Com
a boa aceitação da nova versão da Patrulha Estelar, apesar de nem todas as
mudanças em relação à obra original terem sido assim tão felizes, era obvio que
seus realizadores não perderiam muito tempo.
E em
25 de fevereiro de 2017 chegava aos cinemas nipônicos o primeiro dos sete
longas metragens que tinham como pretensão recontar a saga do que tornou
Patrulha Estelar um ícone da cultura pop mundial.
Space
Battleship Yamato 2202!
E
se resenhar Yamato 2199 já não foi uma tarefa das mais fáceis, resenhar a nova
versão para a saga do “O Cometa Império” é com certeza mais difícil ainda.
O
que em tese não seria para ser, já que aqui ao contrário de 2199, que ainda
guardava alguma similitude com a saga original de “Busca Por Iscandar”, pouca
coisa sobrou de “O Cometa Império” que conhecemos, se tornando quase que uma
“obra original”.
O
porquê disto?
Bem,
primeiro vamos à estória.
Depois
da guerra de anos, terráqueos e gamilons passaram a coexistir em paz cooperando
entre si.
Porém,
esta paz só existia mesmo entre os dois povos.
Pois
logo de cara, somos bombardeados pela guerra que já estava sendo travada entre
os gatlantis , o nome criado para o povo do Cometa Império e que aqui se
reproduz por clonagem, e as forças unidas da Terra e Gamilon.
À
primeira vista, assim como algumas tramas de 2199, isto parece algo incrível,
até porque a guerra entra gamilons e gatlantis já tinha sido mostrada de forma
rápida na primeira saga, demonstrando certo grau de planejamento.
Contudo,
oque se vê aqui é mais uma vez a tentativa dos realizadores desta nova Patrulha
Estelar em manter uma relação de proximidade com uma parcela mais nova do
público, desconsiderando aquilo que de fato tornou a saga do Yamato algo
diferenciado.
Pois
todo clima de mistério que envolvia aquele novo inimigo desaparece aqui. Toda a
trama de como o Cometa Império cria o caos no planeta cortando o suprimento de
energia aqui só surge num lampejo lá no final da série.
Mas
calma. Isto é só o começo de uma saga que prima por dois pontos básicos, o
exagero e a filosofia forçada. E que de quebra ainda resolveu criar um amálgama
entre as duas versões de “O Cometa Império”, a do longa-metragem “Adeus Yamato”
e a segunda série de tevê que fez o retcon
da estória.
Aqui
no blog já resenhei algumas obras que pela quantidade de detalhes que cercam
sua produção ou curiosidades, me deram bastante trabalho para concluir o texto
sem cair para o didatismo que sempre procuro evitar, mas confesso que no caso
de “Yamato 2202” esta tarefa se complica e muito devido ao verdadeiro
“sarapatel de caroço” que fizeram com o roteiro.
E
principalmente por não conseguir saber ao certo em alguns casos se as decisões
de roteiro tomadas de fato faziam parte de um plano traçado ou em alguns casos
foram apenas tentativas de consertar os erros cometidos em “2199”.
No
que diz respeito aos protagonistas pouca coisa mudou em relação à série
anterior.
Como
no caso de Derek Wildstar/Sussumu Kodai que permanece sendo apenas um oficial,
não assumindo o comando do Yamato que acaba indo parar mesmo nas mãos de
Gideon/Hijikata, assim que este é resgatado junto com os Fuzileiros Espaciais,
mas que pelo, menos não mais está tutelando Lola/Yuki.
Oque
não significa que a namorada de Derek tenha deixado de ser nesta nova versão, a
forma de vida mais sem sentido do cosmos.
E a
Andrômeda? Esta acaba nas mãos de Yamanani. Sim ele mesmo, que na saga original
tinha assumido o comando do Yamato no longa-metragem “Para Sempre Yamato”, e
que aqui protagoniza um dos pontos mais baixos desta nova versão.
Na
série de tevê clássica do “Cometa Império” um dos momentos que ficaram mais
marcados na memória de cada admirador da saga foi o embate, sem um único
disparo entre o Yamato e a Andrômeda, e seus capitães. Numa relação conflituosa
que com extremo esmero foi costurada desde os primeiros capítulos até culminar
num confronto absolutamente tenso, contado sem o disparo de uma única arma.
Porém,
repetindo os mesmos equívocos (talvez até um pouco mais) de “2199”, não é que
forçaram a barra para que as duas naves se digladiassem, numa cena que apesar
das “pirotecnias”, nem de longe replica o mesmo nível de tensão do original no
seu “durante” e muito menos de encanto em seu “depois”.
Escancarando
a maior falha de um roteiro confuso, cheio de idas e vindas, para justificar
ações de alguns personagens, que podem parecer à primeira vista algo correto
(roteiristicamente falando), mas que no “frigir dos ovos” não impactam em nada
para a trama como um todo, apenas, como disse na minha resenha sobre “2199”
para tentar sem sucesso replicar o argumento humanizado de Leiji Matsumoto.
Exemplos?
Temos
o caso do líder dos Tigres Negros, Kato. Que num vem e vai sem precedentes,
sabota o Yamato sob a justificativa de conseguir a cura para doença do filho,
usando uma ferramenta que já tinha sido usada para sabotar a nave pelo tenente
gamilon Keyman.
