E
no começo havia apenas...a música!
Não,
eu não fiquei louco. E não, isto não é um exagero. Pois quando falamos das
artes audiovisuais, e de seu começo seja em filmes com pessoas reais ou em
animações, o que se tinha para acompanhar as películas daquela novidade
incrível chamada cinema e suas imagens em movimento, nada mais era que música.
E
se você que está lendo acompanha o blog, sabe o quanto cito esta característica
de cada obra que resenho aqui, seja por canções ou temas instrumentais.
E
neste segundo quesito, vários foram os compositores que se destacaram ao longo
de mais de um século, mas nenhum marcou tanto a vida e as lembranças de tantos
quanto, John Williams!
John
Towner Willams, nasceu 08 de fevereiro de 1932 em Flushing (atual Queens) em
Nova York. Filho de Ester e John Williams Sr., um percursionista de jazz.
Mudou-se
com a família para Los Angeles em 1948, onde anos depois se graduou em
composição no conservatório da famosa UCLA - a Universidade de Los Angeles.
Mas
se engana você, se pensa que por estar ali ao lado de Hollywood, o jovem John
foi logo criar trilhas para produções cinematográficas, pois em 1952, eis que a
convocação para as forças armadas bateu em sua porta, e Williams por três anos
serviu na Força Aérea, onde entre suas atribuições acabou dirigindo a banda da
corporação, para a qual também fez alguns arranjos musicais.
Findada
esta etapa, Williams retorna para Nova York, indo estudar piano clássico na
“Julliard School” e trabalhando como pianista de jazz em vários clubes
noturnos.
Mas
sua escalada no show business começa de fato quando cruza novamente o país de
volta para Los Angeles, onde teve sua primeira chance como músico de estúdio de
Henry Mancini (sim, ele mesmo, o compositor do tema de A Pantera Cor de Rosa), além
de trabalhar com outros compositores icônicos como Elmer Bernstein e Jerry
Goldsmith.
Sendo
que foi na década de 1960 que Williams e sua música começaram a decolar para
voos solos, compondo para vários programas de tevê. Época que ainda assinava
como “Johhny”, devido um ator de mesmo nome, e na qual estabeleceu sua primeira
grande parceria com ninguém menos que o célebre produtor Irwin Allen, para o
qual compôs os temas dos seriados “Terra de Gigantes”, “Túnel do Tempo” e
“Perdidos no Espaço”, quase ao mesmo tempo que recebeu a primeira de suas 52
indicações ao Oscar pela trilha do filme “O Vale das Bonecas” (1967).
Irwin Allen brincando com John Williams |
Mesmo
assim tudo que tinha acontecido até então, pode ser considerado um mero ensaio,
pois com o despontar dos anos 1970, é que nome de John Williams começa de fato
a se destacar e ser conhecido e reconhecido pelo grande público.
Mantendo
a parceria iniciada nos seriados de tevê, Irwin Allen chama novamente o amigo
para compor as trilhas de “O Destino do Poseidon” (1972) e “Inferno na Torre”
(1974) fora que de quebra ainda assinou a trilha de outro clássico do cinema
catástrofe, “Terremoto”, no mesmo ano.
Porém,
se você está pensando que isto já seria o suficiente, devo lhes contar que 1974
ainda traria para John Williams o começo da mais longeva e profícua parceria
que o cinema teve, e é obvio que me refiro aqui a Steven Spielberg.
Williams e Spielberg - Parceria e amizade |
Impressionado com que o compositor tinha feito, Steven contrata-o para compor a trilha de seu primeiro filme, “Louca Escapada”.
Louca Escapada - O começo da parceria com Spielberg |
E creio que nem é preciso citar, o quanto o
diretor ficou satisfeito com o trabalho de Williams, e sem titubear chamou o
maestro no ano seguinte para compor aquela que pessoalmente considero a trilha
mais maravilhosamente angustiante da história, “Tubarão” (1975).
Williams fez a trilha de "Trama Macabra", último filme de Hitchcock |
Mas
calma, os anos 70 ainda estavam no meio, e em 1977 o maestro entraria de vez
para subconsciente coletivo mundial (como se Tubarão não tivesse sido suficiente).
