Após
anos de uma das mais conturbadas, adiadas, e ironicamente lentas produções da
história do cinema, chegou aos cinemas “The Flash”, o filme do velocista
escarlate de DC Comics, dirigido pelo argentino radicado em terras de Tio Sam,
Andy Muschieti.
Bem,
acredito que você que está lendo agora deva conhecer ainda que parcialmente
todo o calvário pelo qual a maioria das produções cinematográficas com
personagens da DC Comics vem passando ao longo dos últimos anos, com as
honrosas exceções do primeiro filme da Mulher Maravilha que ganhou resenha aqui
no blog, e do filme do Aquaman que ganhou resenha em nosso canal no Youtube.
Só
que este universo, hora regido por mentes com pouca circulação sanguínea no
cérebro devido possivelmente extensivo uso de gravata, hora regido pela mente
de um sujeito, que me recuso a citar o nome, mas que foi capaz de criar um
Superman sem coração e burro, e um Batman que planeja um assassinato e também é
extremamente burro, apenas para conversar com parcelas de público que vibram na
mesma frequência destas representações, teve o fim já sabido...o naufrágio.
Contudo,
ainda se esperava com certa ansiedade aquele que pode ser considerado o último
sopro de vida deste universo (não vou colocar o vindouro segundo filme do
Aquaman nesta conta).
Bem,
para não me alongar demais, acabando assim saindo do título deste artigo, vou
tentar ser o mais conciso possível.
“The
Flash” é bom?
É o
que você que está lendo deve estar se perguntando, não é?
E
eu digo que...SIM!
Porém,
não passa desta classificação, ou seja, bom. Mas por que?
Bem,
a despeito de todos os atrasos e mudanças que sofreu, “The Flash” não deixa de
ser em síntese uma adaptação livre da famosa Hq “Ponto de Ignição” (“Flashpoint
no original). Na qual Barry Allen tentando evitar a morte da mãe e consequente
prisão do pai, volta no tempo, e com isto faz uma bagunça do tamanho da que
existe nas mentes de alguns fãs mais recentes de quadrinhos.
Só
que a tarefa deste filme era um tanto mais complicada que a do seu personagem
título.
Ezra Miller e o diretor Andy Muschietti |
E
entre estas tarefas estava a de tentar apagar a péssima impressão do Barry
Allen vivido de forma grotesca e excessivamente caricata por Ezra Miller.
Contudo,
em seus cinquenta minutos iniciais o que vemos é exatamente a ratificação de
uma das mais irritantes adaptações que um personagem nascido em outra
mídia teve no cinema.
Ainda
mais quando para tentar deixar o “Barry principal” mais “sério”, recorrem ao
pior recurso que se poderia pensar, sua versão mais nova, mais idiotizada
ainda.
E a
tortura com tentativas de humor horrivelmente escritas e horrorosamente
interpretadas se arrasta, até que entram em cena o plus que este filme prometeu.... O Batman de Michael Keaton!
Quero
deixar aqui registrado que jamais, gostei dos filmes do Batman dirigidos por
Tim Burton, isto por uma série de razões que não vou ficar citando aqui, mas de
forma alguma joguei este ônus em cima das costas Keaton em momento algum.
Mas
aqui enfim, temos a oportunidade de assistir o Batman de 1989 fazendo tudo e um
pouco mais que não conseguiu fazer em seus filmes, e sendo o que o Batman de
Ben Affleck nunca foi nem por um frame sequer,
inteligente e altruísta.
Aliás
a participação de Affleck no filme além de alguns momentos constrangedores,
inclusive junto com a Mulher Maravilha de Gal Gadot, é o retrato absoluto da
tristeza.
Mas
voltando ao que interessa, o Batman de Keaton, recluso em sua versão da mansão
Wayne, após uma motivação citada por Barry (motivação extremamente bem
encaixada no roteiro por sinal) decide voltar a ação e ajudar o velocista na
procura pelo Superman daquela realidade, já que o General Zod havia ressurgido
com todo seu grupo.
E
aqui eu preciso salientar como a segunda parte de “The Flash” parece ser um
outro filme. Algo totalmente diferente.
E
aí se dá a parte mais “Flashpoint” do filme quando eles invadem uma instalação
militar russa, e lá encontram, não o Kal-El, mas sim sua prima Kara Zor-El
(Sascha Calle, surpreendente), fraca e debilitada por anos de confinamento.
Uma
adaptação que um ou outro pode até torcer o nariz, mas que funcionou de forma
espetacular.
E
temos então finalmente (desculpe, estou repetitivo, mas é inevitável usar este
tipo de expressão aqui), vemos um Barry Allen heroico e ágil, não apenas nas
pernas, mas também em raciocínio.
Ah
sim! E eu até esqueci de citar que nosso ‘’Barry principal” acaba perdendo os
poderes por causa de mais um ato de abobação, tentando de forma desesperada
recupera-los depois, em mais uma situação que escancara o quanto as duas
metades deste filme são distintas entre si.
Sendo
salvo justamente pela Supergirl, que de começo se mostrava desconfiada e relutante, mas ao testemunhar o sacrifício de Barry toma a decisão de também
agir.
O
que temos na sequencia então é uma baita batalha entre as forças do General Zod
contra os dois Flash, a Supergirl e Batman.
Até
o grande desfecho, que não se dá com nenhuma cena espetaculosa, mas com um
roteiro de diálogos precisos, quando Barry se defronta com seu pior inimigo, eles mesmo, além de vários ganchos de saudosismo quando as mais
diversas realidades criadas ao longo das décadas com personagens da DC Comics
vão surgindo a nossa frente.
Para
encerramos com o que chamo de desfecho em dois estágios.
O primeiro
tocante e reflexivo. E o segundo maravilhosamente escalafobético, engraçado e
surpreendente quando surge um “novo” Bruce Wayne, mas que só acontece por um pequeno
detalhe que nosso amigo Barry muda para salvar seu pai da cadeia.
George Clooney em sua participação especial em "The Flash" |
Como
resultado final, para alguém que não alimentava a menor esperança sobre a aventura do velocista escarlate, devo dizer que “The Flash” é um bom filme.
Que patina, e muito, na sua primeira metade, mas que consegue virar a chave, ainda
que meio tardiamente, nos servindo uma aventura com coração legítimo, ainda que
aquém do que de fato poderia ter sido desde seu começo.
E que em meio a uma avalanche de filmes do gênero pautados pela mais pura
banalidade, consegue sim, nos presentear com alguns momentos diferenciados, e
que não farão você sair do cinema apenas pensando que o tempo passou muito rápido.