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quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Águia de Aço – Aviões, hard rock e a incrível história real por trás do clássico!

 

Creio que se você cresceu durante os anos 1980/1990 com certeza, ao menos uma vez, tenha assistido “Águia de Aço”!

O clássico filme de aventura e ação, protagonizado pela lenda, o recém “oscarizado” na época, Louis Gosset Jr.

O diretor Sidney J.Furie

Lançado oficialmente em 17 de janeiro de 1986, dirigido e roteirizado pelo já veterano na época Sidney J. Furie, “Águia de Aço” como sabemos, nos leva para uma aventura, na qual o jovem Doug Masters (Jason Gedrick), após seu pai (Tim Thomerson), um piloto de caça, ter sido abatido, preso e sentenciado a morte numa pequena e fictícia nação árabe, e diante da inercia das autoridades estadunidenses, decide com o apoio de seus amigos, todos filhos de militares, criar um louco plano de resgate.

E assim, com a ajuda de Charles “Chappy” Sinclair (Louis Gosset. Jr), um piloto veterano, a bordo de dois caças F-16 “pegos emprestados”, digamos assim (risos), parte para o resgate.

Tudo isto embalado por uma trilha sonora com nomes como Queen, Dio, Tina Turner, Eric Martin, King Kobra (com direito a participação de Louis Gossett Jr no clipe), entre outros.

Uma aventura simples sim, mas que enfrentou alguns grandes problemas.

Para começar, ao contrário de “Top Gun” que teve um grande apoio das forças armadas de Tio Sam para ser realizado, “Águia de Aço” teve que se virar sozinha.

Mas ao contrário da maioria dos resenhistas da web que afirma que isto teria ocorrido por causa do roteiro mostrar supostas “falhas” de segurança militares ou presumíveis atos de indisciplina, “´Águia de Aço” não contou com apoio oficial em razão de sua premissa, ou seja, um piloto norte-americano sendo derrubado e preso numa nação inimiga.

Louis Gossett Jr era o coronel "Chappy" Sinclair

Era na época expressamente proibido, na cabeça da alta cúpula militar estadunidense, mostrar em filmes a possibilidade dos militares do país sendo vítimas.

Indisciplinas? Bem se fosse assim, como os demais resenhistas da web, em especial do Youtube dizem, “Top Gun” com seus rasantes de Maverick sobre as torres dos aeródromos também não teria ajuda oficial.

E para arrematar esta contextualização, é só lembrarmos que o clássico “Comando Delta”, aquele com Chuck Norris e Lee Marvin, também não teve apoio, justamente por mostrar no seu começo, uma reconstituição da desastrosa Operação Garra de Águia, o resgate de prisioneiros no Irã, que foi abortado depois que um helicóptero Sea Stallion caiu sobre um avião Hércules C-130.

Os caças israelenses KFir...

Para contornar esta falta de apoio oficial, a produção foi para Israel, onde conseguiu apoio local tanto para as locações como para o maquinário, tanto que temos aqui os caças israelenses Kfir fazendo o papel de MIGs, o que aliás na opinião deste escriba ficou bem mais interessante que em Top Gun com seus pequenos F-5 Tiger usados neste contexto.

...fizeram o papel de MIGs em Águia de Aço

Ainda que durante suas filmagens os trabalhos precisaram ser interrompidos pois os caças cedidos para a produção, foram designados para missões reais.

Outro ponto bastante distinto e nunca lembrado, é que “Águia de Aço” foi o primeiro filme a colocar os atores voando de verdade na cabine dos caças, ainda que lógico no banco detrás (risos).

Mas então, se Águia de Aço teve tantos cuidados, por que ficou a sombra de Top Gun diante da história?

Bem, é obvio que se formos colocar os predicados de cada filme, digamos, numa tabela, a “disputa” possa até pender para o lado de Doug Masters e Chappy.

Como por exemplo o roteiro, já que Top Gun é apenas uma série de esquetes que culmina numa escaramuça aérea mais forçada que a cena de “Vingadores Ultimato” na qual um exército de personagens vai surgindo, sem que o vilão não faça nada (eita Power Rangers!).

Só que a cabeça da maioria do público não funciona assim (e nem de alguns resenhistas).

E ainda que Águia de Aço tivesse em Sidney J. Furie um diretor competente, do outro lado Top Gun possuía um jovem chamado Tony Scott, que foi um dos maiores estilistas visuais da história do cinema, fazendo de cada frame de seu filme um quadro, uma pequena obra de arte que se fixava na mente do espectador.

Sem dúvida que haverá sempre os resenhistas que tentarão levar suas críticas e considerações acadêmicas rasas para o lado da politização, mas a verdade é que ninguém que assiste à um filme como Águia de Aço (ou mesmo Top Gun) liga para esta bobagem.

E é aí que os F-16 levam vantagem sobre os F-14, já que aqui, temos sim, um fio condutor para trama, que ainda que tênue, é universal.

O desejo de um filho em ajudar o pai, fora uma questão pessoal de Chappy Sinclair, com relação ao pai de Doug, devidamente explicada na trama, que envolvia sua gratidão diante de um caso em que foi certa vez vítima de preconceito.