Pois
é neste ano que John Williams assina os temas e trilhas de “Contatos Imediatos
do Terceiro Grau”, mais um capítulo de sua parceria com Steven Spielberg, e a
trilha para “Guerra nas Estrelas”.
E
aqui eu preciso abrir alguns daqueles meus conhecidos parênteses que volte e
meia abro.
O
primeiro é sobre “Contatos Imediatos do Terceiro Grau”, pois o que pouca gente
sabe é que este filme talvez tenha constituído o maior desafio da
carreira do maestro. Já que para criar a pequena escala harmônica que no filme
faz o contato entre humanos e alienígenas se tornar possível, Williams criou
mais de cem (sim, 100!) variações, até chegar na que Spielberg aprovou como
sendo a perfeita.
Para outras pessoas, creio que isto findaria
qualquer amizade (risos), mas no caso de Steven Spielberg e John Williams, as
ligações de amizade que geram parcerias incríveis parecem um ponto em comum. O
que nos leva ao segundo “parêntese”.
John Williams não foi a primeira escolha de George Lucas para "Guerra nas Estrelas" |
Pois
a despeito do que muitos possam pensar, George Lucas, o criador de “Star Wars”,
não foi procurar o maestro para fazer a trilha de seu revolucionário filme
naquele mesmo ano. Nos planos originais de Lucas, a ideia era usar em “Guerra
nas Estrelas” peças clássicas já estabelecidas e de domínio público.
Já
até imagino Darth Vader entrando ao som da 5ª Sinfonia de Bethoven...
E
foi Spielberg que convenceu Lucas que o melhor para seu filme seria que John
Williams fizesse toda a trilha sonora, incluso aí o tema principal.... Bem, e o
resto nós já sabemos né.
E
com o mundo boquiaberto diante do avassalador tema de “Guerra nas Estrelas”
ficava até difícil de imaginar que o maestro por mais talentoso que fosse,
pudesse mostrar algo tão incrível em tão pouco tempo... Mas não é que ele fez!
Estamos
no ano de 1978, e depois de uma das produções mais conturbadas da história,
Richard Donner dava os últimos retoques naquele que seria a pedra fundamental
do cinema de super-heróis, “Superman - O Filme”. Contudo, ainda faltava um
detalhe. Onde estava a trilha sonora?!
Richard Donner e John Williams |
Tal
empreitada deveria ter ficado a cargo de Jerry Goldsmith, que Donner havia
escolhido por terem trabalhado juntos em “A Profecia”. Porém, nada de Goldsmith
entregar nem um acorde sequer. Oque obrigou Donner aos quarenta e cinco do
segundo tempo a arrumar um substituto.
Sinceramente,
espero que tudo tenha ficado bem entre Goldsmtih e John Williams, mas
pessoalmente fico pensando na cara de Jerry ao saber que tinha sido substituído
por seu antigo comandado.
E
aqui preciso deixar registrado uma consideração pessoal. Nunca! Nem antes e nem
depois, um tema instrumental representou tão bem um personagem quanto o tema de
John Williams para o “azulão”.
Uma
peça de erudição tão esplêndida que facilmente poderia rivalizar com as
maiores obras já criadas pelos assim chamados “compositores clássicos”.
Exagero?
Não de forma alguma. Pois se há algo injusto e mesquinho, é quando surge um
daqueles tipinhos abjetos de seres recalcados, que tentam diminuir a
importância de obras como o tema de “Superman”, alegando coisas como “trabalho
sob encomenda”, tentando deslegitimar a genialidade da obra em prol de uma
visão que apenas serve para manter um bizarro status quo para meia dúzia teóricos de conservatório, mas que se
esquecem que muitas das mais aclamadas obras eruditas clássicas foram na
verdade também trabalhos feitos por encomenda, seja por monarcas, ou até mesmo
pela igreja católica.
E
se vocês ainda acham que isto que citei é exagero, cito aqui um caso no mínimo
constrangedor. De 1980 até 1993, John Williams comandou a “Boston Pops Orchestra”,
uma orquestra voltada justamente a popularizar a música erudita.
