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quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Ruby&Spears Productions


Em meados da década de 1970, a Hanna-Barbera praticamente monopolizava a produção de animações para tevê, tendo apenas como ocasionais concorrentes, as produções da Filmation, e as animações japonesas que ocasionalmente “escapavam" do arquipélago nipônico.
Diante deste cenário, Fred Silverman, presidente da rede ABC, principal cliente de Bill Hanna e Joe Barbera, preocupado com o que considerava uma queda de qualidade nas produções dos estúdios HB, resolveu fermentar a concorrência. E chamando Joe Ruby e Ken Spears, dois antigos colaborados da Hanna Barbera, lhes deu a ideia de que poderiam criar sua própria produtora.
Nascia ali a Ruby&Spears Productions!


Mas a ideia de Silverman deu certo?
A resposta é sim e… não!
Joe Ruby e Ken Spears haviam iniciado suas carreiras como editores de áudio dentro da própria Hanna Barbera, posteriormente se tornando escritores de alguns episódios de Space Ghost e Herculoides, sendo que em 1968 seriam os responsáveis pela criação de um dos maiores ícones dos estúdios HB, Scooby Doo. O que gerou, lógico, um excelente relacionamento da dupla com os “chefes".

Joe Ruby e Ken Spears

E oque nasceu como concorrência logo se tornaria uma parceria.
Fundada em 1977, no ano seguinte a empresa de Joe e Ken colocava no ar sua primeira produção,  era Bicuco O Lobisomem. Uma animação que lógico,  tinha em 99% de seu DNA, o estilo Hanna Barbera.

Bicudo, o Lobisomem (FangFace no original)

E a “Bicudo”, se sucederam “Mini Polegar”, “Buggy a Jato”, e até uma versão para o Homem-Borracha personagem da DC Comics (que aqui virou Homem-elástico), tudo com uma cara praticamente idêntica ao que era feito pelos estúdios HB, até porquê sem que ninguém soubesse, Joe Ruby e Ken Spears usavam parte das instalações da Hanna-Barbera para realizar suas produções.


Mas isto  muda  em 1980, e a chegada de Thundarr, o Bárbaro.


Por muitas vezes, você que acompanha aqui o blog deve ter lido a expressão “amálgama” certo? Pois é. Muitas obras que se tornaram ícones são antes de tudo uma grande mistura de várias inspirações diferentes, e isto não é demérito algum, muito pelo contrário.
Pois quando esta mistura é bem feita, o resultado costuma ser incrível, e  Thundarr é um dos melhores exemplos disto.
E a receita aqui foi.


Pega-se o plot inicial de um mundo pós apocalíptico, argumento padrão hoje em dia, mas pouco utilizado naquela época, ainda mais em.se tratando de uma animação. Depois misture um herói nitidamente baseado em Conan de Robert Howard com uma espada que mais parecia um sabre de luz de Guerra nas Estrelas.


Acha que tá bom? Então nesta toada de Guerra nas Estrelas una ao protagonista um amigo meio mutante de  fúria animal e coração de ouro, e uma princesa negra (sem a menor necessidade de panfletarismos diga-se de passagem) com poderes mágicos. Que juntos lutavam contra magos que escravizavam oque tinha sobrado da humanidade.

Alex Toth ficou responsável pelo visual de Thundarr, Ookla e Ariel

Bacana né? Mas ainda não terminou. Para criar o visual dos personagens principais chame Alex Toth, um dos melhores cartunistas de sua geração, criador de Space Ghost. E para o visual do maior adversário dos heróis, o mago Gemini,  simplesmente o “Rei", Jack Kirby!

O visual de Gemini foi criacão do mestre...


