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quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Jonny Quest

Ao iniciar o “Ponte de Comando” com um artigo sobre o clássico da animação Patrulha Estelar, citei que antes mesmo das aventuras da tripulação do Yamato (dez anos para ser mais preciso) ganharem as telas, os estúdios Hannah-Barbera já haviam dado um grande passo para desmistificação da arte da animação como apenas um entretenimento infantil, e hoje venho falar desta verdadeira aventura romântica, deste ato de ousadia, que atende pelo nome de seu protagonista, venho falar de .... Jonny Quest!



Em 1963 já estabelecidos como os maiores produtores de animações para tevê do mundo, graças ao sucesso de desenhos simples de baixo orçamento como “Os Flintstones” e “ Zé Colmeia”, William Hannah e Joseph Barbera, decidiram que era o momento de algo diferente.
Algo não só diferente no conceito, mas que pudesse ter uma produção mais esmerada, afinal ambos eram ainda remanescentes das animações feitas para as matinês dos cinemas, da era pré-televisão, que possuíam orçamento e tempo, para um maior digamos, refinamento.

Doug Wildey

E para tal empreitada, Joe e Bill convocaram o cartunista Doug Wildey, já bem conhecido por seu traço super realista que ilustrava HQ’s de cowboys e de Tarzan, que não só influenciou no caracter design, mas também em todos os cenários de fundo e na dinâmica das células de animação,  que chegavam ao esmero para a época (e talvez para os dias de hoje também) de ter personagens que faziam coisas como “piscar os olhos”, algo impensável para uma produção para tevê.

O traço realista de Doug Wildey, aqui no primeiro ensaio para Jezebel Jade em 1963


E em 18 de setembro de 1964, embalado por uma abertura que mais parecia feita para um filme live action, e com um tema absolutamente empolgante, ia ao ar o episódio “O Mistério dos Homens Lagartos”, que abria a primeira das duas temporadas, que mostravam as aventuras de Jonny, filho do Dr.Benton Quest, um cientista brilhante, que anteriormente já havia trabalhado para os serviços de inteligência norte-americanos; de seu tutor e guarda-costas Roger “Race” Bannon que recebeu tal incumbência após as morte da mãe de Jonny, um personagem que foi assumidamente baseado nas feições do ator Jeff Chandler bem conhecido na época por participar de vários filmes de faroeste B; de seu cãozinho Bandit; e Hadji, o menino hindu órfão que é adotado pelo Dr.Quest , sendo que aqui é interessante ressaltar que Hadji não aparece neste primeiro episódio, ainda que sua figura esteja na abertura, só tendo sua origem devidamente explicada no sétimo episódio, “Aventura em Calcutá”.

Jeff Chandler, o ator foi a inspiração direta para o visual de Roger Bannon

Suas estórias que como disse, misturavam o imponderável com o real de maneira quase ímpar, se desenrolavam em cenários exóticos nos quatro cantos do mundo, indo da Floresta Amazônica até o Círculo Polar Ártico. E colocavam seus protagonistas hora de frente com monstros mitológicos e pré-históricos, hora contra espiões, mercenários e criminosos de guerra, isto quando não misturavam ambas as características numa coisa só.

Criaturas fantásticas ou simulacros delas, uma constante nas aventuras de Jonny Quest

Precisando aqui ser feita uma pausa para a citação de dois personagens que são os únicos além dos protagonistas que aparecem em mais de um episódio, e é lógico que estou me referindo ao Dr.Zin e a Jezebel Jade.

Dr.Zin, o genial antagonista de Benton Quest

Uma das características que talvez tenha dado maior dinamismo ao seriado tenha sido o fato de sair do estereótipo do mesmo antagonista que se repete episódio após episódio, porém, não é por causa disto que o arquétipo do arqui-inimigo ficaria de fora, e aqui entra a figura do Dr.Zin, um cientista tão brilhante quanto Quest, mas que por motivos nunca devidamente explicados, parecia possuir uma rixa pessoal com o pai de Jonny, e volta e meia entrava no caminho de nossos heróis, usando de subterfúgios que iam de um robô aranha espião até sequestrar Roger Bannon colocando um sósia em seu lugar, plano que até poderia ter dado certo se não fosse a desconfiança de Jonny e Hadji, e da providencial e sagaz intervenção de Jade.

Jade, a espiã/mercenária, que surgia como um fator surpresa
Ahhh Jade! Jezebel Jade era um elemento surpresa. Nunca tendo sua origem absolutamente explicada, era um pedaço do passado de Roger, uma antiga parceira e/ou amante, que transitava não só pelo mundo da espionagem, como pelo submundo de Hong Kong, sua base de operações.

Bandit, o mascote que "roubava" a cena.

Mas lógico que não apenas de tiroteios, perseguições e mortes (sim, pois em Jonny Quest os vilões morriam, e morriam feio) a animação poderia viver, e para o tal do “alívio cômico”, sempre se podia contar com Bandit, o mascote esperto e atrapalhado, mas que também era responsável por infernizar a vida dos vilões e ajudar nas soluções de vários problemas. Um personagem tão icônico que vários cães na vida real acabaram sendo batizados como “Bandit” por sua causa (risos).

Chamadas de vídeo, uma das "inovações" previstas na série.

Fora isto temos também a questão dos gadgets e máquinas que previram o futuro, ou se tornaram inspiração para invenções. Afinal como não se lembrar do “rádio” que fazia chamadas de vídeo, isto inclusive antes de Star Trek, ou dos jatos que apareciam no seriado com designers que na época pareciam futuristas, mas que serviram de base para o desenvolvimento de aviões reais com o F-16 Falcon por exemplo.

Aviões com design futurista para época 
Somando tudo isto que citei, era de se esperar um sucesso estrondoso certo? Pois é, mas não foi isto oque aconteceu.
Qual a causa? Bem, de certa forma a animação não foi assimilada por boa parte de seu público alvo na época, e a rede ABC que o veiculava, não vendo um resultado comercial satisfatório, informou a Hannah e Barbera que não mais manteria a atração no ar após duas temporadas totalizando 26 episódios apenas.



Porém, a semente já havia sido plantada, e Jonny Quest se tornou uma referência para dezenas de outras animações que vieram depois. Sempre sendo lembrado pela sua criatividade e qualidade, além, lógico, da coragem de seus realizadores.


Com o passar dos anos e o clamor popular, Jonny Quest voltaria às telas das tevês em mais duas releituras, nos anos 1980 e 1990, mas nenhuma delas nem de perto conseguiu repetir a qualidade  e o esmero do original, que hoje mais de 50 anos depois ainda se mantém como um dos maiores marcos da arte da animação no mundo.





           Dubladores principais da série clássica no Brasil (1964)

Jonny Quest - Rafael Cortez Neto

Roger "Race" Bannon - Dennis Carvalho
Dr. Benton Quest - Amaury Costa
Hadji - Olney Cazarré




















3 comentários:

  1. Muito bom artigo. Fez-me lembrar de tempos das transmissões em preto&branco, quando esperávamos ansiosamente por um novo capítulo da série.

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  2. Exelente artigo tenho paixão por este desenho e seus personagens.
    Assistia a todos os episodios na tv bandeirantes na TV criança.

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