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sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Falcões da Noite


Espremido entre as franquias “Rocky” e “Rambo”, quase que esquecido pelas gerações mais novas, em 1981 estreou um filme policial e de ação que com o tempo passou a ser mostrar um caso quase isolado na filmografia de seu protagonista, Sylvester Stallone, e que de quebra nos trouxe a primeira atuação numa produção norte-americana do holandês Rutger Hauer...o filme era Falcões da Noite!



Em 1981, Sylvester Stallone já era um astro do cinema que podia passar alguns momentos por semana dando brilho no seu “Oscar” de melhor roteiro original por “Rocky, um lutador”, mas ainda não havia se notabilizado como astro de filmes de ação mais, digamos, espetaculosos, como “Cobra”, “Tango&Cash” ou a recente franquia “Mercenários”.

Deke Da Silva (Stallone) e Matthew Fox (Billy Dee Williams) - A dupla de tiras de Nova York

E é neste cenário, que temos “Falcões da Noite”, um filme que ainda possui muito de uma narrativa típica dos anos 70. E que inclusive, reza a lenda urbana, na verdade deveria ter sido a terceira parte da franquia “Operação França”, mas que com a desistência de Gene Hackman na última hora de mais uma vez encarnar o policial Popeye Doyle, teve o roteiro reescrito, ainda que sua estrutura básica se assemelhe mesmo ao filme dirigido por William Friedkin.

Stallone barbado - Se proposital ou não parecia uma alusão ao "Serpico" de Al Pacino

Nele, um Sylvester Stallone numa rara versão com barba que lembra Al Pacino em "Serpico", é Deke Da Silva (sim, Da Silva), um policial de Nova York que conhece as ruas da cidade como poucos, e que tem por tática para prender marginais usar de disfarces, como de velhinhas (sim, Stallone vestido de bondosa senhorinha).
Deke faz parceria com Matthew Fox (sim, um homônimo do protagonista de “Lost”), interpretado por Billy Dee Williams, naquele momento no auge da fama, após ter vivido Lando Clarissian em “O Império Contra-Ataca” um ano antes.

A química entre Stallone e Williams se demonstra perfeita durante o filme

E a química entre Stallone e Williams sem dúvida é muito boa, até por conta de que aqui ao contrário de outros filmes seus, o personagem de Sly era no fim das contas um “cara comum” e não um “exército de um homem só”, e que ainda de quebra tentava se reaproximar da ex-esposa (Lindsay Wagner).

Deke ainda que um policial casca-grossa estava longe do esteriótipo dos protagonistas de filme de ação

Só que a vidinha tranquila dos dois tiras nova-iorquinos muda ao serem convocados para uma unidade antiterrorismo montada por Peter Hartman (Nigel Davenport), um especialista em antiterror, que tinha descoberto que Wulfgar, um terrorista que trabalha por encomenda havia fugido para os Estados Unidos após perder a linha, por assim dizer, num atentado que nem seus contratantes gostaram do resultado.


Interessante também é perceber que Deke Da Silva a princípio hesita em seguir a doutrina apregoada pelo seu chefe, que insistia que ao primeiro contato com Wulfgar, este tinha que ser eliminado não importando as consequências, algo que ia contra o código pessoal do policial.

Wulfgar (Rutger Hauer) - O terrosita que foge para os Estados Unidos

Astuto, sedutor e sem um pingo de hesitação, como todo bom psicopata, assim o terrorista alemão é apresentado, e o mundo toma conhecimento do talento de Rutger Hauer, o holandês que ali fazia sua estreia numa produção hollywoodiana, e que talvez muito por causa do que realiza aqui deve ter ganho no ano seguinte seu papel em “Blade Runner”. 
Sem falar que possuía uma bela marca registrada, ao dizer para algumas de suas vítimas antes de executá-las a frase: Você vai para um lugar melhor.
Lugar melhor, contudo, nem sempre foi onde a produção do filme pisou, tendo em seu caminho uma série de percalços.


Pra começar os problemas, logo no começo das filmagens o diretor Gary Nelson abandonou o barco, ao que se conta por desavenças com Sylvester Stallone que volte e meia era visto no set de filmagem trocando ideia com o roteirista David Shaber. E isto, ao que parece criou um hiato na direção de Falcões da Noite, que até ser assumida por Bruce Malmuth ( que anos depois dirigiu Steven Seagal em “Difícil de Matar”), ficou nas mãos do próprio Stallone por alguns dias.

Os problemas entre Stallone e Hauer acabaram indo além do que se vê na tela.

E aí surgiu o maior dos problemas que as filmagens tiveram, pois era nítido, e todos ali percebiam que mesmo com seu imenso carisma, que Sly mesmo não sendo um ator ruim como alguns críticos gostam de fazer crer, estava sendo obliterado por Rutger Hauer a cada cena, oque começou a gerar um clima que de esquisito passou para tenso, e que dizem culminou numa cena de bate-boca entre norte-americano e o holandês, que de dedo em riste quase partiu para as vias de fato.

Da Silva encontra Wulfgar no meio da balada

Tudo porque numa das cenas chaves (e aqui vou soltar um pequeno spoiler), Wulfgar é alvejado por tiros, e o pessoal dos efeitos especiais que estava encarregado de puxar os cabos que estavam amarrados a Hauer, para que houvesse impressão de veracidade no momento dos disparos, teria sido “instruído” por Sly a puxar com muito, mas muito mais força do que o usual para este tipo de cena. Oque provocou em Rutger Hauer muitas dores e desconforto nos dias posteriores, sendo que alguém dentro da equipe técnica resolveu contar ao holandês sobre a “pegadinha”, oque gerou a contenda entre os dois astros.

Mesmo após briga com Stallone e a  morte de sua mãe, Hauer permanceu firme na produção

Mesmo assim Hauer prosseguiu na produção até o fim, mesmo quando sua mãe faleceu durante as filmagens.
Filmagens que mesmo após encerradas, teriam sofrido com os cortes realizados que transformaram a produção de mais de duas horas em menos de uma hora e meia.


Ainda assim “Falcões da Noite” permanece sendo um ótimo exemplo de um amálgama, mesmo que não intencional, entre os filmes policiais dos anos 70 e 80.


E que muito tem para ensinar a algumas produções recentes cuja a pirotecnia vazia se transformou no principal astro.






















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