Quando
em 2010 foi anunciado que enfim a saga do Encouraçado Espacial Yamato, nossa
conhecida Patrulha Estelar, ganharia um filme live action, não preciso dizer que a empolgação tomou conta do
peito de muita gente, incluso aí este humilde escriba. E lógico que também não
preciso citar o quanto foi decepcionante, em vários aspectos, tudo aquilo que
viemos a assistir.
Fora,
que aqui para Terra Brasilis, acabamos sofrendo um verdadeiro caso de
“estelionato cultural”, pois durante todo o ano de 2010, no site de uma grande
distribuidora de filmes, o cartaz de “Patrulha Estelar” era mostrado, com data
de estreia e tudo (apenas quinze dias após lançamento no Japão) no finalzinho
dezembro daquele ano, e no final o filme não apenas não foi lançado, como a tal
distribuidora passou a negar o ocorrido.
Mas
hoje, passados mais de dez anos de seu lançamento, acredito que se faz
necessário um devido retcon no modo
de como este filme é visto, e porque é uma obra que merece ser revista ou até
vista pela primeira vez por muitos que não a conhecem.
Orçado
em 24 milhões de dólares, um valor razoavelmente relevante para os padrões do
cinema nipônico, principalmente à época, e tendo arrecadado mais do dobro deste
valor somente no Japão, se baseia na saga “Busca Por Iscandar” para contar sua
estória.
E
aqui vem a primeira questão deste retcon
de como este filme é visto, pois ao contrário do que todos os admiradores da
saga imaginavam e gostariam, este longa-metragem não pretende recontar ipsis literis a saga que vemos na
animação, seja na série para tevê ou sua versão compactada em longa-metragem.
Ou
seja, a palavra-chave aqui é: adaptação!
E é
assim que acredito que “Patrulha Estelar - O Filme” precisa ser encarado, uma
adaptação, quase uma obra elsewolrds
que se mantém fiel à alguns aspectos do original, mas que se permite sem muitos
pudores modificar outros tantos.
Isto
quer dizer que tudo nestas modificações foram acertos? Claro que não.
Na
parte destes “erros” (sim, coloquei aspas aí), é obvio que o mais gritante se torna
a forma como os gamilons foram retratados, e em especial seu líder, Deslock,
que se tornou uma espécie de “consciência coletiva”, representado na única cena
que surge, numa forma humanoide de cristal que se comunica de forma telepática.
Caramba!
Penso eu. Se era para fazer comunicação telepática, por que não colocar um ator
ocidental numa participação especial? Talvez um dos irmãos Fienes (Joseph ou
Ralph). Tudo bem, esta é uma consideração de cunho bastante pessoal, mas não se
pode negar que esta breve aparição enriqueceria em muito o filme, lhe dando uma
maior visibilidade para o mercado internacional.
De qualquer maneira, tirando a questão de sua forma, se formos considerar que não há na película compromisso de aprofundamento com sua personalidade (até deveria ter, mas não tem), tal “erro” é plenamente aceitável se aplicado o tal conceito elseworlds ao qual me referi, e qualquer tentativa de comparação com o que foi feito com Deslock no remake, Space Battleship Yamato 2199, como já li em comentários na web, é absurdo, já que ali há a intenção (e tempo) de aprofundar no cerne do personagem.
Outro
ponto que se refere a cerne de personagens na obra, diz respeito a nossa
querida Lola/Yuki Mori, e o upgrade
que ganhou nesta versão. Algo que já vi com muita infelicidade alguns
comentários nauseabundos, se referindo que a mudança da personagem de uma
enfermeira tímida para uma piloto durona era errado. E até poderia rir de
tamanha besteira se algo do tipo não representasse uma visão tão míope, medíocre e preconceituosa.
Primeiro,
pois mesmo dentro da saga clássica a personagem evolui bastante ao longo das
séries de tevê e longas-metragens. É só lembramos que é ela que comanda o
ataque a fortaleza Golba em “Para Sempre Yamato” de 1980. Ainda que uma participação mais efetiva da
personagem, sempre tenha sido algo que a animação clássica (a nova também)
ficou devendo.
Segundo, pois para qualquer um com uma capacidade de observação que vá além do próprio umbigo, perceberá que após a “velha guarda” da tripulação e de Sandor/Sanada, ela é o membro da tripulação mais centrado, o ponto de equilíbrio na por vezes caótica relação da “tropa” e “porto seguro” de Derek Wildstar/ Sussumu Kodai.
Há ainda a questão das mudanças de sexo de alguns personagens, algo que por um prisma pessoal costumo ser bastante avesso a ideia, já que tal subterfúgio costuma ser usado com frequência para não pagamento de direitos autorais, assim como mudanças de etnia.