E
Keyman que por sua vez também já tinha passado por situação semelhante em ter
de fazer escolhas. Que, aliás, acabamos por descobrir depois ter ligações bem
próximas a Deslock.
Aliás,
esta é mais uma característica repetitiva desta nova versão de “O Cometa
Império”, que às vezes mais parece uma sessão de terapia, tamanha a quantidade
de neuroses a se resolver em diversos personagens, novamente como eu disse,
tentando com isto replicar o toque de humanização que os roteiros de Leiji
Matsumoto tinham.
E
que dá a impressão que tenta usar de Trilena, aqui numa versão mais próxima a do longa
“Adeus Yamato”, como uma espécie de terapeuta de grupo, em especial para Deslock.
Tá
bem. É lógico que tudo isto pode ser considerado dentro do escopo do roteiro, e
a busca pelo que seria o “amor”. Mas aí caímos na tal filosofia forçada que
citei alguns parágrafos acima, criando várias “barrigas” no roteiro que em nada
contribuem de fato para o desenrolar da coisa toda.
E
quando isto acontece o que é necessário fazer?
Preencher
o vazio destas “barrigas” com espetaculares batalhas espaciais. O problema é
que aí somos bombardeados pelo exagero que citei. Algo que não vou ficar aqui
entrando em minúcias, mas só para citar um caso, há um momento em que para
criar uma “superarma”, 2.500 naves gatlantis se unem.
Sim,
você não leu errado... 2.500!
Então
como a Terra e Gamilon poderiam lidar com tal poderio bélico?
Simples,
com o mais malandro e sem-vergonha recurso que já vi numa obra do gênero. Um
lapso temporal no centro de nosso planeta, que somos apresentados logo no
começo deste remake, e que serviu de
desculpa para que naves e mais naves pudessem ser “vomitadas” na nossa frente.
Sem
falar no descomunal tamanho do Cometa Império, tão grande que pode esquecer
aquela clássica cena de seu pouso na baía de Tóquio, e num formato que mais
parece a gaiola do Piu-Piu (sim, aquele mesmo do Frajola) do que um cometa.
Mas
tudo é assim tão ruim e confuso? Você deve estar se perguntando.
Bem,
na humilde opinião deste escriba, se há um ponto positivo nesta nova versão é o
destaque que alguns personagens antigos têm nela, em especial nosso querido
sargento Knox/Saito dos Fuzileiros Espaciais, que aqui inclusive sai no braço
com o comandante da unidade de tanques dos gatlantis, num embate que consegue
ser melhor que a maioria das cenas de batalhas espaciais que vemos.
Ou
no caso da filha (neta da dublagem clássica brasileira) do comandante Todo, que
originalmente só aparece em “A Crise do Sol”, e que aqui comanda uma nova nave,
a Ginga. Uma nave que seria de uma nova classe baseada no Yamato. Pessoalmente
não gostei muito da ideia visual da Ginga, mas é nela e sua tripulação que
temos aparentemente alguns possíveis spoilers
do que poderá vir na próxima série destes remakes.
O
que não quer dizer que todos estes destaques tenham sido assim tão felizes como,
por exemplo, Toko Katsuragi, que seria nossa conhecida Ivídia, a irmã de Zordar,
que passa a ser uma mera espiã, nos privando inclusive da trama na qual ela
planeja trair o líder do Cometa Império com a ajuda do general Dier. Uma trama
fundamental, pois na versão original é um dos pontos que criam a “virada” para
Deslock, que ali começa a se questionar com que tipo de criaturas tinha se
aliado apenas para se vingar da tripulação do Yamato.
Não
sou nenhum purista, que exige que tudo numa nova versão tenha que ocorrer
exatamente igual à obra original, até porque isto tiraria toda a graça de se
assistir. Mas há coisas em obras como Patrulha Estelar que não podem ser
mexidas de forma alguma, pois alteram o cerne dos personagens, e fazem suas
trajetórias na saga ser apenas um ponto a mais quando na verdade deveriam ser
seu alicerce.
Acredito
que, por um prisma bem pessoal, um dos maiores problemas para se recontar a
saga do Yamato resida na questão de direitos autorais.
Nós
sabemos que depois de uma guerra judicial de anos o falecido produtor Yoshinobu
Nishizaki havia ganhado os direitos sobre a saga e seus personagens. Mas e os
roteiros? Sim, os roteiros!
Não
quero ficar aqui divagando e especulando demais sobre tais assuntos, até porque
não é o foco deste blog, mas é impossível não deixar de pensar que tudo que foi
mexido em “2199”, e principalmente aqui em “2202” simplesmente tenha a ver com
a tentativa de não pagamento de direitos autorais para Leiji Matsumoto.
E
agora ao terminar mais este texto, fico me indagando o que veremos na já
anunciada continuação que atenderá pelo título de “2205”.
Sejam
estas escolhas quais forem que seus realizadores possam olhar para trás, e
focar naquilo que tornou a saga do Yamato uma das obras mais relevantes da
ficção científica de todos os tempos.
E que com certeza vai muito além de meras batalhas espaciais.
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