segunda-feira, 9 de abril de 2018

Os Novos Thundercats


Você que acompanha o Ponte de Comando sabe o quanto tenho admiração pela arte do cinema de animação. Arte que durante muitos anos viu suas produções feitas para tevê, em especial após o fim do chamado “DC Timmverse”, decaírem numa descendente lamentável, com produções de cunho cada vez mais infantil (aqui no sentido pejorativo mesmo), apostando em soluções esporrentas de última hora para satisfazer plateias já “viciadas” em cacoetes narrativos.
Mas eis que num certo dia de 2012 fui tomado de assalto por algo que jamais poderia imaginar. Um remake, uma releitura de um seriado que jamais havia figurado entre meus preferidos justamente por conter alguns dos elementos que critiquei no parágrafo acima, e que simplesmente é uma das obras mais bem produzidas e escritas que já tive o prazer de assistir na tevê.



Os Novos Thundercats!
Produzido pela Warner Bros Animation, com suas células de animação a cargo do estúdio japonês Studio 4ºC, esta nova versão sobre a história dos “gatos do trovão” estreou na tevê norte-americana em 29 de julho de 2011.
Mas o que Os Novos Thundercats tem de tão especial?
Numa resposta simples eu diria: TUDO!


Os Thundercats 2011 - Novas perspectivas sobre os "Gatos do Trovão"

Para começar temos a sapiência de seus realizadores, que adotaram o esquema preconizado lá nos anos 1970 por Patrulha Estelar de se contar a saga como uma novela, ainda que aqui cada episódio em geral consiga se fechar em torno de si. Isto possibilitou que sua mitologia pudesse ser mostrada aos poucos, e não jogada em cima do espectador como no original, quando eram bombardeados nos três primeiros episódios por um mundo (ainda que não muito vasto) de informações para depois cair num imenso marasmo do velho esquema “vilão faz plano, herói vence vilão”.
Esquema, aliás, que aqui passa muito longe.



Com uma abordagem bem mais madura, a animação mostra a saga de Lion-O, o senhor dos Thundercats, e de seus aliados de uma forma que poucas animações para tevê tiveram a coragem de fazer.
Ampliando a mitologia da saga, num Terceiro Mundo no qual Thundera, o Reino dos Gatos, era a mais poderosa de várias nações de “animais”, e vivia em guerra contra os lagartos que escravizavam quando eram feitos prisioneiros.

O Rei Claudius e Jagar antes da queda de Thundera

Com todos seus personagens possuindo suas personalidades muito bem desenvolvidas, passam longe do arquétipo juvenil cartunescos da obra original, sendo mostrados como seres falhos e cheios de conflitos, como no caso de Lion-O e Tygra que aqui são filhos do Rei Claudius e que vivem entre si uma disputa pessoal, não só de egos, mas que passa para outro tipo de viés quando Cheetarah entra em cena.

Tygra e Lyon-O - Irmãos e rivais


E com o "fator Cheetarah" tudo fica mais complicado





E falando em irmãos, Willykit e Willykat são dois moradores de rua que para sobreviver além fazerem truques circenses, comentem pequenos furtos. Mas permanecem cumprindo sua função, aqui de fato necessária, de representar um lado mais leve da trama.

Willykit e Willykat - Origem nas ruas.

Assim como Snarf, o mascote de Lion-O, que naquela que talvez seja a decisão mais acertada deste remake.... NÃO FALA! Não sendo mais aquele arremedo de “Grilo Falante” que tínhamos nos anos 80, até porque aqui Lion-O ainda que jovem e idealista, nem de longe precisa deste tipo de auxílio. Que nos poucos momentos em que ocorrem vem na forma do espírito de Jagar, o guerreiro ancião, mas que aqui não fica surgindo a toda hora como se fosse um Obi Wan Kenobi genérico.



E óbvio, Panthro, que aqui é um general, dado como desaparecido no começo do desenho, e que veríamos ter sido traído por Grune, um antigo amigo que se une aos lagartos do general Escamoso ao ser corrompido por Mumm-Ra.

Chacal tem um encontro imediato do pior grau com os punhos de Panthro

Sim! Mumm-Ra, o “De vida Eterna”, que não apenas é um ser malévolo na melhor (ou seria pior?) síntese da expressão, como tem enfim explicado todo o ódio que sente com relação aos “gatos”, coisa que a animação original insinuou, insinuou, mas que de fato jamais explicou.



E já que falamos dos antagonistas é impossível não ressaltar que nesta recauchutada geral, Simiano e Chacal que no desenho original beiravam personagens cômicos, são aqui retratados com autênticos psicopatas, e páreas dentro de seus próprios povos, sendo “recrutados” por Mumm-Ra quando os planos de Lion-O de mostrar aos lagartos e demais raças do Terceiro Mundo que a coexistência entre as espécies era sim possível começa a mostrar pequenos, mas expressivos resultados.

