Começo
dos anos 80. O mundo vivia sob o fantasma da guerra fria e a ameaça de um
confronto atômico, enquanto no horizonte novas ameaças como os narco-cartéis
despontavam no horizonte.
E
lógico que o cinema estava na ponta ao transpor as aventuras de agentes
especiais, ex-soldados e tropas secretas que combatiam em geral as ameaças às
terras do Tio Sam.
Mas
claro que a boa e velha literatura não poderia ficar de fora, e foi em meados
da década de 80, que aqui no Brasil, a editora Nova Cultural em associação com
a norte-americana Golden Eagle, passou a publicar e distribuir nas bancas de
jornal, uma série de livros de diferentes autores, que transpunham para o papel
o que comumente só se via os filmes.
Agentes
em geral a serviço do governo estadunidense, que combatiam desde mafiosos e
terroristas, até agentes estrangeiros em missões nunca oficiais, todos
devidamente incrementados por um apelido ou codinome.
Eram
eles:
Able Team, os Justiceiros;
Phoenix Force, os Vingadores;
Track, o Anjo;
Mack Bolan, o Executor;
E SOB’s, os Implacáveis.
Os
três primeiros por diversas razões acabaram tendo, digamos, uma carreira menos
marcante.
Mas
Mack Bolan e os SOB’s por diferentes razões se tornaram quase cults, e base
para muitas coisas que foram feitas depois.
Escrito
por Jack Hild, os SOB’s (sigla em inglês para Soldiers of Barrabás), contava as
aventuras de um grupo de mercenários, em geral contratados pelo senado
norte-americano, para resolver “pendências” onde o governo estadunidense não
poderia se envolver oficialmente.
Os
“Implacáveis” eram comandados pelo coronel Nile Barrabás. Um veterano do
Vietnã, sobre o qual pairava a lenda de ter sido o último soldado
norte-americano a deixar o país asiático, e o primeiro a se engajar numa nova
luta.
Tendo
sido também durante o conflito, que Nile adquiriu sua principal característica
física, os cabelos precocemente brancos, após ter sido atingido por um
estilhaço de granada na cabeça.
Com
uma ambientação rica em detalhes, não só dos locais onde as aventuras se
passavam como de todo o maquinário e armamento usados - aliás, características
presentes em todos os títulos publicados -, SOB’s talvez tenha boa parte de seu
êxito creditado por ser, diferente de Able Team por exemplo, o grupo mais
heterogêneo de todos.
Nele
além de Nile Barrabás, tínhamos, Emilio Lopez, um latino; Claude Hayes, um
negro; um indígena, William “Billy Dois” Starfood II; Alex “O Grego” Nanos;
Lian O’Toole; Nathaniel “Nate” Beck; e a cereja do bolo, a doutora Lee Hatton,
que a princípio seria apenas a médica do grupo, mas que por várias vezes
participava das ações junto com a equipe.
Isto
porque, apesar de cada membro dos SOB’s ter sua área de especialização, como
demolição submarina, sniper, eletrônica, entre outras habilidades. Todos faziam
questão de compartilhar seus conhecimentos com os companheiros, por saber que
isto poderia salvar a vida de todos numa missão.
Tendo
sua base de operações na ilha particular da família da doutora Hatton.
E
ainda que de vida curta, outra coisa que ajudou no êxito de SOB’s talvez tenha
sido que todos os seu 33 volumes são sequenciais, formando uma única longa saga
para os Soldados de Barrabás, que muita vezes enfrentavam bandidos e tiranos
por conta própria, em outro escopo, que na opinião deste escriba, ajudou na sua
popularização pois ajudava a desvincular a figura dos mercenários da sombra do
governo estadunidense.
Os Mercenários - A franquia hoje é oque mais se aproxima de SOB's |
Algo
comum de se ver no cinema até meados dos anos 90, mas que hoje em dia só
encontra proximidade com a franquia de “Mercenários”, protagonizada por
Sylvester Stallone.
Apesar do fãs e êxito comercial, Jack Hild era um pseudônimo, e a real identidade do autor de SOB’s permanece um segredo para o grande público.
Agora
no outro extremo, temos o agente criado por Don Pendleton, ainda no finalzinho
dos anos 60.
Mack
Bolan, “O Executor”, também era um veterano do Vietnã (pois é, acho que não
dava muito pra fugir deste lugar comum naquela época). Que em geral trabalhava
diretamente para a CIA, e entrou nisto após sua família ter sido assassinada
pela máfia.
História
familiar? Então...
O Justiceiro (The Punisher) - Inspiração vinda de Mack Bolan |
Bolan
teria sido a maior fonte de inspiração para Gerry Conway criar o Justiceiro
(Punisher) na Marvel, e cá entre nós, creio eu que sua premissa tenha sido
inspiração para outros tantos personagens, incluso aí, Paul Kersey, o vigilante
imortalizado por Charles Bronson na franquia Desejo de Matar.
Mas
diferente de Frank Castle ou Paul Kersey, as “obrigações contratuais” de Bolan,
o levaram a ser desde “babá” de membros refugiados do então deposto governo
iraniano até incursionar pelo Afeganistão durante a invasão soviética.
Don Pendleton - o criador de Bolan |
Contudo,
nem sempre Mack agia como um “lobo solitário”, e ainda que os títulos
possuíssem cada, um autor diferente, por vezes aconteciam crossovers entre Mack Bolan, Able Team e a Phoenix Force. Todos
tendo como elemento de ligação a figura de Hal Brognola, um funcionário da
agencia, um contumaz consumidor de pastilhas antiácidas.
E
quando o Executor, os Justiceiros e os Vingadores se reuniam, eles passavam a ser
os Stony Men.
Abble Team, Mack Bolan e a Phoenix Force |
Nestes
casos, Don Pendleton, escrevia a história em parceria com o autor dos outros
personagens, estabelecendo praticamente um “universo compartilhado”.
Em
2014 a Warner comprou os direitos sobre Mack Bolan, chegando a anunciar que
gostariam de ter Bradley Cooper fazendo o papel, mas desde então nada mais foi
divulgado.
Estes
eram títulos que dividiam as prateleiras das bancas de jornal, em livros de
bolso de baixo custo. Uma literatura que muitos podem até considerar de
“segunda linha”, mas que a bem da verdade, foi responsável por difundir o
habito da leitura numa geração que comumente só se deparava com algo do gênero nas
telas dos cinemas, ganhando de forma merecida seu status de cult.