quarta-feira, 6 de junho de 2018

Mulher Maravilha - O Filme


Desde que se iniciaram os eventos relacionados ao chamado “universo cinematográfico da DC”, que a casa de alguns dos mais icônicos símbolos da cultura pop mundial vinha sofrendo vários tipos de revés em seus filmes, hora por culpa de executivos de estúdio, hora por causa de diretores irregulares que se julgavam capazes de reinventar a roda, desrespeitando de maneira acintosa o cerne de personagens que cunharam seu nome ao longo de décadas.
Uma situação para lá de incômoda para quem, apesar de erros aqui e ali, podia bater no peito e dizer que possuía a célula mater dos filmes modernos do gênero - o Superman de Richard Donner -, e a trilogia que transcendeu de forma até hoje não igualada o gênero - a Dark Knight Trilogy do Batman de Cristopher Nolan.
Mas dentro dos poucos acertos que eram inegáveis neste “novo universo da DC” nos cinemas, o elenco feminino figurava em destaque. Desde “Homem de Aço” com Diane Lane (Martha Kent) e Antje Traue (Faora) até o trágico Esquadrão Suicida com Viola Davis (Amanda Waller, excelente), lá estavam elas sempre protagonizando aquela cena salvadora que fazia valer ao menos em parte o dinheiro do ingresso, e não foi nada diferente quando em Batman versus Superman surgiu Gal Gadot e sua inacreditável Diana de Themyscera.
Surgia para o mundo a Mulher Maravilha!



E sim, bastaram poucas cenas e falas, para o mundo (incluso este que lhes escreve) cair de encantos pela perfeita personificação da guerreira amazona, de olhar ferino e sorriso contagiante.

Diana faz sua chegada em grande estilo em Batman vs Superman

Mas ainda faltava algo. Faltava o protagonismo que tanto a personagem merecia, só lhe dado na longínqua série de tevê dos anos 70, mas nunca concedido numa grande tela de cinema.
Mas em 1º de junho de 2017 tudo mudou!

Cartaz promocional do filme.

A primeira coisa que nos salta aos olhos em Mulher Maravilhas, como mencionei, é sua protagonista. A israelense Gal Gadot  se tornou a personificação perfeita de Diana, transcendendo seu próprio “eu”, colocando-a talvez no mesmo hall de gente como Christopher Reeve (Superman) e Gary Oldman (Comissário Gordon), demonstrando um amadurecimento como atriz que muitos críticos ainda fizeram questão de colocar “reticências” em suas resenhas, mas que mesmo que não a coloque no nível de uma Meryl Streep, só para citar como exemplo, é sim nítido e sólido. Sem falar no sorriso mais contagiante da sétima arte em décadas.



E a segunda, mas que poderia ser a primeira (risos), é sua diretora.
Tendo em seu currículo o ótimo “Monster” e uma briga feroz com a Marvel Studios que cerceou sua liberdade em “Thor - O Mundo Sombrio”, oque a fez largar o projeto, Patricia Lea Jenkins, ou simplesmente Patty Jenkins, chegou a DC/Warner em meio a um baita bombardeio de críticas, e com serenidade e um baita pulso, tomou o projeto em seus braços tal qual uma mãe protege um filho, defendendo-o a todo custo de boatos e péssimas influências.

Patty Jenkins...

...a grande "comandante" do filme.

Fã declarada do Superman de Richard Donner, algo que cheguei a citar no artigo que fiz sobre o filme do “azulão” de 1978. Patty conduziu com maestria a história de Diana, a princesa de Themyscera, filha de Hypolita, seguindo a risca os ensinamentos do mestre.

Patty com Richard Donner que deu sua benção a diretora

Mas não ainda a super-heroína que a maioria se acostumou a ver.
Pois aqui além de um conto de origem, oque temos é a dura saga de transição de uma princesa, que por mais que tivesse tido ensinamentos e treinamento nos mais diversos campos de conhecimento, a bem da verdade vivia numa cúpula protegida pela sua mãe a rainha Hypolita (Connie Nielsen, excelente) que sabendo da razão de sua existência tenta a todo custo impedir sua “evolução”, mesmo a contra gosto da própria irmã, a general Antíope (Robin Wright).

Durante o trinamento com Antíope...


...Diana começa a descobrir quem de fato era.

Só que quando Diana se depara com o “mundo real”, a princesa passa a aprender, às vezes sorrindo, às vezes chorando, tudo oque aquele mundo tinha para lhe oferecer e lhe ensinar, numa metáfora bem rara para filmes do gênero, que neste ponto nos faz lembrar do jovem Bruce Wayne de Batman Begins, enquanto procura se manter fiel aos seus princípios tal qual qualquer um de nós.
E isto cria a cena mais empolgante não só do filme, mas do gênero em muitos anos, quando em meio a desolação da chamada “Terra de Ninguém” decide agir quando ninguém o fazia, sendo com seu exemplo aquilo que todo o herói precisa ser, um motivador.



E por falar em se manter fiel, não é que houve gente reclamando que o filme não se passava na 2ª Guerra Mundial como originalmente é a origem da Mulher Maravilha. Mas aqui reside mais um e talvez o maior dos acertos do filme.




