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domingo, 26 de setembro de 2021

Patrulha Estelar - O Filme! - 10 Anos Depois!

 

Quando em 2010 foi anunciado que enfim a saga do Encouraçado Espacial Yamato, nossa conhecida Patrulha Estelar, ganharia um filme live action, não preciso dizer que a empolgação tomou conta do peito de muita gente, incluso aí este humilde escriba. E lógico que também não preciso citar o quanto foi decepcionante, em vários aspectos, tudo aquilo que viemos a assistir.

Fora, que aqui para Terra Brasilis, acabamos sofrendo um verdadeiro caso de “estelionato cultural”, pois durante todo o ano de 2010, no site de uma grande distribuidora de filmes, o cartaz de “Patrulha Estelar” era mostrado, com data de estreia e tudo (apenas quinze dias após lançamento no Japão) no finalzinho dezembro daquele ano, e no final o filme não apenas não foi lançado, como a tal distribuidora passou a negar o ocorrido.

Mas hoje, passados mais de dez anos de seu lançamento, acredito que se faz necessário um devido retcon no modo de como este filme é visto, e porque é uma obra que merece ser revista ou até vista pela primeira vez por muitos que não a conhecem.

Orçado em 24 milhões de dólares, um valor razoavelmente relevante para os padrões do cinema nipônico, principalmente à época, e tendo arrecadado mais do dobro deste valor somente no Japão, se baseia na saga “Busca Por Iscandar” para contar sua estória.

E aqui vem a primeira questão deste retcon de como este filme é visto, pois ao contrário do que todos os admiradores da saga imaginavam e gostariam, este longa-metragem não pretende recontar ipsis literis a saga que vemos na animação, seja na série para tevê ou sua versão compactada em longa-metragem.

Ou seja, a palavra-chave aqui é: adaptação!

E é assim que acredito que “Patrulha Estelar - O Filme” precisa ser encarado, uma adaptação, quase uma obra elsewolrds que se mantém fiel à alguns aspectos do original, mas que se permite sem muitos pudores modificar outros tantos.

Isto quer dizer que tudo nestas modificações foram acertos? Claro que não.

Na parte destes “erros” (sim, coloquei aspas aí), é obvio que o mais gritante se torna a forma como os gamilons foram retratados, e em especial seu líder, Deslock, que se tornou uma espécie de “consciência coletiva”, representado na única cena que surge, numa forma humanoide de cristal que se comunica de forma telepática.

Caramba! Penso eu. Se era para fazer comunicação telepática, por que não colocar um ator ocidental numa participação especial? Talvez um dos irmãos Fienes (Joseph ou Ralph). Tudo bem, esta é uma consideração de cunho bastante pessoal, mas não se pode negar que esta breve aparição enriqueceria em muito o filme, lhe dando uma maior visibilidade para o mercado internacional.

De qualquer maneira, tirando a questão de sua forma, se formos considerar que não há na película compromisso de aprofundamento com sua personalidade (até deveria ter, mas não tem), tal “erro” é plenamente aceitável se aplicado o tal conceito elseworlds ao qual me referi, e qualquer tentativa de comparação com o que foi feito com Deslock no remake, Space Battleship Yamato 2199, como já li em comentários na web, é absurdo, já que ali há a intenção (e tempo) de aprofundar no cerne do personagem.

Outro ponto que se refere a cerne de personagens na obra, diz respeito a nossa querida Lola/Yuki Mori, e o upgrade que ganhou nesta versão. Algo que já vi com muita infelicidade alguns comentários nauseabundos, se referindo que a mudança da personagem de uma enfermeira tímida para uma piloto durona era errado. E até poderia rir de tamanha besteira se algo do tipo não representasse uma visão tão míope, medíocre e preconceituosa.

Primeiro, pois mesmo dentro da saga clássica a personagem evolui bastante ao longo das séries de tevê e longas-metragens. É só lembramos que é ela que comanda o ataque a fortaleza Golba em “Para Sempre Yamato” de 1980.  Ainda que uma participação mais efetiva da personagem, sempre tenha sido algo que a animação clássica (a nova também) ficou devendo.

 Segundo, pois para qualquer um com uma capacidade de observação que vá além do próprio umbigo, perceberá que após a “velha guarda” da tripulação e de Sandor/Sanada, ela é o membro da tripulação mais centrado, o ponto de equilíbrio na por vezes caótica relação da “tropa” e “porto seguro” de Derek Wildstar/ Sussumu Kodai.

 Há ainda a questão das mudanças de sexo de alguns personagens, algo que por um prisma pessoal costumo ser bastante avesso a ideia, já que tal subterfúgio costuma ser usado com frequência para não pagamento de direitos autorais, assim como mudanças de etnia.