Mas
temos que considerar que Patrulha Estelar ao ser criada, foi numa época de
atuação quase nula das mulheres em postos relevantes da sociedade nipônica,
portanto tais mudanças podem ser consideradas como reflexo de nossos tempos, e
que no fim das contas em nada resultaram em mudanças no conteúdo da estória.
Ainda
que por ventura, todos os fãs quisessem ao menos a representação clássica do
Dr.Sam/Sado. Mas pelos menos temos a Mimi/ Mi-Kun sua gatinha. Afinal até dá
para aceitar um Deslock de cristal, mas a ausência de Mimi seria um ultraje
infame (risos).
E
por falar em upgrade, se tem uma
coisa que nem o fã mais ortodoxo e xiita de Yamato reclamou, mesmo na época de
lançamento do filme, foi na mega turbinada que deram em IQ-9 (ou Analyzer se
preferir).
Tudo
bem que nosso querido robozinho vermelho demora a surgir na forma que nos
acostumamos a vê-lo, mas quando isto acontece, traz a reboque a cena mais
avassaladora do filme. Mais avassaladora até que o disparo da arma de movimento
de ondas.
O
tipo de cena que o cinema de hoje, tão na caixinha, dificilmente consegue fazer.
E que deve ter feito R2-D2 queimar vários circuitos de inveja.
Muito se criticou à época de seu lançamento sobre alguns cenários, e de fato se formos comparar com o que nos acostumamos a ver nas superproduções hollywoodianas, e o que se esperava, pensando-se nos cenários da animação clássica, estes podem parecer bastante simplórios.
Contudo, mesmo isto acabou
tendo sua importância, servindo de base para o que veríamos aplicado no remake da animação pouco tempo depois.
Quanto
ao roteiro em si, “Patrulha Estelar” ainda que se baseie em sua premissa na
primeira série de tevê, “Busca Por Iscandar”, tom a algumas liberdades.
Insere
personagens que só surgiram mais à frente na saga, como o sargento Knox/Saito,
desta vez não apenas como líder dos “fuzileiros espaciais”, mas que também
tinha atribuições de “polícia” dentro da nave, criando mais uma ideia que foi
depois utilizada no remake em
animação.
Replica
situações que também só ocorreriam mais adiante na saga. Pequenas cenas como a
morte de um dos pilotos dos Tigres Negros, que apenas um fã mais atento percebe.
Muda
algumas circunstâncias envolvendo personagens e até os planetas Gamilon e
Iscandar.
Mas
principalmente - e talvez aí resida o grande erro do filme - criam uma mistura
de “Busca Por Iscandar” com a primeira versão de “O Cometa Império” do longa
“Adeus, Yamato”.
Resultando num desfecho, que este sim, fica difícil de não “torcer o nariz”, por privar o espectador de uma série de possibilidades que não foram vistas.
Ah
sim! E ainda tem a ótima canção “Love Lives”, escrita e interpretada por Steven
Tyler, para o qual dez anos atrás fiz “cara feia”. Afinal, inserir algo do tipo
na irrepreensível trilha sonora do maestro Hiroshi Miyagawa parecia uma
heresia. Mas que hoje não consigo imaginar este filme sem ela, em espacial para
embalar o romance entre Wildstar e Lola.
Com efeitos especiais que até hoje deixam muitas superproduções norte-americanas no chinelo, este filme, ainda que sendo uma adaptação, ganhou uma suma importância.
Não apenas para os fãs de Patrulha Estelar, mas para os fãs de aventuras de ficção científica como um todo, por representar uma quebra de hegemonia bastante saudável no cenário deste tipo de produção.
E
ao encerrar mais este artigo do blog, o faço como uma reflexão de que todos as
vezes precisamos questionar as certezas que nos fazem julgar, as vezes rotular
e até negligenciar algumas obras, em especial novas versões.
E
para comemorar os quatro anos, e mais de cem artigos do “Enquanto Isso na Ponte
de Comando”. Mantendo firme a ideia de ser tanto aqui, quanto em seu canal no
Youtube, uma voz dissonante na mesmice geral, repleta de frases feitas, jargões
e cacoetes rasos feitos com a única intenção de conseguir “seguidores” (sim,
coloquei aspas aí também) que permeiam a mídia deste tipo de assunto.
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PATRULHA ESTELAR - O FILME (LEGENDADO)
Sendo assim, muito obrigado a todos que leram este artigo, ou algum outro dos tantos artigos deste blog ao menos uma vez, ou assistiu algum dos vídeos do canal no Youtube.
“A
graça da viagem, é a viagem, e não o destino”.
Muito
obrigado! Valeu!