“A Estátua
da Liberdade foi há muito tempo.”
O que esperar de um filme rotulado
como de super-heróis?
Sempre esperei uma boa estória cujo
fantástico e imponderável sirva apenas de pano de fundo para não apenas
entreter, mas pensando numa audiência ainda jovem ao menos tentar promover
alguma forma de edificação.
Então, se você está atrás apenas de
um filme cheio de correria, tiroteio e um leve sopro de roteiro, com atuações
caricatas e uma direção que só se preocupe com o tal do “service”, tenho que dizer que este não é caso aqui.
Contudo, se procura um filme denso,
que como poucos colocou em debate as relações humanas, então pode ter certeza “Logan”
é o filme. Sim, relações humanas, pois acima de tudo é sobre isso que este
filme versa.
O como cuidamos de quem gostamos, o
quanto que oque consideramos correto é de fato certo, e o quanto nos cuidamos
pra aqueles que gostamos.
E é com esta proposta que o mundo foi
apresentado ao último filme em que o australiano Hugh Jackman encarnou o mítico
James Logan, o Wolverine. Aqui numa versão cansada e cujos poderes volte e meia
falham.
Repetindo a parceria com o diretor
James Mangold (Copland/ Ford vs Ferrari), que já havia dirigido o filme solo
anterior do personagem, Wolverine Imortal.
E nisso talvez nenhum outro filme
dito de “super-herói” tenha sido tão feliz, pois mesmos entre os filmes ditos
“sérios” foram pouquíssimos aqueles que conseguiram abordar de modo cru e ao
mesmo tempo lúdico oque é mostrado aqui, algo que se mostra latente logo na
primeira cena entre Logan e Charles Xavier.
Uma cena magistral na qual Patrick
Stewart simplesmente oblitera o protagonista Hugh Jackman, ao nos apresentar um
Professor Charles Xavier frágil e debilitado por uma doença degenerativa
cerebral (não explicada no roteiro) e que se culpa por eventos do passado dos
quais teria sido o responsável.
Uma representação tão perfeita de
como pessoas nestas condições se comportam, chegando inclusive a perder algumas
“travas sociais/morais” que para a maioria esmagadora do público médio a cena
acaba por provocar risos de forma absolutamente equivocada.
E se de um lado temos esta atuação
pautada numa absoluta e incrível sutileza, por outro somos brindados pela pura
energia que é Daphne Keen e sua Laura/ X-23.
Natural e visceral na medida certa, a
menina que aqui faz sua estreia nos cinemas acaba por roubar várias das cenas
que atua numa representação bem diferente do que habitualmente o público se
acostumou a ver nas HQ’s com a personagem nascida na animação “X-Men Evolution”,
mas que sem dúvida é a que de fato se encaixa na proposta do filme.
O diretor James Mangold orienta Daphne e Hugh durante as filmagens |
Numa decisão acertadíssima do diretor
James Mangold, que com absoluta sapiência se afastou totalmente do estereótipo
da heroína adolescente sexy. E que ainda de sobra consegue uma interessante
mistura de “western” e “roadie-movie”, nesta despedida de Hugh Jackman de
Wolverine, em parte bancada pelo próprio ator que aceitou ter seu cachê
reduzido para bancar o plano de um filme denso e pesado que os executivos do
estúdio duvidavam do êxito.
Agora na parte da ação em si por
incrível que pareça é que residem os pouquíssimos pontos fracos de “Logan”,
pois algumas das ações que ocorrem, podem facilmente ser antecipadas por um
espectador um pouco mais atento através de ganchos explícitos no decorrer do
filme que em momento algum nos surpreende.
Momento algum? Não espera.
Existe sim tal momento, mas mesmo
nele há uma derrapada de leve ao usarem de um clichê mais do que conhecido, mas
que lógico não compromete nem um pouco um filme cujo foco passa longe de pirotecnias
de embates com personagens sobre um fundo de CGI colocado no pós-produção.
E ainda vale ressaltar o problema que
norteia muitos dos filmes com personagens da Marvel, ou seja, a falta de um
antagonista a altura do herói do filme, algo que no meu entender se resolveria
muito facilmente com a inserção do Dente de Sabre, que facilmente caberia
dentro do contexto. Já que Donald Pierce (Boyd Holbrook) e os Carniceiros não
parecem serem uma grande ameaça na maioria das vezes.
Quanto a outros mutantes conhecidos,
praticamente não os temos, sendo tal tipo de presença limitada ao Caliban
vivido por Stephen Merchant, um ator mais conhecido por comédias, mas que aqui
compõe talvez o mais desesperançoso personagem do filme.
Alguns mais afoitos na época do
lançamento chegaram a bradar este se tratar do melhor filme do gênero já feito,
mas na opinião deste escriba, pelos motivos apresentados, tal título ainda
pertence a Batman O Cavaleiro das Trevas.
Entretanto, “Logan” com suas
reflexões costuradas ao longo de toda sua narrativa, as atuações primorosas de
seus protagonistas que passam longe das caricaturas de personagens de HQ, nos
fazendo nos importar e nos envolver com seus problemas que ao fim percebemos
são os mesmos que os nossos, é um verdadeiro tapa na cara com luva de adamantium em alguns “salvadores da
pátria” que pensam que suas ideias são equivalentes à descoberta da pólvora.
Um filme pesado é o que alguns dizem? Talvez.
Mas que nos faz sentir absolutamente
leves ao terminar de assisti-lo, como numa espécie de reconexão com algo que
mesmo sem perceber havíamos até esquecido que existia.
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Excelente percepção José, não assisti ao filme, apenas li comentários sobre ele.
ResponderExcluirVou resolver isso provávelmente hj.
Obrigada pelo texto!!
Eu que agradeço Solange
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