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segunda-feira, 17 de setembro de 2018

The Pretender


A vida não era exatamente uma novela para quem em meados dos anos 1990 tentasse lançar um seriado na tevê norte-americana que tivesse, ainda que de leve, alguns toques de fantástico embalados por um fio condutor de tramas de conspiração, afinal se viviam os anos “X”. Os anos em que as aventuras de Mulder e Scully eram soberanas na mente dos fãs.
Mas eis que 1996 o produtor Steven Long Mitchell convenceu a produtora Fox e a rede NBC de um projeto sobre um garoto com um incrível dom, que tirado do convívio paterno foi criado numa espécie de versão privada de CIA, e em setembro daquele ano ia ao ar o primeiro episódio de uma das séries mais interessantes já feitas... The Pretender.



Dotado de uma inigualável capacidade de aprendizado, uma espécie de estágio absoluto do QI, que o permitia inclusive identificar padrões e assim antever as ações que poderiam acontecer, Jarod, ainda garoto foi trazido para dentro do “Centro”, uma organização secreta privada, onde cresceu sem nenhum contato com o mundo exterior até o começo de sua vida adulta, só que um dia ele descobre toda verdade sobre algumas das ações no qual a organização se envolvia e foge.


E assim se dá o começo de “The Pretender”, um seriado que conseguia misturar com maestria uma boa dose de diferentes elementos. Era “roadie movie”, era filme de espionagem, e várias outras coisas.


Tudo, pois, ainda que o plot inicial de cada episódio pudesse parecer o mesmo, Jarod (Michael T. Weiss) fugindo da perseguição do Centro, em geral personificado na figura de Catherine Parker (Andrea Parker), comumente chamada apenas de Miss Parker, a própria capacidade de Jarod de poder em pouquíssimo tempo aprender qualquer coisa era o gancho perfeito para colocar o protagonista nas mais diversas situações.

Catherine Parker (Andrea Parker) - Na maioria das vezes ela que perseguia Jarod

      Situações nas quais além de escapar de seus perseguidores e ir atrás de sua própria história que lhe foi roubada, ajudava as pessoas que encontrava pelo caminho - algo que, aliás, sempre lembrou demais a antiga série do Hulk protagonizada por Bill Bixby e Lou Ferrigno -, fazendo o espectador se divertir com a maneira de como descobria o mundo ao seu redor, por vezes se encantando com coisas das mais triviais possíveis.

Aprisionado por toda a infância, Jarod se impressionava com as coisas mais triviais

Hora era Jarod descobrindo sobre balinhas que saiam de um brinquedo, hora era Jarod falando sobre as propriedades nutricionais do sorvete. Tudo oque para uma pessoa comum passava despercebido, para ele se tornava uma grande descoberta.

Zoe (Lisa Ceroli) se torna a "namoradinha" do protagonista

Sem falar de quando surge em sua vida Zoe (Lisa Cerasoli), aquela que viria a ser a “namoradinha” do herói, e com quem Jarod descobre um tal de “sexo”, numa cena que poderia descambar para um ridículo extremo, mas que sim, ficou muito legal.
Outra coisa interessante na série era como se desenvolviam as relações de Jarod com alguns de seus perseguidores.

Sidney (Patrick Bauchau)

Neste quesito, além de Miss Parker, o destaque absoluto vai para Sidney (Patrick Bauchau), o mentor direto, com o qual Jarod jamais deixou de romper uma relação que era absolutamente paternal.

Mr. Parker (Harve Presnell)

Paternalismo que era invertido para o sentido contrário quando se pensa no principal diretor do Centro, Mr.Parker (Harve Presnell). O nome parece familiar? Sim, o pai de Catherine Parker.
Paternidade, aliás, é um ponto chave (e não poderia ser diferente) do seriado, e é abordado não apenas pela proteção de Sidney a Jarod, ou cobrança de resultados de Parker a Catherine. Como pela procura do protagonista ao seu pai biológico , que depois de muito pelejar descobre ser o Major  Charles, interpretado por ninguém menos que George Lazemby. Sim! O 007 de um único filme (A Serviço de Vossa Majestade) é quem interpreta o pai biológico de Jarod.