Nestes tempos politicamente corretos do levantar de bandeiras representativas, lógico que o estúdio iria jogar pesado em cima da questão a emancipação feminina. E não são raras as obras que ao tentar seguir o caminho do “politicamente correto” dão com os burros n’água ao se tornarem panfletárias e consequentemente chatas.
Mas aqui não é o caso, pois ao transportar a ação para a década de 10 do século passado, o filme conseguiu de forma fluída mostrar tal questão já que o tema da contestação do machismo cabia como uma luva para a época. O que não quer dizer que os homens em Mulher Maravilha tenham sido demonizados, não, muito pelo contrário, oque configura mais um ponto para a obra de Patty...ou talvez dois.
Como dois? Bem vamos por partes.

O fator humano passou a ser parte importante da narrativa em Mulher Maravilha
Se há uma coisa inegável no universo da DC Comics que muitas vezes passa batido pelo público médio é a importância que os núcleos de pessoas comuns têm. No caso do Superman, por exemplo, temos não apenas seus pais, como o núcleo do Planeta Diário com Lois, Perry White e logico o melhor amigo de Clark, Jimi Olsen. E nem vou citar aqui o caso do Batman e todos que compõe o mundo de Gotham, pois acho que já falei demais sobre isto na série de artigos sobre a trilogia de Nolan.
E aqui no filme da Mulher Maravilha esta característica que vinha sendo negligenciada é mostrada de maneira explícita, principalmente no grupo que acompanha Diana e Steve Trevor através das linhas inimigas, com destaque total para o personagem Chefe (Eugene Brave Rock, ótimo).

Chefe (Eugene Brave Rock) - Lições passadas para Diana

E aqui entramos naquilo que comentei, de não só os homens não serem demonizados, como a própria Diana acabar por aprender lições para si com eles. Como quando ao conversar com Chefe no acampamento à noite e escutar a história de como o povo do índio tinha sido dizimado ela o indaga que tinha feito aquilo, e olhando para Steve Trevor que dormia, Chefe responde que tinha sido o povo de Steve.
Steve Trevor que foi mais uma grata surpresa, pois Chris Pine que sempre foi um canastrão (não que isto seja necessariamente algo ruim), tem aqui a melhor interpretação da carreira até hoje. Tendo uma sinergia com Gal Gadot da melhor qualidade.

Diana (Gal Gadot) e Steve Trevor (Chris Pine) - Sintonia perfeita
Sinergia esta que também possuía sua contrapartida nos vilões, general Ludendorff (Danny Houston, muito bom) personagem da vida real adaptado para o filme e a Doutora Veneno (Elena Anya).

Ludendorff (Danny Houston) e a Dra.Veneno (Elena Anaya)
E por falar em vilão, lógico, temos de pensar em Ares, o Deus da Guerra (David Thwelis), que durante quase todo o filme fica escondido “atrás das cortinas” por assim dizer com a única intenção de corromper Diana. Uma decisão acertada de roteiro, ainda que esta manipulação não tenha sido realizada com a mesma maestria de um Coringa de Ledger.

Ares ataca...


...e tenta corromper Diana


Ares, o Deus da Guerra

A isto some todo tipo de boa referência, incluso aí a referência/reverência explícita de Patty a Donner na cena do beco. Ou na cena que Diana vai provar um vestido numa loja londrina que foi retirada direto do seriado dos anos 70.

A homenagem direta ao Superman de Richard Donner

Um trabalho excepcional de figurino, tanto nos figurinos imaginários, quanto e principalmente nos figurinos de época, que fazem a gente pensar sobre a capacidade cognitiva da banca de seleção do Oscar.

A junção de figurinos imaginados com outros representativos da época - Um dos pontos altos da produção

A música tema espetacular de Junkie XL que empolga e impacta no primeiro acorde e que aqui tem a oportunidade de brilhar, sendo usada com extrema sabedoria ao longo do filme.
E aquilo que considero o principal. Aquela sensação que você não entrou no cinema apenas como um mero passatempo de duas horas.



Fazendo de Mulher Maravilha não apenas um mero filme de super-herói, mas, sobretudo uma brisa de ar fresco, não apenas para as recentes produções com o selo DC nos cinemas, como também um ponto fora da curva no “mais do mesmo” geral, ao mesmo tempo em que segue a risca aquilo que foi traçado por Richard Donner e Mario Puzo quarenta anos atrás.
Um filme que não apenas é para se assistir, mas para se acreditar.
































6 comentários:

  1. Meu amigo, que texto LINDO. Enfim alguém pôs em palavras o que já habitava nas mentes e corações desta legião de fãs (antigos e novos) que como você, nos rendemos a maestria desta, desde já imortal, obra de arte. Obrigado e parabéns!

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  2. Classifico como seu melhor texto...e olhe que todos eles são excelentes!
    Obrigada e parabéns José Carlos Sandor!!

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  3. Muito bom... Sou suspeita em falar da Mulher Maravilha, que se tornou minha inspiração ... DCnauta forever ...

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  4. Amei. Posta mais endeusando essa Deus 😍

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