Mas temos que considerar que Patrulha Estelar ao ser criada, foi numa época de atuação quase nula das mulheres em postos relevantes da sociedade nipônica, portanto tais mudanças podem ser consideradas como reflexo de nossos tempos, e que no fim das contas em nada resultaram em mudanças no conteúdo da estória.

Ainda que por ventura, todos os fãs quisessem ao menos a representação clássica do Dr.Sam/Sado. Mas pelos menos temos a Mimi/ Mi-Kun sua gatinha. Afinal até dá para aceitar um Deslock de cristal, mas a ausência de Mimi seria um ultraje infame (risos).

E por falar em upgrade, se tem uma coisa que nem o fã mais ortodoxo e xiita de Yamato reclamou, mesmo na época de lançamento do filme, foi na mega turbinada que deram em IQ-9 (ou Analyzer se preferir).

Tudo bem que nosso querido robozinho vermelho demora a surgir na forma que nos acostumamos a vê-lo, mas quando isto acontece, traz a reboque a cena mais avassaladora do filme. Mais avassaladora até que o disparo da arma de movimento de ondas.

O tipo de cena que o cinema de hoje, tão na caixinha, dificilmente consegue fazer. E que deve ter feito R2-D2 queimar vários circuitos de inveja.

Muito se criticou à época de seu lançamento sobre alguns cenários, e de fato se formos comparar com o que nos acostumamos a ver nas superproduções hollywoodianas, e o que se esperava, pensando-se nos cenários da animação clássica, estes podem parecer bastante simplórios.

Contudo, mesmo isto acabou tendo sua importância, servindo de base para o que veríamos aplicado no remake da animação pouco tempo depois.

Quanto ao roteiro em si, “Patrulha Estelar” ainda que se baseie em sua premissa na primeira série de tevê, “Busca Por Iscandar”, tom a algumas liberdades.

Insere personagens que só surgiram mais à frente na saga, como o sargento Knox/Saito, desta vez não apenas como líder dos “fuzileiros espaciais”, mas que também tinha atribuições de “polícia” dentro da nave, criando mais uma ideia que foi depois utilizada no remake em animação.

Replica situações que também só ocorreriam mais adiante na saga. Pequenas cenas como a morte de um dos pilotos dos Tigres Negros, que apenas um fã mais atento percebe.

Muda algumas circunstâncias envolvendo personagens e até os planetas Gamilon e Iscandar.

Mas principalmente - e talvez aí resida o grande erro do filme - criam uma mistura de “Busca Por Iscandar” com a primeira versão de “O Cometa Império” do longa “Adeus, Yamato”.

Resultando num desfecho, que este sim, fica difícil de não “torcer o nariz”, por privar o espectador de uma série de possibilidades que não foram vistas.

Ah sim! E ainda tem a ótima canção “Love Lives”, escrita e interpretada por Steven Tyler, para o qual dez anos atrás fiz “cara feia”. Afinal, inserir algo do tipo na irrepreensível trilha sonora do maestro Hiroshi Miyagawa parecia uma heresia. Mas que hoje não consigo imaginar este filme sem ela, em espacial para embalar o romance entre Wildstar e Lola.

Com efeitos especiais que até hoje deixam muitas superproduções norte-americanas no chinelo, este filme, ainda que sendo uma adaptação, ganhou uma suma importância.

 

Não apenas para os fãs de Patrulha Estelar, mas para os fãs de aventuras de ficção científica como um todo, por representar uma quebra de hegemonia bastante saudável no cenário deste tipo de produção.

E ao encerrar mais este artigo do blog, o faço como uma reflexão de que todos as vezes precisamos questionar as certezas que nos fazem julgar, as vezes rotular e até negligenciar algumas obras, em especial novas versões.

E para comemorar os quatro anos, e mais de cem artigos do “Enquanto Isso na Ponte de Comando”. Mantendo firme a ideia de ser tanto aqui, quanto em seu canal no Youtube, uma voz dissonante na mesmice geral, repleta de frases feitas, jargões e cacoetes rasos feitos com a única intenção de conseguir “seguidores” (sim, coloquei aspas aí também) que permeiam a mídia deste tipo de assunto.

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PATRULHA ESTELAR - O FILME (LEGENDADO)

Sendo assim, muito obrigado a todos que leram este artigo, ou algum outro dos tantos artigos deste blog ao menos uma vez, ou assistiu algum dos vídeos do canal no Youtube.



“A graça da viagem, é a viagem, e não o destino”.

Muito obrigado! Valeu!

 

 

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