E
durante um ensaio em 1984, enquanto Williams mostrava para o grupo uma
composição inédita sua (sim, o maestro não compõe apenas para filmes, além de
ter composições no jazz e até canções), percebeu que alguns membros da
orquestra riam ao ler a partitura.
John
então abandonou o ensaio abruptamente e logo depois apresentou sua renúncia, à
princípio alegando conflito de agenda, mas depois admitiu que percebeu a falta
de respeito de alguns membros do grupo. Mas diante das súplicas (não, não é
exagero isto) da administração, retirou a renúncia e permaneceu no comando da
orquestra por mais nove anos.
Mas
independente das opiniões alheias, Williams atravessou a década de 1980 fazendo
aquilo que já fazia de melhor, encantando e surpreendendo plateias de todo
mundo, em geral mantendo a vencedora parceria com Steven Spielberg, como em
“Caçadores da Arca Perdida”, “E.T.” e “Império do Sol”.
Aliás,
de todos os filmes do diretor, apenas três não possuem a assinatura de Williams
na trilha sonora, “A Cor Púrpura”, “Ponte de Espiões” e “Jogador Nº 1”.
E
de certa forma, esta simbiose entre Spielberg e Williams se tornou tão forte na
memória das plateias de todo mundo, que muita gente se esquece ou nem sabe que
o maestro também é autor de trilhas de vários outros filmes ao longo das
últimas décadas como “Esqueceram de Mim” e “Harry Potter e a Pedra Filosofal”.
A
lista de prêmios de John Williams é, lógico, para lá de extensa.
Não
que premiações possam necessariamente, como nós sabemos, serem sempre um
atestado de qualidade, mas apenas para exemplificar, no “quesito” Oscar, John
Williams é o artista que mais foi indicado com suas já citadas 52 vezes, e apenas
Walt Disney tem mais indicações (59) só que como produtor. E é o terceiro maior
vencedor da premiação com seis estatuetas, perdendo apenas para o mestre da
maquiagem Rick Baker com sete e outro compositor, Alan Menken, com oito.
Em
2010, Williams foi condecorado pelo então presidente Barack Obama com a “Medalha
Nacional das Artes”.
John Williams e condecorado por Barack Obama |
Mas
se você que está lendo, por um acaso, possa estar imaginando que tantas
honrarias podem ter subido a cabeça do maestro, lembro da vez em que dois
jovens fãs descobriram a casa de Williams. E resolveram arriscar, indo numa
manhã ensolarada para frente da residência do maestro, onde executaram o tema
principal de “Guerra nas Estrelas”.
E
não é que ao fim da improvisada apresentação, John Williams surge com um imenso
sorriso no rosto para cumprimentar seus jovens admiradores!
Casado
desde 1956 com a atriz Barbara Ruick, teve três filhos, Jennifer, Mark Towner
Williams e Joseph. Joseph que aliás se tornou vocalista da banda de AOR “Toto”.
E
chegando agora ao final de mais este artigo, admito que fiquei pensativo sobre
quais palavras usar para sintetizar a importância de John Williams para as
artes. Talvez algo bem épico para combinar com a grandiosidade de sua vasta
obra.
Mas
prefiro encerrar contando uma passagem real.
Quando
Steven Spielberg (sim, mais uma vez ele), estava terminando a pós-produção de “A
Lista de Schindler”, chamou John Williams para assistir a película praticamente
pronta.
Ao
término da sessão, visivelmente emocionado, Williams se vira para Steven e diz
que oque o diretor tinha criado era algo muito grandioso e forte, que não se
sentia capaz de compor algo para o que tinha acabado de assistir, pedindo que
procurasse alguém melhor e mais capaz.
No
que então recebeu a seguinte resposta de Spielberg:
“Eu
até procuraria, mas estão todos mortos”.
Confesso que estou emocionada José, vc sabe de minha admiração por ele.Parabéns pelo texto, como
ResponderExcluirsempre, cheio de riquezas de detalhes👏👏👏
Parabéns!
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