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sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Carta Para o Superman

 

Olá, Clark! Tudo bem?

Não importa se eu te chamar de Clark né? É que Kal-El me parece um pouco formal demais. Além disto já lhe conheço faz tanto tempo, que você já se tornou alguém bem familiar, digamos assim.

Você deve estar estranhando que esteja escrevendo esta carta, não é?

Então.... Eu também estou.

É que comecei a pensar que deveria fazer um texto para falar o que penso sobre você. Pois vamos combinar? O glossário de bobagens que volte e meia leio sobre você, ideias completamente equivocadas ou até mal-intencionadas poderiam lhe render até um novo superpoder, a superpaciência.

Eu sei que este em especial foi um ano complicado para você, afinal você perdeu um dos seus “pais”. Não, não me refiro à Jor-El ou ao Jonathan, e sim um dos teus pais aqui neste chamado “mundo real”, o grande Richard Donner. E agora já no final do ano, todo este “blá blá blá” envolvendo o John, seu filho.

Pois é! Nós sabemos que depois do advento desta máquina de fazer doido chamada internet e do advento das assim chamadas “redes sociais”, que são tudo, menos sociáveis, ficou quase impossível se viver uma vida de herói em paz.

Bom, antes de tudo, quero dizer que a maior parte da admiração que nutro por vossa pessoa vem do fato de que a despeito de todos seus poderes, no fundo o que você mais quer são as coisas mais simples, e este é um conceito que nós sabemos, não é compreendido pela maioria dos ditos “entendedores da matéria”, ou muitas vezes negado com a maldade que só uma criança mimada pode expressar.

Pois a maioria dos seres que o criticam, não suportam a ideia que o homem mais poderoso do universo simplesmente possa querer para si uma vidinha tranquila numa fazenda acompanhado da esposa e do filho. E tentam de forma medíocre criar teorias de que sua figura não teria tantos fãs justamente por causa de um suposto distanciamento com a dita “realidade”. Quando na realidade é justamente o oposto!

Eles não querem a realidade relida numa HQ, eles simplesmente não a suportariam. E ainda enchem a boca para falar de um suposto "conteúdo adulto e sombrio".

Se a clássica saga de nossos amigos Oliver Queen e Hal Jordan fosse lançada nos dias de hoje, não quero nem pensar o quanto grupos mesquinhos não iriam furiosamente bradar em redes sociais sobre esta pelas mais diferentes razões, com o manto das mais primordiais razões de ambos os lados.

Trocando a razão por “ter razão”.

Talvez apenas não tenham capacidade de análise? Penso eu.

Ou talvez até tenham, mas por comodismo não o fazem. Ou pela pura incompetência de lidar com suas próprias existências procuram diminuir as dos outros.

Tentando fazer com personagens de ficção aquilo que não conseguem fazer na vida real.

Acredita Clark, que criam até teorias da conspiração de que há um complô para diminuir sua masculinidade?

Dizem que numa HQ, você teria admitido que a Diana, nossa querida Mulher Maravilha, seria mais apta a comandar a Liga da Justiça, isto seria uma manobra para combater a figura do “macho branco opressor”.

Fingem, mentem para si mesmos, sobre a natureza e a história da Diana, que foi preparada para ser uma guerreira e líder militar, como se isto fosse uma imensa novidade oriunda destes nossos incestuosos tempos. E fingem mais uma vez não entender a sua. Sim aquela natureza que me referi alguns parágrafos acima.

Todos sabemos que você é o líder moral de qualquer versão da Liga, e o é justamente pelos valores que seus pais passaram para você.

E tem mais! Se lembra daquela estória em que você renega a cidadania estadunidense? Pois é, tem gente que não sabe a diferença de patriotismo para patriotada. E daqui do Brasil (tudo bem eu sei que não é só aqui) dizem que isto era uma afronta aos valores norte-americanos nos quais você foi calcado.

Mas cinicamente, passam por cima do conceito da estória (mais uma vez eu sei), e fingem não entender que naquele momento mais que nunca você estava defendendo os ideais que ergueram a nação que o adotou e que você adotou para si.

Pois é... Mas se o Steve Rogers, que leva a alcunha de Capitão América já passou por algo semelhante, e muitos fingem não entender, é meio obvio que isto aconteceria contigo também. Infelizmente..

E agora toda esta questão envolvendo seu filho...

A bem da verdade, nem queria estar tocando neste assunto aqui, pois não há nada de relevante nele, já que deveria ser tratado de forma mais natural, sem estardalhaço, e muito menos quero ficar dando assunto para pessoas de índole ruim.

