No
artigo anterior havia contado como a obra de Akira Kurosawa tinha sofrido a
influência dos westerns do diretor norte-americano John Ford, e como seus
filmes, talvez por causa disto, não eram lá muito bem vistos em sua pátria na
época. O sucesso alcançado fora do Japão, e lógico, o outro grande clássico que
gerou, “Sete Homens e Um Destino”.
Mas
as versões de “Os Sete Samurais” estavam bem longe de terminar, ganhando panos
de fundo impensados até para mente criativa do diretor nipônico.
Final
da década de 1970, o cinema mundial tinha sido virado de cabeça para baixo com
o surgimento de “Guerra nas Estrelas”, e eis que alguém teve a ideia de
transpor a premissa do vilarejo atacado por mal feitores para o espaço.
E
por meio do produtor Roger Corman, em 1980 chegava “Mercenários das Galáxias”.
O produtor Roger Corman espertamente transpôs o roteiro original para o espaço |
O
roteiro original, transposto para o espaço, trazia John Saxon no papel de Sador
(por favor, não confundam com Sandor da Patrulha Estelar), um ditador espacial
com intenções expansionistas, que resolve anexar aos seus domínios um pequeno
planeta chamado Akira (é isto mesmo, maior homenagem impossível).
John Saxon era Sador |
As
pessoas de Akira tinham abandonado a violência fazia décadas, e apenas um
ancião cego, Zed (Jeff Corey) era o último sobrevivente desta época, e
incentiva o jovem Shad (Richard Thomas, o John Boy de Waltons), a procurar
mercenários que pudessem defender Akira. Shad então embarca numa velha nave que
tinha uma inteligência artificial chamada Nell, e parte na busca. Só não me
perguntem por que colocaram “seios” na nave (risos).
Aqui
é preciso abrir um pequeno parêntese para falarmos do grupo que acaba se
formando das mais diferentes maneiras possíveis e que de todas as versões de
“Os Sete Samurais” é o mais heterogêneo.
Nanelia
(Darlanne Fluegel) era a filha de um cientista, antigo amigo de Zed, que vivia
numa estação espacial. Só que o velho cientista (ou o que sobrou dele), não
estava nem aí para o destino do planeta de Shad, o aprisionando para que
procriasse com sua filha. Pois é, simples assim. Lógico que Nanelia acaba mais
a frente se tornando o par romântico de Shad. E óbvio que o ajuda a escapar,
ajudando-o também na sua busca.
Só
que nesta busca Nanelia se dá mal e acaba sendo capturada por Cayman da Zona
Lambda (Morgan Woodward), um dos últimos de uma raça de seres repteis, que para
a sorte da jovem tinha questões pessoais para acertar com Sador.
Do
outro lado da galáxia, Shad acaba por salvar a vida do Cowboy do Espaço (nosso
conhecido George Peppard, aqui pouco antes de se tornar o Coronel Hannibal
Smith de Esquadrão Classe A). Um sujeito “gente boa”, egresso daqui de nosso
planetinha azul, que ninguém fazia ideia que existia naquela parte do espaço
(risos), e para o qual é destinado a reprise do romance entre o guerreiro e
camponesa, mas que aqui sabiamente (mesmo passando muito longe do drama das
versões anteriores) é protagonizado por duas pessoas mais maduras, saindo da
cópia do arquétipo do casal de jovens.
E que
se junta à causa por gratidão, e por segundo o mesmo, não ter o que fazer com
carga de armas laser que levava para um planeta que foi exterminado por Sador,
quando o vilão fez uso da arma principal de sua nave, o conversor estelar.
Ao
que parece não foi apenas “Os Sete Samurais” a única inspiração nipônica do
filme, já que é impossível assisti-lo e não fazer a correlação da arma de Sador
com a “arma de movimento de ondas” do Yamato em Patrulha Estelar.