...Jack Kirby

E assim embarcamos nas aventuras de Thundarr,  Ookla e Ariel!
Thundarr O Bárbaro pode até não ser a animação mais revolucionária de todos os tempos, mas olhando para trás,  e guardando as devidas proporções, talvez possa ser possivel dizer que está  para a Ruby&Spears, como Jonny Quest está para a Hanna-Barbera. Ou seja, um belo “ato de ousadia”, que com certeza influenciou algumas outras obras que vieram depois.
Até que em 1981 a empresa é vendida para a Taft Broadcasting, tornando-se de vez uma “empresa irmã” da Hanna-Barbera.
Oque pessoalmente na opinião deste escriba, acabou se tornando um grande erro, que levou a produtora à uma “linha de montagem” bastante estranha, e as vezes, de gosto duvidoso .
Como assim?





Bem,  ainda que a Ruby&Spears pudesse estar recheadas de bons profissionais, que criaram boas animações, tanto no campo da comédia clássica como, "Lorde Gato e a Turma do Abobrinha" e “Lorde Gato e Marmaduke", e animações de ação como “Centurions”.


Não sei se por questões mercadológicas apenas, ou porque Hanna-Barbera resolveu usar a Ruby&Spears como “bucha", a produtora ficou marcada por uma série de animações caça-níqueis dos mais sem vergonhas, que eram versões de filmes e/ou de figuras conhecidas do cinena e tevê.


E nesta linha encontramos desde o desenho da “Loucademia de Polícia”, passando por “Rambo e a Força da Liberdade”, até chegarmos aos absurdos desenhos animados de Mr.T (sim, ele mesmo, o B.A. de Esquadrão Classe A), e pasmem, “Chuck Norris e os Karatê Comandos”, que conseguiu deixar o velho Chuck com uma cara constrangedora de membro do grupo Village People.




Não que a própria Hanna-Barbera não tenha  feito coisas do gênero no passado, como “Godzilla", só para citar um exemplo.
Mas aqui é nítida a total falta de compromisso com um mínimo que fosse de roteiro e construção dos personagens, em simulacros de tramas, para os quais o termo “pueril" seria um elogio. Que só estavam ali para vender brinquedos, mascarados naquelas velhas lições de moral, que eram passadas de forma forçadamente didática.


Contudo, porém, entretanto, todavia, em 1988, quando quase ninguém acreditava no gênero de super-heróis, eis que Ruby&Spears surpreendem, e apresentam ao mundo,  Superman.

Marv Wolfman foi chamado para ser o editor-chefe de "Superman".

Aquela era a primeira vez que o personagem criado por Jerry Siegel e Joe Schuster aparecia fora da sua mídia original após a reestruturação feita por John Byrne. E para ter certeza que nada daria errado, o seriado teve como redator-chefe, ninguém menos que Marv Wolfman, e como criador do caracter design, o cartunista Gil Kane,  um discípulo direto de Jack Kirby.


Muitos hoje podem dizer que a época não favorecia produções do gênero, mas considero que o único grande erro deste seriado talvez tenha sido ser um tanto “purista" demais. Não inserindo mais personagens da DC Comics. Algo que se restringiu a uma participação da Mulher Maravilha, resultando em apenas treze episódios produzidos.
Mas talvez esta única temporada também possa ser um reflexo do que viria a acontecer três anos depois, quando a Ruby&Spears foi desmembrada, e seu acervo até aquela data foi comprado por Ted Turner junto com a Hanna-Barbera.


Não se dando por derrotados, Joe Ruby e Ken Spears voltaram a abrir seu estúdio de forma completamente independente em 1994. Época em que investiram num seriado do Mega Man, o personagem dos video games.


Mas era muito difícil bater de frente com os grandes estúdios, numa época em que animações como Batman TAS (Warner) e Gárgulas (Disney) dominavam as atenções.
E em 1996 a Ruby&Spears encerrava de vez suas atividades, deixando ainda que de forma breve, sua marca no mundo das animações.

LINK 1 - THUNDARR, O BÁRBARO

LINK 2 - SUPERMAN



2 comentários:

  1. Com acertos e erros, assim como a Hanna Barbera e Filmation , é uma produtora que deixou saudade.

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  2. Muito legal a matéria!
    A produtora RS tem um gostinho de coisa boa que é difícil explicar. É um pouco da alma da HB mesmo, só que em outro corpo.

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