Ao
iniciar o “Ponte de Comando” com um artigo sobre o clássico da animação
Patrulha Estelar, citei que antes mesmo das aventuras da tripulação do Yamato
(dez anos para ser mais preciso) ganharem as telas, os estúdios Hannah-Barbera
já haviam dado um grande passo para desmistificação da arte da animação como
apenas um entretenimento infantil, e hoje venho falar desta verdadeira aventura
romântica, deste ato de ousadia, que atende pelo nome de seu protagonista, venho
falar de .... Jonny Quest!
Em
1963 já estabelecidos como os maiores produtores de animações para tevê do
mundo, graças ao sucesso de desenhos simples de baixo orçamento como “Os
Flintstones” e “ Zé Colmeia”, William Hannah e Joseph Barbera, decidiram que
era o momento de algo diferente.
Algo
não só diferente no conceito, mas que pudesse ter uma produção mais esmerada,
afinal ambos eram ainda remanescentes das animações feitas para as matinês dos
cinemas, da era pré-televisão, que possuíam orçamento e tempo, para um maior
digamos, refinamento.
Doug Wildey |
E
para tal empreitada, Joe e Bill convocaram o cartunista Doug Wildey, já bem
conhecido por seu traço super realista que ilustrava HQ’s de cowboys e de
Tarzan, que não só influenciou no caracter
design, mas também em todos os cenários de fundo e na dinâmica das células
de animação, que chegavam ao esmero para
a época (e talvez para os dias de hoje também) de ter personagens que faziam
coisas como “piscar os olhos”, algo impensável para uma produção para tevê.
O traço realista de Doug Wildey, aqui no primeiro ensaio para Jezebel Jade em 1963 |
E
em 18 de setembro de 1964, embalado por uma abertura que mais parecia feita
para um filme live action, e com um tema absolutamente empolgante, ia ao ar o
episódio “O Mistério dos Homens Lagartos”, que abria a primeira das duas
temporadas, que mostravam as aventuras de Jonny, filho do Dr.Benton Quest, um
cientista brilhante, que anteriormente já havia trabalhado para os serviços de
inteligência norte-americanos; de seu tutor e guarda-costas Roger “Race” Bannon
que recebeu tal incumbência após as morte da mãe de Jonny, um personagem que
foi assumidamente baseado nas feições do ator Jeff Chandler bem conhecido na
época por participar de vários filmes de faroeste B; de seu cãozinho Bandit; e
Hadji, o menino hindu órfão que é adotado pelo Dr.Quest , sendo que aqui é
interessante ressaltar que Hadji não aparece neste primeiro episódio, ainda que
sua figura esteja na abertura, só tendo sua origem devidamente explicada no
sétimo episódio, “Aventura em Calcutá”.
Jeff Chandler, o ator foi a inspiração direta para o visual de Roger Bannon |
Suas
estórias que como disse, misturavam o imponderável com o real de maneira quase
ímpar, se desenrolavam em cenários exóticos nos quatro cantos do mundo, indo da
Floresta Amazônica até o Círculo Polar Ártico. E colocavam seus protagonistas
hora de frente com monstros mitológicos e pré-históricos, hora contra espiões,
mercenários e criminosos de guerra, isto quando não misturavam ambas as
características numa coisa só.
Criaturas fantásticas ou simulacros delas, uma constante nas aventuras de Jonny Quest |
Precisando
aqui ser feita uma pausa para a citação de dois personagens que são os únicos
além dos protagonistas que aparecem em mais de um episódio, e é lógico que
estou me referindo ao Dr.Zin e a Jezebel Jade.
Dr.Zin, o genial antagonista de Benton Quest |
Uma
das características que talvez tenha dado maior dinamismo ao seriado tenha sido
o fato de sair do estereótipo do mesmo antagonista que se repete episódio após
episódio, porém, não é por causa disto que o arquétipo do arqui-inimigo ficaria
de fora, e aqui entra a figura do Dr.Zin, um cientista tão brilhante quanto
Quest, mas que por motivos nunca devidamente explicados, parecia possuir uma
rixa pessoal com o pai de Jonny, e volta e meia entrava no caminho de nossos
heróis, usando de subterfúgios que iam de um robô aranha espião até sequestrar
Roger Bannon colocando um sósia em seu lugar, plano que até poderia ter dado
certo se não fosse a desconfiança de Jonny e Hadji, e da providencial e sagaz
intervenção de Jade.
Jade, a espiã/mercenária, que surgia como um fator surpresa |
Ahhh
Jade! Jezebel Jade era um elemento surpresa. Nunca tendo sua origem
absolutamente explicada, era um pedaço do passado de Roger, uma antiga parceira
e/ou amante, que transitava não só pelo mundo da espionagem, como pelo submundo
de Hong Kong, sua base de operações.
Bandit, o mascote que "roubava" a cena. |
Mas
lógico que não apenas de tiroteios, perseguições e mortes (sim, pois em Jonny
Quest os vilões morriam, e morriam feio) a animação poderia viver, e para o tal
do “alívio cômico”, sempre se podia contar com Bandit, o mascote esperto e
atrapalhado, mas que também era responsável por infernizar a vida dos vilões e
ajudar nas soluções de vários problemas. Um personagem tão icônico que vários
cães na vida real acabaram sendo batizados como “Bandit” por sua causa (risos).
Chamadas de vídeo, uma das "inovações" previstas na série. |
Fora
isto temos também a questão dos gadgets
e máquinas que previram o futuro, ou se tornaram inspiração para invenções.
Afinal como não se lembrar do “rádio” que fazia chamadas de vídeo, isto
inclusive antes de Star Trek, ou dos jatos que apareciam no seriado com
designers que na época pareciam futuristas, mas que serviram de base para o
desenvolvimento de aviões reais com o F-16 Falcon por exemplo.
Aviões com design futurista para época |
Somando
tudo isto que citei, era de se esperar um sucesso estrondoso certo? Pois é, mas
não foi isto oque aconteceu.
Qual
a causa? Bem, de certa forma a animação não foi assimilada por boa parte de seu
público alvo na época, e a rede ABC que o veiculava, não vendo um resultado
comercial satisfatório, informou a Hannah e Barbera que não mais manteria a
atração no ar após duas temporadas totalizando 26 episódios apenas.
Porém,
a semente já havia sido plantada, e Jonny Quest se tornou uma referência para
dezenas de outras animações que vieram depois. Sempre sendo lembrado pela sua
criatividade e qualidade, além, lógico, da coragem de seus realizadores.
Com
o passar dos anos e o clamor popular, Jonny Quest voltaria às telas das tevês
em mais duas releituras, nos anos 1980 e 1990, mas nenhuma delas nem de perto
conseguiu repetir a qualidade e o esmero
do original, que hoje mais de 50 anos depois ainda se mantém como um dos
maiores marcos da arte da animação no mundo.
Dubladores principais da série clássica no Brasil (1964)
Jonny
Quest - Rafael Cortez Neto
Roger "Race" Bannon - Dennis Carvalho
Dr. Benton Quest - Amaury Costa
Hadji - Olney Cazarré
Muito bom artigo. Fez-me lembrar de tempos das transmissões em preto&branco, quando esperávamos ansiosamente por um novo capítulo da série.
ResponderExcluirObrigado meu amigo!
ResponderExcluirExelente artigo tenho paixão por este desenho e seus personagens.
ResponderExcluirAssistia a todos os episodios na tv bandeirantes na TV criança.