Escamoso ao "resgatar" Simiano - Assim como Chacal o macaco era um verdadeiro psicopata

Fora o Abutre, que se mostra o estereótipo perfeito de um político, como o próprio se define num determinado momento, diante do fato de escolher entre seu próprio povo ou não bater de frente com Mumm-Ra.

Abutre - Um dos personagens que menos mudou em ralação ao original dos aos 80.

Mumm-Ra que também usa de sentimentos como raiva, para manipular personagens que nos anos 80 eram a síntese do “bom mocismo”, como no arco que envolve Pumyra, no original uma personagem quase sem expressão, mas que nesta releitura ganha uma importância impensada e um desenrolar inesperado. Aliás, de forma muito parecida à manipulação que o Coringa de Heath Ledger faz em Batman O Cavaleiro das Trevas.

Pumyra - Uma tragédia pessoal e a manipulação de Mumm-Ra criam um ódio imenso dentro dela



E aqui entramos num dos pontos mais expressivos de Os Novos Thundercats, pois se no original dos anos 80 as lições que eram transmitidas vinham de forma didática, no melhor estilo “babá eletrônica”, aqui elas fluem juntamente com a história, tornando oque poderia descarrilhar numa espiral burra de pieguice, em algo absolutamente lúdico e emocionante, podendo ser assimiladas de formas diversas por quem por ventura esteja assistindo.

Algumas das "espécies" que habitam o Terceiro Mundo

Formas diversas, que ganham vida nas representações de seres que de meros penduricalhos narrativos, ganham toda uma simbologia, como no caso dos Elefantes e dos Petalares. Importantes até para diluir situações pouco ortodoxas para animações feitas para tevê, como quando Panthro perde os dois braços, que mais tarde são substituídos por próteses biônicas cheias de funções criadas pelos Berbils.

Panthro tem seus braços perdidos na luta contra Grune

Mas aí você pode questionar: Não há defeitos nesta animação?
Claro, nem tudo são acertos. E ao menos no meu entender, o ponto fraco destes Novos Thundercats reside na não utilização da trilha sonora incidental clássica, e em seu caracter design, em especial dos protagonistas, mas nada que de fato possa ser algo que influencia de forma negativa o total da obra. Sem falar que é preciso ressaltar o belo upgrade que o ThunderTank teve, se tornando uma máquina de fato intimidadora só pela sua simples presença.

O novo Thunder Tank - Muito maior e intimidador.

Alguns esboços do que viria a ser o novo Thunder Tank

De quebra os produtores ainda tiveram a ideia de brindar os fãs antigos com dois ótimos fans sevices no episódio “Legado”, quando Mumm-Ra ao recrutar suas tropas, surge no vídeo as imagens do Monstro Estelar de Silverhawks, e de Mako de TigerSharks (esta uma animação que não chegou a passar no Brasil).

O Monstro Estelar de SilverHawks e Mako de TigerSharks - Referência pouca é bobagem

Tudo sensacional certo?
Nem tanto. Pois uma obra de animação como esta, lógico, a exemplo de outras produções aqui descritas, acabou pagando um preço alto, o do cancelamento.
Motivos? Talvez possa ser apontados vários.


Desde a aversão impensada do público antigo médio que muitas (ou seria maioria?) das vezes nem se preocupou em assistir toda série preferindo permanecer na zona de conforto da memória afetiva. Passando por uma baixa venda de itens colecionáveis e brinquedos. Indo até mesmo aos pontos altos de uma série que nos patrulhados anos 2000 ousou ir além, nas temáticas mostradas e em suas abordagens, oque não é surpresa, desagradou muitas “pessoas preocupadas”.



Oque segundo alguns dos realizadores da série, entre eles seu principal idealizador Shanin Eric Danton, nos privou de novos e impensados desdobramentos: como a origem de Snarf e a razão pela qual sobrevivia a todo tipo de ação violenta; e a razão pela qual Escamoso odiava tanto os felinos num arco que colocaria o velho Lynx no papel de um general amoral que matou quase toda uma geração de lagartos ainda nos ovos ao incendiar um pântano.


Contudo, acredito, que o caminho mostrado por estes Novos Thundercats, este ponto fora da curva, assim como outras obras canceladas no passado como Jonny Quest (só pra citar um exemplo), ainda servirá de referência para vários artistas, que iluminados pelo “Olho de Thundera”, terão a verdadeira “visão além do alcance” e nos trarão mais obras incríveis como esta.

                                             Thundertcats! HOOOOOOOO!!!!!







































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