidade mutante”.
E
se inserir novos personagens já não era muito a praia da Marvel fora dos
quadrinhos, o que dizer de uma personagem criada para a animação, que de tão
relevante que se tornou acabou virando canônica em sua mídia original?
X-23
nasceu em XMen Evolution dentro daquela mesma linha de pensamento de tentar
humanizar e suavizar Wolverine, numa subtrama na qual Logan descobre ter uma
filha, feita a partir de amostra de seu DNA.
Subtrama
que além de colocar X-23 no hall de um dos personagens recentes mais queridos
pelos fãs, e nos agraciar em 2017 com o ótimo live action “Logan”, abriu outra
vertente impensável nos dias de hoje. Pois como aqui estamos falando de uma era
“pré MCU”, não houve nenhuma restrição da Marvel quando os roteiristas
resolveram inserir na saga a figura de Nick Fury, o diretor da SHIELD, e que
por tabela proporcionou, ainda que na forma de flashback, a participação do Capitão América no seriado.
Steve Rogers e Logan na 2ª Guerra Mundial |
Inclusive
tendo Wolverine e X-23 destruindo a base da Hydra na quarta temporada.
Outra
coisa que fez alguns torcerem o nariz para o seriado, mas foi algo bastante
salutar, foi a mudança de visual de alguns personagens.
Em
geral tais alterações costumam ser algo
perigoso de se fazer. Mas no caso dos XMen que já haviam passado por este tipo
de revisão visual no passado nas próprias HQ's, a alteração de visuais
considerados clássicos em alguns personagens como a Feiticeira Escarlate, e
principalmente, Dente de Sabre, foram um sopro de ar fresco em visuais
carregados de décadas atrás que gritavam por uma repaginada.
E ainda é preciso destacar que mesmo após a
introdução do arco que conta a origem de En Sabah Nur, o Apocalise, nunca o
seriado descambou para arcos-espaciais como sua predecessora dos anos 1990.
Com
bastante sapiência calçando suas ações acima de tudo nas relações de seus
protagonistas/antagonistas. Tanto que ao longo de algumas situações durante a
série é possível vermos vários dos ditos vilões questionando-se de algumas de
suas ações.
E
culminando lógico na batalha final onde todos unem forças para combater
Apocalipse que tinha sob seu controle o Magneto, Mística, Tempestade e o
Professor Xavier, numa metáfora clara dos “Quatro Cavaleiros...”, bem acho que
vocês entenderam (risos).
Final
este que aqui vou me permitir dizer, é um dos mais bem feitos e
emocionantes que já vi numa produção
norte-americana com a icônica narração de Charles Xavier, enquanto as imagens
se sucedem mostrando o futuro dos personagens, em desdobramentos que algumas
pessoas até podem considerar que poderiam ser mostrados em futuras temporadas.
Mas
que justamente por isto, não extrapolaram o escopo
original desta animação que ao longo de seus 52 episódios foi quase que
perfeita em sua narrativa.
Em
um dos melhores, e infelizmente, ao que parece últimos capítulos deste tipo de
conteúdo feito diretamente para tevê.