Uma premissa simples que nos leva por uma aventura inverossímil sim, mas absolutamente cativante em sua essência, sem esforçar para isto.

E aqui eu entro na questão que explica muita coisa por detrás desta produção, de seu roteiro, e principalmente seu protagonista interpretado pelo inesquecível Louis Gossett Jr.

Pois não há dúvida que o coronel Charles Sinclair “rouba” totalmente as atenções para si desde sua primeira aparição, personificando aquele que talvez seja o melhor mentor dos anos 80 (desculpa senhor Miyagi). Hora ríspido, hora paternal, hora engraçado e até mesmo anárquico, e com um dos melhores discursos motivacionais da história.

E mesmo que você que está lendo possa considerar que a maior parte do elenco (até pela pouca ou nenhuma experiência) possa parecer inexpressivo, Gossett Jr voa em céu de brigadeiro, ao mostrar todas as facetas de um personagem que tranquilamente poderia ser jogado em qualquer filme mais, digamos, complexo, que funcionaria do mesmo jeito.

Mas tudo isto que vemos em tela, teve uma base muito real, e mais incrível em alguns momentos que a ficção.

O General Daniel "Chappie" James Jr.

Daniel “Chappie” James Jr, o primeiro afro-americano a se tornar general quatro estrelas nas forças armadas estadunidenses. E sim, a grafia de seu apelido era “Chappie” e não “Chappy” como no filme.

Nascido em 20 de fevereiro de 1920, Daniel se formou na Universidade Tuskegee em 1942, mesmo ano em que “ganhou suas asas” de piloto, sendo comissionado como 2º tenente em 1943. E se você que leu Tuskegee, e é um aficionado por assuntos militares achou o nome familiar, você não está errado. Estamos aqui falando sim do esquadrão que ficou conhecido como os “Red Tails”, todo composto por pilotos negros, para os quais já foram feitos dois filmes contando sua história.

Chappie junto a um P-51 Mustang

Porém, durante a 2ª Grande Guerra. Chappie permaneceu em solo norte-americano. Fazendo o que? Treinando novos pilotos!

Portanto, qualquer semelhança aqui, de forma alguma é mera coincidência.

A primeira vez que esteve numa missão direta foi durante a Guerra da Coreia, na qual cumpriu um total de 101 missões. Em 1966 já formado pelo “Air Command and Staff College”, Chappie foi para a Tailândia dar suporte as missões de combate do Vietnã. Nesta época se tornou vice comandante da 8ª Ala de Caça, que era comandada pelo “ás” Coronel Robin Olds. E o comando dos dois se tornou algo tão relevante, em especial de Chappie, que a dupla acabou ganhando o apelido de “Blackman e Robin”.

Chappie posando com um F-4 Phantom ao fundo

Mas calma, pois o mais incrível, e cinematográfico feito de Daniel “Chappie” James Jr, ainda estava por vir.

Um ponto que foi omitido ao menos da dublagem brasileira de Águia de Aço é o nome do país no qual o pai de Doug acaba preso.

Seu nome no roteiro era Bylia. Sim, você não leu errado.

E esta brincadeira ou provocação com a Líbia poderia ser apenas isto, se o país não tivesse sido palco para um encontro inusitado do pior grau na vida real entre “Chappie” James Jr, e ninguém menos que Muamar Gadhafi!

Após seu serviço no Vietnam, Chappie se tornou o comandante da Base de Treinamento de Caças de Wheelus, na República da Líbia, que na época mantinha relações estreitas com os Estados Unidos.

Mas isto foi até oficiais militares darem um golpe de estado no país árabe, entre eles justamente aquele que viria ser por décadas seu mandatário supremo, o senhor Gadhafi, que invadiu a base a frente de uma coluna de blindados, passando a toda velocidade pelos alojamentos, até chegar onde estava Daniel “Chappie” James Jr.

Só que Chappie para surpresa de todos, ordenou o fechamento dos portões da base, se trancando com suas tropas e as tropas de Gadhafi.

Criando uma situação absolutamente impensável até para um roteirista de Hollywood, e que culminou simplesmente, com uma cena digna de cinema, mas de faroeste, na qual os dois militares, ambos com pistolas Colt Governamental nos coldres junto a cintura se encararam diante dos olhares incrédulos dos demais.

No final, o futuro ditador, diante de um pedido firme de Chappie, para que não ousasse sacar da arma, cedeu, e todos os militares da base voltaram para casa sem maiores problemas.

Sendo assim, ainda que sempre comparado, seja pela temática ou pela trilha sonora, ao seu contemporâneo, “Top Gun - Ases Indomáveis”, ou se tornando objeto de críticas maldosas feitas pelos famosos “entendidos” em cultura pop, e sobrevivendo as suas sequências caça-níqueis terríveis, “Águia de Aço” com todo merecimento hoje goza de status de cult.

Conseguido acima de tudo graças aqueles que sabem entender o que de fato cada filme se propõe, e que antes de tudo a função do cinema é nos encantar.

E por que não nos motivar?

Jonny Lawrence do Cobra Kai que o diga (risos).



 



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