Várias
são as obras, em diversas mídias, que tentaram mostrar a visão de um futuro
próximo (às vezes nem tão próximo assim) que fazem um exercício (nem sempre
proposital) de como poderia ser a vida das pessoas desta vindoura época.
Tais
obras em geral vem ligadas a visões de sociedades caóticas com sistemas de governo
baseados em controle extremo, que por vezes usam dos meios de comunicação como
plataforma de distração e dispersão das massas.
Mas
em 1972 os produtores William Hanna e Joseph Barbera traziam ao mundo algo
totalmente diferente desta descrição, era...
SeaLab
2020 – Laboratório Submarino!
Inspirado
nas aventuras do oceanógrafo francês Jaques Cousteau, estreava em 09 de setembro
de 1972 pela rede NBC, as aventuras de uma comunidade de 250 pesquisadores e
suas famílias que no então longínquo ano de 2020, habitavam um grande
laboratório que ficava nas profundezas do oceano.
Mas
afinal, o que esta animação tinha e tem de especial? Deve ser oque você que
está lendo deve estar se perguntando agora.
É
lógico que a característica que sempre é ressaltada quando SEALAB 2020 é
lembrado é o seu viés ecológico abordado ainda no começo da década de 1970. Mas
sempre acreditei que mais importante que o tema abordado era forma como a
animação fazia seu exercício de futurologia.
Pois
muito diferente do 1994 de “Fuga de Nova York”, ou o 1997 de “Robocop”, só para
citar dois exemplos, o 2020 de Laboratório Submarino possuía uma retilínea
linha de roteirização, que nem vendia um futuro dourado e utópico, mas também
não enveredava para uma distopia caótica.
Mais
do que uma eficiente ferramenta de informação (sim, pois todas as informações
passadas sobre a vida marinha no seriado eram verídicas) e conscientização,
Laboratório Submarino descerrava para uma geração cujo termo “ecologia” era
quase um palavrão, todos os problemas já latentes naquela época de forma séria
sem ser alarmista.
Alex Toth - o idealizadorde todo design da série |
Tendo
seu design de produção todo pensado pelo cartunista Alex Toth, o criador de
Space Ghost.
Só
que ao contrário, por exemplo, de Jonny Quest que lançava mão de criar veículos
inexistentes para época (alguns até os dias de hoje), Toth procurou manter-se o
mais fiel possível a invenções que já existiam, como o recém criado pelo
francês Jaques Cousteau na época, sistema de respiração em circuito-fechado
conhecido como “Aqualung”.
Jaques Cousteau |
Um
sistema que não produz bolhas ao ser usado, algo que, aliás, muitos desavisados
diziam ser uma falha da produção, ou seja, a não produção das conhecidas bolhas
pelos mergulhadores. Algo que só é possível quando o mergulhador tira a
traqueia de respiração da boca, ou no caso da animação da máscara que tinha um
equipamento de comunicação que permitia os mergulhadores conversarem entre si
no fundo do mar, mais uma inovação da época, em geral só usada por unidades
militares especializadas.
Ou
mini submarinos pensados a partir de veículos criados também pela mente do
oceanógrafo francês.
Mini submarino usado por Cousteau |
Além
de pautar a próprio design da base subaquática em modelos o mais de acordo
possível com projetos de possíveis bases espaciais projetadas pela NASA e
experimentos da marinha norte-americana. Sendo ela divida em módulos
independentes. Valendo lembrar aqui muito dos treinamentos realizados pelos
astronautas são justamente debaixo da água.
Outro
detalhe que em geral passa despercebido na animação é que em tempos que ninguém
fazia ideia do significado da expressão representatividade, sem o menor alarde,
Laboratório Submarino mostrava entre os protagonistas da equipe comandada pelo
capitão Mike Murphy uma formação bastante heterogênea, com destaque para o
Dr.Paul Williams, um índio. Além, obvio, dos oceanautas
Ed Thomas, Gail Adams, Hal Bryant e o tenente Sparks.
E
como falamos de famílias, não poderia faltar a “ala infantil” nas figuras de
Bobby e Sally. Fora Fluffy, o golfinho de estimação de Gail.
Fugindo,
e muito, do estereótipo de animação de viés de ação típica, o caminho de SEALAB
2020 acabou sendo o cancelamento após apenas 13 episódios produzidos e mais 02
que ficaram inacabados.
Mais
uma “aventura romântica” dos estúdios Hanna-Barbera realizada numa época em que
a criatividade valia mais que o marketing para se vender brinquedos. Sem as
horríveis “lições didáticas de moral” que se tornaram comuns na década de 1980.
Uma
animação inteligente que pagou com o cancelamento o preço pelo pioneirismo, ao
desbravar um nicho que nas poucas vezes que foi abordado até ali tinha sido
feito de modo pouco técnico, digamos assim. Servindo de base e inspiração para
diversas obras que vieram depois, como a série live action Sea Quest.
E
que hoje, justamente no ano que “se projetava”, nos faz pensar o quanto a
humanidade, pouco, ou nada, conseguiu compreender do próprio mundo que vive, e
quanto ainda temos que descobrir não apenas nele como em nós mesmos.
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