Major Charles (George Lazemby)

Aliás, as relações interpessoais como um todo são outro gancho muito bem trabalhado pelo seriado, que não apenas ficava se escorando nas aventuras de Jarod, que um dia cirurgião, um dia piloto de formula Indy e por aí vai. Elas são exploradas nos mais diversos nichos.



Exemplo disto é Broots (John Gries) que era um especialista em tudo que era eletrônico, apaixonado por Miss Parker, que poderia parecer um covarde num rápido olhar mais desatento, mas por vezes nos fazia torcer por ele, principalmente no episodio que tem sua filha ameaçada (olha a paternidade aí de novo).

Broots (John Gries)...

Ms.Parker e Broots - Uma relação mais que complicada

Além disto, temos o enigmático Ângelo (Paul Dillon), que foi uma tentativa do Centro que criar mais um Jarod, mas a coisa não deu muito certo, criando um gênio desligado da realidade. Mas não, não confunda com autismo. Pois no caso de Ângelo, a coisa de fato foi um grave erro ao se tentar brincar de Deus.

Angelo (Paul Dillon)

Mas então quem seria capaz deste tipo de coisa?
Bem, aí ao menos pra mim, temos um caso à parte no que concerne à categoria: “vilões”.

Dr.Raines (Richard Marcus) - Praticamente o mal encarnado

Dr. William Raines (Richard Marcus) era a encarnação da malevolência. Não apenas um antagonista, mas uma mistura de autocrata e cientista maluco, que vivia atrelado a um cilindro de oxigênio, num visual que parecia uma espécie de Professor Xavier do mal.

Mr.Lyle (James Denton)

Mas o troféu de autocrata do seriado com certeza vai para Mr.Lyle (James Denton), que quer pegar Jarod apenas para se promover dentro da organização.
The Pretender, infelizmente, nunca chegou a ser um seriado que cultivou uma “mega-audiência”. Mas conseguiu arregimentar um público bem cativo ao longo de suas quatro temporadas.

Cartaz promocional do crossover entre The Pretender e Profiler

Chegando inclusive por duas vezes a fazer crossover com outro seriado da NBC da época, “Profiler”, quando ambos estavam em suas terceiras temporadas, e talvez o mais legal disto foi que na época os seriados, ao menos na tevê aberta brasileira, eram exibidos em emissoras distintas, “The Pretender” na Record, e “Profiler” na Band.

O elenco principal de Profiler
Contudo, nem isto fez a vida do seriado se tornar mais longeva, sendo descontinuado ao fim da quarta temporada, deixando seu final entreaberto.
E lógico, que nem todo mundo gostou daquilo, oque suscitou muita reclamação, que acabou gerando em 2001 um longa-metragem chamado “The Pretender 2001” (quanta criatividade...bem deixa quieto). O filme, produzido então pelo canal TNT tinha como proposta colocar um ponto final a saga de Jarod, contudo, ainda que respondendo alguns questionamentos que ficaram em aberto, acabou se tornando uma espécie continuação.


Continuação que teve mais outro capítulo ainda 2001 com a chegada de outro filme, “The Pretender: Ilha dos Assombrados”, que no fim das contas só serviu para deixar mais perguntas em aberto.


Mas como eu escrevi alguns parágrafos acima, a história do gênio com espírito de menino que tentava a todo custo não usar de violência, tinha conseguido encantar uma numero razoável de fãs. Que mais que números frios de índices de audiência sabiam aproveitar a magia de uma saga bem criada e desenvolvida, aquele público que em pouco tempo deixa apenas de ser mais um fã, fazendo em 2013, Jarod retornar, desta vez na forma de graphic novels.

Capa de uma das graphic novels que procurar manter o seriado vivo

E que através destas HQ’s, nestes automatizados e imediatistas tempos, procuram manter viva a chama de uma das séries mais inteligentes já criadas, na esperança talvez que um dia, algum produtor possa olhar para o personagem e pensar o quão interessante seria fazer talvez um filme sobre ele.


































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