sábado, 6 de outubro de 2018

Trovão Azul


            A partir do fim da Segunda Guerra Mundial, após muitos tipos de revés, enfim o helicóptero tinha deixado de ser uma mera utopia na mente de projetistas para se tornar uma máquina versátil e indispensável tanto nos teatros de operações bélicas como em ações civis.
      E lógico que o cinema não poderia deixar de explorar tal invenção, porém, sua ação apesar de várias vezes constante, nunca havia colocado o aparelho de asas rotatórias como protagonista de uma produção audiovisual, talvez com a honrosa exceção da já citada aqui certa vez, cena do ataque de “Apocalipse Now”.
            Mas isto foi até 1983 e a chegada de... Trovão Azul!



           As perseguições com carros já não eram mais nenhuma novidade no cinema havia décadas, e nos anos 1970 pareciam ter atingido seu ápice com filmes como “Bullit” ou o engraçado “Agarra-me Se Puderes”, e foi então com a proposta inicial de levar para os céus as perseguições que comumente aconteciam nas ruas e estradas das cidades que ainda em 1982 começou a produção do filme que quase sem querer mudaria a história de uma pequena parte do cinema de ação e aventura.




     Escrito por Dan O’Bannon (roteirista de Alien o 8º Passageiro), Don Jakoby (roteirista de Desejo de Matar 3) e Chuck Reisner Jr. (roteirista do primeiro filme de Dirty Harry, Perseguidor Implacável), Trovão Azul começa a se distinguir das demais produções da época, não apenas por sua “aeronave protagonista”, mas também por mostrar pela primeira vez o trabalho da divisão aérea da polícia e por mostrar uma trama bem mais  “recheada” de elementos que a maioria dos filmes policiais da época.

O diretor John Badham instrui Roy Scheider durante as filmagens

     Dirigido por John Badham (Os Embalos de Sábado a Noite / Drácula), e tendo como protagonista Roy Scheider (Tubarão / Operação França), o filme pegava gancho na vindoura à época Olimpíada de Los Angeles, evento que obviamente pedia um “reforço” em termos de segurança para cidade.

Murphy (Roy Scheider) começa a aprender sobre os sistemas do Trovão Azul.

        E como o projeto do Trovão Azul (apelido que ganhou entre os policiais do filme) era essencialmente algo policial, um dos agentes desta divisão é então escolhido para ser o piloto oficial do helicóptero.

Longe do esteriótipo de herói, Murphy algumas vezes parecia viver no limite de seus nervos.

      O interessante é ver que o escolhido, Frank Murphy (Scheider) possuía uma personalidade e vida que passavam muito longe do estereótipo do herói galã perfeito, quase (guardando as devidas proporções) uma espécie de prequel do John McClane que Bruce Willis imortalizaria cinco anos depois em Duro de Matar. 

O coronel Cochrane (Malcom McDowell) - Parte das piores lembranças de Murphy sobre a guerra.

Um sujeito que vivia uma relação pra lá de complicada com a companheira (Candy Clark), que testava sua noção de espaço-tempo com um relógio de pulso a toda hora, e nutria traumas da época da Guerra do Vietnã que viriam à tona de forma inesperada, quando é apresentado ao piloto que lhe instruiria na condução do novo helicóptero, o coronel Cochrane (Malcom McDowell, fazendo jus a sua fama de ser um dos melhores atores para vilões do cinema).



Inclusive reza a lenda urbana que a primeira versão apresentada do roteiro mostraria Murphy literalmente surtando, mas como tal visão foi considerada muito pessimista, lógico, acabou sofrendo aquelas conhecidas adaptações, mas que neste caso em nada comprometeram o cerne do personagem.

Murphy (Scheider) e Lymangood (Daniel Stern)

Mas se estes fossem todos os problemas de Murphy tudo estaria bem. Contudo, durante um voo noturno com o Trovão Azul com seu novo parceiro e observador Lymangood (Daniel Stern), ao experimentar os sistemas de microfones do helicóptero acabam esbarrando e gravando uma conversa de agentes e membros de alto escalão do governo que queriam dar a aeronave uma utilização um pouco diferente da originalmente pensada.
Só que a coisa só piora, pois descobertos, os dois policiais passam a ser perseguidos, oque acaba culminando com a morte de Lymangood, só restando a Murphy trazer seus perseguidores para frente dos holofotes da mídia.

Perseguido, Murphy "pega emprestado" o Trovão Azul.

E qual a melhor maneira de fazer isto se não “pegando emprestado” o Trovão Azul?
Oque dá início a longa e sensacional sequência final do filme, e que deu um trabalho danado para produção e para o diretor John Badham.



           Por que?
Bem, para que o Trovão Azul parecesse algo de fato único e não um helicóptero conhecido, a Columbia Pictures comprou dois helicópteros Aerospatiale Gazelle AS-341G, e estas duas aeronaves foram enviadas para então Hughes Aircraft (hoje em dia propriedade da Boeing), onde foram severamente modificados, ficando com a aparência que conhecemos.

O Gazelle - O helicóptero que foi a base para o Trovão Azul

O problema é que tais modificações deixaram os helicópteros tão pesados, que várias das cenas escritas no roteiro tiveram de ser repensadas para sua execução, numa época que nem se sonhava com efeitos de CGI atuais, com o uso de miniaturas rádio controladas e truques de câmera, em especial a cena em que o Trovão Azul dá um looping completo, coisa que na época apenas o Westland Lynx e o AH-64 Apache faziam na vida real, oque gerou uma indicação ao Oscar de melhor montagem no ano seguinte.

Modelos radio controlados foram usados durante as filmagens.

Na época, ainda que não tenha sido um fracasso, afinal só em território estadunidense arrecadou quase o dobro do valor de sua produção, acabou ficando um pouco aquém do que o estúdio planejava. Ainda assim foi capaz de gerar um seriado de tevê, que durou apenas uma temporada com onze episódios. E acabou se tornando um dos percussores do fenômeno do videocassete na época, se tornando um sucesso maior no mercado de “home vídeo” do que no cinema.



Em 2015 a Sony chegou a anunciar que faria um remake do filme, com roteiro de Craig Kyle (Thor:Ragnarok), que também seria produtor executivo, e que se manteria fiel a ideia original do roteiro de O’Bannon, contudo, nada mais foi comentado após isto até hoje.


Porém, a ideia primária de Trovão Azul acabou se incorporando em definitivo ao cinema de ação e aventura, tornando as perseguições com helicópteros, algo que passou a ser usado em vários outros filmes como “Rambo 2” e no mais recente “Mercenários 3”, fazendo a aventura dirigida por John Badham ganhar o status de cult que merecidamente possui hoje.














      



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