O mundo muda, evolui. E da mesma forma que os heróis negros chegaram e fincaram posição (desculpe o termo militar). A história não pode mais virar o rosto, e fingir não enxergar que estas pessoas estão aí. Trabalhando, pagando impostos, consumindo...

O problema é que a coisa as vezes chega a um determinado ponto que seria engraçado se não fosse preocupante.

Tudo bem.... Eu sei que nem sempre as escolhas feitas pelos autores e as empresas para as quais trabalham são as melhores para vocês, personagens de ficção.

O problema é que hoje em dia, tudo é meticulosamente manipulado para atender parcelas bem específicas de público, e a consequência disto acaba sendo a distorção ou até destruição de uma boa ideia.

Com cada parcela de público devidamente fatiada, e se portando como cobaias que descobrem que se tocarem numa campainha ganharão mais comida, sem se tocar que estão todos assimilados, empacotados e adiposamente em clausura mental.

E toda premissa envolvendo a dita sexualidade do John que poderia gerar ótimas HQ’s muito provavelmente será dragada numa espiral de conceitos tacanhos, transformando-o num estereótipo como fizeram com o Damien.

Sim, o Damien, filho do Bruce. Que foi transformado por esta mesma cultura rasa, num arquétipo de moleque mal-educado para saciar a identificação de parcelas de público.

E quando falo isto sobre o John, digo, pois, o mais provável que aconteça é que toda a relação pai e filho que poderia ser maravilhosamente trabalhada será provavelmente diminuída, diluída, e talvez nem mencionada, quando o fato de terem escolhido seu filho para tratar do tema da opção da sexual não poderia ter sido algo mais acertado, já que não há em nenhuma editora, meu caro Clark, personagem que melhor represente a compaixão e a fraternidade que você.

Fico aqui pensando, neste povo que habita o mundo que se diz real, estando numa situação de perigo, como preso nas ferragens de um carro que bateu, ou refém de um assaltante, perguntando para o bombeiro, paramédico ou policial, qual a opção sexual deste (risos)

Afinal, pelo que vejo, só admitiriam serem ajudados por aqueles que consideram dignos (argh!).

Mas tem gente, pode acreditar no que digo, que tem o descaramento de dizer que isto seria um malévolo plano da chamada “Lacrolândia” para diminuí-lo como símbolo de virilidade.

Se Mike W Barr escrevesse Camelot 3000 nos dias de hoje, fico pensando no tamanho do chilique deste “povo viril” (risos).

Não que esta tal “Lacrolândia” não exista, pois em todo lugar que houver alguma causa razoavelmente justa sempre haverá aqueles que apenas querem lucrar com o “circo pegando fogo”. Ou simplesmente destilar suas frustrações em frases feitas, tentando em sôfrego desespero rebaixar uns para em geral apenas se autopromover, muitas vezes replicando discursos prontos passados de pai para filho.

E olha só! Eu aqui citando esta coisa de legado de novo! Viu como aquilo que citei de terem escolhido você para esta missão não foi mero acaso?

Só que a única verdade factual nisto tudo, é que os dois grupos no frigir dos ovos se merecem.

Uma guerra só ocorre se houver ao menos dois lados beligerantes.

Seria engraçado se não fosse tão tristemente patético.

E meu amigo Clark, nem vou aqui citar aquelas versões estapafúrdias de você como déspota, pois estas são na verdade o espelho daqueles seres de caráter fraco e duvidoso, que não conseguem enxergar (ou não querem) a verdadeira essência sua... a bondade.

É o multiverso, dirão eles, do alto de sua empáfia de palha, sem um pingo de capacidade de autocrítica, massificando uma pobreza medonha de criatividade que nem fazem mais questão de esconder, nesta filosofia de boteco e briga de torcidas, que prevalece hoje em dia.

É como aquela canção do Stratovarius que diz:

“Eles tentam me dar respostas, para perguntas que nunca fiz....

.... A mídia é a nova ilusão, criando mais confusão...”

Mas como esta mesma canção diz:

“...mas eu sei que eles logo partirão. ”

Mas enquanto eles não partem, Clark, deixa eu te pedir uma coisa.

Permaneça sempre o norte de todos, heróis ou não. Permaneça sendo o coração da trindade. Pois neste mundo raso, imediatista e cínico, movido por conveniências, sua presença dissonante da generalização reinante, mais do que nunca se tornou fundamental.

Continue incomodando!



 

 

 

 

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