Gelt (Robert Vaugh) atrai a atenção das crianças de Akira |
Aqui
também é preciso destacar a presença de Robert Vaugh como Gelt. Sim, ele mesmo,
o Lee de “Sete Homens e Um Destino”, também está aqui, e num papel que de certa
referencia o de Charles Bronson em “Sete Homens...”, pois quando Shad o
encontra, este argumenta de o quanto caro era para contratar seus serviços.
Contudo, acaba aceitando a proposta do rapaz, pelos motivos mais plausíveis de
se pensar, para alguém que tinha a cabeça a prêmio em vários sistemas
estelares.
Sem
falar que assim como o Bernardo de Charles Bronson em “Sete Homens...”, aqui
Gelt também acaba por atrair a atenção das crianças de Akira com seu jeito
calado e soturno.
E
para completar o heterogêneo grupo, há ainda Saint-Eximin (Sybil Danning),
vinda de uma nação de mulheres guerreiras, as valquírias, com um lema de vida
tão doido quanto funcional.
E Nestor, um ser que na verdade era uma única
consciência que habitava vários corpos (clones).
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Já
li e escutei algumas opiniões equivocadas sobre este ótimo filme B, que chegam
a serem infantis em suas alegações. E ainda que baseado em uma obra relevante
do cinema mundial é preciso entender que “Mercenários das Galáxias” em nenhum
momento aspira ser mais do que realmente é, uma despretensiosa aventura, com
seus exageros e até certo grau de caricaturismo, mas que aqui estão muito bem
inseridos no contexto. E não é uma ou outra dificuldade técnica, que desmerecem
este filme que leva o “DNA” de Roger Corman sem a menor neurose, e que merece
sim o selo de cult.
Mas
se você que está lendo acha que o bom (ou talvez nem tão bom assim) cinema de
ação estadunidense ficaria de fora, vou te dizer que não, e em 1997 vem ao
mundo “Os Especialistas” (The Bad Pack no original).
O
filme estrelado por Robert Davi (que devia estar meio cansado de só fazer papel
de vilão) e vários outros rostos conhecidos, mas que nunca nos recordamos dos
nomes (risos) repete a velha formula nipônica do vilarejo, mas ao contrário do
filme-mãe e de seu irmão faroeste, “Bad Pack” seja pelo elenco mais ou menos de
atuações sofríveis, e a produção aqui de fato pobre, talvez só sirva mesmo para
uma “Sessão da Tarde” de quarta-feira quando se está gripado.
E
por fim temos a versão infantil de “Os Sete Samurais”.
Versão
infantil? Sim.
Versão
infantil, que atende pelo nome de “Vida de Inseto”. E aqui é maravilhoso
perceber o quanto que aquela premissa simples, é genial!
Todos
os elementos que citei até agora, não só da obra primária de Kurosawa como de
suas versões “velho oeste” e “espacial” se amalgamam aqui. E nos brindam com
uma produção que apesar de ser pensada para o público infantil, possui bem mais
camadas que seu dito público-alvo talvez consiga captar.
Uma
grata surpresa que tive, pois julgava ser mais uma produção feita para crianças
dispersas de pais relapsos, e me deparei com uma excelente adaptação.
Não
que Kurosawa não tenha criado (sim, criado, pois ele não apenas dirigia como escrevia
o roteiro e até editava), outros filmes que ganharam diversas versões. Como
“Yojimbo”, que o diretor Sergio Leone transformou em faroeste com “Um Punhado
de Dólares”, e Walter Hill em filme de gangster com “O Último Matador”.
Mas
nenhuma outra obra sua conquistou tantos e em tantas partes do mundo, quanto
aquela dos sete guerreiros que juntos, seja lá por qual razão, partem para
defender aqueles que não conseguem se defender por si. Genial em sua
simplicidade.
Mas
uma simplicidade com alma. Uma simplicidade que encanta sem ser pueril. Que faz
o espectador se importar e torcer por aquele personagem na tela, e que precisa
ser resgatada nestes dias em que o cinema parece dividido em “filmes sérios” e
“filmes pipoca”, mas que no fim das contas acabam nunca sendo relevantes no
lugar onde de fato importam, ou seja, nossas memórias.
Legal!
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