Os
filmes de ação nos anos 80, seja pelo viés policial ou militar, desde que John
Rambo ergueu sua metralhadora M60 em 1982, nunca mais foram os mesmos, sendo marcados por uma estética
de heróis pétreos, verdadeiros exércitos de um homem só.
E
mesmo havendo exceções como em Máquina Mortífera, ou no já resenhado aqui Trovão
Azul, tal conceito ainda reinou quase absoluto, mas isto foi até 1988, e a
chegada de... Duro de Matar.
Duro
de Matar pode ser considerado um daqueles filmes que não dá pra repetir as
condições em que foi realizado.
Dirigido
por John McTiernan, que um ano antes tinha estreado no cinema com o hoje também
clássico “O Predador”, e baseado no livro de suspense “Nothing Lasts Forever”
de 1979, Duro de Matar pode ser considerado uma espécie de epopeia hermética.
O diretor John McTiernan |
No
começo somos apresentados ao detetive de Nova York, John McClane (Bruce Willis),
que brigado com a esposa (Bonnie Bedelia), e à beira de um eminente divórcio, atravessa
o país para encontrá-la na festa de fim de ano da empresa que trabalhava, isto
à beira do natal. Só que durante a comemoração o prédio é invadido por um grupo
de treze terroristas.
E
este sujeito encurralado e sem escolhas, se vê forçado a dar combate àquela
ameaça, transportando o público numa espiral ascendente e contínua de tiros,
sangue, cacos de vidro, e porque não bom humor.
Mas
afinal oque faz Duro de Matar algo tão único até aquele momento, e talvez até
hoje?
Bem,
depois de ler algumas resenhas sobre este clássico ao longo dos anos, considero
que o “pulo do gato” do roteiro não está em uma grande novidade, e sim justamente
em colocar toda questão humana do protagonista e suas dificuldades em lidar com
um mundo que mudava a sua revelia em primeiro plano.
Pois
há bem da verdade, as questões abordadas aqui em “Duro de Matar” que
humanizavam o personagem sempre tentaram se fazer presentes em diversos outros
filmes de ação, vide “Falcões da Noite”
para o qual já fiz matéria aqui, na problemática relação de Deke Da Silva com a
ex-esposa. Ou até mesmo no já citado clássico truculento Rambo, na solidão do
personagem na sequência em que se esconde numa caverna e conversa com o coronel
Trautman pelo rádio, que, diga-se de passagem, possui aqui mesmo em Duro de
Matar uma cena até semelhante.
Contudo,
tais elementos que sempre eram colocados em segundo ou até terceiro planos,
aqui são o principal elemento propulsor do roteiro, fazendo o público não
apenas torcer, mas também se identificar com o policial nova-iorquino, por sua
persistência diante das adversidades, pelo seu amor pela família, seu bom (e
irônico) humor capaz de enlouquecer qualquer malfeitor, e até por ficar falando
sozinho enquanto pensa oque faria entre um tiroteio e outro (risos).
Um
herói absolutamente imperfeito, desacreditado em boa parte da história, que só
consegue apoio no sargento de polícia Al Powell (Reginald Vel Johnson), e que
no decorrer do filme vai sendo ferido de quase tudo que é jeito, chegando aos
momentos finais da película como um autêntico farrapo humano (me lembro bem de
algumas reações das pessoas no cinema na época), e que combatia vilões europeus
altamente refinados para os padrões hollywoodianos da época.
O sargento Al Powell - O único que acreditava em McClane |
Tudo
devidamente otimizado num roteiro que não deixava brechas para maiores fôlegos
para público, mas que não caía na armadilha de alguns filmes atuais, em criar
um ritmo tão vertiginoso que oblitera o raciocínio da plateia, embrulhado em
hora claustrofóbicas, hora grandiosas e mesmo (ou seria principalmente?)
inverossímeis cenas de ação.
Fora
isto, lógico, é preciso lembrar que Duro de Matar é praticamente um filme de
estreias. Pois como no já citado caso de seu diretor, que ali estava em sua
segunda empreitada, o filme foi o primeiro grande sucesso de Bruce Willis, que
apesar de já ter tido outras experiências cinematográficas, era mesmo conhecido
na época pelo seu papel no seriado “A Gata e o Rato” (Moonlight no original), e
que nem de longe tinha sido a primeira escolha para o papel que chegou a ser
ofertado a atores como Arnold Schwarzenneger, Sylvester Stalonne e até mesmo
Burt Reynolds.
Bruce Willis demorou para ser escolhido para o papel |
O
mesmo para o finado bailarino russo Alexander Godunov, que com certeza muitos
ainda se lembram do ótimo “A Testemunha” no qual fazia um dos habitantes da
comunidade “amish”, mas que só aqui no papel do quase indestrutível terrorista
Karl, só parado pelo mira certeira de Al Powell, conseguiu merecidamente se
destacar.
Alexander Godunov era Karl, o terrorista quase indestrutível |
E
óbvio, a maravilhosa estreia, do hoje infelizmente também falecido, Alan
Rickman, como Hans Gruber, o líder do grupo de invasores.
Alan Rickman era Hans Gruber em sua estreia no cinema |
Fora
isto o filme ainda pode se dar ao luxo de realmente destruir um prédio inteiro
durante suas filmagens, já que o arranha-céu usado estava programado para ser
demolido, e sendo bem perto dos estúdios da Fox possibilitou uma economia no
orçamento numa época sem as facilidades dos efeitos de computação gráfica.
Tudo
para criar um filme cuja, a estrutura de roteiro se tornou referência para
várias cópias feitas posteriormente, e gerou até agora um total de mais quatro
sequências, que lógico não chegam aos pés do original, sendo que o prequel (desnecessário) que conta a
origem de John McClane está vindo aí.
Em
2017, Duro de Matar foi selecionado para ser preservado pela Biblioteca do
Congresso Norte-Americano, pela sua relevância cultural e histórica
significativas.
Colocando
Duro de Matar em seu merecido lugar. Não só como ótimo entretenimento, mas ao
lado de outros filmes, que como citei no começo deste texto, dificilmente
conseguirá ser realizado nas mesmas condições, ficando indelevelmente marcado
nos corações e mentes de todos por várias décadas.
Duro de matar tem gosto de infância! Sempre adorei assistir!
ResponderExcluir"Se o Natal deles é assim nem quero ver o Ano-Novo!"
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